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sexta-feira, abril 01, 2011

Jornais: Governo já avisa que vai adiar trem-bala

FOLHA DE S.PAULO

Governo já avisa que vai adiar trem-bala
O governo já admite informalmente aos interessados no leilão do trem-bala que vai adiar por 90 dias o processo, marcado para o próximo dia 11. O adiamento será feito para que mais grupos apresentem propostas e também para fazer ajuste no edital. O governo já não conta com o trem-bala para a Copa, em 2014, e considera improvável que ele funcione para a Olimpíada de 2016.

A Folha apurou que a tendência hoje é pelo adiamento do leilão. Falta uma reunião, prevista para a semana que vem, entre a presidente e os técnicos do governo que tratam do assunto. Os técnicos defendem adiar o leilão. O governo estima que o projeto que ligará Campinas-SP-RJ custará R$ 33,1 bilhões (preço de 2008). Pelo menos dois grupos de empresas, liderados por fornecedores espanhóis e alemães, que não estavam dispostos a entrar, informaram que vão apresentar proposta, mas que precisam de tempo.

O edital tem diversas exigências que devem ser atendidas pelos concorrentes e o custo para apresentar proposta é estimado entre R$ 10 milhões e R$ 20 milhões. E, além disso, o governo não se responsabiliza pelas informações de seus estudos prévios. O que vai valer são os valores apresentados pelos competidores. Será o segundo adiamento do leilão do projeto. O primeiro ocorreu em novembro, quando o governo só tinha a garantia de participação de um consórcio, liderado por empresas da Coreia do Sul. Pelo cronograma original, o projeto já deveria estar em obras. Mas elas só devem começar um ano depois do leilão, pela previsão otimista.

Governo envia para o Congresso projeto para criar novo ministério
A presidente Dilma Rousseff enviou ontem ao Congresso projeto de lei que cria a Secretaria da Micro e Pequena Empresa. Com status de ministério, a criação do órgão é promessa de campanha de Dilma. A decisão de mandar um projeto de lei (que precisa ser aprovado), e não uma medida provisória (de validade imediata), se deu pelo fato de o governo avaliar que a criação do ministério, apesar de importante, não é urgente.

Banco do Brasil dá crédito a propriedade que desmata
O Banco do Brasil fez pelo menos 55 empréstimos a propriedades rurais no Pará que mantinham trabalho escravo, desmataram áreas ou não apresentam documentos de regularidade ambiental, fundiária e agrária, segundo o Ministério Público Federal. Em ação ajuizada ontem na Justiça Federal, o órgão diz que o Banco do Brasil concedeu mais de R$ 8 milhões em créditos rurais de forma irregular de 2008 a 2009, e que por isso ajudou a financiar infratores.

Outra ação responsabiliza o Banco da Amazônia por 37 financiamentos com os mesmos problemas, no valor de R$ 18 milhões. As duas instituições concederam mais da metade dos empréstimos a propriedades rurais da Amazônia Legal de 1995 a 2009. No caso do Banco do Brasil, a investigação apontou 18 propriedades beneficiadas. Quatro delas tinham trabalho análogo à escravidão e nenhuma possuía a documentação necessária.

Filhos de Lula fecham empresas abertas no segundo mandato
Menos de três meses depois de o presidente Luiz Inácio Lula da Silva deixar o governo, dois filhos do petista desmontaram empresas que abriram durante o segundo mandato do pai. Em dezembro, a Folha revelou que os filhos Luís Cláudio e Fábio Luís haviam aberto, como sócios entre eles próprios ou com outras pessoas, duas holdings não financeiras e uma empresa voltada à área esportiva. Alguns dos sócios eram empresários amigos de Lula.

Desde o início do ano, houve uma mudança de plano dos irmãos, que não dividem mais nenhuma sociedade. No início do mandato do pai, os dois irmãos eram estagiários. Fábio Luís, que é biólogo, no zoológico, e Luís Cláudio em clube de futebol. A holding LLCS, criada pelos dois para atuar na área esportiva, foi desativada. Luís Cláudio também deixou outra holding, a LLF, agora só em nome do irmão, e não tem mais empresas na Junta Comercial de São Paulo.

Fábio Luís, conhecido como Lulinha, mantém a Gamecorp (PlayTV), seu negócio mais conhecido por receber aportes milionários da empresa de telefonia Oi. Luís Cláudio, que até o final de 2010 tinha participação em três firmas, abandonou a sociedade com dois amigos e um sócio na ZLT 500, empresa criada no Morumbi, zona oeste de São Paulo, de eventos esportivos.

Instituições dizem que ainda não foram notificadas
O Banco da Amazônia disse que não foi notificado sobre a ação do Ministério Público Federal e que por isso não iria se manifestar. Procurado, o Incra também argumentou que não foi notificado, mas disse que a emissão do CCIR (Certificado de Cadastro de Imóvel Rural) pode ser feita de maneira simples pela internet. O dono de uma propriedade só não consegue fazer o cadastro se tiver pendências a resolver, diz o Incra. O Banco do Brasil não respondeu questionamentos da reportagem até a conclusão desta edição.

Partidos querem limitar ação da Justiça Eleitoral
Os partidos da base de apoio ao governo no Congresso estão estudando maneiras de limitar o poder da Justiça Eleitoral, incomodados com sua atuação nas últimas eleições. A ideia é restringir, por meio de lei, as atribuições do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), impedindo que o tribunal fixe regras eleitorais diferentes das estabelecidas pelo Congresso.

Alvo de debate na base governista, a proposta partiu do PT. "É mais um ponto na agenda da reforma política", disse o líder do partido na Câmara, Paulo Teixeira (SP). "Hoje, há enorme preocupação com o exagerado poder normativo da Justiça Eleitoral e uma enorme insegurança política", afirmou. O presidente da Câmara, Marco Maia (PT-RS), disse que há uma insatisfação no Congresso com o poder concentrado pelo TSE.

A possibilidade de inibir a atuação do tribunal foi objeto de uma reunião das bancadas do PT na terça-feira, com a presença de Teixeira, do líder do PT no Senado, Humberto Costa (PE), e do secretário-geral do PT, Elói Pietá. Na tarde de quarta-feira, parlamentares petistas se reuniram com o ministro da Casa Civil, Antonio Palocci, para consultá-lo. Segundo participantes, Palocci manifestou simpatia pelas propostas do PT, mas ressalvou que ouvirá a presidente Dilma Rousseff antes de se posicionar.

Documentos da ditadura são expostos no Arquivo Nacional
Envolvido em recente polêmica sobre a dificuldade de acesso a dados do período da ditadura militar, o Arquivo Nacional inaugura hoje, no Rio, a exposição "Registros de uma Guerra Surda", com 220 documentos da época. O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, participará da cerimônia de inauguração, às 19h. A partir de segunda-feira, a exposição estará aberta ao público.

Entre os principais destaques da mostra estão os originais do Ato Institucional nº 5 e da ata da reunião do conselho de ministros que discutiu sua edição. Ambos serão expostos pela primeira vez. A exposição traz também pareceres da censura contra composições de artistas. A exposição é fruto do projeto "Memórias Reveladas", patrocinado por estatais como o Banco do Brasil, que reuniu um acervo de 16,8 milhões de páginas de arquivos estaduais e federais.

PSDB vai explorar alta da inflação em programa de TV
A forma de abordar o assunto e a definição de outros temas a serem usados como bandeiras pelo partido serão definidos depois de ampla pesquisa que a cúpula tucana vai realizar em abril. Os temas serão debatidos na reunião de amanhã entre o presidente da legenda, deputado Sérgio Guerra, e os oito governadores do partido, em Belo Horizonte.

Guerra participará da primeira parte do encontro dos governadores, que tratarão, ainda, de uma pauta de reivindicações dos Estados para o governo federal. Anfitrião da reunião, o governador de Minas, Antonio Anastasia, evita associar o governo Dilma Rousseff o risco de volta da carestia. "A preocupação com a inflação é permanente no PSDB e em qualquer pessoa em sã consciência", disse ele ontem, antes do velório do vice-presidente José Alencar.

No Relatório Trimestral de Inflação, divulgado na quarta-feira, o Banco Central reduziu de 4,5% para 4% a previsão do crescimento da economia do país neste ano. A instituição afirmou que poderá alcançar em 2012 a meta de inflação de 4,5%. A estimativa do BC para o IPCA, principal índice de preços, neste ano subiu de 5% para 5,6% -dentro do teto para a meta de 6,5%.

PPS ameaça expulsar filiados que não apoiaram candidatos da sigla
Diretórios estaduais do PPS, partido de oposição ao governo federal, abriram uma série de processos para expulsar lideranças que não apoiaram candidatos da sigla na eleição de 2010. Na mira, estão políticos que não deram apoio a nomes do partido na disputa para deputado estadual e federal, cuja bancada determina o tempo de TV que o PPS terá em 2012.

A caça aos infiéis – uma orientação do diretório nacional – coincide com a retração do PPS após o rompimento com o governo Lula. Pelo menos 60 lideranças – entre prefeitos, vice-prefeitos e vereadores – já foram expulsas ou desligadas por infidelidade partidária nos seis maiores colégios eleitorais do país. Outros 24 casos estão em análise.

Metas do Judiciário não foram cumpridas, diz estudo do CNJ
O Judiciário não cumpriu as metas fixadas pelo CNJ (Conselho Nacional de Justiça) para 2010. Segundo levantamento divulgado ontem pelo conselho, dos 17,1 milhões de novas ações que ingressaram ano passado, 1 milhão não foi analisado. O objetivo era zerar o estoque.

O presidente do STF, Cezar Peluso, responsabilizou a falta de estrutura. Segundo ele, o desempenho depende de "condições materiais nem sempre presentes e cuja responsabilidade não é do Judiciário". O acúmulo de 2010 soma-se aos mais de 86,5 milhões de processos já na fila.

Cremação não prejudica ação de paternidade
O vice-presidente José Alencar era réu em um processo de reconhecimento de paternidade e, em vida, se negou a colher material genético para um teste de DNA. No processo, ainda não concluído, Rosemary de Morais, 55, pede para ser reconhecida como filha de Alencar com a enfermeira Francisca de Morais.

Após a morte dele, a defesa de Rosemary disse que não iria se opor à cremação do corpo do vice. A Justiça havia considerado a recusa de Alencar em fazer o teste como presunção de paternidade. A defesa do vice recorreu. A ação está em andamento, mas o advogado de Rosemary, Geraldo Jordan, disse que a cremação não prejudica o processo.

Segundo o Departamento de Genética e Morfologia da UnB, o teste ainda pode ser feito em algum parente de Alencar -a probabilidade de acerto, porém, cai de 99,9% para cerca de 85%.

Unido a Kassab, vice de Alckmin perde espaço
O vice-governador de SP, Guilherme Afif Domingos, começa a pagar o preço por seguir o prefeito Gilberto Kassab no projeto de fundar um novo partido, o PSD, cuja principal missão é inaugurar uma terceira via política em São Paulo e furar a polarização PT-PSDB no Estado. Afif, que acumula a chefia da Secretaria de Desenvolvimento Econômico, perdeu o controle do Conselho Estadual de Petróleo e Gás Natural para a Secretaria de Energia, do tucano José Aníbal.

O órgão – cuja principal função é acompanhar o cumprimento de metas de atividades relacionadas à extração de petróleo em SP – era subordinado à pasta de Afif. A transferência de chefia, determinada pelo governador Geraldo Alckmin (PSDB), foi publicada ontem no "Diário Oficial". O governo nega que a mudança tenha motivação política. A assessoria do governador afirma que a transferência do conselho estava prevista desde a transição. Procurado pela Folha, Afif não quis falar sobre o assunto.
Fonte: Congressoemfoco

Cada povo tem o Bolsonaro que merece

"Como pode o eleitor não enxergar que seu flagelo é, antes de tudo, uma autopunição? Chicotada nas próprias costas. E como gosta!"

Heitor Peixoto*

Era uma vez um país que punia deslizes.

Era uma vez. Eram duas... Três. Mil. Três mil. Três mil e três talvez. Ou mais. Um país que punia seus Moraes. Você se lembra? Ou também se lixa? Se tem decoro, se tem ficha? Você se importa? Se a conduta é reta ou se é conduta torta? Se o cara é de lata ou se é de ouro? Se o ouro é bom ou se é de tolo? Se tem folha de serviços ou se é folha corrida?

Um país que punia deslizes e declarações infelizes. Preconceito racial, sexual... É tudo igual.
Preconceito não tem meio termo, ou vira coisa banal. Conceito ermo... Etcetera e tal.

Um país que tinha faro. Pra pegar Roriz, pra pegar Bolsonaro.

Esse país... Pois é! Não era o Brasil. Que por ora só pune quem não pune os escorregões. Seja dos pequenos, seja dos barões.

Como pode o eleitor não enxergar que seu flagelo é, antes de tudo, uma autopunição? Chicotada nas próprias costas. E como gosta!

Projeto ficha limpa já é coisa da gente. Seja agora ou mais pra frente. Mas quem tem o poder do voto precisaria de um projeto assim?

No nosso caso, temo dizer que sim. Pelo menos enquanto durar o analfabetismo cívico, político, cidadão. E nesse passo, ficha limpa vira diferencial, quando deveria ser coisa normal. O mínimo, algo trivial.

Mas seguimos pagando por nossos erros, apatia, comodismo e preguiça mental. E vendo lá longe, bem longe, no que até parece ser outro país (de outra língua, aliás), parcas discussões sobre uns bichos muito estranhos: distritão, lista aberta, lista fechada, cláusula de barreira... candidatura avulsa. Vixe!

Ah, deixa isso pra lá! Vamo vê Big Brother, vê Maria ganhá! E lá na enquete? Como é que tá lá?

*É repórter da TV Assembleia MG. www.twitter.com/heitor_peixoto
Fonte: Congressoemfoco

Ministros do STF devolvem recursos de "fichas sujas" ao TSE

Quatro recursos de ex-candidatos barrados foram devolvidos. Ainda tramitam no STF 24 recursos de candidatos que contestam da lei

31/03/2011 | 20:43 | G1/Globo.com

Os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) Celso de Mello e Ellen Gracie decidiram nesta quarta-feira (30) devolver ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) quatro recursos de ex-candidatos barrados nas eleições de 2010 pela Lei da Ficha Limpa. Entre eles, está o do ex-governador de Roraima Flamarion Portela (PTC).

Na última quarta-feira (23), por 6 votos a 5, o STF decidiu que a Lei da Ficha Limpa não deveria ter sido aplicada às eleições do ano passado. A norma, que barra a candidatura de políticos condenados por decisões de colegiados, entrou em vigor em junho de 2010.

No julgamento, o plenário autorizou os ministros a decidir os casos de forma individual. Mas, de acordo com o Código de Processo Civil, nesse tipo de recurso, é possível optar por decidir individualmente ou remeter o processo à instância de origem, no caso TSE.

O objetivo da devolução dos processos à Justiça Eleitoral seria garantir que eles sejam decididos uniformemente. Segundo a assessoria do TSE, caberá tribunal eleitoral analisar se, com base na decisão do Supremo, os candidatos poderão ser liberados dos efeitos da Lei da Ficha Limpa.

O ministro Celso de Mello devolveu ao TSE o processo de Roberto Barros Júnior (PSDB-AC). Candidato a deputado estadual, ele foi condenado pelo Tribunal de Justiça do Acre por crime contra o patrimônio, sentença confirmada, em 2009.

A ministra Ellen Gracie remeteu ao TSE o processo de Flamarion Portela. O ex-governador do estado, barrado por ter tido os direitos políticos suspensos pelo TSE, foi acusado de compra de votos e uso da máquina pública nas eleições de 2002. Teria sido eleito no ano passado deputado estadual com 2.295 mil votos.

Além dele, foram devolvidos por Ellen Gracie os recursos de José Luiz Nogueira de Sousa (PT-AP) e Uebe Rezeck (PMDB-SP), ambos concorreram para deputado estadual.

Tramitação

Ainda tramitam no STF 24 recursos de candidatos que contestam da Lei da Ficha Limpa. Não há prazo para que o TSE analise a situação dos candidatos.

Em entrevista na semana passada, o presidente do TSE, ministro Ricardo Lewandowski, explicou que cada recurso de candidato barrado terá que ser analisado separadamente. "É preciso aguardar que todos os trâmites processuais se encerrem para que a haja a substituição", disse.

Segundo ele, depois de liberado o registro do candidato que foi barrado nas eleições de 2010, o TSE e os tribunais regionais eleitorais deverão refazer cálculo do quociente eleitoral – caso seja necessário – e proclamar novamente o resultado das eleições.

Com isso, o próprio político poderá pedir para que a Câmara, o Senado ou as Assembleias Legislativas nos estados tomem providências para empossá-lo. De acordo com Lewandowski, os ex-candidatos que já tiveram os recursos julgados poderão entrar com pedidos para que a situação seja reconsiderada, segundo a decisão do STF sobre a ficha limpa.Não terão direito a rever a situação do registro os políticos barrados que não concorreram no pleito ou os que não entraram com recurso na Justiça.

Fonte: Gazeta do Povo

Luiz Fux se defende citando Tom Jobim e Newton Mendonça

Pedro do Coutto

Numa entrevista surpreendente aos repórteres Vera Magalhães e Márcio Falcão, Folha de São Paulo de segunda-feira, o ministro Luiz Fux afirmou textualmente não aceitar ser responsabilizado pelo voto que anulou a aplicação da Lei da Ficha Limpa nas eleições de 2110. Seu voto foi para que ela seja considerada constitucional a partir de 2012. Em indiretamente, citou Tom Jobim e Newton Mendonça, época da Bossa Nova, autores do Desafinado. O Desafinado está citado no livro de Ruy Castro, Chega de Saudade, sobre aquele movimento musical, uma ruptura com o passado, em 1959, mas que parece ter ficado para sempre assim como Noel Rosa ficou.

Por que digo que Luiz Fux referiu-se a Tom Jobim e Newton Mendonça? Porque ele próprio afirmou a Vera Magalhães e Márcio Falcão, referindo-se a si próprio que “debaixo da toga de juiz também bate um coração”. E, em seguida, acentuou que nos seus julgamentos tenta equilibrar razão e sensibilidade. Chega de saudade. Razão e sensibilidade é o título de um filme inglês de sucesso exibido no Rio há uns poucos anos.

Portanto, como destaca na entrevista, ele tem suas razões. Achou que o artigo 16 da Constituição sobrepõe-se ao princípio da moralidade no que se aplica à política. O artigo 16 é o que determina que alterações na legislação eleitoral somente entram em vigor no exercício seguinte ao de sua aprovação. Portanto, como não há eleições em 2011, a Ficha Limpa só vale a partir de 2012.

O voto do novo ministro do STF está criando uma controvérsia enorme e vai ampliá-la ainda mais. Na realidade, o voto foi proferido em recurso de um deputado. Matéria fortemente controversa dizer que se estende a Jáder Barbalho. ao ex-governador João Capiberibe e a outros.

O presidente do Tribunal Superior Eleitoral, Ricardo Levandowsky, também integrante do Supremo, sustenta a tese de que a decisão de 6 a 5 só vale para quem formulou o recurso, não podendo automaticamente estender-se as todos, entre os quais o senador Jáder Barbalho, que renunciou ao mandato de deputado para escapar de seu julgamento pela Corte Suprema. Manobra para deslocar o processo para a Justiça Comum.

Mas provavelmente o ex-ministro da Previdência Social do governo José Sarney vai desconsiderar a própria renúncia e recorrer para ter reconhecido seu mandato de senador pelo Pará.

O tema não é simples, é confuso. A tendência do TSE, repetindo o entendimento anterior, derrubado pelo voto decisivo de Fux, é a de não reconhecer tal mandato. Inclusive porque Jáder Barbalho concorreu sem ter o registro concedido. Outro aspecto sinuoso em torno da questão. O caso Barbalho, com o seu dossier noir, típico dos grandes processos franceses, como o julgamento de Dreyfus, capitão expulso do Exército, defendido pelo notável Émile Zola. Dreyfus era acusado de traição. Barbalho é alvo de processos de corrupção. A diferença não termina aí. Dreyfus não renunciou. Barbalho sim.

O fato é que o tema de agora vai se estender à exaustão. Ocupará amplo espaço na Corte Suprema. E Jáder Barbalho, embora o mais emblemático, não está sozinho nesse terceiro turno eleitoral aberto inegavelmente – com razão ou sem ela – pelo jurista Luiz Fux.

Ao assumir o posto de ministro, proferiu um discurso belíssimo propondo uma visão moderna quanto a produção, distribuição e rapidez do Direito. A imagem ficou no papel. Como o vulto da mulher que ficou na taça, valsa de Orestes Barbosa. O ministro Luiz Fux rejeita a culpa que ninguém lhe atribuiu. No lugar de culpa, a palavra melhor, me parece, seria a responsabilidade. De qualquer forma fica na história pelo seu voto.
Desafinou em relação à opinião pública.

Fonte: Tribuna da Imprensa

A Revolução de primeiro de abril (1)

Carlos Chagas

O dia é hoje, não ontem, como impuseram com medo da confusão com o dia da mentira. Não foi a 31 de março que os militares tomaram o poder, no longínquo 1964. Nesse dia saíram dos quartéis, mas só a primeiro de abril o presidente João Goulart deixou o palácio Laranjeiras, no Rio, passando por Brasília. Já na madrugada do dia 2 voou para Porto Alegre, de lá tomando o rumo do exílio no Uruguai.

A pergunta que se faz é como tudo pode acontecer sem derramamento de sangue nem respeito às instituições então vigentes. A resposta clássica é de que elas, as instituições, não valiam mais nada, postas em frangalhos pela conspiração que vinha de muito tempo, liderada pelas forças econômicas apavoradas com a marcha das reformas de base, prometidas por Jango. Dias antes ele havia nacionalizado as refinarias de petróleo e assinado decreto para desapropriar terras ao longo das rodovias e ferrovias federais, para efeito de reforma agrária. Prometia participação dos empregados no lucro das empresas, co-gestão e ampliação dos direitos trabalhistas implantados décadas antes por Getúlio Vargas.

Diversos grupos militares conspiravam alegando a iminência do comunismo ou, pelo menos, do estabelecimento de uma república sindicalista no Brasil. Empresários, na medida da amizade e do conhecimento com generais e coronéis, há muito financiavam a campanha de descrédito do governo, valendo-se dos principais meios de comunicação, financiados com recursos nacionais e americanos.

Os egressos da Escola Superior de Guerra, o chamado grupo da Sorbonne”, com Cordeiro de Farias, Ademar de Queirós, Jurandir Mamede e, chefe de todos, Humberto de Alencar Castello Branco. Até meses antes, não articulavam a queda do governo Goulart, mas a formação de um esquema militar capaz de impedir um golpe dado de cima para baixo. Havia o grupo paulista, estabelecido ao redor do governador Ademar de Barros, com coronéis radicais dispostos a prender o comandante do II Exército, Amaury Kruel, se ele não aderisse à conspiração, compadre que era do presidente da República.

No Rio, em torno do general Costa e Silva, funcionava uma espécie de sublegenda da sofisticada “Sorbonne”, militares mais radicais e dispostos ao rompimento da legalidade. O governador da Guanabara, Carlos Lacerda, atuava como peão da propaganda anti-Goulart, mas como não sabia guardar segredo, viu-se taticamente posto à margem de planos conspiratórios. Em Minas, depois da adesão do governador Magalhães Pinto, impulsionado pelo ex-ministro da Guerra, Odilio Denis, preparavam uma ação militar os generais Luís Carlos Guedes e Olimpio Mourão Filho, comandando também a Polícia Militar mineira.

Todos os grupos se uniram, mesmo implicitamente, depois do célebre comício na Central do Brasil,a 13 de março, sexta-feira, quando João Goulart discursara como uma espécie de presidente rebelde, prestes a atropelar a Constituição e o Congresso, infenso às reformas e divido de alto a baixo. No dia 30, contrariando conselhos de correligionários tão díspares quanto Tancredo Neves, Santiago Dantas e Tenório Cavalcanti, Jango não cancelou sua ida ao Automóvel Clube, quando discursaria para sargentos do Exército, empenhados em quebrar os rígidos regulamentos da hierarquia castrense. Os da Marinha, junto com marinheiros e fuzileiros navais, já se haviam rebelado de verdade, constituindo um verdadeiro soviete na força.

Anistiados em poucas horas, só deram pretexto à oficialidade naval para romper qualquer tipo de diálogo. O ministro da Marinha se demitira, o presidente não encontrou um só almirante do serviço ativo que aceitasse substituí-lo, fixando-se num velhinho reformado que integrava o Tribunal Marítimo e que ao tomar posse declarara um absurdo “com,o custa derrotar o capitalismo agonizante”.

Goulart foi e, como não podia deixar de ser, empolgou-se com os discursos revolucionários e até superou os demais oradores. Era a linguagem radical que os conspiradores queriam ouvir, como estímulo final ao golpe.

Faltava apenas a precipitação, de que se encarregou o general Mourão Filho, em Juiz de Fora. Ex-chefe do serviço secreto da Ação Integralista Brasileira, autor do falso Plano Cohen que serviu de pretexto para a decretação do Estado Novo, em 1937, tratava-se de um general de Divisão prestes a passar para a reserva. Comandava a Infantaria Divisionária e pouco depois da meia noite, já na madrugada do dia 31, botou a tropa na rua. Desceria a estrada União e Indústria, ligando a “Manchester Mineira” ao Rio, ainda que com tanques obsoletos e fraca artilharia. Esperava que outros contingentes militares se rebelassem em todo o país, mas não tinha certeza.

Pela manhã, Jango foi acordado no palácio Laranjeiras com a notícia de uma rebelião limitada a Minas. Em Belo Horizonte, o governador Magalhães Pinto ocupara postos de gasolina e mandara prender líderes sindicais, liberando um manifesto considerado insuficiente pelo general Mourão. Logo realizou-se uma reunião do presidente com alguns ministros, mas Jair Dantas Ribeiro, da Guerra, encontrava-se hospitalizado. Substituía-o chefe de gabinete, general Moraes Âncora. O ministro da Aeronáutica sugeriu que uma esquadrilha de caças levantasse vôo e paralisasse a tropa que descia a serra com bombas incendiárias.

O presidente assustou-se: “vai morrer gente, inclusive moradores da região, não vai?” “Vai”. “Então não quero”. Acertou-se que uma tropa do Regimento Escola de Infantaria, aliás, muito maior e mais bem equipada, comandada pelo general Cunha Melo, deixaria Vila Militar e deteria os rebeldes ainda na fronteira entre os estados do Rio e de Minas. (Continua amanhã)

Fonte: Tribuna da Imprensa

Quando é que o Supremo vai parar de dizer bobagens sobre a ficha limpa? E o voto sobre a anistia ampla, geral e irrestrita? Jamais se poderá esquecê-lo.

Helio Fernandes

Parece que não existe outro assunto. Os ministros, já no quarto pronunciamento, repetem o que já afirmaram. Alguns, pelo menos fazem pequena reformulação, mudam frases, cansados deles mesmos. E os que assistem à TV Justiça? O único jeito é desligar.

O único que está apenas (?) no segundo voto, repete tudo, deslumbrado com tanta sabedoria, é Luiz Fux. Mas não sai do lugar, não convence ninguém. Até o comentarista deste blog (que se assina José Antonio, e adora discordar desde repórter, nenhuma importância) chamou de “besteirol” uma afirmação de Fux.

E concordo plenamente com ele. O novo ministro afirmou, “não desempatei nada, segui a maioria dos ministros”. José Antonio referendou a minha perplexidade, ele seguiu a “maioria de 5 a 5”. Ha!Ha!Ha!

Como existem 140 pessoas (candidatos) atingidos de uma forma ou de outra pelo entendimento do Supremo, repetirão tudo o mesmo número de vezes. O ministro Lewandowsky teve a coragem de afirmar: “Cada caso é um caso, precisa de uma decisão”. Mais do que lógico e irrefutável.

No recurso extraordinário do deputado estadual de Minas, os ministros deveriam ser obrigados a dizer apenas: “Repito meus votos anteriores”. Ou então: “Não conheço do recurso”.

E aparentemente há divergência no Supremo. O procurador-geral da República falava apenas 15 minutos, Cezar Peluso pediu para que concluísse, o que fez civilizadamente. O Supremo não precisa seguir o procurador-geral, mas não pode votar sem a participação dele.

Já o ministro Fux se repetiu por 56 minutos de relógio, disse quatro vezes: “Estou concluindo”. E continuava violentando a paciência geral. Fux adora contar a história do Papa que foi “enterrado” com todas as honras, “desenterrado” e condenado à pena máxima. Que esqueceu de dizer qual era.

O Supremo como um todo (nesse caso excluindo Luiz Fux, que na época nem imaginava que chegaria ao Supremo, o STJ já era o sonho de uma noite de verão), toda vez que for decidir questão importante, não pode esquecer um dos julgamentos mais lamentáveis, equivocados e desafiadores da opinião pública.

Foi na questão da análise e julgamento da aberração conhecida como “ANISTIA AMPLA, GERAL E IRRESTRITA”. O Supremo referendou e considerou LEGÍTIMA a decisão da ditadura, sem contestação de ninguém.

Os ditadores ainda no Poder, consideraram que essa era a MELHOR FORAM DE PREPARAREM A SAÍDA, se mostrando generosos determinando a própria inocência. Diga-se que esses generais morreram em odor de santidade, mas viveram “FÉTIDOS DE RESPEITABILIDADE” (Bernard Shaw).

***

PS – Os senhores ministros não esquecerão jamais essa manifestação através do voto, inocentando os torturadores, inocência que só existiu mesmo no Brasil.

PS2 – Agora, num protesto direto e indireto contra o Supremo do Brasil, a Suprema Corte da Argentina condenou o general Videla à PRISÃO PERPÉTUA. Outros estão presos, ou sabiamente morreram antes.

Helio Fernandes/Tribuna da Imprensa

quinta-feira, março 31, 2011

Liberdade de imprensa

STF - Mantida decisão que isentou jornalista de indenização por dano moral a desembargador

A 2ª turma do STF negou provimento ao AI 705630 (clique aqui), que pretendia levar o Supremo a rever decisão que absolveu o jornalista Cláudio Humberto de Oliveira Rosa e Silva do pagamento de indenização por danos morais ao desembargador aposentado Francisco José Rodrigues de Oliveira, de Santa Catarina.

O agravo questionava o despacho do ministro Celso de Mello, relator do processo, que em junho de 2010 julgou improcedente ação indenizatória proposta pelo desembargador na Justiça Estadual catarinense.

O caso iniciou-se com a publicação de uma nota pelo jornalista, segundo a qual o desembargador teria, em menos de 12h, reintegrado seis vereadores do município de Barra Velha após votar contra no mesmo processo. Dizia a nota:

"O judiciário catarinense é uma ilha de agilidade. Em menos de 12 horas, o desembargador Francisco de Oliveira Filho reintegrou seis vereadores de Barra Velha, após votar contra no mesmo processo. Os ex- -cassados tratavam direto com o prefeito, ignorando a Constituição. A Câmara vai recorrer. O povão apelidou o caso de 'Anaconda de Santa Catarina'".

Para a defesa do desembargador, a alusão à operação da PF que, em 2003, revelou atividades ilícitas na JF de SP, "ofende e desmoraliza a honra do agravante, procurando associá-lo ao escândalo Rocha Matos, de repercussão nacional".

No voto em que manteve o entendimento anterior – e confirmado à unanimidade pelos ministros da 2ª turma –, Celso de Mello afirma que o conteúdo da nota, "longe de evidenciar prática ilícita contra a honra subjetiva do suposto ofendido", foi, na realidade, o exercício concreto da liberdade de expressão. "No contexto de uma sociedade fundada em bases democráticas, mostra-se intolerável a repressão estatal ao pensamento, ainda mais quando a crítica – por mais dura que seja – revele-se inspirada pelo interesse coletivo e decorra da prática legítima de uma liberdade pública de extração eminentemente constitucional", afirmou.

O ministro explicou que a liberdade de imprensa compreende, dentre outras prerrogativas, o direito de informar, de buscar a informação, de opinar e de criticar. A crítica jornalística, portanto, é direito garantido na CF/88 (clique aqui) e plenamente aceitável contra aqueles que exercem funções públicas. "O interesse social, que legitima o direito de criticar, sobrepõe-se a eventuais suscetibilidades que possam revelar as pessoas públicas", afirma.

O relator acentuou que a publicação de matéria jornalística com observações mordazes ou irônicas, ou opiniões "em tom de crítica severa, dura ou, até, impiedosa", especialmente se dirigidas a figuras públicas, não caracteriza hipótese de responsabilidade civil. "A crítica que os meios de comunicação social dirigem às pessoas públicas, por mais acerba, dura e veemente que possa ser, deixa de sofrer, quanto ao seu concreto exercício, as limitações externas que ordinariamente resultam dos direitos da personalidade", afirmou. "O direito de crítica encontra suporte legitimador no pluralismo político, que representa um dos fundamentos em que se apóia, constitucionalmente, o próprio Estado Democrático de Direito", concluiu.

O agravo foi provido apenas parcialmente, na parte relativa à inversão do ônus da sucumbência, fixando o ministro em 10% sobre o valor atualizado da causa a verba honorária a ser suportada pela parte ora recorrente.

Clique aqui e veja a íntegra da decisão.

Fonte: http://www.migalhas.com.br/Quentes/17,MI129964,71043-STF+Mantida+decisao+que+isentou+jornalista+de+indenizacao+por+dano

A greve dos juízes federais

O Estado de S.Paulo

Para tentar forçar a aprovação de um reajuste de 14,79% em seus vencimentos, a título de reposição da inflação, a Associação dos Juízes Federais do Brasil (Ajufe) tomou duas iniciativas polêmicas. A entidade é integrada por cerca de 2 mil magistrados, que hoje recebem R$ 22,9 mil por mês. Em 2009, a corporação reivindicou um reajuste de 16% e recebeu um aumento de 8,8%, pago em duas parcelas. Os juízes também estão pleiteando o reconhecimento de "simetria de carreira" com o Ministério Público Federal. Os integrantes deste órgão têm direito a vantagens funcionais que não são garantidas à magistratura.

A primeira iniciativa da Ajufe foi anunciar uma greve dos juízes federais no dia 27 de abril, com o objetivo de cobrar maior envolvimento do presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) nas lutas salariais da corporação e de pressionar o Ministério do Planejamento - o órgão responsável pelo Orçamento da União. A segunda iniciativa foi protocolar uma ação no STF, pedindo à Corte que determine o aumento de seus ministros, independentemente de decisão do Congresso.

O projeto de aumento da magistratura - que tem seus vencimentos atrelados aos dos ministros do Supremo - foi enviado pelo ministro Cezar Peluso ao Congresso em agosto de 2010 e ainda não foi votado. Pelo projeto, os ganhos dos ministros do STF passariam de R$ 26,7 mil para R$ 30,6 mil - e, com isso, os ministros do Superior Tribunal de Justiça passariam a receber R$ 29,1 mil; os desembargadores federais, R$ 27,6 mil; e os juízes federais R$ 26,3 mil.

A direção da Ajufe alega que o reajuste anual dos salários do funcionalismo está previsto pela Constituição (na realidade, ela fala em "revisão", obviamente dependendo da disponibilidade de caixa da União, o que não é o mesmo que aumento). A categoria também afirma que a Constituição garante a irredutibilidade dos salários. Segundo os juízes, a inflação corrói o poder aquisitivo - e, se os vencimentos não são corrigidos, isso configuraria uma efetiva redução de salário (o que a Carta proíbe é redução nominal dos vencimentos). Na ocasião em que o projeto de Peluso foi divulgado, o então ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, classificou como "delirantes" as pretensões do Judiciário - que também pedia verbas suplementares para planos de cargos e reformas administrativas.

Na ação aberta no STF, os juízes federais acusam os presidentes do Senado e da Câmara de tratar o Poder Judiciário de modo discriminatório, recusando-se a colocar o projeto de Peluso na pauta de votação. Em resposta, o presidente da Câmara, deputado Marco Maia (PR-RS), e o líder da bancada majoritária, deputado Paulo Teixeira (PT-SP), informaram que o projeto do Supremo não é prioritário.

Com o mandado de omissão impetrado na mais alta Corte do País, os dirigentes da Ajufe, que no mês de fevereiro já haviam trombado frontalmente com o Palácio do Planalto, entram em rota de colisão com o Poder Legislativo. "O governo não pode tratar sua relação com outro Poder, que é independente, como se estivesse negociando com sindicato de motorista de ônibus", disse o presidente da entidade, Gabriel Wedy, no mês passado. Diante da repercussão negativa de sua declaração, dias depois ele divulgou nota procurando justificar a comparação.

As iniciativas da Ajufe podem gerar graves problemas institucionais. Em primeiro lugar, ao pedir que o STF determine o aumento da magistratura independentemente do Congresso, a entidade está estimulando um perigoso confronto entre os Poderes. Em segundo lugar, se aumentarem seus vencimentos atropelando o Congresso, os ministros do STF estarão decidindo em causa própria, o que comprometerá sua autoridade. E, por fim, se entrarem em greve, como estão ameaçando, os juízes federais estarão descumprindo a Constituição. Como a Carta garante o acesso à Justiça, se cruzar os braços, a magistratura federal estará afrontando garantias fundamentais - atitude inadmissível para uma corporação que tem o dever funcional de zelar pelo cumprimento da ordem constitucional.

Ditadura Militar no Brasil, onde tudo começou Parte 1 de 3



O começo da brutalidade foi exatamente em 31 de março de 1964.

Com documentos produzidos pelos próprios militares identificou mais de cem torturas usadas nos "anos de chumbo" (1964-1985). Esse baú de crueldades, que incluía choques elétricos, afogamentos e muita pancadaria, foi aberto de vez em 1968, o início do período mais duro do regime militar. A partir dessa época, a tortura passou a ser amplamente empregada, especialmente para obter informações de pessoas envolvidas com a luta armada. Contando com a "assessoria técnica" de militares americanos que ensinavam a torturar, grupos policiais e militares começavam a agredir no momento da prisão, invadindo casas ou locais de trabalho. A coisa piorava nas delegacias de polícia e em quartéis, onde muitas vezes havia salas de interrogatório revestidas com material isolante para evitar que os gritos dos presos fossem ouvidos. "Os relatos indicam que os suplícios eram duradouros. Prolongavam-se por horas, eram praticados por diversas pessoas e se repetiam por dias", afirma a juíza Kenarik Boujikain Felippe, da Associação Juízes para a Democracia, em São Paulo. O pau comeu solto até 1974, quando o presidente Ernesto Geisel tomou medidas para diminuir a tortura, afastando vários militares da "linha dura" do Exército. Durante o governo militar, mais de 280 pessoas foram mortas - muitas sob tortura. Mais de cem desapareceram, segundo números reconhecidos oficialmente. Mas ninguém acusado de torturar presos políticos durante a ditadura militar chegou a ser punido. Em 1979, o Congresso aprovou a Lei da Anistia, que determinou que todos os envolvidos em crimes políticos - incluindo os torturadores - fossem perdoados pela Justiça.

Arquitetura da dor.

Torturadores abusavam de choques, porradas e drogas para conseguir informações.

Cadeira do dragão

Nessa espécie de cadeira elétrica, os presos sentavam pelados numa cadeira revestida de zinco ligada a terminais elétricos. Quando o aparelho era ligado na eletricidade, o zinco transmitia choques a todo o corpo. Muitas vezes, os torturadores enfiavam na cabeça da vítima um balde de metal, onde também eram aplicados choques.

Pau-de-arara

É uma das mais antigas formas de tortura usadas no Brasil - já existia nos tempos da escravidão. Com uma barra de ferro atravessada entre os punhos e os joelhos, o preso ficava pelado, amarrado e pendurado a cerca de 20 centímetros do chão. Nessa posição que causa dores atrozes no corpo, o preso sofria com choques, pancadas e queimaduras com cigarros.

Choques elétricos

As máquinas usadas nessa tortura eram chamadas de "pimentinha" ou "maricota". Elas geravam choques que aumentavam quando a manivela era girada rapidamente pelo torturador. A descarga elétrica causava queimaduras e convulsões - muitas vezes, seu efeito fazia o preso morder violentamente a própria língua.

Espancamentos

Vários tipos de agressões físicas eram combinados às outras formas de tortura. Um dos mais cruéis era o popular "telefone". Com as duas mãos em forma de concha, o torturador dava tapas ao mesmo tempo contra os dois ouvidos do preso. A técnica era tão brutal que podia romper os tímpanos do acusado e provocar surdez permanente.

Soro da verdade

O tal soro é o pentotal sódico, uma droga injetável que provoca na vítima um estado de sonolência e reduz as barreiras inibitórias. Sob seu efeito, a pessoa poderia falar coisas que normalmente não contaria - daí o nome "soro da verdade" e seu uso na busca de informações dos presos. Mas seu efeito é pouco confiável e a droga pode até matar.

Afogamentos

Os torturadores fechavam as narinas do preso e colocavam uma mangueira ou um tubo de borracha dentro da boca do acusado para obrigá-lo a engolir água. Outro método era mergulhar a cabeça do torturado num balde, tanque ou tambor cheio de água, forçando sua nuca para baixo até o limite do afogamento.

Geladeira

Os presos ficavam pelados numa cela baixa e pequena, que os impedia de ficar de pé. Depois, os torturadores alternavam um sistema de refrigeração superfrio e um sistema de aquecimento que produzia calor insuportável, enquanto alto-falantes emitiam sons irritantes. Os presos ficavam na "geladeira" por vários dias, sem água ou comida.

Fonte: http://www.sitepopular.com.br/noticias/noticias2006/ditadura310311.html

31 de março: um dia para não esquecer

“Quarenta e sete anos depois do golpe militar, o Brasil vive em pleno regime democrático. Hoje é presidido por uma mulher que foi perseguida, presa e condenada por aqueles que faziam a ditadura. Mas nem tudo está consolidado”


Embora os dias tenham rigorosamente as mesmas quantidades de horas, minutos e segundos, sendo fisicamente iguais entre si, todos eles guardam diferenças simbólicas que os tornam especiais. Alguns causam grandes emoções, representando datas queridas e inesquecíveis, como os aniversários de nascimento, namoro, primeiro beijo ou casamento. Outros ingressam definitivamente em nossa mente por marcarem episódios tristes, não raro a morte de algum ente querido ou o rompimento com a pessoa amada.

As datas simbólicas não se contentam apenas com a vinculação aos atos intimistas ou àqueles típicos do quintal individualista. Elas também interagem de tal forma com o sentimento coletivo de um povo, que é até difícil imaginar a história do mundo sem que elas existissem. Nesse rol estariam, dentre outras, as datas comemorativas das lutas pela independência de uma nação, o massacre violento de pessoas, uma revolução que se instala ou até o martírio de um povo.

Nesse contexto, não poderiam passar despercebidas datas patrióticas como o 7 setembro dos brasileiros, o 4 de julho dos estadunidenses e o 14 de julho dos revolucionários franceses. Também ilustram o time o 1º de maio dos trabalhadores, o 8 de março das mulheres e, como não poderia deixar de ser, o famoso 25 de dezembro dos cristãos. Aliás, a própria Igreja Católica sempre presenteou os fiéis com datas dedicadas aos santos defensores de seus ideais, várias delas estrategicamente transformadas em feriados oficiais.

O quadragésimo sétimo aniversário do golpe militar de 31 de março faz o brasileiro lembrar uma dessas datas emblemáticas na história de um povo. Ainda mais quando simboliza um pensamento que perdurou por longos e tenebrosos anos. Foram dias em que a força bruta governava e paralisava toda uma nação, fazendo adormecer os sonhos de uma geração que ansiava reformar a velha e conservadora sociedade brasileira. Era o tempo em que imperava o medo. O medo de exprimir o mais simples dos pensamentos. O medo de ser denunciado por apenas ler um livro ou gostar de determinada música. O medo até de dizer que se tinha medo.

E quem superava o medo era trancafiado em um desses calabouços oficiais que escondiam um envergonhado submundo de torturas, prisões clandestinas e “desaparecidos” escondidos pela própria máquina estatal. Era o tempo do compulsório “amar” ou “deixar” o país. Era o tempo em que o presidente constitucionalmente eleito fora derrubado, o Congresso Nacional fechado, parlamentares cassados, eleições diretas fulminadas, e governadores e senadores biônicos a nos representar. Era o tempo em que o Poder Judiciário estava castrado na sua missão de livre decidir, violado na sua independência, desrespeitado em suas prerrogativas, humilhado com a cassação dos ministros Evandro Lins e Silva, Victor Nunes Leal e Hermes Lima. Era o tempo da censura, das perseguições políticas e da revogação do habeas corpus, em que os brasileiros eram calados apenas em razão de desejarem, “sem lenço ou documento”, viver em um país democrático.

Quarenta e sete anos depois, o Brasil vive em pleno regime democrático. Hoje é presidido por uma mulher que foi perseguida, presa e condenada por aqueles que faziam a ditadura. Em suas várias instâncias políticas, situação ou oposição, destacam-se executivos, magistrados e parlamentares que foram perseguidos ou não colaboraram diretamente com o regime militar. A presidenta Dilma Rousseff sucedeu, inclusive, o também ex-preso político Luiz Inácio Lula da Silva. Contudo, ainda não se permite dizer que a vitória democrática está plenamente consolidada.

Ainda permanece ativo parte do entulho moral autoritário que tanto atormentou os brasileiros, sequer permitindo que a sociedade saiba o que ocorreu na região do Araguaia ou nos porões que torturavam almas e corpos. Negam-nos o sagrado e constitucional Direito à Memória e à Verdade. Nega-se que mães possam saber ou enterrar seus filhos. Ainda quando o Brasil é condenado pela Corte Interamericana de Direitos Humanos, a nossa História continua sonegada. E é esta parte que permanece a impedir que o Brasil de se torne uma nação em paz com a sua própria consciência.

Lembrar o aniversário do golpe militar é questão de sobrevivência democrática. Desvendar o passado, nesse caso, é compreender o presente. Escrever o presente é antecipar o futuro. Afinal, não se pode reproduzir o tempo em que medo era servido na mesa do brasileiro. Lembrar o dia 31 de março de 1964 é, portanto, ensinar que a ditadura jamais deve ser esquecida, até porque nunca poderá ser repetida.

* Advogado, integra o Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES) e preside a Comissão de Relações Internacionais da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). Foi presidente do Conselho Federal da OAB e da União dos Advogados de Língua Portuguesa (Ualp). Mantém perfil no Twitter no endereço @cezar_britto.

Outros textos do colunista Cezar Britto*

Fonte: Congressoemfoco

Nos jornais: Judiciário eleva gastos, mas não cumpre meta

BC desiste de tentar baixar inflação para 4,5% em 2011

O ESTADO DE S. PAULO

Judiciário eleva gastos, mas não cumpre meta
Mesmo gastando mais do que previsto, o Poder Judiciário gerou um estoque de quase um milhão (exatos 989.321) de novos processos sem julgamento em 2010, quando a meta definida era não acumular nenhum processo proposto à Justiça durante o ano. Assim, o número de casos não julgados deve passar dos 86,5 milhões registrados em 2010.
Os números fazem parte de levantamento do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), aos quais o Estado teve acesso. A avaliação da produtividade da Justiça será divulgada oficialmente hoje, 27 dias antes da greve por melhores salários marcada por juízes federais. A categoria quer reajuste de 14,79%, e o porcentual seria estendido a todos os magistrados que tiveram a performance avaliada. Entre as metas fixadas no ano anterior pelo CNJ , estava a redução de 2% do consumo de energia elétrica, telefone, água, papel e combustível.
A realidade ficou bem distante da meta. Os custos do Judiciário com esse tipo de insumo cresceram 17%. O CNJ atribui o aumento de gastos a atividades típicas do ano de eleições.
Metas. Foi o segundo ano em que o trabalho do Judiciário foi acompanhado por meio de metas previamente definidas e que tinham por objetivo avaliar a qualidade da prestação de serviços pelo Poder.

BC desiste de tentar baixar inflação para 4,5% em 2011
O Banco Central não trabalha mais para levar a inflação a 4,5% neste ano. Segundo a relatório trimestral de inflação, divulgado ontem pelo BC, diante dos choques (especial mente de alimentos) na inflação, a custo para levar o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) ao centro da meta em 2011 seria muito elevado para o crescimento econômico, cuja projeção foi reduzida de 4,5% para 4% de alta. Por isso, a estratégia explicitada ontem é aceitar um pouco mais de inflação neste ano e fazer o IPCA ir para 4,5% só em 2012.

Obama assina ordem secreta e CIA já ajuda insurgentes na Líbia
A CIA iniciou operação clandestina na Líbia para auxiliar os rebeldes que lutam contra o ditador Muamar Kadafi, revelou o jornal The New York Times, citando funcionários do governo americano. A ação, segundo a agência Reuters, é resultado de ordem assinada pelo presidente Barack Obama para dar apoio secreto dos EUA aos insurgentes. As informações surgem no momento em que a coalizão em ação na Líbia discute se fornecerá armas aos rebeldes - que ontem sofreram diversas derrotas. O chanceler líbio, Moussa Koussa, foi para Londres e desertou, informou a governo britânico.

Em Portugal, Dilma confidencia ter ‘problema de maioria’
Perto de completar 100 dias do governo com a maior base de apoio no Congresso desde a redemocratização, pelo menos na teoria, a presidente Dilma Rousseff confindenciou nesta quarta-feira, 30, ao presidente português, Aníbal Cavaco Silva, ser obrigada a negociar com os parlamentares aliados "caso a caso", prática conhecida como "varejo" em votações importantes no Congresso.
"Nós temos um problema sério de maioria", afirmou Dilma, em conversa reservada com Cavaco Silva, na cerimônia de doutoramento do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na Universidade de Coimbra (Portugal). Dilma estava sentada a cerca de um metro e meio do cercado reservado para cinegrafistas e fotógrafos. Enquanto Lula cumprimentava outros doutores da universidade, a presidente explicava a Cavaco Silva que mesmo sua base 366 deputados e 52 senadores exige negociações constantes para aprovação de projetos de interesse do governo, como o valor do salário mínimo, por exemplo.
"Tem maioria na Câmara e no Senado, mas a cada votação sempre é necessário fazer uma avaliação caso a caso", disse Dilma. "Agora, sem coligação é muito difícil de governar", completou.

OAB- RJ pede à Câmara cassação de Bolsonaro
No mesmo dia em que a Ordem dos Advogados do Rio de Janeiro (OAB-RJ) protocolou uma representação contra ele na Câmara, por quebra de decoro parlamentar, o deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ) voltou a fazer declarações polêmicas. Indagado sobre as reações à sua afirmação sobre gays no programa CQC, da TV Bandeirantes, ele respondeu: "Estou me lixando para o movimento gay. O que eles têm para oferecer? Casamento gay? Adoção de filho por gay? Nada disso acrescenta nada."
Ao chegar ao velório do ex-vice-presidente José Alencar, em Brasília, Bolsonaro voltou a dizer que houve um erro na sua resposta à cantora Preta Gil, pela qual tem sido acusado de racismo. "Eu fui entrevistado por um laptop. Minha resposta não foi àquela pergunta", afirmou. "O que entendi, por Deus do céu, era o que eu achava de um filho casar com gay."

HOJE NO CONGRESSO EM FOCO
Bolsonaro declara guerra aos homossexuais

MPF denuncia Marcos Valério por fraude processual
Réu em uma série de processos nas justiças estadual mineira e Federal, o empresário Marcos Valério Fernandes de Souza terá mais uma ação para se preocupar. Ele é acusado pelo Ministério Público Federal (MPF) em Minas Gerais de fraude processual, por vender um imóvel que era alvo de arresto - apreensão judicial. A mulher do empresário, Renilda Santiago Fernandes de Souza, também foi denunciada.
Segundo a Procuradoria da República, o imóvel é um lote no bairro Retiro do Chalé, em Brumadinho, num condomínio que abriga diversas mansões. O terreno era alvo de um arresto determinado pelo Supremo Tribunal Federal (STF), a pedido do então procurador-geral da República, Antônio Fernando Souza, no processo sobre o esquema do mensalão.

Fraude teria desviado R$ 50 mi de cofres públicos no AM
Pelo menos R$ 50 milhões foram desviados dos cofres do governo do Amazonas numa suposta fraude com emissão de notas fiscais frias por empresas de publicidade em serviços superfaturados ou não realizados para a Universidade do Estado do Amazonas (UEA). De acordo com o delegado local da Polícia Federal (PF) Domingos Sávio Pinzon Rodrigues, o esquema funcionava desde 2003.
"Só em três notas de serviços de produção de vídeo supostamente não realizados apreendidas nas diligências hoje foram mais de R$ 1,5 milhão em serviços não realizados", disse o delegado. Segundo Rodrigues, há indícios de crimes contra a ordem tributária, falsidade ideológica e fraudes em licitações no governo amazonense. Um dos supostos esquemas envolveria serviços de vídeo superfaturados ou não realizados ao governo do Amazonas pelas empresas de publicidade Sol Comunicação e Jobast Produções Cinematográficas, com intermédio da Fundação Muraki.

Ex-prefeito acusado de propina é preso em Jandira
Empresas ligadas à chamada máfia da merenda pagaram cerca de R$ 1,5 milhão em propinas para a administração petista de Jandira, na Grande São Paulo. O dinheiro era entregue pessoalmente ao então prefeito Paulo Bururu (PT), que foi preso ontem em flagrante sob a acusação de porte ilegal de armas. Ele nega.
Às 6 horas de ontem, policiais e promotores do Ministério Público Estadual (MPE) revistaram a casa de Bururu e de outras quatro pessoas. Na casa do ex-prefeito, em um condomínio em Jandira, os promotores acharam US$ 7,3 mil, uma pistola, uma espingarda e documentos de imóveis que seriam de Bururu, mas que não foram declarados à Receita Federal.

Milhares vão a velório de Alencar
José Alencar é velado por parentes no Palácio do Planalto: até o início da noite, 4,5 mil pessoas haviam enfrentado pequenas filas e um forte esquema de segurança para se despedir do ex-vice-presidente, que morreu anteontem. O corpo de Alencar vai ser levado hoje para Belo Horizonte e, após velório no Palácio da Liberdade, será cremado. 'Para José, fomos além do limite. Demos a ele tempo e qualidade de vida, e as condições para se despedir', disse o cirurgião Raul Cutait.

Verba da merenda é usada para comprar uísque em AL
A merenda dos alunos da rede pública de ensino da capital alagoana e de mais 12 cidades do interior do Estado estava sendo desviada para compras de garrafas de vinho e uísque, entre outros produtos. Pelo menos cinco pessoas acusadas de participação no esquema já estão presas na sede da Polícia Federal em Maceió. Outras 11 estão sendo procuradas. A farra com o dinheiro público teria custado mais de R$ 8 milhões.
Entre os envolvidos estão atuais e ex-secretários municipais, mulheres de prefeitos, uma vice-prefeita e a ex-prefeita da cidade de Estrela de Alagoas, Angela Garrote - que já esteve envolvida na Operação Caetés, também da Polícia Federal, deflagrada no fim do ano passado.

O GLOBO

BC vê pressão gigantesca sobre os preços em 2011
No primeiro Relatório de Inflação do governo da presidente Dilma Rousseff, o Banco Central (BC) sinalizou que já não há como atingir o centro da meta de inflação este ano, que deve fechar em 5,6% pelo IPCA, mais de um ponto percentual acima do alvo central de 4,5%, porém ainda dentro da margem de tolerância que vai até 6,5%. Como a economia ainda estaria digerindo o choque que o diretor de Política Econômica do BC, Carlos Hamilton de Araújo, chamou de "gigantesco", por efeito da explosão dos preços das commodities desde agosto de 2010, a instituição deve trabalhar para evitar a contaminação de outros setores da economia de modo que o IPCA - que ultrapassará o teto de 6% da meta no terceiro trimestre deste ano - arrefeça e possa convergir para o centro da meta. Mas isso só aconteceria em 2012. A previsão é que o índice chegue a 4,4% em junho do ano que vem.
- No segundo semestre de 2010, o mundo e nós fomos apanhados de surpresa por um gigantesco choque de commodities. Em nove meses, os preços subiram 70% e isso tem mais impacto no Brasil do que em outros países - admitiu o diretor ao apresentar o documento. O choque "gigantesco" terá um impacto de 2,5 pontos percentuais na composição da inflação assim que for totalmente absorvido, segundo o BC. Dois terços deste valor já teriam sido computados no ano passado, mas ainda resta um impacto importante de cerca de 0,8 ponto para 2011. Na prática, é como se o país já partisse de uma inflação de 5,3% a 5,4% para o ano.

As últimas homenagens
Com honras de chefe de Estado, o corpo do ex-vice-presidente José Alencar foi velado ontem no Palácio do Planalto. Quase cinco mil pessoas e uma centena de autoridades e políticos de vários partidos passaram pelo Salão Nobre para se despedir de Alencar, sempre destacando sua lealdade e seu exemplo na luta contra o câncer. Em Portugal, o ex-presidente Lula dedicou a Alencar o título de doutor honoris causa que recebeu da Universidade de Coimbra. Depois, com a presidente Dilma Rousseff, voltou ao Brasil a tempo de ir ao velório do amigo.

Lula dedica título de doutor honoris causa a Alencar
Ao receber ontem o título de doutor honoris causa da Universidade de Coimbra, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez um longo discurso, exaltando feitos dos seu governo e louvando a parceria que teve ao longo dos últimos oito anos com o seu vice-presidente, José Alencar, e sua sucessora, a presidente Dilma Rousseff. Lula mais uma vez se emocionou ao falar do companheiro morto na terça-feira e dedicou o prêmio a ele.
- Eu estou sentindo um misto de tristeza e alegria. Tristeza pela morte do companheiro José Alencar, e alegria pelo título. Tenho certeza de que onde ele estiver, ele estará feliz por mim, porque foi uma das pessoas que mais torceram e que mais comemoraram comigo a concessão deste título. Este título é dele - disse Lula, emocionado, ao chegar para a cerimônia.

Curió, um dos chefes da repressão à Guerrilha do Araguaia, é preso no DF
O oficial de reserva Sebastião Curió Rodrigues de Moura, um dos chefes da repressão à Guerrilha do Araguaia, foi preso anteontem em sua casa em Brasília durante uma operação de busca e apreensão a documentos da ditadura. Os agentes federais buscavam documentos que pudessem ajudar na localização de corpos das vítimas da guerrilha. Segundo a Superintendência da Polícia Federal (PF) do Distrito Federal, o major Curió guardava em casa armas sem o devido registro de porte, o que resultou na prisão.
A PF não informou quantas armas e quais os modelos do armamento encontrado sem registro. Depois de prestar depoimento à Justiça Federal e aos policiais federais, Curió foi levado para o Batalhão de Polícia do Exército, uma vez que é militar, onde está preso.
Os agentes federais e o procurador da República Paulo Roberto Galvão foram até a casa de Curió para tentar resgatar documentos do período da ditadura (1964-1985), em especial de sua atuação durante a Guerrilha do Araguaia, nos anos 70. Nos últimos anos, Curió afirmou em entrevistas que possuía farto material com detalhes das mortes dos guerrilheiros. Em sua casa, foram apreendidos papéis, um computador e as armas. O Ministério Público Federal (MPF) vai submeter o computador a análise em busca de documentos que possam estar digitalizados. Entre os papéis encontrados pelo MPF, estão páginas de documentos antigos com o selo "confidencial". No entanto, a instituição não confirmou se o material pode ajudar na localização dos corpos dos guerrilheiros enterrados no Araguaia (TO).

Primeiras-damas são presas por desviar merenda
A Polícia Federal prendeu 16 pessoas, entra elas quatro primeiras-damas de municípios, acusadas de desviar R$8 milhões da merenda, do Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), em 13 licitações. O dinheiro foi usado, entre 2007 e 2009, para pagamento de despesas pessoais, como caixas de vinho, ração para cachorro, uísque 12 anos e uma boneca.
Todos os produtos eram comprados em supermercados que ganhavam a licitação para a distribuição de merenda nas escolas de seis cidades. O dinheiro era descontado da verba enviada pelo governo federal.
Segundo a Polícia Federal, que desbaratou o esquema na Operação Mascotch, as empresas vencedoras das licitações usavam um valor abaixo do previsto na compra da merenda escolar. O restante abastecia o pagamento de propina (entre 5% a 10% do valor da licitação) e incrementava as compras das primeiras-damas:

MEC nega desativação de escolas especiais
O Ministério da Educação negou ontem que fechará as escolas do Instituto Nacional dos Surdos, em Laranjeiras, e do Instituto Benjamim Constant, na Urca. O ministro Fernando Haddad convocou os dirigentes das instituições para uma reunião terça-feira em Brasília.

Nas estradas, excesso de peso trafega livre
Associado às mortes nas BRs e a má qualidade do asfalto, o excesso de peso convive com a falta de fiscalização: o país só tem 70 postos de pesagem.

FOLHA DE S. PAULO

CIA ajuda rebelde líbio após ordem de Obama
EUA não confirmam nem negam; Gaddafi retoma terreno de rebeldes
Os EUA autorizaram missões secretas na Líbia para ajudar rebeldes contra o ditador Muammar Gaddafi. O serviço secrete britânico MI6 também está envolvido.
As informações foram divulgadas pelo jornal "The New York Times" e pela agência Reuters. A Casa Branca e a CIA (agência de inteligência dos EUA) não se manifestaram.

Bolsonaro diz estar se lixando para acusações
Irritado com a repercussão de suas declarações em entrevista à cantora Preta Gil na TV, o deputado federal Jair Bolsonaro (PP-RJ) disse que está se "lixando para esse pessoal aí", referindo-se à acusação de homofobia.

HOJE NO CONGRESSO EM FOCO
Bolsonaro declara guerra aos homossexuais

Sarney é homenageado por entidade de policiais federais
Com um filho indiciado pela Polícia Federal, o presidente do Senado José Sarney (PMDB-AP) foi homenageado ontem por entidades de classe que representam delegados e servidores da PF.
O presidente do Senado recebeu a medalha "Deferência Polícia Federal" pelos seus "serviços prestados" aos policiais durante sua vida política.
O Sindepol (Sindicato dos Delegados da Polícia Federal) organizou a homenagem após o nome de Sarney ter sido aprovado por um conselho integrado por membros das entidades.
O presidente do sindicato, Joel Zarpellon Mazo, disse à Folha que as acusações contra a família Sarney não invalidam a condecoração.

Adeus
Ao lado de Dilma, Lula chora no velório de José Alencar, no salão nobre do Palácio do Planalto (Brasília); cremação será realizada hoje em Belo Horizonte.

BC prevê um PIB menor e inflação maior para este ano
O Banco Central reduziu de 4,5% para 4% sua previsão para o crescimento da economia neste ano e elevou a sua estimativa da inflação de 5% para 5,6%.
O PIB deve se expandir menos por causa das medidas adotadas para conter a alta do crédito e impedir a elevação dos preços.
De acordo com o BC, será possível alcançar em 2012 o centro da meta de inflação, fixado em 4,5%, sem a necessidade de aumentar de novo os juros.

Diretoria da Vale desiste de saída coletiva após indicação
A indicação de Tito Martins para a presidência da Vale, conforme adiantou a Folha na edição de ontem, acalmou os ânimos na diretoria da mineradora e entre seus empregados, que temiam ingerência política na administração.
Martins é diretor-executivo de Metais Básicos da Vale e presidente da sua subsidiária canadense, Vale Inco.
A especulação em torno de nomes indicados pelo Planalto para presidir a empresa e a pressão do ministro da Fazenda, Guido Mantega, para a substituição de Roger Agnelli haviam gerado protestos dentro da mineradora.
Os diretores planejavam deixar coletivamente seus cargos com a saída de Agnelli. Tal decisão, apurou a Folha, perdeu força e está praticamente descartada com a escolha de Martins, empregado da companhia desde 1985 e que construiu uma sólida carreira na empresa.

Três meses de saias justas
Apesar da aprovação recorde no primeiro trimestre de governo em comparação com antecessores no mesmo período, o início da gestão de Geraldo Alckmin (PSDB) foi o prenúncio de um ano de dificuldades políticas.
Ele se desdobrou para internalizar crises entre tucanos e aliados em São Paulo. Já durante o período de transição, no qual desenhou seu secretariado, teve a conduta criticada por assessores do ex-governador José Serra.
As insatisfações foram declaradas publicamente, em entrevistas, e suscitaram rumores de atritos entre "serristas" e "alckmistas".
O governador não respondeu às críticas. Nos bastidores, pediu a aliados que não fizessem comentários que pudessem inflar o impasse.

Cidades de AL usam verba de merenda para uísque e ração
Dinheiro público que seria gasto com merenda escolar foi usado na compra de uísque, caixas de vinho e até ração para cachorro em municípios do interior de Alagoas.
Investigação do Ministério Público Federal, Controladoria-Geral da União e Polícia Federal encontrou indícios de que em nove cidades do Estado parte do repasse federal destinado à compra de alimentos foi usada para pagar compras para a casa de pessoas ligadas às prefeituras. Estima-se um desvio de R$ 8 milhões em dois anos.
Ontem, a PF montou uma operação nas prefeituras de Girau do Ponciano, Poço das Trincheiras, Estrela de Alagoas, Senador Rui Palmeira, Belo Monte, Limoeiro de Anadia, Lagoa da Canoa, Traipu e Craíbas. Foram expedidos 16 mandados de prisão e 13 pessoas foram presas -a PF não divulgou nomes.

CORREIO BRAZILIENSE

Durval encara Justiça e deve perder escolta
TJ vai decidir se mantém benefícios, como a redução de pena, por ele ter colaborado com investigações. Hoje, delator do esquema que derrubou Arruda vive cercado por 16 homens da elite da Polícia Civil. O GDF quer acabar com esse privilégio.

Povo e o poder no adeus a Alencar
Mais de 6 mil pessoas subiram ontem a rampa do Palácio do Planalto para o adeus a José Alencar. Diante do corpo, reverenciado com honras de chefe de Estado. O Brasil testemunhou mais uma obra da engenharia política e da civilidade que ele tanto cultivou em vida: estavam lá, lado a lado, o cidadão comum e a elite política e econômica do país. Sem choro nem histeria. Nos rostos, o sentimento predominante durante todo o velório foi de admiração, diante do guerreiro que parecia não temer a morte. Um clima quebrado apenas em momentos como o do desmaio de um guarda de honra do funeral e o do alvoroço causado pela chegada de Dilma e Lula. Muito abatido, o ex-presidente não conseguia conter o choro e dirigiu-se diretamente para o caixão. Hoje, o corpo de Alencar segue para Belo Horizonte, onde será velado e cremado, atendendo a um desejo do ex-vice-presidenteda República.

Muitas dívidas? Calote à vista
Brasileiros gastam 24,2% do salário para pagar financiamentos e juros, mais que os norte-americanos. BC teme onda de inadimplência.

Brasil vigia bagagens do Japão
Devido à ameaça nuclear, governo brasileiro vai vistoriar as malas e os produtos importados, principalmente alimentos.

Mutirão para reconstruir autoestima
Num dia, 61 mulheres do DF que sofreram de câncer passaram por plásticas na mama. Muitas estavam na fila havia 15 anos.

GDF perde seu 1º secretário
Chefe da pasta de desenvolvimento, José Moacir Vieira saiu alegando questões pessoais. Foram menos de 100 dias no cargo.

VALOR ECONÔMICO

Governo quer que a Petrobras faça as térmicas da Bertin
O governo federal estuda usar a Petrobras para construir as térmicas da Bertin e com isso garantir o suprimento de mais de 3.000 MW de energia em 2013. As tentativas, até agora frustradas, de que empresas privadas comprem as concessões de pelo menos parte das usinas do grupo e o atraso das obras preocupam o governo. A empresa já atrasou oito usinas e precisa construir 15 outras em menos de dois anos. Sem essas térmicas e com o retardamento no cronograma dos linhões do Madeira, o equilíbrio entre oferta e demanda pode ser afetado, se medidas não forem tomadas com urgência.
O Valor apurou que pelo menos cinco companhias privadas estudaram a compra das térmicas: CPFL Energia, MPX Energia, Alcoa, Equatorial e a alemã EON. As negociações não avançaram porque as empresas vislumbram uma série de dificuldades, entre elas a colocação da energia no sistema. A localização das usinas vendidas em leilão foi alterada pela Bertin, em busca de ganhos logísticos, mas isso significa alterar as linhas de transmissão.

Honoris causa
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva recebeu ontem o título de doutor honoris causa da Universidade de Coimbra. Lula disse que o Brasil fez uma "revolução econômica e social".

Programa plurianual será temático
O governo discute uma profunda mudança na forma de planejar as políticas públicas, com a adoção de uma nova abordagem e uma nova metodologia para o planejamento. Os novos conceitos serão expressos no Plano Plurianual de 2012/2015, cuja proposta será encaminhada ao Congresso até agosto.
O principal motivador da mudança é o entendimento de que os programas públicos devem nascer de uma política de governo e de Estado e que as ações são consequência dos compromissos assumidos pelo presidente da República e seus ministros. Até agora, os programas eram organizados em função de problemas que se queria solucionar ou de deficiências que se queria superar.

BC detalha política gradualista contra inflação
O Banco Central aumentou sua projeção de inflação para este ano de 4,8% para 5,6% e, ao mesmo tempo, adiou para 2012 a convergência dos preços para o centro da meta de 4,5%. Segundo o Relatório de Inflação, divulgado ontem, o custo de trazer a variação do IPCA para o centro da meta ainda este ano, dado o intenso choque das commodities, seria uma recessão da economia brasileira.
A nova direção do BC ainda não conseguiu ter o mercado financeiro como aliado. Apesar do discurso, aperto monetário de um ponto percentual e inúmeras medidas, os juros futuros de longo prazo sobem, as expectativas de inflação, tanto na pesquisa Focus quanto a implícita nos preços dos títulos públicos, seguem em alta e o dólar cai. Esse comportamento dos ativos é típico de momentos em que o mercado põe em xeque a capacidade da autoridade monetária colocar a inflação no eixo, em direção ao centro da meta.

'Nacionalização' da Apple
O governo federal está empenhado em viabilizar a produção de equipamentos da Apple no Brasil. Uma das medidas em estudo é a redução da carga tributária sobre tablets. A fabricação seria terceirizada.
Fonte: Congressoemfoco

Alencar harmonizou os andares de cima e de baixo em torno de Lula

Pedro do Coutto

Depois de uma luta intensa contra o câncer e a morte, exemplo de compromisso com a existência, o coração de José Alencar deixou de pulsar encerrando uma bela vida de sucesso, ao mesmo tempo de superação e afirmação humana. Foi um homem absolutamente autêntico, fiel a si próprio e a seus princípios, posição refletida nos pronunciamentos que, mesmo vice presidente da República, fez sobre temas econômicos, especialmente os envolvendo os juros pagos pelo governo e os cobrados pelos bancos no país.

Essa postura sobretudo ética lhe garante um lugar na história moderna do Brasil. Entretanto, sua presença nela é mais ampla. Ele se tornou, a exemplo de Tancredo Neves e Ulisses Guimarães, um dos responsáveis pela transição democrática entre o passado e o presente e também o início da construção de uma ponte para o futuro.

Sim. Porque sua presença na chapa liderada por Lula, na sucessão de 2002, praticamente eliminou a resistência que o empresariado, nacional e internacional, mantinham em relação ao candidato do PT. A resistência que o derrotou em 89, atemorizando também a classe média através de um risco (inexistente) da esquerdização do país, a partir de um retrocesso do sistema capitalista.

Tal hipótese significou um bloqueio no campo do voto. Aproximadamente 30% do eleitorado temiam que o sonho natural de subir mais um andar na escala social desaparecesse. Fenômeno político que se manteve nos pleitos de 94 e 98.

A entrada de José Alencar em cena em 2002 mudou o panorama. Um superempresário ao lado de um ex-líder sindical ao mesmo tempo causou surpresa e transferia a Lula a confiança que lhe faltava para vencer a resistência social repetida três vezes nas urnas.

Claro não foi este apenas o instrumento da mudança no campo eleitoral. Somou-se à impopularidade do presidente Fernando Henrique, cuja taxa de rejeição estava no alto da pirâmide do voto, com registro acentuado nos grupos de menor renda, os assalariados, mas sensível igualmente nos segmentos de maior poder aquisitivo.

A candidatura de José Serra, na sua primeira investida rumo ao Palácio do Planalto, foi travada simultaneamente pela imagem negativa dos tucanos e pela imagem positiva que Luis Inácio passou a alcançar como alternativa de poder avalizada pela bravura, simpatia pessoal, disposição de Lula, e o caráter capitalista que o vice emprestava à chapa popular.

Talvez sem Alencar, Lula não tivesse conseguido vencer ininterruptamente em 2002, 2006 e 2010, sucedendo-se a si próprio ao derrotar Geraldo Alckmim e elegendo sua sucessora. Lula tornou-se assim o único político do mundo a disputar cinco vezes a presidência da república. Perdeu três, venceu duas vezes e empatou o jogo assegurando a vitória de Dilma Rousseff. Os números – vale a pena lembrá-los – foram 62 a 38; 61 a 39; Dilma 56 contra 44 de Serra. Um patamar constante nas vitórias. A esperança venceu o medo, slogan síntese da jornada.

Mas eu citei a importância de José Alencar harmonizando e reunindo em torno de Lula o andar de cima e o andar de baixo. Tema do filme Metrópolis, do cineasta alemão Fritz Lang, um clássico de 1929, imagem muito usada nos excelentes artigos de Elio Gáspari, em O Globo e na Folha de São Paulo, quando aborda conflitos, aliás eternos, entre o capital e o trabalho. A imagem dos dois andares não inspira apenas Gáspari. Inspirou René Clair, como A Nós a Liberdade, e Charles Chaplin, gênio absoluto, em Tempos Modernos. Por sinal título da revista de cultura dirigida por Sartre e o filósofo Merleau Ponty, nas décadas de 40 e 50.

Alencar subiu com Lula o elevador de um andar para outro. E ele mesmo definiu o seu impulso dizendo na campanha de 2002: no mundo, o trabalho nasceu antes do capital. Por que não a harmonia entre ambos?

Fonte: Tribuna da Imprensa

Os juros mataram José Alencar

Carlos Chagas

Não foi o câncer que matou José Alencar. Foram os juros. Pelo menos para quem acredita que a saúde do ser humano é influenciada pelo seu pensamento, suas preocupações e suas tristezas. Espírito e matéria integram-se de forma indelével. Sendo assim, que nos perdoem os ex-presidentes do Banco Central, desde o governo Fernando Henrique até Henrique Meirelles, nos oito anos do Lula. Claro que sem intenção explícita, mas foram todos algozes do saudoso vice-presidente da República. Sem esquecer os ministros da Fazenda que concordavam em gênero, número e grau com a política do Banco Central. Com ênfase para Antônio Palocci e Guido Mantega.

Perguntará algum desavisado se o Lula também não entra nesse rol, mas a verdade é que os dois jogavam de parelha. Alencar criticava de público a alta dos juros, até de corpo presente, diante dos ministros e do presidente. Este nenhuma providência tomava para silenciar o substituto. Ao contrário, sorria maliciosamente. Diante de queixas repetidas de Palocci, dizia apenas nada poder fazer. O seu vice era livre para opinar sobre o que bem quisesse. Mas mandava o então ministro da Fazenda continuar com a estratégia econômica.

Não consta do livro sobre a vida de José Alencar, escrito pela jornalista Eliane Cantanhede, qualquer referência a conversas que ele terá tido com o Lula a respeito dos juros. Não errará, no entanto, quem supuser que chegavam às gargalhadas, em função do estímulo do presidente para o seu vice continuar no mesmo diapasão. Era a forma de o Lula aceitar o modelo econômico herdado do sociólogo, mas deixando aberta a janela do protesto e da discordância, pela voz de Alencar.

Mesmo assim, como os juros continuaram na estratosfera, terminaram por fulminar o empresário vitorioso, sempre preocupado com a legião de pequenos companheiros que não tiveram a sua sorte. Doía-lhe na alma a situação precária dos pequenos comerciantes e industriais menores, incapazes de enfrentar a política de juros e sempre à beira da falência. A Coteminas conseguiu sobreviver e até se ampliou, mas quantas fábricas têxteis e outras atividades empresariais malograram?

Estão desafiados todos os que negarem ligação entre a frustração de José Alencar diante dos juros exorbitantes e o câncer que o abateu, mesmo depois de muita luta e muita resistência.

TRISTE TEMPORADA

Pode ser coincidência, talvez seja uma forma de testarem a presidente Dilma, mas a temporada de greves começa forte. Os médicos conveniados com planos de saúde vão parar. Os juízes federais também. A polícia civil de Brasília já parou. Os transportes públicos em diversas capitais tem sido interrompidos. Operários de obras do PAC, com ênfase para usinas hidrelétricas em construção, chegaram a manifestações de força.

Parecem querer provocar o novo governo. Levá-lo a uma reação veemente ou, no reverso da medalha, mostrar sua frouxidão. Entre esses dois extremos a presidente deve equilibrar-se. Seria bom que o governo procurasse identificar as entidades responsáveis por esse surto grevista. Provavelmente identificam-se em termos ideológicos.

CONFIRMAÇÃO

Não se passaram mais do que 24 horas para a confirmação da briga de foice em quarto escuro verificada no ninho dos tucanos. Geraldo Alckmin, José Serra e Aécio Neves disputam, desde já, a futura indicação presidencial para as eleições de 2014. O governador de São Paulo fez um novo movimento, depois de sedimentar bases políticas muito fortes no interior do estado.

Durante a sessão do Senado que homenageou a memória de Mário Covas, assim como quem, não quer nada, Alckmin lançou a candidatura de Serra à prefeitura de São Paulo, ano que vem. Será a forma de afastá-lo da sucessão federal de dois anos depois, pois duas vezes não se renuncia a um mandato tão importante.

José Serra não comentou a estocada, mas o senador Aloysio Nunes Ferreira reagiu na hora, dizendo ser fora de cogitação a candidatura municipal do ex-governador, que continua no plano federal. Como a iniciativa permanece com o atual governador paulista, vamos aguardar o que ele tem reservado para Aécio Neves…

IMPASSE

Mesmo sob o fictício comando da OTAN, a coalizão que bombardeia a Líbia é dirigida mesmo pelos Estados Unidos. França, Inglaterra e Itália, para nem citar a Noruega, carecem de oxigênio financeiro para continuar gastando bilhões em mísseis, sobrevôos de aviões de caça e mobilização de belonaves. Calcula-se que com mais uma semana esses países refluirão os ataques, deixando as ações bélicas para os americanos.

Aqui as coisas se complicam, não por falta de dólares, mas de sinceridade. Até a imprensa conservadora de Nova York e Washington já questiona os motivos da continuação do bombardeio: se é para salvar a vida de inocentes beduínos rebeldes que Kadaffi vinha sacrificando, por que insistir na destruição de Trípoli, onde o ditador é absoluto e não precisa matar ninguém? Os “marines” vão desembarcar, apesar das negativas de Obama, por que sem eles Kadaffi permanecerá no poder? Mas se for assim, não estarão os Estados Unidos construindo um novo Iraque ou um novo Afeganistão?

Fonte: Tribuna da Imprensa

Ao mesmo tempo, o Brasil se vê obrigado a importar etanol e gasolina, às pressas. Isso significa que a Agência Nacional de Petróleo não planeja nada, não serve para nada. É apenas um cabide empregos criado por FHC.

Carlos Newton

Aqui no blog, temos mostrado a inutilidade das agências reguladoras criadas pelo então presidente FHC, de triste memória. Não servem para nada, exceto abrir empregos para os protegidos dos detentores do poder. Veja-se o exemplo da Agência Nacional do Petróleo (ANP), cujo presidente era genro do próprio FHC. O que faz?

Estamos em plena crise do etanol, todos sabem, o preço disparou, a presidente Dilma Rousseff já autorizou adicionar 1% de água ao álcool anidro (leia-se: etanol), quando o teor máximo permitido era de 0,4%, e está sendo providenciada importação de etanol dos EUA, que são os maiores produtores.

No meio desse tiroteio, a ANP divulga nota oficial, dizendo o seguinte: “Com base nos dados e informações apresentados e examinados não foram constatados sinais de descontinuidade no abastecimento de etanol”. Mas os jornais informam que, pelo contrário, no interior de São Paulo (maior produtor do país) e em alguns estados do Nordeste já há relatos de escassez do produto, o que tem frustrado os donos de carros flex.

Na verdade, a entressafra deste ano é uma das mais críticas da história e, ao contrário das expectativas e da escalada dos preços nos postos de abastecimento, o consumo não recuou o suficiente. Hoje, encher o tanque com álcool não é vantajoso em nenhum local do país.
E não há nenhuma novidade nisso, pois no ano passado a Câmara de Comércio Exterior (Camex) zerou o imposto de importação do etanol, e a medida vale até o fim de 2011. A alíquota era de 20% e caiu a pedido dos usineiros, que na época já previam dificuldades em suprir o mercado interno.

Assim, diante da possibilidade real de o Brasil sofrer com a falta de etanol, produtores e distribuidores decidiram importar dos Estados Unidos parte do combustível necessário para garantir o abastecimento ao longo dos próximos 45 dias.

A compra no mercado americano deve girar em torno de 700 milhões de litros — metade da demanda média nacional em um mês. O volume importado, fabricado à base de milho e não de cana-de-açúcar, será utilizado na mistura da gasolina que é vendida aos motoristas (cada litro recebe a adição de 25%).

A próxima safra de cana começa a ser colhida no fim de abril e abastecerá o mercado doméstico só a partir de maio. Até lá, o etanol deverá experimentar novas altas, inviabilizando ainda mais a comercialização. Em média, o litro já custa R$ 2,13 no país.
O governo, que teme pelo pior, age como se a Agência Nacional do Petróleo nem existisse.

Desde o início do ano, o Planalto monitora de perto a produção e o consumo de etanol. A presidente Dilma Rousseff não quer que erros do passado se repitam e encomendou à área técnica dos ministérios da Agricultura e de Minas e Energia estudos detalhados sobre o potencial de produção e de comercialização com foco na entressafra — período de novembro a abril. Os relatórios estão em fase final de elaboração. Nos bastidores, já se admite efeitos da alta do etanol sobre a inflação neste primeiro semestre.

Além de importar etanol, o governo também teve de comprar gasolina no exterior. Dia 15 de abril, chega ao Brasil um megacarregamento de gasolina importada pela Petrobrás. O diretor de Abastecimento da estatal, Paulo Roberto Costa, alega que o combustível será armazenado para garantir o abastecimento no mercado interno – que ficou aquecido, com a alta do preço do etanol.

O aumento do consumo de gasolina ocorre na entressafra da cana-de-açúcar, quando a disponibilidade de etanol é ainda menor e os preços sobem. No ano passado, a Petrobras importou 3 milhões de barris de gasolina de várias origens no início do ano, o que não fazia há cerca de 40 anos. As refinarias da Petrobrás trabalham a plena capacidade, produzindo 380 mil barris diários de gasolina, totalmente absorvidos pela demanda doméstica.

Como o Brasil há vários anos se tornou autossuficiente e passou a ser exportador de petróleo e derivados, o que se verifica é uma total falta de planejamento, porque as entressafras na produção de cana-de-açúcar ocorrem todos os anos, são totalmente previsíveis. Não é admissível faltar nem uma coisa – etanol – nem outra – gasolina. Aliás, para planejar o abastecimento é que existe a tal Agência Nacional do Petróleo. Mas só serve mesmo é como cabide de emprego.

Fonte: Tribuna da Imprensa

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