Ricardo Moraes/Reuters
Gleisi, durante a posse: ministra da Casa Civil sentiu ontem o peso de ocupar o segundo posto da RepúblicaNova ministra é alvo de reportagens que questionam o passado dela. Mas a oposição diz ainda não ver motivo para cobrar explicações
Publicado em 10/06/2011 | André Gonçalves, correspondente - BrasíliaPassada a emoção da posse e os afagos de parlamentares até da oposição, a nova ministra da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, já convive com o peso do cargo. Na linha do que ocorreu com os antecessores, a paranaense virou a principal vidraça do governo federal. Além de precisar se adaptar rapidamente à pressão de ser braço direito da presidente Dilma Rousseff, duas reportagens publicadas ontem trouxeram informações que questionam o passado dela.
A Folha de S.Paulo noticiou que, nos quatro meses em que exerceu o mandato de senadora, a petista usou parte de sua verba indenizatória para pagar por serviços de um escritório de advocacia que já a representou em questões eleitorais, nas campanhas para prefeitura de Curitiba, em 2008, e para o Senado, em 2010. Além disso, o jornal O Estado de S. Paulo informou que, entre 2007 e 2009, Gleisi também foi dona de uma empresa de consultoria, o motivo que levou o ex-ministro Antonio Palocci a perder o cargo. A nova ministra teve 90% da GF Consultoria e Assessoria Empresarial Ltda, empresa que manteve em sociedade com a irmã, Francis Mari (leia mais sobre os casos na reportagem abaixo).
Pouca repercussão
Senado
Alvaro faltou à despedida para evitar o frio do ar-condicionado
Após vários embates com Gleisi Hoffmann (PT) no Senado, o senador paranaense Alvaro Dias (PSDB) justificou ontem que não compareceu anteontem à sessão de despedida da colega para evitar o frio provocado pelo ar-condicionado do plenário. “Estava um pouco gripado e preferi ficar despachando no gabinete”, disse o senador. Ele negou que exista qualquer rusga com a nova ministra, que teria motivado a ausência na despedida de Gleisi.
“Sempre tivemos um relacionamento civilizado. Ela é governista e eu sou oposicionista. Só isso”, disse Alvaro. Além de fugir do frio, o tucano admitiu que não acompanhou pessoalmente o discurso da paranaense para se “preservar”. “Como líder do PSDB [principal partido de oposição no Congresso], tenho de ter total independência.”
Alvaro também lembrou uma frase do pai, já falecido, sobre o trabalho dos senadores para descrever a decisão. “Quando meu pai estava vivo, costumava me perguntar: vocês não têm nada mais para fazer do que ficar com essa rasgação de seda no plenário? Acho que ele estava certo. Esse tipo de sessão acaba passando um pouco de insinceridade.” Na sessão de despedida de Gleisi, 42 dos 81 senadores pediram a palavra para elogiarem a nova ministra ou para desejar-lhe boa sorte no Palácio do Planalto. (AG)
Ministra já teve consultoria e contratou, como senadora, seu advogado eleitoral
z Informações sobre a atuação de Gleisi Hoffmann como consultora de empresas e sobre a destinação que ela deu a verbas de ressarcimento do Senado viraram notícia na mídia nacional ontem. O jornal O Estado de S. Paulo divulgou que, assim como Antonio Palocci, a nova ministra da Casa Civil também manteve uma empresa de consultoria – atualmente desativada. Já a Folha de S.Paulo publicou que Gleisi destinou em 2011 R$ 15 mil em recursos públicos do Senado, a título de consultoria jurídica, ao advogado que a representa em processos eleitorais.
No Congresso, as reportagens sobre Gleisi tiveram pouca repercussão. O líder do PSDB na Câmara, Duarte Nogueira (SP), disse que ainda não vê motivo para cobrar explicações. “Todas as informações levantadas pela imprensa terão um tratamento institucional. Se acharmos algo que precise ser mais bem explicado, vamos cobrar. Mas agora não é o caso”, afirmou o parlamentar.
O líder tucano no Senado, Alvaro Dias, adotou a mesma linha. “Não posso fazer juízo de valor porque não há dados mais profundos. O que se espera é que a presidente tenha feito uma escolha consciente, que não se repitam mais os erros do passado”, disse o senador.
Filho do ex-ministro da Casa Civil José Dirceu, o deputado paranaense Zeca Dirceu (PT) disse que a fiscalização mais dura sobre Gleisi já era esperada. “Ela está no cargo mais visado do governo. Só que ela tem toda uma história de competência, seriedade, não há o que questionar.”
Segundo Zeca, outra vantagem de Gleisi é ter construído uma carreira mais distante de conflitos. “Meu pai [quando ministro] era uma figura que vinha de um histórico de liderança nacional. E isso sempre gera uma disputa. Vejo a situação da Gleisi muito semelhante ao que aconteceu com a Dilma quando assumiu a Casa Civil em 2005.”
Também deputado do Paraná, Dr. Rosinha (PT) afirma que há uma tentativa de criar um clima de instabilidade no ministério. “Há muito político da oposição e alguns jornalistas que sonham achar assuntos para derrubar ministro. Outros sonham nomear os ministros com quem tem afinidade.”
Segundo Rosinha, Gleisi ainda foi privilegiada por uma decisão rápida sobre sua escolha. “Não deu tempo de articular uma fiscalização para derrubá-la. Nem vai dar tempo, porque não há o que achar de errado no currículo dela.”
Até a noite
No primeiro dia de trabalho, a ministra chegou à Casa Civil, que fica no Palácio do Planalto, às 9 horas. Logo depois, foi chamada para conversar com a presidente, que passou a maior parte do dia em Santa Catarina, onde participou de uma cerimônia de entrega de habitações do programa Minha Casa, Minha Vida. Gleisi almoçou no gabinete e teve reuniões com assessores até a noite para se ambientar à estrutura da pasta.
Além da tensão da estreia, a paranaense teve um dia agitado em função da possível troca de comando no Ministério das Relações Institucionais. O atual ministro, Luiz Sérgio, estaria na iminência de deixar o cargo, mas os trâmites da substituição ainda não foram definidos. A mudança fará parte de uma reestruturação do papel da Casa Civil.
Ao contrário de Antonio Palocci, que era o grande responsável pela articulação política do Planalto, Gleisi já anunciou que vai se dedicar à gestão dos programas de governo. Ontem, em São Paulo, o marido da paranaense e ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, reiterou que a esposa não vai trabalhar como uma negociadora política com o Congresso. A nova configuração vai diminuir as pressões sobre a ministra, que deve ficar com a gerência de programas e projetos governamentais, articulando todos os ministérios.
Fonte: Gazeta do Povo