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sexta-feira, março 27, 2020

Bolsonaro menospreza a pandemia e diz que brasileiro mergulha no esgoto e “não pega nada”


Bolsonaro ignora as vítimas fatais da pandemia e ainda faz piada
Gustavo Uribe e Daniel Carvalho
Folha
O presidente Jair Bolsonaro voltou a minimizar nesta quinta-feira, dia 26, a pandemia do coronavírus e afirmou que o contágio no Brasil não será como nos Estados Unidos porque não acontece nada com o brasileiro. Bolsonaro é alvo há dez dias seguidos de panelaços em grandes cidades devido ao menosprezo pela pandemia, que já matou 77 pessoas no Brasil —20 delas somente nesta quinta. Até o momento, 2.915 casos foram confirmados no país.
Na entrada do Palácio da Alvorada, onde concedeu uma entrevista à imprensa, o presidente defendeu que o brasileiro seja estudado porque, segundo ele, mergulha no esgoto e não pega nenhuma doença. De acordo com ele, muita gente no país já foi contaminada pelo coronavírus e desenvolveu anticorpos.
CASO DE ESTUDO – “Eu acho que não vai chegar a esse ponto [dos Estados Unidos]. Até porque o brasileiro tem que ser estudado. Ele não pega nada. Você vê o cara pulando em esgoto ali. Ele sai, mergulha e não acontece nada com ele”, disse.
Nesta quinta-feira os Estados Unidos ultrapassaram a China e se tornaram o país com o maior número de casos confirmados da doença: 83.507. A contagem de mortos chegou a 1.201.
ANTICORPOS – “Eu acho até que muita gente já foi infectada no Brasil há poucas semanas ou meses. E eles já tem anticorpos que ajuda a não proliferar isso daí. Estou esperançoso que isso seja realmente uma realidade”, disse Bolsonaro.
 Logo depois, em sua habitual transmissão ao vivo pela internet, voltou a menosprezar o coronavírus. “Este vírus é igual uma chuva —fechou o tempo, trovoada—, você vai se molhar, e vamos tocar o barco”, afirmou o presidente.
HIDROXICLOROQUINA – Bolsonaro fez a live com duas caixas de hidroxicloroquina, medicamento estudado como possível solução à Covid-19. Em determinado momento, ele disse que poderia doar as caixas que tinha para quem precisasse.
O presidente defendeu a aplicação da cloroquina para pacientes “em estado complicado”. “Tá lá, o homem, a mulher, idoso, chega num estado bastante complicado, faz o teste, tem o coronavírus, aplica logo, pô.”
O Ministério da Saúde criou nesta quarta-feira, dia 25, um protocolo para dar o medicamento a pacientes com o novo coronavírus em estado grave. O tratamento deve ocorrer ao longo de cinco dias e mediante supervisão médica, já que ainda não há dados robustos sobre eficácia da cloroquina para a Covid-19.
HISTERIA – “A pessoa medicada corretamente, não tem efeito colateral”, afirmou o presidente. “Se Deus quiser, isso aqui [a hidroxicloroquina] vai ser confirmado brevemente como remédio para curar todos os portadores do coronavírus ou Covid-19. Daí, com o remédio, esta histeria que foi plantada aqui no Brasil… Não foi a imprensa, acho que foi o Papai Noel, o Saci-Pererê que plantou no Brasil… faça com que o povo tenha paz, tranquilidade”, disse Bolsonaro.
Ele também voltou a criticar “alguns governadores e prefeitos” pelas restrições que impuseram em seus estados e municípios. “Esta neurose de fechar tudo não está dando certo.” Na live, ele também se queixou indiretamente das críticas que recebeu da cúpula militar de seu governo. “Tem até ministro me criticando”, afirmou.
ECONOMIA – Aos jornalistas na porta do Alvorada, Bolsonaro disse que a onda de desemprego por causa das medidas de restrição à pandemia já começou no país e ela é “muito pior” que o contágio de coronavírus. Ele criticou novamente a imprensa por, segundo ele, gerar “pânico” e “histeria” e disse que talvez até já tenha contraído a doença e se curado.
“Essa onda é muito pior do que o vírus que talvez [eu] tenha tido e curado e vocês também. Dá para entender isso? Esse pânico, essa histeria, essa busca de manchete de jornais. Até para tentar desgastar o presidente.”
EM ANÁLISE – Bolsonaro disse que a proposta defendida por ele de fazer um isolamento vertical da população, ou seja, sem incluir menores de 60 anos, ainda está em análise pelo Ministério da Saúde.
Ele afirmou que uma das hipóteses avaliadas pelo governo federal é a de isolar os grupos de risco para o coronavírus em hotéis que estejam ociosos, para que não tenham contato com familiares mais jovens. “É fazer uma campanha para ficar em casa. Não deixa o vovô sair de casa, deixa em um cantinho. Quando voltar para a casa, toma banho, lava as mãos, passa álcool na orelha. É isso daí”, disse.
CADA UM POR SI – Bolsonaro declarou ainda que o cidadão não tem de esperar ajuda do poder público e deve entender que cada um tem de salvar a sua própria vida. “Não tem que ficar esperando vereador, deputado ou presidente cuidar da vida dele. Se ele não tem capacidade ou não tem amor pelo pai, pela mãe, pelo avô, pelo bisavó, paciência.”
Na entrevista, o presidente voltou a criticar governadores e prefeitos que, segundo ele, “erraram na dose” com políticas de restrição. Em uma crítica indireta, ele acusou o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), de colocar a “politicalha no meio”.
DESVIO DE ATENÇÃO – Bolsonaro disse também que o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), quer “desviar a atenção” ao ter afirmado que ele radicalizou seu discurso contra a quarentena em cidades do país por pressão de investidores da Bolsa de Valores. “Eu nunca entrei na Bolsa de Valores na minha vida e nunca conversei com ninguém que foi tratar de Bolsa de Valores. Querem desviar a atenção. O problema é de todos nós”, disse Bolsonaro.
O presidente minimizou em diversas ocasiões os impactos do Covid-19 e criticou medidas de restrição de movimento que têm sido adotadas por governadores. Ele já se referiu à enfermidade como “gripezinha” e argumentou que ações como o fechamento de comércios e divisas entre os estados causam prejuízos econômicos para o país.
OPOSIÇÃO – Bolsonaro redobrou a aposta nesta quarta-feira, dia 25, e ganhou a oposição aberta de antigos aliados —como do governador goiano, Ronaldo Caiado (DEM)— e críticas generalizadas no Congresso, além de ter seus pedidos ignorados pelos chefes de Executivo dos estados.
Na terça-feira, dia 24, à noite, Bolsonaro havia feito um polêmico pronunciamento em rede nacional no qual chamou a Covid-19 de “gripezinha”.
Criticou medidas como fechamento de escolas e de comércio, a principal recomendação da OMS (Organização Mundial da Saúde) para tentar conter a propagação do vírus. A fala foi repudiada por políticos e autoridades sanitárias porque vai contra os principais exemplos disponíveis no combate à doença no mundo.
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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG – Bolsonaro demonstra a cada dia que nunca teve noção da responsabilidade que carrega e do cargo que ocupa. Enquanto milhares de brasileiros estão em isolamento social questionando como será o dia seguinte, ele acha espaço para fazer anedotas e, baseado nas teorias que vagam pela sua cabeça, aposta que o brasileiro acostumado em nadar no esgoto já está imune. Falta respeito, falta iniciativa, falta seriedade. O objeto em estudo, no caso, certamente deve ser ele. Mas ainda tem gente que acha engraçado o deboche, clama pelo mito e insiste em defendê-lo. Não é questão de ideologia somente, mas de bom senso. (Marcelo Copelli)

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