Carlos Chagas
A sucessão de episódios, esta semana, relacionados com Antônio Palocci, leva a crer um desfecho próximo para a crise eclodida a partir das informações sobre o súbito enriquecimento do chefe da Casa Civil. Tudo indicava, ontem, que Palocci dificilmente entrará a próxima semana como ministro do governo Dilma. Está na marca do pênalti, ainda que a experiência demonstre a hipótese de o goleiro defender ou de a bola ir para fora.
A dúvida é saber quem baterá a falta. Pode ser o Procurador Geral da República, Roberto Gurgel, pedindo ao Supremo Tribunal Federal a abertura de inquérito contra o ministro, pode ser a própria presidente da República, exigindo seu afastamento, mas o mais provável é que o próprio Palocci tome a iniciativa de abandonar a meta.
Do jeito que estão é que as coisas não poderão continuar. Senão o país, ao menos o governo parou, bastando registrar a dificuldade que tiveram os jornais para manter na primeira página o noticiário sobre o lançamento do plano “Brasil Sem Miséria”. Tudo gira em torno do caso Palocci, com direito à chantagem desenvolvida por grupos parlamentares contra o governo, a leniência da base oficial em evitar sua convocação, a divisão no PT a respeito da questão, a vigarice do PMDB em exigir mais espaços na administração federal para depois definir-se, a crescente influência do vice-presidente Michel Temer na questão e até os conselhos dados pelo ex-presidente Lula para que o chefe da Casa Civil se explique.
Virou praxe a hesitação dos governos dos companheiros ao enfrentar crises. Lula perdeu tempo no afastamento do próprio Palocci do ministério da Fazenda, no episódio do caseiro, depois ao não aceitar a evidência do mensalão e na demissão de José Dirceu da chefia da Casa Civil. Dilma segue pelo mesmo caminho, perdendo tempo. É tolice supor que o governo dela acabou e que o Lula já é o candidato para 2014, mas, continuando o processo como vai, não demora para as suposições virarem realidade.
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GREVE CONTRA O POVO É CHANTAGEM
Dois milhões e meio de paulistanos prejudicados e imobilizados, paralisação das atividades comerciais e industriais em boa parte da capital, escolas fechadas e hospitais funcionando pela metade, caos no trânsito e iminência de aumento das tarifas de trens e ônibus urbanos. É esse, até agora, o saldo da greve dos ferroviários da Companhia Paulista de Trens e dos rodoviários da Companhia de Transportes Urbanos. Mais uma vez atropela-se a máxima de que “greve se faz contra patrão”, porque essa que assola São Paulo vem sendo feita contra o povo. Por que os líderes do movimento não providenciaram para os trens circularem sem que os usuários pagassem passagem? Ou os ônibus do ABC não trafegarem com as catracas abertas?
Salvo engano, assiste-se outra vez a chantagem explícita acertada entre os líderes dos trabalhadores e os patrões. Estes, mesmo controlados pelo poder público, sustentam que para atender as reivindicações dos grevistas, só com aumento das tarifas. Aqueles apenas voltarão ao trabalho com suas exigências atendidas.
E o cidadão comum, necessitado de deslocar-se para o trabalho, para casa, para o hospital e a escola? Que se dane. Depois do prejuízo da greve, ainda pagará mais para continuar vivendo.
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SE ARREPENDIMENTO MATASSE…
Marta Suplicy já era candidata à prefeitura de São Paulo antes mesmo de eleger-se para o Senado. Imaginou que exercendo a primeira vice-presidência da casa aumentaria sua exposição na mídia e sedimentaria a candidatura para voltar à função que já exerceu. Concorreu e ganhou. Deve estar arrependida, pois só aparece em situações que a prejudicam.
Ainda agora precisou fazer cara de Barbie quando a senadora Marinor Brito investiu aos tapas contra o deputado Jair Bolsonaro, mas esta semana ficou pior: diante da baderna promovida pelas oposições durante a tentativa de votação de duas medidas provisórias, cassou a palavra de senadores inscritos para falar e foi submetida a vaias monumentais e a palavrões vindos do plenário, reagindo aos gritos quando presidia a sessão. Votos para prefeita, propriamente, não conseguiu nenhum, mas pode ter perdido alguns, se eleitores paulistanos estiveram ligados nas telinhas.
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RETROCESSO
A Comissão de Constituição e Justiça da Câmara aprovou o projeto da Lei da Mordaça, punindo agentes do poder público envolvidos na liberação de informações sobre processos que correm sob segredo de justiça e até sem esse segredo. Promotores públicos, delegados e polícia e simples amanuenses correrão o risco de ir parar na cadeia, mas pior fica para os meios de comunicação e os jornalistas que divulgarem essas informações. Poderão pegar até quatro anos de cadeia. Os doutos deputados atropelaram a Constituição e a liberdade de expressão, imagina-se que por revanchismo contra a imprensa, sempre a grande culpada por cada crise acontecida. Tomara que o plenário da Câmara corrija essa aberração.
Fonte: Tribuna da Imprensa