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quarta-feira, janeiro 05, 2022

Chefe da diplomacia da UE chega à Ucrânia em visita de apoio contra a Rússia

 




O chefe da diplomacia da União Europeia (UE), o espanhol Josep Borrell, chegou à Ucrânia nesta terça-feira (4) para uma visita de apoio em um contexto de tensões com a vizinha Rússia.

"Diante do aumento militar da Rússia, estou aqui para mostrar o apoio da UE à soberania e integridade territorial da Ucrânia", disse Borrell em sua conta no Twitter.

As tensões aumentaram nos últimos meses devido à convicção dos países ocidentais de que a Rússia pode estar planejando uma invasão em grande escala da Ucrânia, depois de concentrar cerca de 100 mil soldados em sua fronteira comum.

A Rússia nega qualquer intenção militar e denuncia "provocações" da Otan naquela região.

Borrell, acompanhado pelo ministro das Relações Exteriores da Ucrânia, Dmytro Kuleba, viajará primeiro para o leste do país, onde separatistas pró-russos estão em guerra com Kiev desde 2014.

Será a primeira visita de um chefe da diplomacia europeia à linha de frente desde o início da guerra. O conflito, que eclodiu após a anexação da Crimeia pela Rússia, deixou mais de 13.000 mortos.

O chefe da diplomacia europeia viajará em seguida para a capital Kiev para se encontrar com outras autoridades ucranianas.

Esta viagem "ressalta o forte apoio da UE à soberania e integridade territorial da Ucrânia em um momento em que o país enfrenta uma concentração militar e ações híbridas da Rússia", declarou a Comissão Europeia na segunda-feira.

Em nota, o Ministério das Relações Exteriores da Ucrânia disse que a visita "visa confirmar o apoio da UE em um momento de ações agressivas da Rússia".

Os esforços diplomáticos para tentar encontrar uma solução para a crise ucraniana se intensificaram nas últimas semanas. No final de dezembro, o presidente russo, Vladimir Putin, e seu homólogo americano, Joe Biden, conversaram sobre o tema.

Nos dias 9 e 10 de janeiro, a Rússia e os Estados Unidos realizarão outras negociações em Genebra, na Suíça. Logo depois, no dia 12 de janeiro, membros da Otan discutirão o assunto com a Rússia e, no dia seguinte, haverá mais um encontro entre representantes de Moscou e da OSCE (Organização para a Segurança e Cooperação na Europa).

AFP / Estado de Minas

No Bicentenário, o Brasil volta à encruzilhada do destino




A chave da política brasileira é a conciliação, mas nossa história social é cruenta. A miscigenação é que consolidou a ideia de um só povo e uma só nação

Por Luiz Carlos Azedo (foto)

Uma nação é formada, historicamente, de território, população, Estado, idioma e identidade comum, para a qual a literatura é sua referência mais importante. Não à toa, Machado de Assis é um totem da nossa cultura. Entretanto, há aqueles que imaginam que tudo aqui está fora do lugar. O debate proposto, em 1920, por Oliveira Viana, sobre as nossas instituições republicanas, 100 anos depois, está vivíssimo. Seu Populações Meridionais do Brasil arrancou aplausos unânimes na época, com exceção de Astrojildo Pereira — que defendia a industrialização e condenou suas teses racistas —, um intelectual de origem anarquista, que viria a fundar o Partido Comunista, em março de 1922.

O Centenário da Independência foi um ano do balacobaco. Desnudou mudanças em curso no mundo e no Brasil, balançou os alicerces da Primeira República. O otimismo da belle époque fora substituído pelo trauma da I Guerra Mundial (1914-1918), o comunismo rondava o mundo após a Revolução Russa de 1917. Ambições civilizatórias levaram o presidente Epitácio Pessoa a mudar a face da capital federal para celebrar a data e sediar a Exposição Universal do Rio de Janeiro. Em São Paulo, houve a polêmica Semana de Arte Moderna.

Que país era esse? Com suas greves nas principais cidades, os sindicatos ganharam força. O povo queria melhores condições de vida e de trabalho. A economia da Primeira República (1889-1930), regida pela Constituição de 1891, estava mal das pernas. E lideranças militares, que não reconheciam a derrota do candidato oposicionista Nilo Peçanha nas eleições presidenciais de março, queriam impedir que Artur Bernardes assumisse a Presidência da República, em novembro.

A prisão do presidente do Clube Militar, marechal Hermes da Fonseca, provocou um levante militar, logo debelado. Porém, um grupo de jovens oficiais do Exército resolveu enfrentar, em plena praia de Copacabana, as forças legais. Foram fuzilados. Sobreviveram apenas Eduardo Gomes e Siqueira Campos. O governo decretou o estado de sítio, os militares envolvidos foram presos e processados. Foi a gênese do movimento tenentista.

Nesse contexto, Oliveira Vianna concluiu que era impossível reproduzir no Brasil o parlamentarismo inglês, o liberalismo democrático francês, o federalismo e a descentralização à americana, que apenas reforçaram “a anarquia branca, o predomínio das oligarquias e o risco de fragmentação”. Defendia “contravir intensivamente às ideias de liberdade” e construir um Estado capaz de se impor a todo o país, inspirado nos “reacionários audazes que salvaram o Império”. Suas ideias embalaram a Revolução de 1930, serviram de alicerce para o Estado Novo, em 1937, e inspiraram os líderes do regime de militar (1964-1985). Infelizmente, renasceram das cinzas com a eleição do presidente Jair Bolsonaro.

Iniquidade social

A chave da política brasileira é a conciliação, mas nossa história social é cruenta. “Entre índios convertidos e os selvagens, os negros escravos, libertos, africanos e crioulos, os brancos reinóis e os mazombos, os mamelucos, os mulatos e os cafuzos, diversos e conflitantes, venceram os conciliadores”, dizia o mestre José Honório Rodrigues, em Conciliação e reforma no Brasil. Apesar de tantos pelourinhos, quilombos, motins, revoltas, repressões sangrentas, fuzilamentos, enforcamentos, esquartejamentos, guerras e guerrilhas, a miscigenação consolidou a ideia de um só povo e uma só nação, muito mais do que a conciliação das elites para se manter no poder, perpetuar o patrimonialismo, a política de compadrio e clientela, e a exclusão social.

Por conveniência, quase não se fala das lutas cruentas: Balaiada (1838-41); Cabanagem (1835-40); Sabinada (1837-38); Levante dos Malês (1835); Cabanada (1832-35); Guerra dos Farrapos (1835-45). Houve as ditaduras de Vargas (1937-45) e dos militares (1964-84), com seus assassinatos, prisões e torturas. A abolição da escravidão mudou o modo de produção e derrubou o Império, mas a República manteve, até hoje, a iniquidade social desnudada pela Guerra de Canudos (1896-97) mesmo nos grandes ciclos de modernização.

Na ditadura Vargas, com a modernização do Estado, a questão operária deixou de ser um caso de polícia, mas a política passou a ser. Os governos de Juscelino Kubitschek e de Fernando Henrique Cardoso reformaram o Estado e modernizaram a economia em bases democráticas, mas a velha desigualdade social continuou na ordem do dia. Mesmo no governo Lula, que atacou o problema da miséria absoluta, a mudança social acabou abduzida pelo transformismo político. As ideias de Oliveira Vianna estão vivíssimas desde a eleição do presidente Jair Bolsonaro, um saudosista do regime militar, que termina o primeiro mandato nos braços do Centrão. Confronto ou conciliação, atraso ou reformas, autoritarismo ou democracia. Neste Bicentenário da Independência, nossa nação está numa nova encruzilhada do destino.

Correio Braziliense

Sistema imunológico de vacinados e reinfectados resiste à Ômicron

 




É o que mostram estudos da África do Sul, dos Países Baixos e EUA

Lisboa - Estudos preliminares feitos na África do Sul, nos Países Baixos e Estados Unidos (EUA) revelam que o sistema imunológico dos vacinados ou reinfectados com o SARS-CoV-2 previne casos graves de covid-19.

Liderada por especialistas da África do Sul, a pesquisa concluiu que grande parte da resposta de células T, estimuladas pela vacinação ou por infecções anteriores, é mantida na presença da variante Ômicron.

Segundo os pesquisadores, essa pode ser explicação para o menor número de hospitalizações e óbitos do que em outras ondas da doença.

Todos os estudos analisaram linfócitos, glóbulos brancos capazes de lembrar um agente patogênico e eliminá-lo do organismo por meses, anos, décadas, ou mesmo ao longo da vida.

A elite desses glóbulos brancos são os chamados "linfócitos assassinos" que identificam as células infectadas e as matam. Isso evita que o vírus prolongue a infecção e cause doença grave. A esse tipo de linfócito, conhecido como CD8, são adicionados os CD4, que ajudam a reativar o sistema imunológico em caso de nova infecção.

As pesquisadoras Catherine Riou e Wendy Burgers, da Universidade da Cidade do Cabo, observaram a resposta de linfócitos T de “memória” (que lembram como combater o vírus) em 90 pessoas inoculadas com as vacinas da Pfizer (duas doses), Johnson & Johnson (uma ou duas doses) ou previamente infcetadas.

Os resultados – ainda preliminares por não terem sido analisados por especialistas independentes – revelam que a resposta dos linfócitos à Ômicron tem intensidade entre 70% e 80% em relação às variantes anteriores.

Nos Estados Unidos, a equipe do imunologista Alessandro Sette analisou as células brancas de 86 pessoas vacinadas com Moderna, Pfizer e Janssen. Os resultados, também preliminares, mostram que até 90% da resposta permanece intacta com a Ômicron.

Nos Países Baixos, outro estudo preliminar com 60 profissionais de saúde vacinados com Pfizer, Moderna AstraZeneca ou Janssen revela que a imunidade medida pelos glóbulos brancos contra a Ômicron é tão elevada quanto as outras variantes.

Esses resultados contrastam com os estudos de imunidade realizados até agora, que se concentraram em anticorpos. Essas proteínas são produzidas após a infecção ou vacinação e podem impedir que o vírus entre nas células. Vários estudos mostraram que a eficácia dos anticorpos contra a Ômicron é muito menor do que a registrada com as outras variantes.

Com o grande número de infecções pela variante Ômicron, registrada em muitos países, haverá muitas hospitalizações por curto período de tempo.

Os novos dados parecem confirmar o que está sendo observado em vários países: a Ômicron infecta pessoas vacinadas ou já infectadas, mas tem menos possibilidade de escapar aos leucócitos que ainda são capazes de identificar as células e eliminá-las antes que causem a doença grave.

Isso pode explicar como a África do Sul teve 80% menos de hospitalizações com a Ômicron do que com as cepas anteriores. É, no entanto, muito cedo saber o real impacto da nova variante do SARS-CoV-2 nas hospitalizações e óbitos.

Pulmões

Um grupo de cientistas da Universidade de Hong Kong descobriu que a Ômicron se replica 70 vezes mais rapidamente do que a Delta nas vias áreas humanas, mas é muito mais lenta na infecção do tecido pulmonar, o que pode sugerir menor gravidade da doença.

Segundo os estudos, o SARS-CoV-2 entra nas células que revestem o nariz, a garganta e as vias respiratórias superiores de forma diferente; portanto, apesar de ter sido encontrada em grandes quantidades nas vias respiratórias, a concentração do vírus é menor no tecido pulmonar.

Uma equipe que analisa a Ômicron descobriu uma proteína essencial encontrada nas células do pulmão, chamada TMPRSS2, que impede a nova variante de entrar e infectar as células pulmonares.

RTP - Rádio e Televisão de Portugal

Agência Brasil

Eleição também é feita do ‘imponderável’




Bolsonaro faz lembrar que a história é feita também do ‘imponderável’ e golpes de sorte ou azar

Por Eliane Cantanhêde (foto)

A nova crise, a nova hospitalização e a possível nova cirurgia do presidente Jair Bolsonaro são um alerta: a eleição não está decidida e muita água ainda vai rolar embaixo da ponte até outubro, desde puros golpes de sorte a ataques sórdidos, sem descartar o “imponderável”, tão presente na história brasileira.

O próprio Bolsonaro é um exemplo de que o “imponderável” pode alterar o rumo de uma eleição, depois de sofrer em 2018 uma facada que, na mesma intensidade, ameaçou sua vida e sedimentou sua vitória.

José Sarney virou presidente porque Tancredo Neves morreu. Fernando Collor criou a ficção do “caçador de marajás” e foi o primeiro presidente eleito depois da ditadura militar. Itamar Franco jamais seria presidente pelas urnas, mas apostou certo ao virar vice de Collor e foi o homem certo na hora certa.

Fernando Henrique Cardoso, então senador, discutia se se elegeria deputado quando Itamar assumiu, delegou a ele o Itamaraty e a formação da equipe econômica e chancelou o Plano Real, que empurrou FHC rampa acima.

O ex-sindicalista Lula não se elegeu por um golpe de sorte, um plano bombástico ou o imponderável. Ele caiu de maduro. Depois de tentar em 1989, 1994 e 1998, o País e FHC julgaram em 2002 que chegara sua vez. A primeira ação de Lula foi a fake news da “herança maldita”, mas isso é outra história.

Dilma Rousseff não caiu de madura, como Lula, mas caiu de paraquedas, como Collor e, mais adiante, Jair Bolsonaro. Os improváveis. Primeira mulher presidente do Brasil, ela foi candidata com a queda em dominó de petistas como José Dirceu e Antonio Palocci... E porque Lula quis. Na campanha, teve uma mãozinha de mais um “imponderável”: a morte de Eduardo Campos num acidente aéreo.

Depois de recordes de popularidade, Dilma esfarelou pela personalidade, isolamento, erros crassos na política e na economia, até as pedaladas que a levaram ao impeachment. E veio Michel Temer, que foi presidente do MDB e, como FHC, tinha biografia, livros publicados e era forte no mundo político, não nas urnas. Chegou lá porque trocou os tucanos pelo PT e aboletou-se na vice de Dilma.

Em 2022, Bolsonaro, fruto de internet, marketing e desgaste da política, agora tem sequelas. Lula, que foi preso, tem mensalão e petrolão nas costas. Sérgio Moro virou, simultaneamente, fato novo e vidraça. Ciro Gomes parece andar para trás. Governador do principal Estado, João Doria enfrenta forte rejeição.

O retrato de hoje é um, mas o filme da eleição é dinâmico como a política, as campanhas e a própria vida. Ninguém ganha ou perde eleição de véspera, muito menos dez meses antes. 

O Estado de São Paulo

Um ano para incendiar corações e mentes




Eleitor terá de votar neste ano no modelo econômico que prefere para o Brasil nesta década

Por Pedro Cafardo (foto)

Ficou para trás o sofrido 2021, ano que a humanidade deveria esquecer, mas que jamais esquecerá. Assim, no Brasil, é hora de começar a organizar um pouco as ideias para o novo ano, quando a campanha eleitoral vai incendiar corações e mentes.

Mais do que na esquerda, no centro ou na direita, o eleitor terá de votar neste ano no modelo econômico que prefere para o Brasil nesta terceira década do século XXI. Claro que ao digitar seu voto o cidadão terá de levar em conta qualidades e defeitos do candidato e de seu grupo em diferentes áreas. Mas na da economia haverá basicamente duas opções nos programas de governo, embora com ênfases variáveis.

Não é preciso ser economista para entender as diferenças. Um contingente razoável de postulantes à Presidência manterá a defesa do pensamento ortodoxo neoliberal, teoricamente adotado sem sucesso no atual governo, dominante na condução das políticas econômicas globais a partir dos anos 1980 e que está sendo contestado em toda parte. Outro contingente, dos chamados progressistas ou heterodoxos, vai apostar em teses que podem ser chamadas de desenvolvimentistas.

Pelo menos no discurso, os neoliberais defenderão um projeto de país livre das amarras do Estado e conduzido pelas forças de mercado. Baseiam-se na crença de que a prosperidade de uma nação decorre da liberdade do empreendedor para investir e trabalhar sem muita interferência do Estado, a não ser como regulador.

Nessa linha, seria necessária apenas uma mínima participação do Estado para induzir o crescimento econômico e o desenvolvimento. Caberia ao Estado - na linha do quanto menor, melhor - apenas adotar um rigoroso controle de suas contas. Com essa austeridade fiscal, no longo prazo, os agentes econômicos tomariam decisões de investir no país e promoveriam a ascensão brasileira ao primeiro mundo.

A agenda econômica desse governo neoliberal, portanto, seria pautada por privatizações de estatais, desregulamentação do mercado financeiro e de trabalho, aprofundando a reforma trabalhista liberal do governo Temer, e redução de tarifas de importação.

Com o corte das despesas do governo seria possível reduzir impostos, o que estimularia ainda mais os investimentos, para gerar empregos e renda. Isso isentaria o Estado de sua atribuição de proporcionar bem-estar social aos cidadãos. No receituário neoliberal radical, também as ofertas de saúde, educação e outros benefícios ficariam a cargo do setor privado.

Esse neoliberalismo foi hegemônico no Ocidente desde os anos 1980, depois das eleições dos conservadores Ronald Reagan, nos EUA, e Margareth Thatcher, no Reino Unido. Segundo os críticos, entretanto, não teve os resultados esperados e ainda colaborou para a ascensão da China à posição de potência econômica global. Os países cresceram muito menos que no período do capitalismo social, do pós-guerra até 1975, e houve seguidas crises financeiras internacionais e concentração de renda. Até culminar com a grande crise do subprime, nos EUA, em 2008.

Alicerces abalados

A crise de 2008 abalou os alicerces das políticas neoliberais. Foi necessária forte intervenção do Estado americano para impedir uma catastrófica depressão global. O governo dos EUA investiu trilhões de dólares na tarefa de acalmar o mercado e voltou a intervir, com ênfase maior, para atenuar a recessão provocada pela pandemia da covid-19.

A proposta de volta dessa intervenção estatal na economia vai balizar a segunda opção a ser apresentada aos eleitores na campanha eleitoral deste ano, provavelmente por Lula e outros postulantes de esquerda à Presidência. A ênfase será variável, dependendo do grupo que vai assessorar os candidatos, mas o teor básico será desenvolvimentista.

Não se trata de prever para o Estado apenas a função de agente regulador, mas também uma tarefa importante no planejamento dos investimentos e na administração da demanda de bens no país, para que a economia trabalhe sempre próxima do pleno emprego.

Além disso, haverá, pelo menos no papel, promessas de relançamento ou reforço de programas sociais de renda, educação, saúde etc. O risco do abismo fiscal, tão difundido e assimilado pela opinião política, será deixado em segundo plano, embora deva prevalecer o discurso da responsabilidade fiscal. Os neoliberais chamarão essas propostas de populistas.

Tempos distintos

Em resumo, decifrando o economês, uma das diferenças entre as duas opções diz respeito a tempo, porque ambas almejam o desenvolvimento. Os neoliberais acreditam que a austeridade fiscal e o Estado mínimo, entre outras qualidades, podem criar ambiente favorável para os investimentos internos e externos, de forma a promover o desenvolvimento no longo prazo. Por isso, muitas vezes exageram no discurso sobre o risco fiscal e a trajetória da dívida pública, que chamam de “insustentável” no caso brasileiro.

Os desenvolvimentistas keynesianos são imediatistas. Acreditam que a mão pesada do Estado pode antecipar o desenvolvimento, agindo de forma contracíclica: injetando recursos na economia quando a atividade enfraquece e retirando-os quando ela se fortalece. As intervenções dos governos em todo o mundo durante a pandemia mostraram como a aplicação de recursos públicos pode ativar rapidamente a economia, embora isso tenha estimulado também a inflação.

Em brilhante artigo no Valor de 9 de novembro, o economista Luiz Gonzaga Belluzzo contou que o historiador de Harvard Neill Ferguson, em debate com Paul Krugman, oito anos atrás, deu uma preconceituosa explicação para a famosa frase de John Maynard Keynes: “No longo prazo, estaremos todos mortos”. Keynes não se preocupava com o futuro, segundo Ferguson, porque era homossexual e não precisava pensar no destino de filhos, netos e bisnetos.

Valorizar o presente, porém, não significa, necessariamente, descuidar do futuro. Uma palavra-chave nessa conversa é “ênfase”, várias vezes repetida neste texto. O sucesso, em política econômica, como em quase tudo, não combina com radicalismos. O eleitor, portanto, terá de prestar atenção nas “ênfases” e isso em todas as áreas, não apenas na economia. Se tivesse feito isso em 2018, certamente o país não estaria hoje no buraco em que caiu. O eleitor terá uma nova chance no ano que está começando.

Valor Econômico

Queima da Amazônia cria nova ameaça ao Brasil

 




O desmatamento em 2021 na Amazônia, recorde dos últimos dez anos, e o enfraquecimento de agências como o ICMBio e o Ibama no governo de Jair Bolsonaro submetem o Brasil a um novo risco de ser alvo de medidas que afetem seu comércio exterior. Isso por causa da construção em fóruns internacionais da ideia de que o País falha em sua responsabilidade de proteger o meio ambiente.

Analistas civis e militares ouvidos pelo Estadão reconhecem a tendência que pode atingir em cheio o Brasil: a chamada securitização das mudanças climáticas quer o deslocamento do tema dos fóruns ambientais e econômicos para aqueles que tratam da segurança e defesa das populações e da manutenção da paz entre as nações.

A retórica, que no passado consolidou a guerra ao terror, pode levar à criação de um eixo do mal ambiental. Em breve, ela poderia ser usada contra grupos ou países apontados como responsáveis pelos danos causados por eventos extremos, como secas, inundações e ciclones, que afetem as grandes potências. As mudanças climáticas vão ocupar na primeira metade do século um papel central na diplomacia mundial. E o Brasil, com a Amazônia e o pré-sal, está no olho do furacão.

Exemplo de como a securitização do meio ambiente aumenta ano a ano é o documento Nato 2030 - United for a New Era, publicado pela Otan em 2020. O coronel do Exército e especialista em geopolítica Paulo Roberto da Silva Gomes Filho contou nele 19 vezes a expressão "mudança climática". "Ela é apresentada como um dos 'desafios definidores' dos tempos atuais, representando sérias implicações à segurança e aos interesses econômicos dos 30 países que integram a aliança."

Gestão Biden

Nos Estados Unidos, a gestão Joe Biden classificou as mudanças climáticas como questão de segurança nacional, levando o país a apoiar a sua securitização no Conselho de Segurança das Nações Unidas (ONU). A proposta de que o clima passasse a ser tratado no órgão contou com o apoio do primeiro-ministro britânico, Boris Johnson. Um projeto de resolução apresentado pela Irlanda e pelo Níger foi debatido. Ele previa a designação de um relator especial sobre o tema e a produção de relatórios.

A resolução abriria espaço para que, no futuro, o combate às mudanças climáticas pudesse servir de base a sanções e até para ações militares baseadas no princípio de responsabilidade de proteger, o chamado R2P, que fundamentou a intervenção na Líbia, em 2011. Mas, em 13 de dezembro, a resolução foi rejeitada em razão do veto da Rússia - houve ainda o voto contrário da Índia e a abstenção da China e 12 manifestações favoráveis, entre as quais a dos EUA, Reino Unido e França.

Nos debates, o secretário de Estado americano, Antony Blinken, enfatizou que o apoio à resolução não significava abandono da cooperação internacional. "Devemos parar de debater se o caso das mudanças climáticas é ou não um tema para o Conselho de Segurança. Em vez disso, devemos perguntar como o conselho pode usar seu poderes exclusivos para enfrentar os impactos negativos do clima sobre a paz e a segurança."

A securitização está de acordo com o conceito de dissuasão integrada, defendido pelo secretário de Defesa, Lloyd Austin. Além de integração multidomínio nos campos de batalha - terra, mar, ar, espacial e cibernético -, ele quer o mesmo nas alianças e parcerias com países. "É lógico que o Brasil, o maior país da América do Sul, seja cortejado pelos EUA, pois eles estão em disputa hegemônica com a China", disse o coronel.

Mas essa situação pode mudar, caso o Brasil seja percebido como uma ameaça. No conselho, os EUA enfrentaram a oposição da China. O embaixador Zhang Jun afirmou: "Os princípios da responsabilidade comum, mas diferenciada, respectiva capacidade e equidade são os pilares da governança climática global. Não seria apropriado o Conselho de Segurança como fórum para substituir a tomada de decisão coletiva pela comunidade internacional."

Para o coronel Paulo Filho, em um mundo em que a hegemonia é disputada, ações da ONU serão cada vez mais difíceis. Ele contou que o texto da Estratégia Nacional de Segurança russa já anunciava o veto ao dizer: "A crescente atenção da comunidade internacional às mudanças climáticas e à manutenção do meio ambiente é usada como pretexto para limitar o acesso de empresas russas ao mercado exportador, restringir o desenvolvimento da indústria russa, estabelecer o controle sobre rotas de transporte e impedir o desenvolvimento da Rússia no Ártico".

Cenário

A discussão na ONU pode afetar o Brasil. Já em 2019, o blog do Exército publicou artigo do coronel Raul Kleber de Souza Boeno no qual alertava que "uma eventual securitização da questão climática teria implicações para a soberania brasileira, com significativas consequências para suas Forças Armadas". Foi atrás de como isso pode acontecer que o pesquisador do Instituto de Estudos Avançados da USP Gustavo Macedo produziu cenários em que o conceito de responsabilidade de proteger seria usado contra o Brasil. Dentre eles, estão os crimes contra povos indígenas e o meio ambiente.

Em 2018, Macedo foi o redator do documento Making Atrocity Prevention Effective (Tornar Eficaz a Prevenção de Atrocidades), quando trabalhava como assistente de Ivan Simonovic, o diretor do Departamento de Prevenção a Genocídio e Responsabilidade de Proteger, da ONU. Ele acredita que a ação de Bolsonaro diante de crimes ambientais e humanitários "tornou urgente falar sobre o tema no Brasil". "Pessoas de fora, como o Stephen Walt, (professor) de Harvard, já trataram da possibilidade de se aplicar ao Brasil o R2P, por causa da Amazônia."

Walt publicou em 2019 um artigo na revista Foreign Policy no qual perguntava se os países têm o direito ou a obrigação de intervir em outro país para impedi-lo de causar dano irreversível e catastrófico ao meio ambiente. Depois, o presidente francês, Emmanuel Macron, defendeu a ideia de um "status internacional à Amazônia".

"É preciso alertar o público brasileiro", disse Macedo. Para ele, essa linguagem diplomática pode ser mobilizada contra o Brasil. "A intervenção não necessariamente é militar; ela pode ser política e econômica. Na história da aplicação do conceito de responsabilidade de proteger, na imensa maioria das vezes, ele foi usado para ação política e econômica, não militar."

Vulnerabilidade

Para o professor de Relações Internacionais da Universidade de Brasília (UnB) Juliano Cortinhas, o governo brasileiro pode reduzir a vulnerabilidade do País se voltar a fazer o dever de casa, fortalecendo as agências ambientais e a matriz energética limpa para ter dados positivos na proteção do meio ambiente.

"Associar segurança e meio ambiente em relações internacionais é inevitável. Com as mudanças climáticas, a segurança de todos será afetada. E quem define os temas a serem securitizados são as grandes potências." Para ele, nossas Forças Armadas não têm como impedir a ação de grandes potências. E a solução não é aumentar o orçamento da Defesa, mas reequilibrá-lo, crescendo a conta de investimento e diminuindo a de pessoal. "A Marinha britânica tem 35 mil militares e a nossa tem 80 mil com menos da metade de navios e submarinos."

Cortinhas sublinha o efeito da adoção de padrões internacionais de proteção do meio ambiente. "Quem vai pressionar um país que tem resultados a mostrar?" Segundo ele, com Bolsonaro a vulnerabilidade do País cresceu. "Quando se começa a esconder dados, mascarar a realidade e dizer que a responsabilidade é de países que mais poluem, fica-se mais vulnerável às pressões internacionais."

Para o coronel Paulo Filho, o Brasil será pressionado se não mostrar que fez sua parte à comunidade internacional. "Precisamos ter posição madura. Não podemos negar as mudanças climáticas. Elas podem ser instrumentalizadas contra nossos interesses e servir ao protecionismo agrícola? Podem. É uma realidade. Mas elas também têm efeitos que devem ser combatidos."

Desconfiança

O governo brasileiro trata com desconfiança o interesse de potências estrangeiras na preservação da Amazônia. Para o especialista em geopolítica, coronel Paulo Filho, isso acontece em razão do protecionismo. Ou seja, a defesa do ambiente seria instrumentalizada para atacar as exportações do agronegócio do País.

"O Exército vê com desconfiança o interesse em relação à Amazônia, região com a qual tem uma relação afetiva e uma longa tradição de defesa." Na última década, a questão ambiental entrou na formação dos comandantes. "Quando fui comandar, em 2014 - a gente faz um curso -, não me falaram sobre meio ambiente. Agora, os comandantes recebem uma carga horária de 60 horas sobre meio ambiente."

No Reino Unido, o Ministério da Defesa criou um cargo, ocupado pelo general Richard Nugee, para lidar com mudanças climáticas. Após a COP-26, ele escreveu: "Devemos ser claros, nossa liberdade de manobra, da estratégia à tática, será constantemente erodida e diminuída. Portanto, para permanecer na vanguarda da capacidade operacional, é imperativo que entendamos o futuro e nos adaptemos a ele, da melhor maneira possível".

Sahel

Os exércitos estudam como as mudanças afetarão seu trabalho. Nos debates no Conselho de Segurança sobre a securitização do clima foram citados países que estão sofrendo ameaças à segurança em razão das mudanças climáticas, como os do Sahel, na África. Com a desertificação da área, populações inteiras seriam forçadas a migrar para o sul ou para o norte e para Europa.

Para Paulo Filho, o clima já é entendido como ameaça à segurança humana. "Faz parte das atribuições das Forças Armadas de todo o mundo a defesa dos seus cidadãos. Se vou ter catástrofe climática, subir o nível dos mares e provocar migrações em massa, isso se torna problema de segurança." A securitização do clima, disse ele, está ligada ainda ao fato de o Ocidente, após a Guerra Fria, ter dado mais ênfase a temas ligados à segurança humana. 

Estadão / Dinheiro Rural

Nova variante do coronavírus é detectada na França




Especialistas defendem que variante deve ser monitorada, mas que ainda não há dados suficientes para alarde. Segundo cientistas, ela não deve prevalecer sobre a ômicron ou a delta.

Especialistas declararam nesta terça-feira (04/01) que uma nova variante do coronavírus detectada na França deve ser observada, embora ainda não a associem a um grande risco.

"Devemos observá-la, como fazemos com outras variantes, mas não há razão para nos preocuparmos particularmente com essa", disse Richard Neher, especialista em variantes de vírus da Universidade de Basel, na Suíça, à agência de notícias alemã dpa.

O epidemiologista americano Eric Feigl-Ding compartilha a mesma opinião no Twitter: "Ainda não estou muito preocupado com B.1.640.2. Duvido que ela prevalecerá sobre a ômicron ou a delta."

Primeiros casos na França

No fim de dezembro de 2021, pesquisadores franceses liderados por Didier Raoult, do Instituto Méditerranée Infection, de Marselha, narraram num artigo a ocorrência de uma nova variante do coronavírus em 12 pessoas no sudeste da França.

O primeiro caso no país possivelmente foi de um paciente que havia voltado de uma viagem a Camarões. Isso não significa, porém, que a variante seja originária da África Central.

No entanto, taxas de vacinação muito baixas, como em Camarões, favorecem a ocorrência de novas mutações no coronavírus. De acordo com dados da Universidade Johns Hopkins, apenas 2,4% dos camaroneses estão vacinados.

O estudo ainda não foi revisado por outros cientistas nem publicado numa revista científica. "É muito cedo para especular sobre as propriedades virológicas, epidemiológicas ou clínicas da nova variante", escreveu a equipe de Raoult. 

No entanto seus dados são mais um exemplo de como podem ocorrer variantes imprevisíveis do coronavírus, sobretudo em locais com baixa taxa de vacinação.

Mutações

A B.1.640.2 apresenta algumas mutações na proteína spike que especialistas já observaram na variante ômicron, mais transmissível. A spike é particularmente importante na avaliação de variantes por ser como o vírus se liga às células humanas, e também por as vacinas terem a proteína como alvo. Mutações nela podem propiciar a propagação do vírus ou comprometer a eficácia das vacinas.

Contudo a variante B.1.640.2 não parece ter se difundido muito até agora, explica Neher. Assim, ela seria uma das muitas "que não prevaleceram contra a ômicron ea delta, pelo menos até agora".

A B.1.640.2 pertence a uma família de variantes que está no radar da Organização Mundial da Saúde (OMS) desde novembro.

De acordo com o epidemiologista da OMS Abdi Mahamud, ela foi relatada pela primeira vez na República Democrática do Congo, em setembro de 2021, e está sob observação da OMS desde novembro. Ela não se espalhou significativamente desde então, mas "vamos ficar de olho nela", afirma Mahamud. 

A OMS classifica as variantes do coronavírus em três categorias: de interesse, de preocupação e sob monitoramento. A B.1.640 está na categoria 3, assim como duas outras variantes. A ômicron é uma variante de interesse.

Ao todo, 17 variantes que a OMS observou desde o início da pandemia  mostraram ser de curta duração ou menos ameaçadoras, não estando mais sob observação especial.

Deutsche Welle

Covid-19: EUA têm 1 milhão de casos em um só dia

 




É a primeira vez que um país registra esse número diário

Washington - Os Estados Unidos (EUA) notificaram, nessa segunda-feira (3), recorde mundial de novos casos de covid-19, ao contabilizar mais 1 milhão de infectados. É a primeira vez, desde o início da pandemia, que um país registra 1 milhão de novos casos em um único dia.

De acordo com números apresentados pela Universidade Johns Hopkins, 1,06 milhão de norte-americanos testaram positivo ontem para o coronavírus SARS-Cov-2.

O número é praticamente o dobro do recorde anteriormente registrado no país (590 mil casos diários contabilizados há apenas quatro dias).

Assim como ocorre em outros países, os EUA enfrentam nova onda de covid-19, alimentada principalmente pela variante Ômicron.

Os Estados Unidos também lideram o mundo no número médio diário de novas mortes, sendo responsável por uma em cada cinco mortes notificadas a cada dia.

Desde o início da pandemia, os EUA já contabilizaram 56.280.742 casos de infecção e 830.349 mortes relacionadas à covid-19.

No domingo (2), o principal conselheiro da Casa Branca para a crise de saúde, Anthony Fauci, afirmou que o aumento do número de casos de covid-19 nos Estados Unidos segue uma curva "quase vertical".

Com o número de infecções atingindo novos recordes, há vários fatores potencialmente importantes a considerar na leitura desses números.

Se, por um lado, o número real de casos pode ser muito superior, já que muitos norte-americanos têm recorrido a autotestes, sem ligação direta com as autoridades oficiais, por outro lado os atrasos na comunicação de novos casos durante a época de Natal e ano-novo poderão ter levado a um acúmulo na notificação de casos na segunda-feira, sugere o jornal britânico The Guardian.  

Casos diários

A variante Ômicron, detectada pela primeira vez na África Austral no fim de novembro, é o "motor" mundial da nova onda de infecções devido à maior transmissibilidade.

Números recentes demonstram velocidade avassaladora de propagação da nova cepa. Na semana passada, a contaminação pelo vírus da covid-19 ultrapassou, pela primeira vez, o número simbólico de 1 milhão de casos em nível mundial.

Na semana entre 23 e 29 de dezembro foram detectados 7,3 milhões de novos casos da doença, o que dá uma média de 1,045 milhão de infecções por dia.

Os números já eram significativamente superiores ao recorde estabelecido na onda anterior, quando foi registrada média de 817 mil casos diários na semana entre 23 e 29 de abril de 2021.

A onda atual, no entanto, não parece estar associada a um aumento de mortes, o que pode estar relacionado com elevadas taxas de vacinação verificadas em muitos países afetados pela Ômicron.

As mortes diárias, em nível mundial variaram na semana passada entre 4 mil e 8 mil, sendo que a curva desse indicador se mantém estável desde o início de outubro.

No auge da pandemia, os piores números de óbitos foram verificados na semana entre 20 e 26 de janeiro de 2021, com média de 14,8 mil mortes diárias.

RTP - Rádio e Televisão de Portugal

Agência Brasil

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EUA registram mais de 1 milhão de casos de covid em um dia

Recorde mundial é registrado em meio à disseminação da variante ômicron. Especialista afirma que país tem aumento "quase vertical" das infecções e que pico ainda não foi atingido.

Com a variante ômicron do coronavírus se espalhando pelo país, os Estados Unidos registraram nesta segunda-feira (03/01) o recorde de mais de um milhão de casos de covid-19 em um único dia, segundo dados da Universidade Johns Hopkins.

Foram 1.080.211 novas infecções pelo coronavírus no país em apenas 24 horas. Trata-se de um novo recorde mundial, batendo o anterior de mais de 500 mil casos diários nos EUA na semana passada. O número, porém, pode estar distorcido devido a um atraso na divulgação de dados em razão do período de festas de fim de ano.

O registro do recorde ocorreu um dia depois de o principal assessor do governo em relação a pandemia, Anthony Fauci, dizer que o país vive "um aumento quase vertical" dos casos de covid-19, acrescentando que o pico poderia ocorrer somente em algumas semanas.

A ômicron, mais transmissível que outras cepas, foi responsável por cerca de 59% dos casos de covid-19 nos Estados Unidos na semana que se encerrou em 25 de dezembro, de acordo com dados do governo.

Nos últimos sete dias, o país registrou 3,4 milhões de casos, com uma média de 486 mil infecções diárias. Nas ondas anteriores do coronavírus, o recorde de contágios havia sido de cerca de 258 mil casos por dia, na semana de 5 a 11 de janeiro de 2021.

Esperança vinda da África do Sul

Fauci disse que o que ocorreu na África do Sul traz alguma esperança aos EUA. No país africano, a ômicron foi detectada pela primeira vez no final de novembro de 2021 e atingiu rapidamente o pico – logo depois, os contágios começaram a diminuir com a mesma rapidez.

Apesar do recorde de casos, as taxas de mortalidade e hospitalização nos EUA têm sido muito mais baixas nas últimas semanas do que durante ondas anteriores da doença.

Com 9.382 mortes nos últimos sete dias, o número de óbitos no país caiu 10% em relação ao total registrado na semana anterior. Ainda assim, o país registra atualmente uma em cada cinco mortes por covid-19 contabilizadas por dia no mundo.

Equilíbrio entre saúde e economia

As autoridades têm lutado para encontrar um equilíbrio que proteja a saúde pública sem prejudicar gravemente a economia e os serviços essenciais, como o policiamento e as viagens aéreas.

O forte aumento de contágios, sobretudo em Nova York, fez muitas empresas regressarem ao trabalho remoto. A capital econômica dos EUA, que foi um dos epicentros da pandemia na primeira onda em março de 2020, registra agora níveis recordes de contágios: foram 85 mil casos no último sábado. Além disso, há um aumento evidente das hospitalizações em Nova York: 9.500 nesta terça-feira.

Novas medidas

Na semana passada, os EUA reduziram para cinco dias o período de isolamento para casos assintomáticos de covid-19, em uma tentativa de frear a interrupção em massa de alguns setores induzida pela ômicron. Na aviação, por exemplo, milhares de voos comerciais foram cancelados por falta de tripulação e pessoal em terra, já que um grande número de pessoas teve que cumprir isolamento por ter tido covid-19 ou por ter estado com alguém que testou positivo para a doença.

Nesta segunda-feira, a Food and Drug Administration (FDA), agência reguladora dos EUA, aprovou a terceira dose da vacina da Pfizer-BioNTech para crianças de até 12 anos, antes da reabertura das escolas após os feriados de Natal e Ano Novo.

Mais de 60% da população dos EUA já tem o esquema vacinal original completo, e 33% já tomou uma dose de reforço.

Nesta terça-feira, o presidente dos EUA, Joe Biden, e a vice-presidente, Kamala Harris, se reunirão com a equipe médica que assessora a Casa Branca para rever a situação da covid-19 no país.

No total, desde o início da pandemia, os Estados Unidos já contabilizaram 56,2 milhões de casos de coronavírus e mais de 827 mil mortes relacionadas à doença, segundo dados da Universidade Johns Hopkins, sendo o país mais afetado pela covid-19.

Deutsche Welle

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