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quinta-feira, junho 02, 2011

Quem está dentro não sai, quem está fora não entra?

Carlos Chagas

Seis meses depois, para quantos dedicam-se a analisar a mudança de guarda no governo, do Lula para Dilma, não apenas sobressai a diferença de estilo entre os dois. Salta aos olhos, também, fenômeno antropofágico jamais registrado nos governos de continuidade militar. Porque naqueles idos, a turma do marechal Costa e Silva não se dava com a turma do marechal Castello Branco, assim como a ala de Garrastazu Médici foi passada para trás pela ala de Ernesto Geisel, caracterizando-se João Figueiredo como o único preocupado em aproveitar o conjunto inteiro. Mas em nenhum momento registrou-se a frenética disputa por cargos entre os generais e os coronéis de um lado e de outros. Acomodavam-se todos, aguardando sua vez em posição de sentido. �

Nessa nova experiência de continuidade de governos, porém, nota-se canibalismo puro, em especial no PT. Nem se pode dizer que existe uma tropa de Dilma, ainda em formação, oposta ao exército do Lula. A verdade, porém, é que companheiros menos aquinhoados com cargos públicos na administração passada avidamente lançam-se sobre lugares ocupados por companheiros certos de permanecer onde se encontram. O embate no partido oficial chega a superar o confronto entre PT e PMDB, em busca de nomeações.

O Lula preencheu até demais sua quota de continuidade no primeiro escalão, ao sugerir ou até impor o aproveitamento de Antônio Palocci, na Casa Civil, Gilberto Carvalho, na Secretaria Geral, Guido Mantega, na Fazenda, Fernando Haddad, na Educação, Nelson Jobim, na Defesa, Luis Inácio Adans, na AGU, Paulo Bernardo, nas Comunicações, e outros.

O problema é que o ex-presidente não aguenta mais a dupla pressão, uma de petistas querendo entrar, outra de petistas querendo ficar. A mesma coisa acontece com Dilma Rousseff, até aconselhada a fazer como se fazia em bailes de gafieira quando o clima esquentava: quem está dentro não sai, quem está fora não entra.

No fundo, quem sofre é o governo atual, porque do que menos se cuida, nessa briga de foice em quarto escuro, é da capacidade e do valor dos que lutam para ficar ou para entrar. Poucas vezes se tem visto tão pouco despreparo por parte dos candidatos ao segundo e ao terceiro escalões. Registre-se que até os terceirizados nos diversos ministérios chegam sem conhecer o mínimo das funções que vão exercer. São indicações políticas enfraquecendo as estruturas, muitas delas já fracas, do governo anterior e, pior ainda, não raro substituindo técnicos de competência comprovada. O problema assume proporções preocupantes e deveria estar sendo monitorado pela Casa Civil, mas nesses dias de aflição para o ministro Antônio Palocci, mais se avolumam as pressões, ironicamente estimuladas por companheiros que deveriam estar tentando respaldá-lo.�

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CRIME SEM CASTIGO�

Horroriza-se quem passa pela Esplanada dos Ministérios, em Brasília. O gramado que separa as diversas unidades do Executivo transformou-se num mafuá, verdadeiro pátio dos milagres. Ainda semana passada centenas de caminhões invadiram o amplo jardim, descarregando toneladas de lama e erigindo montículos e montões de terra e de detritos. Para que? Para que lá, com o palácio do Planalto, o Congresso e a sede do Supremo Tribunal Federal bem perto, fosse disputada uma corrida de motocross. Sábado e domingo foi lama para todo lado, superando até a política. Meses passarão para a grama voltar a florescer naturalmente.�

Mas não é só isso. Arenas para disputa de vôlei de praia e campeonatos de tênis tem sido implantadas a poucos metros da Praça dos Três Poderes, com direito a arquibancadas e toda a parafernália de barraquinhas de cachorro-quente, sorvete, bebidas variadas e uma sujeira sem par. Sem falar em palcos de todos os tamanhos, para apresentação de shows de música popular, celebrações de dias festivos, miniparques de diversões, circos e instalações para abrigar grevistas e movimentos de protesto. Sem esquecer tribos de índios que lá acampam por semanas a fio, desprezado até os banheiros-químicos postos para atendê-los, com varais de roupa, fogueiras para esquentar comida e banhos de cuia ao natural. Em suma, a deterioração completa do que seria um dos maiores cartões postais de Brasília.

O último defensor da paisagem foi o então presidente do Senado, Antônio Carlos Magalhães, que pelo menos no gramado próximo do Congresso botou os múltiplos lambões para correr, sem se importar com autorizações dadas pelo governo do Distrito Federal, que a lei encarrega de zelar pelos jardins.

Com todo o respeito e lamentos por sua louvável carreira política, há um responsável maior por essa verdadeira Casa da Mãe Joana em que se transformou o centro nevrálgico do poder nacional: é o governador Agnelo Queiroz, a quem caberia cuidar da cidade que o elegeu. Claro que também antigos governadores, desde Rogério Rosso, tampão, José Roberto Arruda, preso, Joaquim Roriz, da ficha suja, e outros. Não começou agora esse emporcalhamento do Distrito Federal, que dispõe de um monte de áreas e parques apropriados para tantas atividades.

Pelo jeito, cada governante parece querer superar o anterior em matéria de lambança. E quem se aventurar a descer ao fundo da latrina, verificará que tem gente ganhando dinheiro com tudo isso: são empresas especializadas na promoção de eventos cujos contratos, espera-se, aumentem a conta bancária apenas de seus proprietários… �

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CHANTAGEM

Sempre que teve poder, o Congresso fez valer a sua força. Muitas vezes defendendo a democracia, outras, nem tanto. Vive-se agora um desses episódios em que o Legislativo extrapola diante das aflições do Executivo. Posto em xeque o ministro Antônio Palocci, é o governo inteiro que sofre, a começar pela presidente Dilma Rousseff. As bancadas evangélicas, os ruralistas, os ambientalistas e daqui a pouco os corintianos e os flamenguistas estarão cobrando interesses, favores e benesses sob pena de instaurarem investigações e CPIs sobre o súbito enriquecimento do chefe da Casa Civil. Até obrigaram a presidente a oferecer almoço para senadores e a receber líderes partidários para tratar da chantagem. A hora do murro na mesa está passando.

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O REVERSO DA MEDALHA

Por conta do compromisso de realizarmos uma Copa do Mundo no mínimo apresentável, a presidente Dilma Rousseff decidiu privatizar os aeroportos de Cumbica, Viracopos e Brasília. Trata-se de uma necessidade, mas também, de um risco. Porque a iniciativa privada não vai querer entrar no prejuízo. Ninguém se espante se nesses aeroportos vier a ser cobrada entrada para quantos forem esperar ou levar parentes e amigos em viagem. Ou se implantarem em cada salão ou corredor centenas de quiosques e barraquinhas para atormentar o comércio naturalmente estabelecido nos locais. Acresce que a moda pode pegar: mais do que o transporte aéreo, a segurança pública preocupa os organizadores do certame futebolístico. Irá o governo privatizar as delegacias de polícia e os batalhões das polícias militares?

Fonte: Tribuna da Imprensa

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