Dora Kramer
Porta-voz de um discurso absolutamente adequado, sóbrio e preciso na cerimônia em que o Rio foi escolhido cidade – sede da Olimpíada de 2016, o presidente Luiz Inácio da Silva não fez jus ao desempenho quando, em seu programa de rádio de ontem, disse que o Brasil não deve se preocupar com gastos a serem feitos.
“Nós temos que nos perguntar, não quanto o Brasil vai gastar, mas quanto o Brasil vai ganhar com a realização da Olimpíada. É acreditando assim (sic) que a gente vai fazer uma grande Olimpíada”, disse, tendo partido da premissa óbvia de sempre: “Não considero gasto, considero investimento”.
É claro que todo o dinheiro posto na infraestrutura para a realização dos jogos é investimento. Mas ninguém com um mínimo de seriedade – a não ser governos pouco sérios – investe em coisa alguma de maneira despreocupada.
Tampouco adianta o conselho de Lula para que se troque a palavra “gasto” por “investimento” porque aos olhos do mundo, se houver a falta de planejamento (para ficarmos na versão generosa) ocorrida na organização do Pan e os orçamentos estourarem no grau do descontrole, o Brasil não será visto como um país sério.
Aliás, cumpre lembrar ao presidente da República que o país só começou a ser levado em conta no mundo como parceiro confiável e atraente ao mercado internacional no momento em que começou a se preocupar real e objetivamente com os gastos.
Estabilizou a moeda, organizou as contas públicas, tornou lei a responsabilidade fiscal, deixou de lado o modus operandi do calote, parou de renegociar dívidas mediante queixumes de governadores e prefeitos irresponsáveis, cumpriu contratos e integrou-se ao mundos dos preocupados.
A rigor não seria preciso lembrar nada disso ao presidente, pois o candidato Lula firmou exatamente aqueles compromissos na Carta aos Brasileiros para poder conquistar a confiança do país e se eleger presidente desta República.
O palavrório otimista e bastante ufanista é eficiente para animar a arquibancada, mas não é ele que ganha a parada. Não foi ele nem o charme ou o veneno dos brasileiros o que produziu a vitória sobre Chicago, Tóquio e Madri. Foi a persistência, o trabalho duro e conjunto e uma enorme competência de marketing a sustentar as promessas às quais temos sete anos para fazer frente.
Com muita preocupação de nos comportarmos à altura do compromisso assumido e do reconhecimento internacional conferido ao Brasil, em particular à figura de Lula.
Financiamento público
O Senado quase aprovou, mas a Mesa teve de recuar da decisão de autorizar funcionários em cargos de confiança nos gabinetes das lideranças a se transferirem para os estados de origem de líderes de partidos para reforçar a campanha eleitoral das chefias.
O recuo deu-se na esfera das decisões oficiais. Na prática, nada impede que os funcionários sejam incorporados às campanhas na base da informalidade. Primeiro, porque tal “empréstimo” é uma praxe; segundo, porque no Congresso nenhuma infração é castigada; terceiro, porque suas excelências fingem não distinguir funcionários pagos para assessorar o Senado – uma ação pública – de cabos eleitorais contratados para ajudar a conquistar mandato, um ato de vontade privada.
Sob nova direção
A mudança do título de eleitor do deputado Ciro Gomes para São Paulo deixa o PT local como Lula gosta: nas mãos dele, Lula. Recapitulando a situação até a semana passada, Antonio Palocci seria a opção preferencial de Lula para a disputa do governo do estado, mas a rejeição é alta por causa do caso do caseiro.
O presidente, então, fixou sua preferência no nome do ministro da Educação, Fernando Haddad: boa aparência, ao que consta inteligente e, segundo testemunho de gente ligada ao alto empresariado, causa boa impressão na área.
Mas o grupo de Marta Suplicy – que domina a máquina no PT paulista – apoiaria Palocci e não quer Haddad. Nesta hipótese, lançaria Marta, mesmo sabendo dos riscos. O mais prudente para ela seria uma candidatura a deputada federal, mas petistas também pretendentes a uma vaga na Câmara temem que a ex-prefeita lhes “roube” votos.
Mesmo confusa, a situação estava na esfera de influência partidária. Desde a entrada de Ciro em cena, a administração está nas mãos do Palácio do Planalto e das circunstâncias da eleição presidencial. A menos que o PT faça um lance ousado, escolha um candidato, ou candidata, e antecipe o lançamento. Na eleição para a presidência do Senado tentou fazer isso, escolhendo o senador Tião Viana cinco meses antes da eleição.
Não deu certo, acabou prevalecendo a vontade de Lula e do PMDB: José Sarney na cabeça. Literalmente, seria de se acrescentarem face dos acontecimentos decorrentes da crise pós-eleição.
Fonte: Gazeta do Povo