Edson Sardinha
O presidente Lula admitiu hoje (22) que o Brasil ainda está longe de reduzir as desigualdades provocadas pela discriminação racial. Para mudar esse cenário, segundo o presidente, é necessário que haja uma “evolução da consciência política” de cada brasileiro, além do aperfeiçoamento da legislação e punição rigorosa para quem comete esse tipo de crime.
Em seu programa semanal de rádio, Lula afirmou que o problema não pode ser combatido apenas com leis. “Nós ainda estamos longe de diminuir as desigualdades, porque a Constituição Brasileira, ela prevê – e a Constituição é de 88 –que não haja discriminação racial no Brasil. Mas nós sabemos que há, porque não é uma questão de lei, é uma questão da cabeça de cada brasileiro e de cada brasileira”, declarou no Café com o Presidente.
Lula destacou iniciativas do governo federal para reduzir as desigualdades e combater a discriminação racial. “Nós aperfeiçoamos, criamos o Ministério da Igualdade Racial, o ProUni, hoje, tem 40% de estudantes negros, meninos e meninas da periferia, e acho que nós estamos avançando. Os quilombolas estão sendo reconhecidos, os quilombos estão sendo legalizados, e a gente está criando condições de não haver, definitivamente, mais discriminação no Brasil, e todo mundo viver as mesmas oportunidades, viver a igualdade que todos nós sonhamos.”
Durante seu programa semanal, Lula tratou ainda de outro assunto: a necessidade de o país recuperar a indústria naval. O presidente afirmou que há 82 navios em construção no Brasil e outras 150 embarcações se encontram em fase de planejamento. De acordo com ele, o Fundo da Marinha Mercante prevê a contratação de R$ 30 bilhões até 2014.
“Tudo isso demonstra claramente que o Brasil está levando a sério a indústria naval, a construção de navios, não apenas para atender a demanda da Petrobras no que diz respeito a navios, no que diz respeito à plataforma, no que diz respeita a sonda de perfurações em grandes profundidades, mas também, por conta de termos navios de transporte e diminuir o déficit que nós temos hoje na conta de fretes, que é muito grande”, disse.
Veja a íntegra do Café com o Presidente:
“Apresentador: Presidente, o senhor está em São Bernardo do Campo, em São Paulo, e nós estamos nos estúdios da EBC Serviços em Brasília. O senhor esteve no Rio de Janeiro para inaugurar, na sexta-feira passada, o navio Sérgio Buarque de Holanda, o terceiro navio do programa de modernização e expansão da frota da Transpetro – Promef. Como o senhor vê essa expansão?
Presidente: Olha, Luciano, na verdade o Promef prevê a construção de um total de 49 navios no Brasil. Quarenta e seis deles já foram contratados, com investimento de quase R$ 5 bilhões, e nós estamos fazendo com que a cada navio inaugurado, a gente possa prestar homenagem a uma personalidade brasileira. O primeiro navio, inaugurado em Pernambuco, a gente colocou o nome de João Cândido, que é o nosso herói, marinheiro da Revolta da Chibata, o segundo nós colocamos o nome de Celso Furtado, o terceiro nós colocamos o nome de Sérgio Buarque, e o quarto navio, que era para ser colocado no mar este ano ainda, mas que atrasou um pouco, vai ser só em março do ano que vem, deverá ser Zumbi dos Palmares. E, assim, nós vamos inaugurando os navios e vamos colocando nomes de personalidades da cultura, da luta social neste país, para que a gente comece a homenagear aqueles que precisam ser homenageados.
O dado concreto é que a inauguração de navios e os contratos que nós temos, não param apenas nos 49 navios contratados pelo Promef. De acordo com os dados do Sindicato Nacional da Indústria da Construção e Reparação Naval, atualmente já são 82 navios em construção, e cerca de 150 novas embarcações em planejamento no Brasil. Só para você ter ideia, Luciano, o Fundo da Marinha Mercante prevê a contratação de R$ 30 bilhões até 2014. Olha, tudo isso demonstra claramente que o Brasil está levando a sério a indústria naval, a construção de navios, não apenas para atender a demanda da Petrobras no que diz respeito a navios, no que diz respeito à plataforma, no que diz respeita a sonda de perfurações em grandes profundidades, mas também, por conta de termos navios de transporte e diminuir o déficit que nós temos hoje na conta de fretes, que é muito grande. Então, nós precisamos ter navios próprios nacionais transportando a nossa carga, aquilo que nós produzimos, e também trazendo aquilo que nós compramos. Eu acho que o Brasil, definitivamente, Luciano, assumiu a responsabilidade de recuperar a indústria naval. Nós, que já fomos a segunda indústria naval do mundo nos anos 70, praticamente acabamos, e, agora, nós estamos reconstruindo a indústria naval, já estamos com mais de 50 mil trabalhadores na categoria, e eu tenho certeza que é um processo em expansão que não tem retorno.
Apresentador: Naturalmente, não é, presidente, esse renascimento da indústria naval brasileira gera muito dinheiro na economia e gera muitas oportunidades, muito empregos, não é?
Presidente: Gera muito dinheiro, gera emprego e gera, eu diria, conhecimento tecnológico. Ou seja, na medida em que o Brasil não produzia mais aqui, nós não tínhamos nem engenheiro mais para indústria naval. Agora, nós estamos nas nossas universidades, nas nossas escolas técnicas, preparando gente para trabalhar na indústria naval. Só pra você ter ideia, em Pernambuco, mulheres que eram cortadoras de cana, foram preparadas para trabalhar na indústria naval. Pessoas que estavam no Japão porque não tinha emprego no Brasil há pouco tempo atrás, estão de volta trabalhando no Brasil, prestando serviços ao povo brasileiro e cuidando da sua família. Então, é isso: mais estaleiros, mais navios, mais empregos, mais distribuição de renda, mais conhecimento tecnológico, ou seja, mais soberania nacional. Tudo isso é sagrado.
Apresentador: Você está ouvindo o Café com o Presidente, o programa de rádio do Presidente Lula. Presidente, mudando de assunto, dia 20 de novembro foi celebrado o Dia da Consciência Negra. As desigualdades estão diminuindo, presidente?
Presidente: Eu acredito, Luciano, que nós ainda estamos longe de diminuir as desigualdades, porque a Constituição Brasileira, ela prevê – e a Constituição é de 88 –que não haja discriminação racial no Brasil. Mas nós sabemos que há, porque não é uma questão de lei, é uma questão da cabeça de cada brasileiro e de cada brasileira. Nós estamos superando, ou seja, nós temos trabalhado muito nesses últimos oito anos, mas muito mesmo. Aliás, esse trabalho já vinha sendo feito antes de eu chegar à Presidência da República. Nós aperfeiçoamos, criamos o Ministério da Igualdade Racial, o ProUni, hoje, tem 40% de estudantes negros, meninos e meninas da periferia, e acho que nós estamos avançando. Os quilombolas estão sendo reconhecidos, os quilombos estão sendo legalizados, e a gente está criando condições de não haver, definitivamente, mais discriminação no Brasil, e todo mundo viver as mesmas oportunidades, viver a igualdade que todos nós sonhamos. Eu estou convencido que nós fizemos muito, mas estou convencido, também, que ainda falta muito a ser feito. Falta muito a ser feito e o muito que precisa ser feito, vai ser necessário que haja uma evolução na consciência política de cada homem e de cada mulher, além do aperfeiçoamento da legislação e da punição rigorosa para quem cometer qualquer crime de discriminação.
Fonte: Congressoemfoco