Carlos Chagas
Segunda-feira, o senador José Sarney deu a impressão de confundir-se com Deus. Mandou apagar o passado, fazendo retirar da galeria dos principais momentos do Congresso texto e imagens referentes ao impeachment do então presidente Fernando Collor. Parecia haver relido o fantástico “1984”, de George Orwell, onde além de “duplipensar”, o Grande Irmão adaptava o passado de acordo com as conveniências do presente, fazendo alterar todas as edições de jornais e livros antigos. Aliás, a arte de apagar o passado não foi praticada apenas na ficção literária. Stalin e Mao Tse-Tung abusaram dela.
O pretexto do presidente do Senado foi de que o episódio Collor tinha sido um acidente desimportante, quando, na realidade, marcou um momento crucial na história do Legislativo. Na verdade, Sarney quis agradar o ex-presidente, hoje senador, para que todos os dias ao atravessar o “túnel do tempo” ele não se confrontasse com referências à maior de suas aflições.
Reações imediatas dos senadores, da imprensa e da opinião pública levaram Sarney, ontem, a rever a decisão inicial. Fez recolocar na galeria o testemunho visual daquele período. Aplausos para ele, porque se moda pegasse o Senado entraria em parafuso. ***
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PRESTANDO MAIS SERVIÇOS
Outra referência ao ex-presidente da República: Sarney começou a convencer os senadores do PMDB da necessidade de não aprovarem a anistia aos desmatadores, constante do projeto de novo Código Florestal aprovado pela Câmara. Mais um serviço prestado ao governo Dilma Rousseff, a ser fatalmente seguido por novas compensações. O tema será debatido no almoço de hoje, no palácio da Alvorada, oferecido à bancada pela presidente da República. Ainda existem senadores peemedebistas favoráveis à aprovação do texto tal qual foi votado pelos deputados, mas como os debates ficarão para o segundo semestre, o palácio do Planalto continua confiando no seu maior aliado.
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QUEM GANHA E QUEM PERDE?
O Banco Central determinou que a partir de hoje será de 15% o pagamento mínimo dos débitos com cartões de crédito, não maiôs de 10%. E a partir de dezembro o percentual sobe para 20%.�
Ganham os mesmos de sempre, isto é, os bancos. Perde o cidadão comum, que já estava no sufoco e precisou apelar para pagar aos poucos os gastos com seu cartão de crédito. O pior nessa história é a inexistência de mecanismos para o indigitado devedor apelar. Falou o Banco Central, está falado. Para alegria dos banqueiros que passarão a amealhar mais recursos capazes de justificar o aumento de seus lucros.
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FALTA CORAGEM
Ontem transcorreu o Dia Mundial Contra o Fumo e as fábricas de cigarro decidiram passar da defesa ao ataque. Os jornais abrigaram páginas inteiras de anúncios em que os produtores de fumaça levantam a liberdade como o maior dos bens da Humanidade. De forma sutil, pedem que ao cidadão maior de idade seja dada a opção de intoxicar-se ou não.
Em toda essa tertúlia sobressaem a discriminação e a perseguição aos fumantes, sem que a sociedade tenha coragem de atacar o mal pela raiz. Se cigarro mata e é responsável por bilhões gastos todos os anos no atendimento à saúde dos que fumam, adianta muito pouco proibir fumar no Central Park, em Nova York ou nos edifícios da avenida Paulista. Por que não fecham as fábricas de cigarro? Respostas variadas se acumulam: porque elas anunciam, porque elas recolhem impostos, porque elas contribuem para as campanhas políticas, porque elas criam empregos, porque elas sustentam as plantações de fumo, porque…
Não seria a hora de deixarem os fumantes em paz?
Fonte: Tribuna da Imprensa