Carlos Chagas
O PT parece que pretende emancipar-se, ou, como certos garotões da classe média alta, contesta o pai mas não sai de casa. Continua vivendo às expensas da família e até exige mesada maior. Assim está se comportando a bancada do partido na Câmara, provocando Dilma Rousseff e ameaçando votar contra os interesses do governo, ainda que de goela aberta para receber nomeações. Esse modelo singular também vem sendo seguido pelo primo nem tão pobre assim do PT, no caso, o PMDB, cujos líderes participaram do ultimato dado à presidente, de quinze dias para atender seus reclamos fisiológicos, sob pena de começarem a derrotar projetos de interesse do palácio do Planalto.
Só o ex-presidente Lula poderia dar um jeito no conflito, mas, por enquanto, lavou as mãos. Desinteressou-se. O resultado é que o PT continua demonstrando rebeldia, tanto quanto soberba. Os companheiros deveriam saber que sem o guarda-chuva do poder público, onde se abrigaram por oito anos, correm o risco de voltar a ser uma legenda pequena. Já se delineia no horizonte a eleição municipal do próximo ano.
Sem alinhamento com o atual governo E carecendo do empenho do chefe do anterior, os petistas poderão perder nas principais capitais. Só farão os prefeitos do Rio, São Paulo, Porto Alegre, Belo Horizonte, Curitiba, Recife e outras grandes capitais, caso contem com o apoio de Dilma e do Lula nos palanques. Se batem de frente com ela e se despertam a indiferença dele, a consequência será a derrota.
Não está sendo fácil, porém, convencer o garotão a submeter-se ao pai ou, então, cair no mundo por sua conta e risco, procurando um emprego.
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SIGILO OU ABSOLVIÇÃO PERMANENTE?
A impressão que se tem nessa tertúlia sobre a divulgação de documentos oficiais é de haver se acentuado a divisão ideológica verificada em tempos passados. Conservadores de um lado, progressistas de outro, mesmo com algumas figuras deslocadas, de lá e de cá. José Sarney, Fernando Collor, Michel Temer, Nelson Jobim e outros sustentam a esdrúxula figura do sigilo eterno para ações e acordos pouco ou nada éticos que governos anteriores adotaram ou celebraram. Tentam esconder desde atrocidades praticadas na guerra do Paraguai até artimanhas do Barão do Rio Branco, mas, na realidade, preocupam-se em encobrir vexames mais recentes, dos praticados durante o regime militar e quem sabe até pelos dois ex-presidentes da República agora empenhados em ocultar o passado. Dizem haver conquistado o apoio da presidente Dilma Rousseff, apesar de contarem, com a oposição do ex-presidente Lula.
Por trás do debate, aliás, descobre-se haver mais coisa. O Itamaraty, por exemplo, reage com muito mais vigor contra a abertura dos arquivos do que as forças armadas. E não será apenas para preservar a figura do Barão…
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SÓ ADERINDO
Justa reação toma conta de políticos paraenses que militam na área de Belém e adjacências, preocupados com a divisão do Pará. Afinal, pelos mapas, os novos estados do Tapajós e de Carajás tomariam a maior parte do território e da riqueza do estado, tal como existe hoje. O Pará viraria “parazinho”.
Não devem desesperar os adversários da divisão. Mesmo depois do plebiscito ainda sem data marcada para realizar-se, visando obter a concordância da população do estado, sempre haverá a fórmula “Tancredo” para tornar sem efeito os pruridos separatistas.
Logo que assumiu o governo mineiro, Tancredo Neves foi alertado pelo secretário do Planejamento, Ronaldo Costa Couto, de que crescia na Câmara a proposta para a criação do estado do Triângulo, que se desmembraria de Minas. Seria um desastre em termos econômicos e políticos. O governador nem se tocou, como se o problema não lhe dissesse respeito. Ronaldo insistiu nas graves consequências e Tancredo acabou revelando a razão de sua tranqüilidade: “se eles conseguirem criar o estado do Triângulo, no dia seguinte nós aderimos e pedimos incorporação”…
Vale o mesmo para os paraenses, ainda com dupla opção: poderão aderir ao Tapajós ou ao Carajás.
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A FALÊNCIA DO MODELO
Nas telinhas, temos visto cenas degradantes vindas da Grécia. A polícia trata a população como se constituída de criminosos. Gás lacrimogêneo em profusão, balas de borracha e até de aço, pancadaria e prisões em massa. Tudo porque a população protesta contra a fórmula clássica de enfrentar crises econômicas: aumento de impostos, redução de salários, demissões aos montes, cortes nos investimentos sociais e sucedâneos.
Governo e elites financeiras, precisamente os causadores das dificuldades atuais, continuam vivendo muito bem e sustentando que só assim a Grécia poderá continuar pagando empréstimos e remunerando a especulação externa. Um dia a casa cai, pois o modelo toma conta da Europa: Portugal, Espanha, Irlanda, Turquia e outros países padecem do mesmo mal e engolem a mesma receita.
Fonte: Tribuna da Imprensa