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Aloprados: Expedito Veloso, testemunha ocular. Um dos envolvidos conta quem foi o mandante
As prisioneiras do crack
O drama das mães brasileiras com filhos dependentes da mais destruidora das drogas
Segredo de estado
Até quando os documentos oficiais devem ser resguardados
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Dilma reconhece os méritos do governo FHC
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O ensino digital funciona
Novas pesquisas revelam como a tecnologia ajuda a melhorar as notas na escola
O calote rural de Daniel Dantas
A agropecuária do dono do grupo Opportunity, criada para ser a maior produtora de gado do mundo, acumula dívidas de R$ 60 milhões
Em 2008, o financista Daniel Dantas saiu da Brasil Telecom após uma guerra judicial que incluiu espionagens e jogo de influências. Ao fim da briga contra fundos de pensão e empresas estrangeiras, aceitou vender suas ações na companhia e recebeu aproximadamente US$ 1 bilhão na transação. Apesar da quantia embolsada, o desfecho daquela que foi considerada a maior disputa societária do país soou como derrota para o homem que um dia sonhou em ser o grande controlador da telefonia no Brasil.
Dominar o sistema nacional de telecomunicação não foi a única meta megalomaníaca de Dantas. Em 2005, o grupo empresarial do financista, o Opportunity, montou a Agropecuária Santa Bárbara Xinguara, criada para ser a maior produtora de gado do mundo. Comprou 27 fazendas e formou um rebanho de 500 mil cabeças. Documentos obtidos por ÉPOCA revelam que Dantas, como produtor rural, também começa a acumular problemas. A Santa Bárbara tem dívidas de R$ 60 milhões com fazendeiros dos quais comprou terras e bois. E está inadimplente.
Os documentos que descrevem as dívidas são relatórios de diretoria da Santa Bárbara produzidos entre o fim de 2010 e o começo deste ano. Nesses papéis, a companhia informa que a inadimplência é consequência do sequestro das fazendas e do gado pela Justiça Federal. A decisão judicial foi tomada em julho de 2009 num dos desdobramentos da Operação Satiagraha, da Polícia Federal (PF). Na investigação, a PF acusou Dantas de lavar dinheiro ilícito comprando fazendas e gado no Pará. Ele nega qualquer ilegalidade.
O humor ácido de Dilma
Famosa pela rispidez, a presidente tem também uma faceta engraçada. Ela gosta de dar apelidos aos interlocutores e se diverte com imitações do vice, Michel Temer
“Você é danado!”, para um governador. “Leão da Montanha”, para um vice. “The Turtle” (tartaruga), para um senador. “Não me venha de borzeguins ao leito”, para o presidente de uma estatal. É assim, entre apelidos e provérbios do arco da velha, que a presidente Dilma Rousseff, famosa pela rispidez, vem alinhavando seu lado bem-humorado. Pode não ter muita graça, mas são essas as histórias contadas por aqueles a quem ela faz sorrir. “Danado!”, por exemplo, é o governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral. A presidente, compulsiva com diminutivos, o chama comumente de Serginho. A exclamação é o prêmio que ele ganha depois de fazê-la rir com seu reconhecido dom para imitações. A mais recente é a do vice. “Faz o Michel, Serginho, faz o Michel”, pede a presidente, quando estão numa roda pequena. O governador capricha, transmuta-se em Temer, acentua um singular gestual das mãos. Dando risada, a presidente concede: “Você é danado!”.
“A presidente Dilma tem um senso de humor sofisticado, ao estilo mineiro”, afirma o governador Cabral. “É bem-humorada, mas está mais para o sorriso do que para a gargalhada.” Como exemplo do “bom humor” da presidente, Cabral conta um momento tenso que viveram juntos, dentro de um helicóptero, depois de um debate televisivo durante a campanha eleitoral. “O tempo fechou, a visibilidade era zero, o pouso foi difícil – e, com todo o estresse do debate, ela não esquentou a cabeça”, diz. “A presidenta sabe que a vida com bom humor é muito melhor.” Cabral também imita o ex-presidente Lula. Já o fez para o próprio, que adorou, e para Dilma, que repetiu o “Danado!”. Ele imita a presidente também – como já fez para Lula –, mas ainda não se atreveu a exibir-se para a própria. “Isso eu não faria”, diz. “No momento, estou me esmerando no Henrique Meirelles.”
“Leão da Montanha” – aquele personagem do estúdio americano Hanna-Barbera, do bordão “Saída pela esquerda...” – é o vice-governador do Rio, Luiz Carlos Pezão. A presidente passou a chamá-lo assim, nos momentos apropriados, durante a tragédia da Serra Fluminense, no começo de seu governo.
Quando o passado atrapalha
A polêmica sobre os pretensos prejuízos causados pela divulgação de documentos históricos atrasa a edição de uma lei que pode dar aos brasileiros mais mecanismos para fiscalizar o governo
Manter segredos por algum tempo é estratégico para qualquer país. Conservar esses segredos por prazo indefinido, no entanto, é uma distorção na democracia. Esse desvio é comum no Brasil, por causa da resistência à transparência e do secretismo em torno de atos que deveriam ser de conhecimento de todos, velhos vícios incrustados na administração pública brasileira. Quase três décadas após o fim do regime militar (1985-1964), a maior parte dos documentos oficiais produzidos permanece desconhecida. Há dois anos, descobriu-se que o Senado editou mais de 200 atos administrativos, que distribuíram benesses, queimaram dinheiro público e foram mantidos em segredo – contra o que manda a lei. Na semana passada, esses velhos vícios se manifestaram mais uma vez. Depois de sofrer pressões políticas comandadas por dois ex-presidentes, o governo Dilma recuou na disposição de aprovar rapidamente o Projeto de Lei 41, em tramitação no Senado, conhecido como Lei de Acesso à Informação. O fantasma criado por prejuízos que poderiam ser causados pela divulgação de documentos históricos serviu para brecar uma lei que moderniza a relação do Estado com os brasileiros.
Proposto em 2004 pela organização Transparência Brasil à Controladoria-Geral da União (CGU), o projeto cria uma lei que melhora o acesso dos cidadãos a dados públicos. Seu objetivo é criar meios de alguém saber, por exemplo, quanto a prefeitura de sua cidade paga à empreiteira que reforma uma avenida. Ao sair da Casa Civil da Presidência, no governo Lula, o projeto ganhou um acréscimo para regulamentar o acesso a documentos históricos. Foram reduzidas as categorias para classificação de documentos considerados sigilosos e os prazos que eles podem permanecer ocultos do público. O prazo para os mais sensíveis, chamados de ultrassecretos, caiu de 30 para 25 anos. Mas o segredo poderia ser renovado indefinidamente em casos especiais – o que manteria a possibilidade de documentos ficarem cobertos por um sigilo eterno. Ao votar o projeto, no ano passado, a Câmara dos Deputados derrubou essa prorrogação por prazo indefinido e limitou-a a apenas uma renovação. Nenhum documento ficaria mais de 50 anos em segredo.
Do Pantanal para Campinas
No escândalo que abala a maior cidade do interior de São Paulo, os investigadores descobriram indícios de que o esquema de fraudes com contratos de publicidade voltou a se repetir
O escândalo do mensalão em 2005 mostrou como os contratos públicos de publicidade viraram um dos canais preferidos dos políticos para superfaturar serviços, desviar dinheiro para campanhas eleitorais e, no meio do caminho, também enriquecer alguns espertalhões. O lobista mineiro Marcos Valério, operador do mensalão, tornou-se o símbolo da corrupção nessa área. O valerioduto, pelo qual as verbas de publicidade oficial eram drenadas para a compra de apoios políticos e caixa dois de campanhas, foi primeiro implantado por ele em Minas Gerais, durante um governo do PSDB, e depois foi reproduzido em escala federal pelo PT.
Valério pode ser considerado uma espécie de massificador da tecnologia de corrupção nos contratos publicitários, mas não foi propriamente um inovador. Antes que seu valerioduto fosse replicado e ampliado pelos petistas, fraudes semelhantes eram cometidas em outros Estados. O desmantelamento da quadrilha do mensalão, há mais de cinco anos, também parece não ter inibido a proliferação de tais esquemas em vários níveis da administração pública.
Há quase um mês, o Ministério Público (MP) de São Paulo desbaratou em Campinas, uma das mais ricas cidades do interior paulista, uma rede de corrupção na administração municipal. Um dos principais focos das fraudes eram as licitações feitas pela Sanasa, a empresa pública de saneamento da cidade. Segundo o MP, Rosely Nassim Jorge Santos, mulher do prefeito Dr. Hélio (PDT), no cargo há dois mandatos, alguns secretários municipais e o vice-prefeito, Demétrio Vilagra (PT), definiam as empresas que venciam as licitações e cobravam uma porcentagem sobre o dinheiro que a Sanasa pagava pelos serviços prestados. O total desviado chega a R$ 615 milhões. Há indícios de que o esquema tenha enriquecido ilicitamente os envolvidos e abastecido o caixa dois de campanhas políticas.
A República das mulheres
Primeiro foi a presidente. Agora, são as ministras. Será que a presença feminina faz mesmo tanta diferença assim no modo de governar?
“Acho que vou ter de arrumar umas tranças no cabelo”, disse na manhã da segunda-feira passada o secretário-geral da Presidência da República, ministro Gilberto Carvalho, último espécime masculino com algum poder no Palácio do Planalto. Ele estava na primeira reunião de trabalho da Presidência desde a chegada das ministras Gleisi Hoffmann (Casa Civil) e Ideli Salvatti (Relações Institucionais). Há boas razões para o chiste de Gilberto Carvalho: ele é o único homem que, pouco mais de oito anos após o início da era petista em Brasília, ainda tem emprego – e relevância – no Planalto. Precipitadas pela crise que culminou com a queda de Antonio Palocci do cargo de ministro da Casa Civil, as nomeações de Gleisi e Ideli não demonstraram apenas a evidente ascendência do poder feminino no novo governo. Demonstraram principalmente que, quando a oportunidade se apresenta, a presidente Dilma Rousseff prefere distribuir sua lealdade e confiança a mulheres.
As mais recentes nomeações femininas na cúpula do Planalto estabeleceram um fato inédito, que vai além do simbolismo representado pela eleição de Dilma à Presidência. Com tantas mulheres ocupando funções tão decisivas para os rumos do governo, pela primeira vez os destinos do país não estão diretamente subordinados ao talento político e à competência administrativa de homens. Para um país em que há menos de 80 anos uma mulher não podia sequer ser candidata, trata-se de um avanço admirável, a que agora corresponde uma responsabilidade de igual dimensão.
A opção de Dilma por construir seu grupo político valendo-se de mulheres apareceu logo no começo do governo. De cara, ela nomeou seis ministras: Helena Chagas para a Comunicação Social, Maria do Rosário para a pasta de Direitos Humanos, Izabella Teixeira para o Meio Ambiente, Tereza Campello para o Desenvolvimento Social e Combate à Fome, Ana de Hollanda para a Cultura e Luiza Helena Barros para a Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial. A chegada de Gleisi e Ideli a dois dos mais poderosos postos do governo estabelece o predomínio absoluto das mulheres no coração do poder. Fora do Palácio, a mulher que mais manda, sem dúvida, é Mirian Belchior, titular da pasta do Planejamento e Gestão. Ela coordena a execução do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e tem poder para autorizar ou barrar verbas federais, inclusive as cobiçadas emendas parlamentares.
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Os confidentes
Ela não decide sozinha. Há um restrito grupo de amigos e assessores a quem a presidente recorre nos momentos de crise, nas horas de tensão e quando precisa pedir conselhos, sejam pessoais ou sobre a escolha de novos ministros.
Depois de uma largada em que arrancou elogios até da oposição, a presidente Dilma Rousseff esteve às voltas, nas últimas semanas, com a crise política que envolveu o principal ministro do governo, Antônio Palocci. Nesse período, em que foi do céu ao inferno, a presidente não esteve solitária, como alguns dizem. Dividiu alegrias, angústias e apreensões com um número restritíssimo de auxiliares e amigos. O chamado grupo dos confidentes de Dilma é formado hoje por cinco pessoas: o chefe de gabinete da Presidência, Giles Azevedo, a ministra do Desenvolvimento Social, Tereza Campelo, o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Fernando Pimentel, o ex-presidente Lula e o ex-marido Carlos Paixão Araújo. Apesar de nunca abrir mão da palavra final, Dilma se aconselha com eles, seja antes de tomar uma decisão importante de governo, seja para desabafar sobre assuntos de cunho pessoal. “É difícil eu abrir coisas pessoais e compartilhar decisões, mas, quando o faço, a pessoa pode saber que ela é da minha inteira confiança”, costuma dizer a presidente, segundo relato de um assessor palaciano.
Os encontros ou conversas reservadas com integrantes do grupo de confidentes ocorrem normalmente, de maneira isolada, no Palácio da Alvorada, residência oficial da presidente, ou por telefone, e não compõem a agenda de compromissos do Planalto. Foi no Alvorada que Giles soube, em primeira mão, da demissão de Palocci dois dias antes do anúncio para a imprensa. Aconselhado, o chefe de gabinete fechou-se em copas até a confirmação. “A situação política se agravou. Não dá mais”, contou Dilma ao seu fiel escudeiro há pelo menos dez anos, não por acaso, chamado de “arquivo vivo” da vida pública da presidente. Nos últimos dez anos, Giles intermediou a maioria dos encontros políticos de Dilma. Hoje, o chefe de gabinete faz a triagem da extensa lista de políticos interessados em ser recebidos por Dilma no gabinete presidencial. O grau de intimidade e confiança é tanto que, em março, quando Dilma tirou férias numa área próxima à Barreira do Inferno, em Natal (RN), Giles foi o único integrante do governo a ser convidado a ir com ela. Ele, claro, atendeu prontamente.
Quem também está sempre a postos para os chamados de Dilma é Fernando Pimentel. Não raro, costuma receber telefonemas da presidente de madrugada. “O que você acha da Gleisi?”, perguntou Dilma a Pimentel numa dessas ligações inesperadas, antes de decidir nomeá-la ministra da Casa Civil. De todos os ministros, provavelmente Pimentel seja o mais próximo da presidente no âmbito pessoal. Ele é amigo e confidente de Dilma desde a ditadura militar, quando dividiram a cela.
Fábrica de ilusões
Mais de um ano depois de concluída, a primeira fábrica de chips do País já consumiu R$ 300 milhões dos cofres públicos e só produziu suspeitas.
Em oito anos de governo Lula, o PSB reinou absoluto no Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT). Uma das iniciativas mais celebradas ao final da gestão socialista na pasta foi a inauguração, no ano passado, da primeira fábrica de microchips do Brasil, localizada em Porto Alegre (RS). Em 25 de abril, mais de um ano depois do evento, o ministro Aloizio Mercadante visitou o local. Depois de algumas horas, saiu de lá com a impressão de que herdou da gestão anterior uma batata quente. A fábrica, que leva o nome de Centro de Excelência em Tecnologia Eletrônica (Ceitec), tem uma fachada imponente e um centro de design, mas não produziu um chip sequer até agora. E ninguém sabe ao certo quando o fará, embora já tenha consumido mais de R$ 300 milhões dos cofres públicos – o dobro do previsto inicialmente. As obras sofreram 13 aditivos em seis anos e estão na mira do Tribunal de Contas da União. Uma auditoria identificou várias irregularidades na construção, inclusive superfaturamento de ao menos R$ 15,8 milhões, além de problemas na licitação conduzida pela gestão anterior. Nos bastidores, Mercadante classificou a situação como “um escândalo”.
Ao voltar a Brasília, o ministro baixou portaria criando uma comissão técnica para acompanhar a entrega do Ceitec, mas com a ressalva de que o recebimento da fábrica, “não exclui a responsabilidade civil pela solidez e segurança da obra, nem ético-profissional pela execução do contrato”. Assim, Mercadante lava as mãos sobre prováveis problemas legais. “O PSB armou essa bomba, ele que desarme”, comentou Mercadante a assessores.
Entre os investigados pelo TCU estão o ex-ministro Sérgio Resende, o diretor financeiro da Ceitec, Roberto de Andrade, e o atual chefe de gabinete do governador de Pernambuco, Eduardo Campos, Renato Xavier Thiebaut. Todos foram arrolados no processo que apura indícios de superfaturamento.
Atentado contra a história
Levantando suspeitas não comprovadas de que o Brasil teria cometido erros no passado, os ex-presidentes e hoje senadores José Sarney e Fernando Collor de Mello agridem a democracia e tentam impedir que os brasileiros conheçam o próprio passado.
O Brasil está andando na contramão da história. Por sugestão dos senadores José Sarney (PMDB-AP) e Fernando Collor de Mello (PTB-AL), a presidente Dilma Rousseff decidiu rever o projeto de lei de acesso a informações públicas, admitindo a tese obscurantista de que alguns fatos e documentos merecem sigilo eterno. A atitude agride um princípio capaz de qualificar as democracias. A história de um país é de interesse público e deve ser tratada da forma mais transparente possível, pois pertence a todos os cidadãos. É inaceitável que apenas um determinado grupo de plantão no poder tenha acesso às informações sobre o passado de sua nação. Muito menos que esse grupo decida qual documento deve ou não ser divulgado. Em todo o País historiadores se declararam perplexos com a posição do governo. “É um imenso retrocesso”, afirma José Murilo de Carvalho, membro da Academia Brasileira de Letras. A mudança do projeto de lei evoca um tempo de sombras. No mundo atual, é cada vez maior a pressão para trazer a público o que os governantes tentam esconder. Um bom exemplo veio recentemente dos Estados Unidos, que divulgaram 40 volumes de arquivos secretos da guerra do Vietnã. Quatro décadas atrás, o governo americano processava jornais que vazavam esses documentos.
Os ex-presidentes Collor e Sarney argumentam que a divulgação de informações sigilosas teria impacto prejudicial à diplomacia brasileira, aos serviços de inteligência e à segurança nacional. Fatos históricos sobre a Guerra do Paraguai e a tomada do Estado do Acre foram apresentados como justificativa. Na quinta-feira 16, Collor divulgou uma lista com as mudanças que pretende impor ao projeto que chegou da Câmara. O texto original estabelece o prazo de 25 anos para a manutenção do sigilo de informações ultrassecretas, com a possibilidade de apenas uma prorrogação. Assim, após 50 anos, no máximo, todo e qualquer documento público estaria disponível aos interessados. A regra atual, definida no fim do governo Fernando Henrique, estabelece um prazo de 30 anos, renovável indefinidamente, para os documentos ultrassecretos.
A ideia de Collor é semelhante. Estabelece a renovação contínua para o prazo de 25 anos previstos no texto do projeto de lei da Câmara. Essa iniciativa fez com que toda a discussão sobre a abertura de arquivos, inclusive os da ditadura, voltasse à estaca zero. E o pior é que a medida teve o apoio imediato do governo, que até então defendia o contrário. Depois do impacto negativo, a nova ministra das Relações Institucionais, Ideli Salvatti, tentou reparar o erro, afirmando que a lei em discussão no Senado não valeria para os documentos da ditadura. Mas, havendo o sigilo eterno, será difícil convencer o Exército a tornar públicos os crimes cometidos em nome do regime militar.
Caserna em liquidação
Exército decide vender, sem licitação, a folha de pagamentos da tropa e arrecada menos.
A situação de aperto que ronda a caserna é conhecida de todos. Já as soluções para resolver o problema são negociadas a portas fechadas, nos gabinetes dos generais e bem longe dos olhos da sociedade. Um exemplo foi a decisão do Exército de terceirizar sua folha de pagamento, um negócio milionário. Só que em vez de fazer licitação, como outros órgãos da União, governos estaduais e prefeituras, o Exército optou pelo credenciamento. Ou seja, não houve concorrência entre as empresas e o Exército decidiu, sem divulgar os critérios de seleção, quem poderia ou não “comprar” a folha de pagamento por um preço preestabelecido. Na terça-feira 21, nove instituições bancárias, inclusive os estatais Banco do Brasil e Caixa Econômica, assinarão os contratos de parceria durante solenidade no Quartel-General em Brasília.
“O credenciamento é passível de críticas. O gestor, seja ele civil ou militar, deve se pautar pelo princípio da economicidade e buscar resultados positivos para a administração”, afirma o procurador-geral do TCU, Lucas Furtado, contestando o procedimento. Ele explica que, normalmente, é feito leilão para que o órgão obtenha o maior valor possível na venda da folha salarial. No edital do Exército, estipulou-se arbitrariamente o valor de R$ 15,98 a ser pago pelos bancos por conta de militar. Isso deve gerar uma renda mensal de R$ 3,5 milhões, considerando só os 220 mil beneficiários ativos. Por ano, são R$ 42 milhões. A soma é muito modesta, quando se compara a transação efetuada pelo Exército com contratos firmados por outras áreas. A Câmara dos Deputados, por exemplo, conseguiu R$ 44 milhões por ano por apenas 16 mil funcionários. Ou seja, o Exército com um efetivo 13 vezes maior receberá menos do que a Casa Legislativa.
A prática escolhida pelo Exército não representa ilegalidade. Mas diferenças assim, na opinião de Furtado, são fruto da falta de regulamentação. “Por movimentar quantias elevadíssimas, a venda da folha de pagamento deve ser regulamentada para evitar desvios e fraudes”, afirma o procurador. E também evitar barbadas de ocasião e bondosas liquidações, como parece ser o caso da caserna.
A Favela Dilma
Comunidade composta por 35 barracos na beira de uma estrada do Rio de Janeiro adota o nome da presidente para chamar a atenção do Estado e sair da miséria em que se encontra.
Foi tudo muito democrático. E estrategicamente planejado. Depois de sete anos de abandono completo do Estado, os moradores de uma favela em formação às margens da antiga Rio-São Paulo, a BR-465, em Campo Grande, na zona oeste do Rio, decidiram que apenas uma jogada de marketing ousada seria capaz de lançar luz sobre suas mazelas e atrair alguma atenção do poder público. Vagner Gonzaga dos Santos, 33 anos, que acumula as funções de pedreiro, pastor e representante da comunidade, assumiu a liderança no processo criativo da ideia. Passou semanas pensativo, andando meio avoado pelas ruelas de barro que abrigam os dois bares, os 35 barracos e a única igreja responsável por cuidar do rebanho de 150 almas que vivem ali. Até que há um mês decidiu. Reuniu todo mundo e vaticinou: a única maneira de chamar a atenção dos políticos era batizar a favela com o nome de um deles. Vagner pensa grande e propôs logo de cara que a comunidade ganhasse o nome da presidente da República. Não encontrou objeções e, desde então, o Rio de Janeiro ganhou a favela Dilma Rousseff.
Como toda boa ação de marketing, passou-se à fase de divulgação. Logo alguém teve a ideia de colocar uma placa com o novo nome da comunidade às margens da rodovia, sempre muito movimentada. E lá tascaram Comunidade Dilma Rusself, sem muitas preocupações com a exatidão da grafia do sobrenome da presidente. Houve protestos a respeito do erro, mas a conclusão consensual era de que não havia por que fazer correções; afinal, o recado estava dado. “Foi uma homenagem”, diz Vagner, um pouco antes de revelar o real objetivo da tal homenagem. “Queremos benefícios como energia elétrica e esgoto, ninguém nos atende.Precisamos chamar a atenção.”
CARTA CAPITAL
Classe C, 60%
Levantamento inédito mostra que até 2014 uma nova onda de inclusão achatará as classes D e E. Como essa mobilidade muda o Brasil, econômica e socialmente.
Alfredo falcão Limeira deixou Brasília em 1979 e chegou a São Paulo, fadado a seguir o roteiro dos migrantes que aportavam aos montes na metrópole, sem estudo nem posses. Instalou-se na periferia, trabalhou no chão de fábrica e em garagem de ônibus. Para tentar uma vida melhor, fez curso de cabeleireiro. Em 1985, construiu um salão de beleza na favela de Heliópolis e instalou-se com a mulher e a filha no andar de cima. O negócio deu certo, o pequeno prédio ganhou mais dois andares. Mas a história de Falcão não parou por aí.
A clientela passou a gastar mais com beleza nos últimos anos. A poucos metros do salão, na cada vez mais movimentada Estrada das Lágrimas, foram abertas recentemente uma agência do Bradesco e uma unidade das lojas Marisa. De olho na nova realidade, Falcão fez duas apostas ousadas. Criou uma linha de produtos de beleza, que leva seu nome e está em fase de pré-lançamento. No fim do ano passado, procurou um banco para financiar a compra de uma casa no bairro de classe média do Ipiranga, a poucos quilômetros da favela, onde vai inaugurar um novo salão no andar térreo.
A ideia é, mais uma vez, ocupar com a família o piso superior. Ainda falta convencer a mulher a deixar a vizinhança, mas para Falcão faz algum tempo que a vida fora de Heliópolis é uma realidade. No ano passado, ele foi a quase todos os grandes shows de rock internacionais -realizados em São Paulo. “Adorei ver o Metallica e o AC/DC, mas o Paul McCartney foi o que me emocionou mesmo”, conta. O novo endereço também vai facilitar suas visitas ao Parque do Ibirapuera, onde treina regularmente para acompanhar o circuito de corridas de rua da capital
Enfim, a chance da História
A verdade é revolucionária.” Quem cita o axioma do ícone marxista Vladimir Ilyich Lenin é um ex-militante da luta armada, o petista José Genoino, assessor especial do Ministério da Defesa. Aos 65 anos, Genoino parece refeito de maus tempos recentes: envolvido no escândalo chamado de “mensalão”, em 2005, tornou-se um dos 38 denunciados no Supremo Tribunal Federal. Desde então, o petista submergiu em um profundo silêncio, do qual raramente abre mão, sobretudo em relação à mídia. Em 2010, não foi reeleito para a Câmara dos Deputados após seis mandatos, mas acabou convocado para auxiliar a presidenta Dilma Rousseff a viabilizar a Comissão Nacional da Verdade.
Finalmente prestes a ser votado na Câmara dos Deputados, o projeto de lei cria condições para o Estado brasileiro, pela primeira vez desde 1964, investigar os crimes de violação de direitos humanos cometidos pela ditadura. Mais ainda: torná-los públicos. O texto do projeto, elaborado no início de 2010, ainda no governo Lula, tornou-se um compromisso de Dilma, disposta a fazer valer no governo o sonho de sua geração: resgatar a verdade factual dos anos de chumbo e organizar a memória da violenta história recente do País. Ponto, aliás, em que o Brasil está muito atrás dos vizinhos do Cone Sul.
Ex-guerrilheiros, ambos torturados por agentes da ditadura, Dilma e Genoino são parte de uma complexa operação política, cercada de cautelas e reuniões reservadas, nas quais aliados e oposicionistas firmaram, ao longo dos últimos três meses, um raro consenso. Basta dizer que um dos parlamentares mais empolgados com a comissão é ACM Neto, do DEM da Bahia, herdeiro político do avô, o falecido Antonio Carlos Magalhães, uma das faces civis da ditadura. Jovem liderança do ex-PFL na Câmara, ACM Neto vê no apoio à aprovação do projeto um passo fundamental para estancar a decadência da sigla e conduzi-la a um eleitorado mais de centro
Itália
A maioria repudia em referendo o sultão Berlusconi
Advogado da União constrange Dilma
O advogado Geral da União, Luís Adams, acaba de colocar a presidente Dilma Roussef em situação embaraçoso. Adams, perante o Supremo Tribunal Federal e nos autos do processo que deu, por 7×2 votos, pela constitucionalidade da lei de Anistia de 1979, desconsiderou a decisão da Corte Interamericana de Direitos Humanos (CIDH). Segundo decisão da CIDH o Brasil está obrigado a investigar todos os crimes de lesa-humanidade e os militares elaboraram uma autoanistia.
Da tribuna do STF, o advogado geral Adams sustentou que todos os crimes cometidos durante a ditadura militar (1964-1985) estão sob o manto dessa legislação, ou seja, são impunes.
Além de cassar a decisão da CIDH, o advogado Adams, —que no processo falou em nome do governo Dilma Roussef–, entende que a decisão do STF deve prevalecer sobre a da CIDH. No particular, tem a mesma e canhestra posição do ministro Nelson Jobim, aquele que, — conforme confessou em livro laudatório–, inseriu artigos na Constituição que não passaram pelos constituintes.
Haja bicarbonato
O senador Eduardo Matarazzo Suplicy, especialista em sandices pronunciadas no tom de quem distribui sabedoria de graça (não se deixem enganar pela imutável expressão atônita), diz que a Itália já digeriu a negativa à extradição de Cesare Battisti, como prova a presença no Brasil da filha de Silvio Berlusconi e do seu atual namorado, o jogador Alexandre Pato, em férias turísticas. Permito-me elaborar a lista de quem digeriu e de quem não digeriu, à luz da verdade factual.
Berlusconi, aliás, não teve tempo de sorver desta sopa indigesta para concentrar-se em temas mais prementes, a envolverem sua sobrevida política e seu destino de cidadão. No espaço de 15 dias, a maioria dos italianos votou contra ele e vetou sua enésima tentativa de escapar aos processos que o acuam ao exigir a igualdade de todos diante da lei, e desta maneira o expôs a um cacho de condenações, inclusive à cadeia.
Quem digere, de todo modo, é o governo do clown global, cujo peso internacional está abaixo de zero, graças, inclusive, ao desastrado desempenho do empolado chanceler Franco Frattini. E não padecem, obviamente, de azia ou outros percalços estomacais as multinacionais italianas que no Brasil fazem ótimos negócios, além de um punhado de fanáticos do Apocalipse, que los hay, los hay.
Fonte: Congressoemfoco