quinta-feira, julho 31, 2025

Trump recua no tarifaço e revela: o que os EUA ainda precisam do Brasil — e o que querem manter distante

 


 Trump recua no tarifaço e revela: o que os EUA ainda precisam do Brasil — e o que querem manter distante

 

Por Hugo Garbe, professor Doutor de Ciências Econômicas na Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM).
 

 


O anúncio feito pelo presidente Donald Trump de retirar parte dos produtos brasileiros da lista do tarifaço de 50%, não é um gesto de aproximação diplomática. É, acima de tudo, uma demonstração objetiva de necessidade. Foi poupado da taxação aquilo que os Estados Unidos, pragmaticamente, ainda precisam importar do Brasil para manter sua própria engrenagem funcionando.
 

Foram retirados da lista produtos como petróleo bruto, minério de ferro, celulose, suco de laranja, aviões e peças da Embraer, além de alguns produtos plásticos. Todos os itens com peso significativo na pauta de exportações brasileiras, mas, mais importante do que isso, são insumos cruciais para setores industriais e produtivos americanos, cuja substituição — ao menos no curto prazo — é custosa, lenta ou simplesmente inviável.
 

A decisão, portanto, não é ideológica, tampouco simbólica, ela segue a lógica do custo-benefício. Produtos em que o Brasil ocupa posição de destaque na cadeia de suprimentos global foram poupados. O recado é direto: “precisamos de vocês, por enquanto.”
 

Já os produtos mantidos sob tarifação revelam outra face dessa política: o protecionismo seletivo, voltado a preservar nichos internos sensíveis, especialmente em ano eleitoral. Permanecem taxados, por exemplo, carne bovina, café e pescados, setores em que os EUA têm produção doméstica forte, lobby estruturado e onde o Brasil aparece como concorrente direto.
 

Aqui, o objetivo não é suprir, mas proteger. Não há dependência crítica. Há competição. E Trump, como bom estrategista político, entende que defender o produtor americano, mesmo à custa de tensões comerciais, rende votos em estados-chave como Texas, Iowa e Flórida.
 

Do ponto de vista brasileiro, o alívio parcial deve ser reconhecido: o impacto de uma taxação sobre petróleo, celulose ou minério seria brutal para o saldo da balança comercial, a arrecadação de royalties e o desempenho de empresas do porte de Suzano e Embraer, que registraram alta nas bolsas no dia do anúncio. Mas convém olhar além da superfície.
 

O episódio escancara a fragilidade da nossa pauta externa. Continuamos excessivamente dependentes da exportação de commodities e produtos primários, muitos deles insubstituíveis no mundo, mas facilmente substituíveis politicamente. Basta um decreto para inviabilizar relações de bilhões de dólares.
 

Não há garantia de estabilidade comercial quando o relacionamento com grandes parceiros depende da conveniência política do momento. E Trump mostrou isso com clareza: quem serve aos interesses estratégicos dos EUA é mantido. Quem compete com eles, afastado.
 

Portanto, mais do que um episódio pontual, o tarifaço (mesmo que agora esvaziado em parte) deve servir de alerta. O Brasil precisa urgentemente de uma estratégia de inserção internacional que não seja apenas reativa. É necessário diversificar mercados, agregar valor à exportação e reduzir a dependência de decisões unilaterais de parceiros externos.
 

No xadrez do comércio internacional, não basta ter boas peças. É preciso ter jogo. E o Brasil ainda tem jogado com poucas alternativas.
 

*O conteúdo dos artigos assinados não representa necessariamente a opinião do Mackenzie.
 

Sobre a Universidade Presbiteriana Mackenzie  

A Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM) foi eleita como a melhor instituição de educação privada do Estado de São Paulo em 2023, de acordo com o Ranking Universitário Folha 2023 (RUF). Segundo o ranking QS Latin America & The Caribbean Ranking, o Guia da Faculdade Quero Educação e Estadão, é também reconhecida entre as melhores instituições de ensino da América do Sul. Com mais de 70 anos, a UPM possui três campi no estado de São Paulo, em Higienópolis, Alphaville e Campinas. Os cursos oferecidos pela UPM contemplam Graduação, Pós-Graduação, Mestrado e Doutorado, Extensão, EaD, Cursos In Company e Centro de Línguas Estrangeiras.
 

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O Fenômeno Do Superendividamento No Ordenamento Jurídico Brasileiro

 

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Tarifa efetiva dos EUA sobre importações do Brasil será de 30,8%, estima Goldman Sachs

 Foto: Divulgação/Arquivo

Porto de Santos31 de julho de 2025 | 09:01

Tarifa efetiva dos EUA sobre importações do Brasil será de 30,8%, estima Goldman Sachs

economia

O Goldman Sachs disse que a taxa efetiva dos EUA sobre todas as importações brasileiras será de 30,8%, seis pontos percentuais abaixo de um cálculo anterior, após contabilizar a lista de 694 isenções publicada pela Casa Branca nesta quarta-feira (30).

“Nossos cálculos sugerem que as isenções listadas no decreto reduzem o aumento esperado na taxa efetiva dos EUA sobre todas as importações brasileiras em 6 (pontos percentuais), para ainda altos 30,8%”, disse o Goldman em nota a clientes na noite desta quarta-feira.

O Goldman afirmou ainda que o efeito tarifário no PIB (Produto Interno Bruto) teria um impacto negativo de 0,15 ponto percentual em sua linha de base, mas que não estava fazendo nenhum ajuste em sua previsão de crescimento econômico dado o risco de a previsão atual estar “distorcida para cima”.

O presidente dos EUA, Donald Trump, publicou nesta quarta-feira o decreto com a sobretaxa de 50% sobre os produtos brasileiros, mas isentou 694 deles da cobrança da tarifa.

Destes, 565 estão relacionados ao segmento de aeronaves e 76 a petróleo, carvão, gás natural e seus derivados. Entre os alimentos, escaparam da taxação apenas castanhas-do-pará e polpa e suco de laranja. O café ficou de fora da lista de exceções.

A cobrança da tarifa entra em vigor em 6 de agosto. O mercado financeiro reagiu favoravelmente às exceções, com a Bolsa avançando 0,95%, a 133.989 pontos. O dólar fechou o dia em alta de 0,32%, cotado a R$ 5,588.

Folhapress

Dignidade não se negocia – por Roberto Amaral

Dignidade não se negocia – por Roberto Amaral
ColunistasPolítica

Dignidade não se negocia – por Roberto Amaral

Por Roberto Amaral –

“Vamos recuperar nosso quintal.”
— Pete Hegseth, secretário de Defesa dos EUA,
em discurso no US Army War College (23/04/2025)

A agressão dos EUA ao Brasil, interrompendo uma negociação que apenas se iniciava — por iniciativa nossa, aliás —, vem sendo recebida pelo que ela é: intempestiva e isenta de qualquer sorte de causalidade. Em síntese, essencialmente ilegítima, como toda intervenção estrangeira na ordem política de um país independente. Seu caráter é ostensivamente político (a aparência econômica do tarifaço é apenas um disfarce) e se apresenta como insólita punição a um país soberano.

O Brasil é acusado de, nos rigorosos termos de sua Constituição, estar, por intermédio do poder competente, julgando os crimes de uma quadrilha de delinquentes (civis e militares) que, valendo-se inclusive do aparelho público, intentou um golpe de Estado contra o sistema representativo. Vitorioso, o assalto da extrema-direita frustraria a manifestação eleitoral da soberania popular, feriria de morte a democracia há tanto custo humano posta de pé e embarcaria o país no desvão de uma ditadura neofascista. A partir daí… o inferno seria o limite.

O que o Judiciário brasileiro fez foi simplesmente o que a Justiça americana, fugindo ao seu dever, se esquivou de fazer quando Donald Trump, em 2021, tentou impedir a posse de seu sucessor.

Toda essa vilania, quase uma declaração de guerra, caracterizada pelo virtual bloqueio de nossas exportações, decorre do fato de o cabeça da intentona frustrada, Jair Messias Bolsonaro, ser, por artes e manobras ainda a serem desvendadas, um apadrinhado do atual locatário da Casa Branca. Sobre a agressão, Trump — o candidato a coiteiro — acrescenta chantagem aviltante: se o Brasil deixar em paz seu protegido, o império poderá rever a insídia da majoração unilateral das tarifas, imposta ao arrepio de todos os procedimentos do multilateralismo assassinado, das regras do livre comércio, das normas da OMC e, enfim, do que se conhece como direito internacional.

Em suma, no contrapelo de tudo o que deveriam ser as normas e práticas diplomáticas de duas nações que mantêm relações há mais de duzentos anos.

É evidente que os anunciados prejuízos à economia brasileira, com a imposição unilateral dessas tarifas, abalarão nosso balanço de pagamentos, com a queda inevitável da receita de exportações; atingirão o lucro e a acumulação de capital de ponderáveis setores da economia (atingindo tanto a indústria quanto o agronegócio), apenando de forma evidentemente distinta grandes, médios e pequenos empresários — mas atingindo, acima de todos, os trabalhadores, que pagarão a conta com o desemprego, que já alcança 8,5 milhões de brasileiros, ao lado de 38 milhões de desgarrados do sistema, que tentam sobreviver na informalidade.

Os custos econômicos — como o impacto sobre o real, a pressão inflacionária, a falência de pequenas e médias empresas — são efeitos previsíveis e, em alguns casos e nalguma medida, minimizáveis (a eles o ministro da Fazenda já disse estar atento). E conhecidos são os largos recursos do capital. Insanável é o custo social.

Mas isto ainda não é tudo, nada obstante sua gravidade, pois a grande agressão, a ofensa inominável, é a que mira nossa dignidade, impondo uma “negociação” de índole mafiosa, cujo preço cobra a renúncia da dignidade nacional. E esta não tem meio-termo.

Este aspecto, fulcral, foi reconhecido pelo povo brasileiro — e mesmo pela imprensa mainstream —, retirando o governo das cordas e ensejando à esquerda, hoje sem palavra de ordem, a retomada da bandeira do nacionalismo — tão viva, um pouco lá atrás, na campanha pelo monopólio estatal do petróleo. A defesa da soberania nacional, que o envilecido Estadão reduz a “populismo” lulista, fala às grandes massas, hoje arredias das ruas.

O bom senso, porém, não é unanimidade, pois muitos intelectuais e observadores do cenário internacional se revelam assustados, surpresos, tanto com o grau de violência do ataque quanto com o fato de essa violência atingir relações de mais de dois séculos entre “duas sociedades irmãs”.

A dificuldade de ultrapassar a aparência para conhecer a essência das coisas, porém, não para aí, pois quase toda a gente distingue o Estado norte-americano de seu atual presidente, sagrando aquele para dedicar toda a justa desaprovação a Trump — como no passado recente, quando, ao reduzir os crimes do nazismo a Hitler, se procurava ignorar o papel do povo alemão nos crimes de guerra que não podia desconhecer; como agora, quando a manipulação dos meios de comunicação reduz o horror do genocídio dos palestinos à obsessão sionista de Benjamin Netanyahu.

Ora, Trump é tão americano quanto a torta de maçã, o Mickey, o Pato Donald, o macarthismo a segregação racial e os linchamentos. E é preciso lembrar que o magnata, como seu pastiche brasileiro, não enganou ninguém — muito menos a sociedade estadunidense. Tudo o que faz e desfaz foi anunciado na campanha eleitoral que o consagrou, de forma inquestionável. Com este respaldo, pode governar em nome dos menos de 1% que controlam o país; está a serviço de seus próprios interesses empresariais e de seus sócios, dos interesses do capital financeiro e das big techs. E conta com a cumplicidade do Congresso, a parcialidade da Suprema Corte, a boa vontade de quase toda a imprensa e, até, a passividade do mundo acadêmico. Não é pouco.

Sua aparente loucura está permeada de lógica. Trump choca, mas não inova. Como afetar surpresa olhando para a história de seu país?

Não é científico desprezar o papel do indivíduo na história: ele está sempre presente, condicionado, porém, pelas suas circunstâncias.

A presença do rico coletivo de forças econômicas e políticas atuantes no processo social supera em muito o poder do voluntarismo.

Ao longo dos séculos XX e XXI, os EUA, governados por democratas ou republicanos, se envolveram em um número incontável de intervenções externas, diretas e indiretas, em mais de 80 países. Do criminoso e persistente bloqueio a Cuba ao apoio a todas as ditaduras, a política externa dos EUA para a América Latina se construiu sob a lógica da doutrina do big stick (“Fale com suavidade e carregue um porrete — e irá longe”), cunhada por Theodore Roosevelt (1901–1909).

Esta é a natureza do imperialismo, assim exposta por ele mesmo numa saga didática de que seremos devedores. Ou já nos esquecemos da rapina de que foram vítimas os Estados Unidos Mexicanos? Ou que, no século passado, numa guerra já perdida pelo Japão, os EUA, presididos pelo democrata Harry Truman, lançaram duas bombas atômicas sobre as populações civis de Hiroshima e Nagasaki, matando cerca de 300 mil pessoas? O rol, só a partir daí, é extenso e não cabe neste espaço sua resenha: basta lembrar que, na Guerra da Coreia, contam-se entre mortos e desaparecidos três milhões de civis (10% da população da península); e, na invasão do Vietnã, algo entre 1,5 e 2 milhões. E são incontáveis as intervenções dos marines e de agentes da CIA desmontando projetos de democracia na América Latina e no mundo, ou sustentando ditaduras, ou assassinando adversários mundo afora, como o congolês Patrice Lumumba.

Nada diferente tem sido o relacionamento com nosso país, facetado pela subserviência das chamadas elites do mundo econômico e do mundo político, de que é exemplo icônico a frase cunhada pelo general Juraci Magalhães, na condição de embaixador do Brasil em Washington: “O que é bom para os EUA é bom para o Brasil.” Vira-latismo que apenas consagrava a política de alinhamento automático, acentuada com a ditadura militar de 1º de abril, mas que vinha marcando a República desde seu início, com variações apenas de nuances.

Desde, principalmente, a Segunda Guerra Mundial, os EUA orientam doutrinariamente as Forças Armadas residentes no Brasil e decidem sobre seu armamento. Não invadiram o território nacional por desnecessário, mas participaram de todos os golpes de Estado desde 1945 (inclusive da conspiração que levou ao suicídio de Getúlio Vargas, em 1954) e, por último, na implantação da ditadura militar (1964–1985), inclusive emprestando especialistas em tortura, como o capitão Charles Rodney Chandler, adido militar no consulado norte-americano em São Paulo. Em 1968, foi morto pela guerrilha de esquerda.

Nada obstante a preeminência dos interesses dos EUA, as relações dos dois países já conheceram rusgas diplomáticas, principalmente naquelas poucas oportunidades em que ousamos a defesa de nossa soberania — desde a exploração nativa do petróleo (contra as pressões da Standard Oil) aos projetos mais recentes de autonomia da produção de energia nuclear e ao programa espacial. A lista é extensa.

O Departamento de Estado e o Pentágono jamais aceitaram de bom grado a liderança que o Brasil exerce na América do Sul. Para o imperialismo, são intoleráveis nossos ensaios de política externa independente, esboçados sobretudo a partir do governo Jânio Quadros, para se acentuarem no mandato de João Goulart. Frustrados no impedimento do vice-presidente, determinaram sua deposição — e o que a ela se seguiu. Findos os tempos de festa ensejados pelo neoliberalismo (Collor–FHC), foram outra vez surpreendidos com a política “ativa e altiva” dos governos de Lula e Dilma, que ressurge agora, após os tristes anos de Temer–Bolsonaro.

No episódio atual, a carta-provocação ataca o Brasil e suas instituições para defender os interesses das big techs (incomodadas com os limites que o STF pretende impor a seus desmandos no Brasil) e das grandes operadoras de crédito, que veem seus lucros diminuírem com a rápida disseminação do pix. Isto tudo num contexto de reordenamento do poder mundial — marcado pela ascensão da China, com quem o Brasil mais e mais estreita relações —, em que o império declinante não se dispõe a fazer concessões. Ora, para Biden ou para Obama é intolerável nosso papel no BRICS, como para Kennedy e Lyndon Johson era intolerável nosso discurso em defesa da autodeterminação dos povos.

Os EUA são um império declinante, é certo, mas ainda muito poderoso, e com forças para infligir estragos incalculáveis. Um tigre ferido é perigoso.

Os desdobramentos do quadro ainda não podem ser desenhados, mas já é possível ver que as nuvens de hoje não prometem bonança no curto ou médio prazos. Estamos diante da alimentação de uma crise que a tudo pode levar, e dela não seremos apenas atores menores, pois dificilmente deixaremos de compartilhar suas consequências — fragilizados que estamos pelo abandono, por décadas, da ideia de soberania.

No caso imediato — o contencioso político com viés tarifário — o primeiro caminho é a negociação que, nada obstante nossas limitações, haverá de ser altiva, porque não se concilia com a dignidade. O governo está correto ao requerer sua retomada, sem, todavia, alienar a alternativa da reciprocidade seletiva. Mas aí, à pusilanimidade do Congresso e de sua maioria sem coluna vertebral, soma-se a sabujice do grande empresariado ao pleitear, de alto e bom som, desde logo, antes mesmo que as partes se sentem à mesa, que o Brasil descarte a única arma de que dispõe: a alternativa da reciprocidade na guerrilha tarifária.

Soberania não é uma abstração cívico-poética. Reclama o direito concreto de escolher nossas alianças, proteger nossa economia, empregar nosso povo, cultivar nossas terras e exportar nossos produtos. É o direito de decidir, sem medo de retaliação. Nem é muito, nem é pouco.

O sistema governante — aquele que controla o poder, independentemente de quem esteja hospedado no Palácio da Alvorada ou ocupando as cadeiras do Congresso — dá sinais de que já rastreou o terreno e pretende jogar ao mar a carga hoje inconveniente, construindo uma nova maioria política, afastando-se do neofascismo (o bolsonarismo indigesto e suas adjacências), fator de turbulência e, portanto, de incerteza para os negócios. Essa manobra pode implicar composição com o centro, na perspectiva de estabilidade política, à qual não será indiferente o governo. Lula pode mesmo ser seu fiador, pode mesmo cumprir o papel de elo aglutinador — aquele que mais fala à sua alma.

A sinuca de bico será o desafio que as circunstâncias imporão às esquerdas. Se não podem se opor a um arranjo que desloca a extrema-direita, hoje em ascensão no mundo e no Brasil, terão de, mais uma vez, adiar a expectativa de avanço político.

*** ***

Adeus a Preta Gil — Após longa e penosa batalha contra o câncer, Preta Maria Gadelha Gil Moreira encerrou, no último dia 20/07, o “caminho inevitável para a morte” que seu pai cantou em anos idos. Já no batismo, Preta recebera a missão da ousadia — neste país onde é comum nomear como Branca até mesmo meninas negras como ela. Com irreverência e altivez, ela soube enfrentar, ao longo da curta trajetória, o machismo, o racismo, a gordofobia, a boçalidade do fascismo ressurreto. Fica a lembrança do seu riso, da sua alegria, e o desejo de que seus familiares e amigos nela encontrem alívio para a dor que a saudade impõe aos que se aventuram a amar. Ao camarada Gilberto Gil, aquele abraço.

(Colaboração de Pedro Amaral)

ROBERTO AMARAL – Escritor, jornalista, cientista político, ex-ministro de Ciência e Tecnologia, colunista do jornal Tribuna da Imprensa Livre. Autor de “Socialismo, Morte e Ressurreição” (Editora Vozes). Em 2015, foi nomeado conselheiro da Itaipu Binacional, foi presidente do PSB. Autor de História do presente- conciliação, desigualdade e desafios (Editora Expressão Popular e Books Kindle). www.ramaral.org

Envie seu texto para mazola@tribunadaimprensalivre.com ou siro.darlan@tribunadaimprensalivre.com 

Traidores da pátria não ficarão impunes – por Eusébio P. Neto

Traidores da pátria não ficarão impunes – por Eusébio P.  Neto
Eusébio Pinto Neto é Presidente da Federação Nacional dos Frentistas (FENEPOSPETRO) e Presidente do Sindicato dos Empregados em Postos de Serviços de Combustíveis e Derivados de Petróleo do Estado do Rio de Janeiro (SINPOSPETRO-RJ)
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Traidores da pátria não ficarão impunes – por Eusébio P. Neto

Por Eusébio Pinto Neto –

A paciência e a resiliência são características de grandes estadistas, bem como a habilidade de negociar.

Por isso, estou confiante de que o governo Lula conseguirá superar as diversidades e vencer as barreiras tarifárias estabelecidas pelos Estados Unidos. A imposição de uma taxação de 50% sobre os produtos brasileiros, que entra em vigor na próxima sexta-feira, 1º de agosto, pôs em evidência os traidores da pátria.

Não bastasse o encosto da família Bolsonaro, que fomentou a morte de mais de 700 mil pessoas devido à Covid-19 e praticou crimes contra a democracia, agora somos confrontados com os delírios do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Acreditando ser o imperador do mundo, ele atentou contra a nossa soberania. O Brasil não é circo, portanto, não vamos aplaudir a insensatez de extremistas exibicionistas.

No embate, o governo brasileiro conta com o apoio, não apenas dos países do grupo do Brics, mas também das nações afetadas pelas sanções tarifárias e as ameaças de Trump. Não nos submeteremos à chantagem de parasitas e tampouco à tirania de lunático.

Enquanto ganha tempo na mesa de negociação, o Brasil se prepara para cenários alternativos. O governo analisa formas de proteção para apoiar os setores impactados pelo aumento das tarifas e atender às empresas que não têm como redirecionar as vendas no presente momento.

De todas as nossas exportações, 13% são destinadas aos Estados Unidos e algumas empresas, principalmente fornecedores de produtos perecíveis, começam a ter prejuízos. No entanto, não seremos os únicos a perder com este conflito. Grandes corporações americanas, que mantêm operações em solo brasileiro, demonstram preocupação com o impacto que esses tributos podem ter.

A relação de negócio se baseia na reciprocidade. As exportações dos Estados Unidos para o Brasil somente continuarão se houver, igualmente, a oportunidade de comercializarmos nossos produtos naquele mercado. A realidade é que a instabilidade nas relações comerciais impulsiona as nações a buscarem parceiros alternativos, como a China.

As medidas de Trump expuseram os verdadeiros interesses de grupos econômicos, políticos e religiosos que incentivam a submissão do povo a fim de preservar seus privilégios. Que o ataque à nossa soberania contribua para a união e fortalecimento dos três poderes, desmistificando o nosso complexo de vira-lata. É imprescindível a conscientização para penalizar rigorosamente aqueles que negociam a nação com o intuito de perpetuar a exploração e a desigualdade social.

Os traidores da pátria não ficarão impunes.

EUSÉBIO LUÍS PINTO NETO é presidente do Sindicato dos Empregados em Postos de Serviços de Combustíveis e Derivados de Petróleo do Estado do Rio de Janeiro (SINPOSPETRO-RJ) e da Federação Nacional dos Frentistas (FENEPOSPETRO), consultor sindical da Tribuna da Imprensa Livre.

Envie seu texto para mazola@tribunadaimprensalivre.com ou siro.darlan@tribunadaimprensalivre.com 

O Brasil é um país soberano e democrático

 30/07/2025


Nota à imprensa do presidente Luiz Inácio Lula da Silva:

Brasil é um país soberano e democrático, que respeita os direitos humanos e a independência entre os Poderes. Um país que defende o multilateralismo e a convivência harmoniosa entre as Nações, o que tem garantido a força da nossa economia e a autonomia da nossa política externa.

É inaceitável a interferência do governo norte-americano na Justiça brasileira.

O governo brasileiro se solidariza com o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, alvo de sanções motivadas pela ação de políticos brasileiros que traem nossa pátria e nosso povo em defesa dos próprios interesses.

Um dos fundamentos da democracia e do respeito aos direitos humanos no Brasil é a independência do Poder Judiciário e qualquer tentativa de enfraquecê-lo constitui ameaça ao próprio regime democrático. Justiça não se negocia.

No Brasil, a lei é para todos os cidadãos e todas as empresas. Qualquer atividade que afete a vida da população e da democracia brasileira está sujeita a normas. Não é diferente para as plataformas digitais.

A sociedade brasileira rejeita conteúdos de ódio, racismo, pornografia infantil, golpes, fraudes, discursos contra os direitos humanos e a democracia.

O governo brasileiro considera injustificável o uso de argumentos políticos para validar as medidas comerciais anunciadas pelo governo norte-americano contra as exportações brasileiras. O Brasil tem acumulado nas últimas décadas um significativo déficit comercial em bens e serviços com os Estados Unidos. A motivação política das medidas contra o Brasil atenta contra a soberania nacional e a própria relação histórica entre os dois países.

O Brasil segue disposto a negociar aspectos comerciais da relação com os Estados Unidos, mas não abrirá mão dos instrumentos de defesa do país previstos em sua legislação. Nossa economia está cada vez mais integrada aos principais mercados e parceiros internacionais.

Já iniciamos a avaliação dos impactos das medidas e a elaboração das ações para apoiar e proteger os trabalhadores, as empresas e as famílias brasileiras.

LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA

Presidente da República

https://www.abi.org.br/o-brasil-e-um-pais-soberano-e-democratico/

Trump escala confronto com Moraes e mitiga tarifaço

 



Publicado em BrasíliaComunicaçãoEconomiaEUAExportaçõesGovernoImpostoItamaratyJustiçaPolíticaPolíticaTrump

O impacto do tarifaço nas exportações será bem menor do que era esperado. Ponto para o presidente Lula, que teve sangue frio para suportar as ameaças da Casa Branca

A crise entre Brasil e Estados Unidos atingiu novo patamar político institucional com a decisão do presidente Donald Trump de assinar uma Ordem Executiva que impõe sanções ao ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, por causa do julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro, e declara emergência nacional para justificar a imposição de tarifas adicionais ao Brasil, elevando esse total para 50%. A medida, porém, exclui dessa taxação produtos considerados indispensáveis para sua própria economia, como laranja, aço, minerais e combustíveis. Com isso, o impacto do tarifaço nas exportações será bem menor do que era esperado. Ponto para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que teve sangue frio para suportar as ameaças dos Estados Unidos e não caiu com o barulho da bala.

Sim, apesar da forte taxação do café e da carne, poderia ser pior, como tudo na vida. Entretanto, a crise diplomática entre os dois países não está encerrada. As medidas, que atingem especialmente o agronegócio brasileiro, não têm base econômica ou comercial plausível, mas uma motivação política explícita: pressionar o governo brasileiro e, em particular, retaliar o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), por sua atuação nos processos contra Jair Bolsonaro e seus aliados. Ou seja, é uma afronta à soberania brasileira e um desrespeito ao nosso Poder Judiciário.

A retórica da Casa Branca escancara a natureza extraterritorial e ideológica da medida. Trump acusa Moraes de ser um “juiz tirânico” que teria perseguido empresas norte-americanas, censurado críticos e violado direitos de cidadãos dos EUA, inclusive investigando figuras como Paulo Figueiredo por declarações feitas em solo americano. Com base nisso, determinou a revogação de vistos do ministro, de seus colegas no STF e de familiares, além de aplicar sanções financeiras, com base na chamada Lei Magnitsky, usada contra ditadores e violadores de direitos humanos.

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Pela primeira vez, um presidente dos Estados Unidos ataca diretamente a independência do Judiciário brasileiro e condiciona relações comerciais a decisões judiciais favoráveis a seu aliado político. Essa atitude afronta os princípios mais elementares da soberania nacional. O presidente Lula, em entrevista ao New York Times, publicada ontem, reagiu: “Seriedade não exige subserviência. Trato todos com respeito, mas quero ser tratado com respeito”, disse ao esclarecer ao principal jornal norte-americano que a alegação de perseguição a Bolsonaro não procede e reiterar que o Judiciário brasileiro é independente.

Conversas

No campo diplomático, o governo brasileiro buscou intensamente desescalar a crise. Ontem, após o anúncio do tarifaço, o chanceler Mauro Vieira teve o seu primeiro encontro com o secretário de Estado americano, Marco Rubio, em Washington. Vieira estava em Nova York e retardou sua volta ao Brasil para viabilizar o encontro, depois de intensas negociações de bastidor da embaixadora Maria Luiza Ribeiro Viotti e do Itamaraty. O chanceler deu o recado claro de que o presidente Lula quer tratar exclusivamente da questão tarifária e preservar a relação comercial, sem politizar essas divergências. Foi um esforço para reabrir canais técnicos e evitar que o Brasil seja arrastado para uma disputa ideológica sem saída.

Motivada por uma defesa política de Bolsonaro, ironicamente, a retaliação afeta diretamente os setores que mais o sustentam politicamente. A bancada ruralista, os exportadores e os aliados do ex-presidente colhem os frutos de uma diplomacia informal, feita por canais paralelos e marcada por atitudes provocativas de figuras como Eduardo Bolsonaro, que alimentaram o confronto direto com Moraes em solo americano. Essa atuação paralela é vista por diplomatas como combustível adicional para a crise, a pior em dois séculos de relações bilaterais.

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Ao transformar uma disputa judicial interna em pretexto para medidas de guerra comercial e sanções políticas, Trump rompeu com todas as normas de convivência entre democracias. A instrumentalização de tarifas como chantagem para interferir em decisões de um Supremo Tribunal é um precedente perigoso que ameaça qualquer país que insista em manter instituições autônomas frente à pressão internacional.

O Supremo reagiu em nota divulgada após o decreto de Trump, na qual afirma que o julgamento de crimes que implicam atentado grave à democracia brasileira é de exclusiva competência da Justiça do país, no exercício independente do seu papel constitucional. Explica que “o Procurador-Geral da República imputou a um conjunto de pessoas, inclusive a um ex-presidente da República, uma série de crimes, entre eles, o de golpe de Estado”, e que no âmbito da investigação, “foram encontrados indícios graves da prática dos referidos crimes, inclusive de um plano que previa o assassinato de autoridades públicas”.

Todas as decisões tomadas pelo relator do processo foram confirmadas pelo colegiado competente, destaca a nota do STF, ao se solidarizou com Moraes. O Supremo afirma que “não se desviará do seu papel de cumprir a Constituição e as leis do país, que asseguram a todos os envolvidos o devido processo legal e um julgamento justo”.

Na prática, o tarifaço de 50% não visa proteger a economia americana — cujos consumidores ainda são penalizados — mas, sim, criar um fato político internacional em ano eleitoral nos EUA. Ao lançar mão da retórica da “liberdade de expressão” e da “perseguição política”, Trump reforça sua base radical, nacionalista e antiglobalista, tentando repetir no plano externo o roteiro de vitimização que aplicou após o 6 de janeiro de 2021.

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