Pedro do Coutto
Lisboa – Tomando conhecimento da pesquisa do IBOPE que aponta 53 para Dilma e 47 para Serra, e recebendo do editor do site, Carlos Newton, a informação de que levantamento divulgado ontem pelo Datafolha aponta 54 a 46, formo a convicção de que a candidata do PT está resistindo aos embates dos últimos dias e mantém uma vantagem que deve conservar até as urnas de 31 de outubro. As contradições que envolveram sua candidatura, especialmente o escândalo Erenice Guerra estão contidas pelos números estáveis de sua diferença em relação a seu adversário. Ou seja: o abalo causado por sua substituta na Casa Civil parece ter esgotado seus efeitos. Que não foram poucos, uma vez não fossem eles Roussef teria vencido no primeiro turno.
O jornal português O Público revelou na edição de ontem que Dilma estava preparando uma carta aberta ao país definindo de forma decisiva sua posição a respeito do aborto. Não creio que esta questão fosse capaz de lhe tirar votos e não substituí-los por outros pois há correntes que são favoráveis à descriminilização, da mesma forma que existem, no mesmo grau as contrárias. O tema mais profundo e correto entretanto é o de que ninguém é favorável ao aborto. O que se trata é de considerá-lo um crime ou não. São coisas assim muito distintas as que se encontram em causa. O que todos hão de concordar é quanto à necessidade de o país possuir uma sólida política de planejamento familiar.
Se fôssemos defender a prisão das mulheres e dos médicos que praticam o aborto as prisões brasileiras não seriam suficientes para abrigar os condenados. Temos em nosso território uma população carcerária de 400 mil pessoas e a existência de 300 mil mandados de prisão a serem cumpridos. Se adicionarmos a esta realidade a prisão de quem praticou o aborto a situação seria ainda mais caótica do que é. A colocação do tema sob este ângulo é inultrapassável e contestá-la é uma prova de cinismo e ao mesmo tempo de uma farsa oportunista. O tema aborto não dá nem tira votos. Reflete apenas a realidade brasileira. Muito precária. Basta ver o estado das rodovias portuguesas e as nossas.
Enquanto percorremos de Lisboa a Chaves e de Lisboa a Elvas fronteiras norte e sul com a Espanha, sem encontrarmos um desnível sequer, se formos rodar 600 quilômetros no Brasil vamos atestar uma deficiência enorme de nosso lado. Em Portugal o aborto não é crime e a quantidade de sua prática é infinitamente menor do que a verificada em nosso país.
Fonte: Tribuna da Imprensa