Dos 309 governistas que tentaram renovar o mandato na Câmara, 225 se reelegeram. Menos da metade dos oposicionistas que buscaram a reeleição teve sucesso
O PT, de Cândido Vaccarezza, foi o partido que mais reelegeu deputados nestas eleições |
Os deputados da base governista que tentaram renovar seu mandato na Câmara tiveram mais sucesso do que seus colegas oposicionistas. Dos 309 deputados da base aliada que disputaram a reeleição, 225 (72,81%) se reelegeram. O índice de sucesso dos governistas foi superior aos 62,24% obtidos pela oposição. Dos 98 oposicionistas que buscavam novo mandato, apenas 61 tiveram êxito.
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O PT, partido do presidente Lula e da candidata Dilma Rousseff, foi o que teve melhor desempenho, em números absolutos, entre todas as 19 legendas com assento na Câmara: foram reeleitos 52 (81,25%) dos 64 petistas que tentaram a reeleição. Foi o segundo melhor índice de reeleição de toda a Câmara. O melhor percentual de aproveitamento coube a outro partido da base aliada: dos dez deputados do PCdoB que tentaram a reeleição, nove se reelegeram (90%).
Já o índice de reeleição entre os oposicionistas ficou abaixo da média da Câmara, que foi de 70,27%. Dos 407 deputados que buscaram a renovação do mandato, 286 atingiram o objetivo. Entre as principais legendas, o pior resultado foi do PSDB, do presidenciável José Serra. Somente 29 (60,41%) dos 48 tucanos que disputaram a reeleição alcançaram o objetivo.
Chupando dedo
Entre os 19 deputados do PSDB que não conseguiram se reeleger, está o líder da legenda, João Almeida (BA). “O PT é o partido que tem mais máquina. O uso da máquina do governo foi determinante na liberação de recursos orçamentários. Nós da oposição ficamos chupando dedo”, reclama o líder tucano. “Nós ficamos mais no discurso do que outra coisa qualquer. A Câmara ficou muito em cima do que o deputado já fez pela cidade. Deputado virou vereador federal. Estão apequenando enormemente a função”, acrescenta.
“O presidente não teve postura republicana, ética. O presidente se colocou como um aliciador de votos sem nenhum princípio. Abandonou a liturgia do cargo. Como ele desfrutava de certo prestígio, acabou reelegendo seus aliados”, avalia o deputado José Carlos Aleluia (DEM-BA). O deputado baiano não disputou a reeleição, mas foi derrotado por dois governistas na corrida por uma vaga no Senado.
“Muitos deputados fizeram propaganda sem apresentar biografia nem proposta, mostravam apenas a foto do presidente Lula. O presidente sai menor desta eleição, como um mero cabo eleitoral”, ataca Aleluia.
O DEM teve o segundo pior desempenho entre as principais siglas na Câmara quando se considera o número de deputados que tentaram a reeleição. Com a renovação do mandato de 24 (63,15%) de seus 38 representantes na Câmara, o partido só teve índice melhor que o dos tucanos. Os outros dois oposicionistas – PPS e Psol – tiveram aproveitamento de 66,66%.
"Brasil que dá certo"
Para o líder do governo na Câmara, Cândido Vaccarezza (PT-SP), as críticas dos oposicionistas não passam de choro de quem perdeu a eleição. “Foi uma rejeição àqueles que fizeram oposição ao governo do presidente Lula. Isso aconteceu na Câmara e no Senado”, avalia o deputado petista.
Vaccarezza diz que o sucesso dos governistas está relacionado à popularidade do governo Lula e à unidade da base aliada. “Primeiro, atribuo ao trabalho dos deputados, que mostra que corresponderam às expectativas dos seus eleitores. Segundo, o fato de esses deputados terem participado do Brasil que está dando certo, que é o Brasil com Lula e Dilma. Isso levou a aumentar a reeleição dos deputados da base”, considera.
Para o líder governista, o poderio econômico e o uso da máquina administrativa não foram decisivos nesta eleição. “Isso não traduz a realidade. Os deputados se reelegem é a partir do seu trabalho”, afirma Vaccarezza.
Diretor do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap), Antônio Augusto de Queiroz diz que a maioria dos deputados governistas renovou o mandato por pegar carona na popularidade do presidente Lula. Mas outros fatores, ressalta o analista político, também pesaram. “Foi uma eleição de muita máquina e muito poder econômico. O chamado voto de opinião ficou longe desse processo. Alguns parlamentares desistiram inclusive de tentar a reeleição”, observa Antônio Augusto.
“Como era uma eleição com presidente muito popular, os parlamentares da base foram beneficiados com a avaliação positiva do governo Lula. Para a oposição, foi mais difícil renovar o mandato. Muitos desistiram no meio do caminho”, considera.
Segundo o cientista político Ricardo Caldas, da Universidade Federal de Brasília (UnB), o grau de satisfação do eleitorado com o atual governo contribuiu para o melhor desempenho dos governistas. “Se o eleitor está satisfeito, vai dar mais uma chance. Se está insatisfeito, vai querer mudança. Isso é natural”, afirma.
O cientista político afirma que a vantagem dos governistas também pode ser atribuída à dificuldade dos oposicionistas de se contraporem, de fato, ao governo Lula. “Falta tradição de fazer oposição a muitos deputados. A maioria não aprendeu até hoje. No coração, ainda são governistas. Acabam fazendo discurso dúbio. Isso não agrada ao eleitor”, considera.
Máquina tucana
Ricardo Caldas diz que o uso da máquina por quem está no poder não é exclusividade do governo petista. “Quando o Fernando Henrique Cardoso estava no governo, claro que eles usaram a máquina também. Todos fazem isso”, ressalta.
A mesma opinião tem o cientista político José Luciano Dias. “Esse discurso da oposição faz parte da choradeira habitual. É assim em todo lugar”, afirma. Para José Luciano, o elevado índice de reeleição na Câmara este ano, tanto entre governistas quanto entre os oposicionistas, está associado à “estabilidade da fronteira política”. “Não houve mudança na distribuição de poder no Brasil. O país vive normalidade política e econômica isso favorece quem está no poder”, analisa.
José Luciano considera positivo a maioria dos atuais deputados continuar no Congresso por mais quatro anos. “É um fato muito positivo para o Brasil, que vai poder contar com parlamentares mais qualificados. Isso acaba com blá-blá-blá da imprensa. Estão falando besteira. Provavelmente, teremos um Congresso sem os ‘ficha sujas’, e muito mais experiente. As pessoas sabem como as coisas funcionam”, destaca.
Antônio Augusto de Queiroz lembra que os parlamentares já começam a disputa eleitoral em vantagem em relação aos demais concorrentes por causa das prerrogativas do próprio mandato. Isso cria uma competição desigual que prejudica o surgimento de novas lideranças no Congresso, afirma o diretor do Diap. “O deputado tem presença na mídia o tempo todo, tem estrutura de gabinete, tem emenda parlamentar, tem serviço prestado, tem uma série de vantagens. O cara só sai se for muito ruim ou se achar que vai ganhar no voto de opinião”, avalia.
Segundo o analista político, os elevados custos de campanha, que crescem a cada eleição, e o uso da máquina, com o favorecimento a parlamentares aliados na liberação de recursos orçamentários, fizeram praticamente desaparecer o chamado voto de opinião, aquele dado geralmente ao candidato por sua história e por seus posicionamentos políticos.
“Os custos de campanha e de imagem ficaram elevados. A imagem negativa do Congresso afugentou muita gente boa”, avalia Toninho. “Há uma perda de qualidade no debate político. Mas, por outro lado, como a sociedade está mais exigente, não há risco de retrocesso”, considera.
Fonte: Congressoemfoco