Do Contas Abertas
Ao todo, apenas 11 novos deputados federais no Brasil mantêm o “segredo” de como se conquistar mais de 10% dos votos em seus estados. Antônio Reguffe (PDT-DF), por exemplo, é o candidato à Câmara dos Deputados proporcionalmente mais votado do Brasil, segundo dados do Tribunal Superior Eleitoral. Com 266 mil votos, ele contou com a preferência de um a cada cinco eleitores do Distrito Federal (18,95%). Aos 39 anos, o candidato, apadrinhado pelo senador reeleito Cristovam Buarque (PDT-DF), se consagrou na Câmara Distrital em Brasília, onde atua desde 2006. Na Câmara Federal, Reguffe promete abrir mão dos principais atrativos para aqueles que sonham com uma vaga no Congresso – 14º e 15º salários, auxílio-moradia, passagens aéreas e verba indenizatória.
Em entrevista ao Contas Abertas, Reguffe conta que ficou surpreso com o percentual dos votos válidos no DF. “Nem no meu melhor sonho eu poderia imaginar ser o deputado mais bem votado no país. Não tenho palavras para descrever o que eu senti e a única coisa que posso demonstrar como gratidão é fazer um mandato honesto e decente, além de cumprir absolutamente tudo que prometi durante a campanha”, afirma o carioca de 39 anos.
Reguffe foi eleito deputado distrital na Câmara Legislativa do Distrito Federal em 2006. No legislativo local, onde 26 deputados e suplentes foram investigados pelo Ministério Público Federal por suspeita de corrupção no escândalo do mensalão do DEM, o parlamentar colecionou desafetos ao abrir mão dos 14º e o 15º salários, de 14 dos 23 assessores e da verba indenizatória. Como deputado federal ele promete: “vou adotar as mesmas medidas em meu gabinete. Vou abrir mão dos salários extras (14º e 15º salários), do auxílio-moradia, da cota de passagem aérea e não pretendo usar um centavo sequer da verba indenizatória”, garante.
Além de reduzir os próprios gastos, o deputado pedetista pretende propor uma mudança política profunda. “Hoje, há uma crise na nossa democracia representativa. É preciso mudar esse modelo político. É preciso diminuir a distância entre representantes e representados”, acredita. Reguffe diz ainda que trabalhará com rigor na fiscalização dos gastos públicos e apresentará, ainda, projetos para propor o voto facultativo, a proibição de doações privadas e a instituição do financiamento exclusivamente público de campanha, o fim da reeleição para cargos executivos, o limite de uma única reeleição para cargos legislativos, dentre outros.
A estratégia da campanha, na avaliação do candidato, foi simples, mas cheia de entusiasmo. “Minha campanha foi simples, sem sequer ter uma pessoa remunerada, sem comitê de campanha, sem carro de som, sem um centavo de empresários e sem caixa dois. Fiz uma campanha simples, mas com muito entusiasmo e muita dedicação”.
Durante a entrevista, Reguffe também falou sobre críticas a respeito do seu antigo programa "Ideias com Reguffe", na TV Apoio, onde ele teria aceitado recursos públicos e realizado campanha antecipada para distrital. “Eu apresentei este programa durante cinco anos e meio, antes de ser distrital. A maioria esmagadora dos anúncios era da iniciativa privada, mas também tinha anúncios de governo. Mesmo assim, jamais misturei a parte editorial com a parte comercial, tanto que continuava questionando e batendo no governo à época. Aliás, isso deveria ser motivo de elogio e não de crítica”, explica o candidato, que é formado em economia e jornalismo.
Sobre a propaganda antecipada, Reguffe diz que deixou o programa em 2006, antes mesmo do prazo exigido pela lei. “A legislação eleitoral exigia que nós deixássemos o programa 70 dias antes das eleições, e eu deixei antes da convenção do partido, porque a partir do momento em que eu me colocava como candidato, já não me achava mais isento para apresentar o programa. Embora não houvesse nenhuma ilegalidade em continuar apresentando, eu tomei essa postura que, para mim, era a mais ética”, afirma.
Enquanto não assume a cadeira federal, o candidato mais bem votado do país diz que pretende cumprir com as obrigações na Câmara Legislativa do Distrito Federal. Quando assumir o posto federal, garante que continuará fazendo sua parte, mas acredita não ter forças para conseguir influenciar os colegas a seguir o seu exemplo.
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