Certificado Lei geral de proteção de dados

Certificado Lei geral de proteção de dados
Certificado Lei geral de proteção de dados

terça-feira, novembro 23, 2010

BC entre juros e inflação

A possível saída de Henrique Meirelles pode sinalizar que o Planalto pretende reduzir as taxas para estimular o consumo

Publicado em 23/11/2010 | André Gonçalves


Passa pelo perfil do escolhido para comandar o Banco Central (BC) a decisão que mais vai afetar o bolso do brasileiro no governo Dilma Rousseff (PT). Com a provável saída de Henrique Meirelles do cargo, a presidente eleita está numa encruzilhada – manter ou reformular a política de juros adotada nas gestões Fernando Henrique Cardoso (PSDB) e Lula (PT). Se optar por um ministro que reduza os juros em curto prazo, a economia terá impactos positivos, como o estímulo ao consumo, e negativos, como o aumento da inflação.

A petista deve se reunir com Meirelles até sexta-feira. Ontem, no entanto, agências de notícias já davam como certo que ele não vai permanecer no cargo, que ocupa desde 2003. As divergências com Dilma estariam ligadas ao conceito de autonomia do BC.

Com Lula, Meirelles teve liberdade para escolher os dispositivos de regulação da inflação. Sempre que houve ameaça de alta nos preços, subiu a Selic (taxa básica de juros paga pelo governo). A prática, que freia o crescimento da economia, é criticada por setores mais à esquerda do governo.

A discussão divide duas vertentes de economistas. Os alinhados a Meirelles são definidos como “monetaristas”, mais liberais. Do outro lado, estão os “desenvolvimentistas”, linha que defende o Estado como indutor da economia e que contempla o ministro da Fazenda, Guido Mantega, e a própria Dilma – para especialistas, a troca no banco indica que ela está disposta a interferir pessoalmente na política de juros.

“Há um erro conceitual: o BC tem que ser ocupado por alguém preocupado com a estabilidade da moeda. É só para isso que o banco existe”, diz o economista Cláudio Considera, da Universidade Federal Fluminense. Segundo ele, a escolha de um presidente com menos autonomia ou engajado em outras tarefas terá um “impacto terrível”. “A inflação é um mal que empobrece as pessoas.”

O professor de Economia Fernando Ferrari Filho, da Uni­­­versidade Federal do Rio Grande do Sul, explica que a autonomia do BC é informal, ou seja, não há qualquer norma jurídica que obrigue o presidente da República a acatar as decisões da direção do banco. Ele não acredita em alterações drásticas, independentemente de quem for escolhido. “Não há clima para uma mudança abrupta.”

Durante a campanha eleitoral, Dilma disse ser favorável à autonomia do BC. Por outro lado, tem repetido que vai trabalhar para que os juros reais sejam reduzidos dos atuais 5,5% ao ano (um dos maiores do mundo) para 2%. Se isso ocorrer, o primeiro reflexo na economia real seria a também diminuição dos juros cobrados pelo mercado.

“Não é na mesma proporção, mas uma redução leva à outra”, diz Ferrari Filho. Em setembro, a média dos juros cobrados de empréstimos para pessoas físicas (aplicados, por exemplo, no cheque especial e na aquisição de bens como automóveis) foi de 39,44% ao ano, de acordo com estimativa do próprio BC. Com uma queda na Selic para 3% ao ano, eles ficariam entre 30% e 33%, na avaliação do professor.

Com crédito mais barato, haveria também mais investimentos no setor produtivo. Combinado com o aumento do consumo, seriam gerados, em tese, mais empregos. Por último, juros baixos inibiriam a entrada de capital especulativo do exterior, ajudariam a valorizar o real e a mitigar os efeitos da guerra cambial entre China e Estados Unidos.

Do outro lado, o principal vilão é o aumento da inflação. Para o economista uruguaio e professor da Universidade de Brasília, Carlos Alberto Ramos, o efeito será quase imediato. “É bom lembrar que a inflação deste ano já tem previsão de ficar acima da inflação estipulada.”

Ramos avalia que Dilma ainda pode promover uma reestruturação dos atuais instrumentos utilizados atualmente para aferir a meta anual de inflação. “É pouco usual, mas ela pode, por exemplo, mudar a periodicidade do cálculo.”

Juros em alta

Apesar de a Selic ter caído quase pela metade durante o governo Lula, os juros estipulados pelo governo brasileiro (atualmente em 11,75% ao ano) ainda estão entre os mais altos do mundo. A política de Henrique Meirelles ajudou a manter a economia estável e trouxe oportunidades e prejuízos.

Prós

Estabilidade

A política de juros altos contém os preços porque desestimula o investimento produtivo e, por consequência, o consumo. Com a inflação em baixa, os salários sofrem menos perdas e há a possibilidade de as pessoas planejarem as finanças pessoais com menos sobressaltos.

Renda fixa

Com a taxa básica de juros em alta, a aplicação em renda fixa torna-se um dos melhores investimentos – tanto para o grande especulador quanto para o pequeno investidor. Modalidades como Certificado de Depósito Bancário (CDB) e a compra de títulos públicos do governo tornam-se melhores opções de poupança.

Viagens

Os juros altos estimulam a entrada de investimentos estrangeiros no país. O fluxo faz a cotação do dólar baixar. Com isso, fica muito mais barato viajar ao exterior. Em 2010, os brasileiros vêm batendo recordes mensais de gastos com turismo fora do país.

Contra

Crédito caro

Os altos juros praticados pelo governo também se refletem no custo do crédito oferecido pelo mercado financeiro para as pessoas físicas. Em setembro, o custo médio dos juros de empréstimos para aquisição de bens como automóveis ficou em quase 40% ao ano, segundo estimativa do próprio BC.

Especulação

Com os juros em alta, o investidor fica mais tentado a aplicar recursos em papéis do governo ou títulos de renda fixa do que em investimentos produtivos. Se o dinheiro fosse colocado na economia real, geraria mais empregos. Além disso, ampliaria a arrecadação do governo.

Menos competitividade

A entrada de dólares provocada pelo capital especulativo internacional sobrevaloriza o real e, com isso, as empresas brasileiras ficam menos competitivas no exterior. Além disso, estimula o consumo de produtos importados no Brasil e abre a possibilidade de desindustrialização de alguns setores da economia.

* * * * *

Juros baixos

A possível saída de Henrique Meirelles do BC pode abrir caminho para a redução de juros a curto prazo. A previsão da presidente eleita Dilma Rousseff é conseguir reduzir a Selic dos atuais 11,75% para até 6,5% ao longo dos quatro anos de governo.

Prós

Ações

Com mais oferta de crédito provocada pela queda dos juros as empresas apresentam resultados melhores e, por consequência, tornam-se mais atrativas para novos acionistas. Além disso, o dinheiro que antes era aplicado em papéis do governo migra quase naturalmente para o mercado acionário.

Dívida pública

Os juros mais baixos facilitam o controle da dívida pública. Ao longo da campanha presidencial, Dilma disse que essa é uma das metas prioritárias da economia. Com a dívida contida também há mais espaço no orçamento estatal para investimentos.

Superávit

O real desvalorizado pela diminuição da entrada de recursos estrangeiros torna as empresas nacionais mais competitivas dentro e fora do Brasil. O aumento das exportações amplia o superávit da balança comercial.

Contra

Inflação imediata

O principal temor da redução de juros é o aumento imediato da inflação. O governo não deve atingir a meta de 4,5% de inflação ao ano em 2010, o que sugere que qualquer mudança seja gradual. Há também o receio de que a redução de juros precise ser compensada depois por um aumento proporcionalmente maior para conter o “repique” inflacionário.

Importações

Os produtos importados ficam mais caros devido à valorização do dólar. A alta também pode encarecer insumos para produtos industrializados que são montados no Brasil. A perda de competitividade em relação aos produtos nacionais também pressiona a inflação para cima.

Títulos públicos

A redução dos juros diminui a procura por títulos públicos emitidos pelo governo brasileiro no mercado interno e externo. Essa redução prejudica a rolagem da papéis.

Fonte: Gazeta do Povo

Em destaque

Relatório robusto da PF comprova que golpismo bolsonarista desabou

Publicado em 28 de novembro de 2024 por Tribuna da Internet Facebook Twitter WhatsApp Email Charge do Nando Motta (brasil247.com) Pedro do C...

Mais visitadas