FOLHA DE S.PAULO“Não entrei em detalhes com a presidente Dilma” – entrevista com Antônio Palocci (trecho)
O ministro da Casa Civil, Antonio Palocci, afirmou ontem em entrevista à Folha que não informou à presidente Dilma Rousseff os nomes dos clientes de sua empresa de consultoria, a Projeto, nem a natureza dos serviços que ela prestou. "Não entrei em detalhes sobre os nomes dos clientes ou sobre os serviços prestados para cada um deles", disse Palocci, em sua primeira entrevista desde que a Folha revelou seu enriquecimento, há duas semanas.
Folha – O sr. forneceu à presidente a lista dos clientes de sua consultoria antes de assumir o cargo de ministro?
Antonio Palocci - Quando fui convidado pela presidente Dilma para assumir o cargo de ministro, comuniquei a ela que era sócio de uma consultoria e que teria que tomar providências a respeito. Antecipei que seguiria as normas e as determinações da Comissão de Ética Pública da Presidência. Não entrei em detalhes sobre nomes dos clientes ou serviços prestados para cada um deles. Antes de minha posse, o objeto social da empresa foi alterado, todos os seus contratos e atividades encerrados e a administração de seus recursos foi repassada a uma instituição financeira.
O sr. também não informou a presidente sobre o faturamento da empresa?
Não. Não achei que era adequado importunar a presidente com esse tipo de informação, esse tipo de detalhe. O que eu disse a ela claramente era sobre a existência da empresa, o que a empresa fazia, o que eu teria de resolver antes de entrar no governo. Se a empresa continuasse funcionando, haveria conflito de interesses.
E depois que a Folha revelou o faturamento de sua empresa em 2010?
Não falo sobre faturamento. O faturamento foi 100% informado aos órgãos de controle tributário e todos os impostos foram recolhidos. A Receita nunca multou a Projeto. Nem a Prefeitura de São Paulo. A empresa teve certidões de regularidade na Receita durante todo esse período. Isso para mim é que é o importante. Não acho adequado levar essas informações à presidente.
Mas nem depois que foi divulgado?
O que ela me sugeriu, o que me orientou, é que eu desse todas as informações necessárias à Procuradoria da República e explicasse os procedimentos da empresa.
Nem por curiosidade a presidente perguntou quem eram seus clientes e quanto o sr. faturou?
Não.
Por que o sr. não torna pública a lista de clientes, para que o país saiba se há conflitos de interesse na atuação do principal ministro do governo?
No governo da presidente Dilma não há ministros principais, sou um da equipe. Nunca escondi minhas atividades de consultoria. A empresa [Projeto] sempre esteve registrada em meu nome e de meu sócio na Junta Comercial, com seu objeto social, sede e demais dados disponíveis para consulta de qualquer pessoa. Lembro-me que jornais e revistas chegaram a noticiar algumas das atividades que realizei como consultor. Tomei cuidados adicionais, como, por exemplo, não prestar serviços para qualquer empresa, entidade ou órgão público e nunca permitir que a Projeto intermediasse ou defendesse interesses privados perante o poder público.
Não é por acaso que até agora ninguém apresentou qualquer fato concreto que possa sugerir algum desvio de conduta meu ou uma irregularidade nas atividades da empresa. Até agora não vi nenhuma acusação concreta, só luta política. Quanto à lista de clientes, é praxe que as relações comerciais entre empresas privadas sejam regidas pela confidencialidade. Isso ocorre por várias razões, inclusive pela sensibilidade empresarial das informações envolvidas e para proteger as estratégias de negócios dos clientes. Além disso, seria irresponsabilidade da minha parte expor, neste contexto de embate político, um conjunto de empresas renomadas em seus setores.
Não dei nada à campanha, diz ministro ao "JN"
Em entrevista ao "Jornal Nacional", da Rede Globo, o ministro Antonio Palocci negou que tenha arrecadado dinheiro para a campanha presidencial de Dilma usando a Projeto, sua empresa de consultoria. "Não existe nenhum centavo que se refira à política ou à campanha eleitoral [no faturamento da Projeto]", disse Palocci, em entrevista que foi gravada durante a tarde de ontem, em Brasília.
O ministro disse que não fez tráfico de influência. "Não existe nada mais difícil do que se provar aquilo que não se fez." Ele afirmou que não atuou junto a empresas públicas. Palocci se recusou a confirmar o faturamento de sua empresa, mas admitiu que foi próximo ao valor revelado pela Folha, de R$ 20 milhões apenas no ano passado.
Dilma já discute como será governo sem Palocci
Diante do agravamento da situação do ministro Antonio Palocci (Casa Civil), a presidente Dilma Rousseff passou a analisar não só nomes para substituí-lo como a estudar mudanças no perfil dos titulares do cargos núcleo-duro do Palácio do Planalto. Segundo a Folha apurou, ela cogita, num cenário de queda de Palocci, trocá-lo por um ministro de perfil "técnico", o que assessores da presidente tratam reservadamente como escalar uma "Dilma da Dilma".
Os nomes citados são o da ministra Miriam Belchior (Planejamento) e de Maria das Graças Foster, diretora da Petrobras. Foster, no início do ano, durante a montagem do governo, constou da lista de ministeriáveis. O ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, também é cotado entre assessores presidenciais como possível substituto de Palocci.
Apesar de considerar o momento delicado e grave, Dilma mantém seu apoio ao ministro, mas avalia que o futuro dele vai depender da repercussão das entrevistas dadas à Folha e à TV Globo. Caso a repercussão seja negativa e a crise se agrave, Dilma, segundo assessores, espera que Palocci peça demissão, principalmente se a Procuradoria-Geral da República decidir abrir inquérito para investigá-lo. Segundo assessores, a presidente sente falta de um ministro voltado para o comando do dia-a-dia do governo, papel que ela desempenhou no governo Lula.
Imprensa age como oposição, diz Padilha
O ministro Alexandre Padilha (Saúde) afirmou ontem, em encontro com dirigentes petistas em Salvador, que o principal partido de oposição do país é a "grande imprensa". No discurso, ele não citou diretamente a crise política que envolve o ministro Antonio Palocci. Para Padilha, a imprensa deveria fazer reportagens sobre assuntos "positivos", como o plano do governo federal de erradicação da pobreza extrema, em vez de tratar apenas de "problemas".
Depois do ministro, o governador da Bahia, Jaques Wagner, falou da importância da coesão do PT, que reuniu 25 dos 27 presidentes estaduais, mesmo em "momento de turbulência". Na semana passada, Wagner disse, a uma rádio de Salvador, que a evolução patrimonial do titular da Casa Civil "chama a atenção". Questionado pela Folha sobre a crise envolvendo Palocci, Padilha disse: "Não falo sobre isso". Em seguida, o ministro deixou o local sem responder a outras perguntas. Seguranças impediram que a imprensa tentasse se aproximar dele novamente.
Oposição diz que cobrará ida de Palocci
Líderes da oposição afirmaram que irão insistir para que o ministro Palocci dê explicações sobre seu patrimônio à Câmara mesmo depois das entrevistas à Folha e ao "Jornal Nacional". Para os deputados, o Congresso é o local ideal para os esclarecimentos.
Oposição diz que explicações são insuficientes
A oposição classificou como "insuficientes" as declarações dadas ontem pelo ministro Antonio Palocci (Casa Civil) ao "Jornal Nacional", da Rede Globo, sobre sua empresa e cobrou esclarecimentos dele ao Congresso. Na entrevista, Palocci negou que haja no faturamento da Projeto recursos vinculados à campanha presidencial de Dilma Rousseff.
"A dúvida permanece: para quais empresas ele trabalhou? Quanto recebeu?", questionou o presidente do DEM, Agripino Maia. "Se está disposto a esclarecer, por que não o faz no Congresso?", completou o presidente do PSDB, Sérgio Guerra.
Ministério vê trabalho degradante em programa do governo federal
Nove pessoas foram flagradas trabalhando em condições análogas à escravidão em obras do programa do governo federal Luz para Todos, que tem como objetivo levar energia elétrica para a população rural. O flagrante ocorreu no município de Guajará-Mirim (RO), na fronteira com a Bolívia, após operação do Grupo de Fiscalização Móvel de Combate ao Trabalho Escravo em março e abril, coordenado pelo Ministério do Trabalho.
Segundo informações do ministério, os trabalhadores moravam em alojamentos sujos e precários e executavam tarefas perigosas, como manuseio de cabos de alta tensão, sem treinamento e equipamentos de proteção. Eles não tinham acesso a água potável e atravessavam longas distâncias até o refeitório. Nos alojamentos, os banheiros não tinham chuveiros nem vasos sanitários.
Dilma critica programa de regularização fundiária
A presidente Dilma Rousseff disse, durante reunião com governadores da região da Amazônia Legal anteontem, que só um conjunto de políticas públicas na região poderá cessar de vez as mortes por conflitos agrários. Dilma também criticou o andamento do programa de regularização fundiária Terra Legal, criado pelo ex-presidente Lula há dois anos.
Segundo a Folha apurou, a presidente fez uma espécie de "mea culpa" da atuação do governo federal na área, dizendo que a atuação da União é historicamente falha na região. Sobre o Terra Legal, que analisa dar títulos de terras a 180 mil ocupações na Amazônia correspondentes a 6% do território nacional), Dilma afirmou que ele ainda está aquém do desejo do governo e precisa acelerar.
PF desfaz "condomínio" de madeireiros ilegais maior que cidade de São Paulo
A Polícia Federal desarticulou um "condomínio" de madeireiros que funcionava em terras da União em Rondônia, onde o líder sem-terra Adelino Ramos foi morto na semana passada. Conforme as investigações, oito madeireiros dividiram entre si uma área de cerca de 170 mil hectares – maior que a da cidade de São Paulo –, para explorar madeira ilegalmente. O grupo se autodenominava "Associação Ruralista do Ramal de Jequitibá" e, segundo a PF, chegou a instalar um pedágio para caminhões que transportavam toras. Os oito madeireiros foram presos.
Vereadores registram em cartório esquema de desvio de verba no CE
Uma investigação do Ministério Público do Ceará descobriu que vereadores de Ibaretama (141 km de Fortaleza) registraram um acordo em cartório, com firma reconhecida, para garantir repasses mensais de dinheiro público para o pagamento de funcionários-fantasmas. De acordo com a Promotoria, o acerto feito entre 5 dos 9 vereadores do município também formalizava que o então presidente da Câmara Municipal deveria apoiar um dos outros quatro colegas em sua sucessão.
"É uma manifestação patente da crença na impunidade", afirmou o promotor Luiz Alcântara, por meio de nota. No documento, fica acertado o repasse mensal de R$ 4.500 para cada um dos vereadores. Segundo a Promotoria, foram contratados funcionários-fantasmas, ao custo de R$ 900 cada, para justificar o gasto. A investigação do Ministério Público ainda não apontou o total desviado. Dois vereadores que assinaram o acordo foram presos na terça-feira passada em uma operação conjunta da Polícia Federal com o Tribunal de Contas dos Municípios do Ceará.
Economia esfria depois de crescer 1,3% no 1º trimestre
O PIB (Produto Interno Bruto, ou soma de bens e serviços produzidos no país) mostrou que a economia continuou crescendo em ritmo forte no primeiro trimestre do ano, mas também revelou que há sinais claros de desaceleração no horizonte. Entre janeiro e março, a expansão econômica do Brasil foi de 1,3%, na comparação com o último trimestre de 2010, somando R$ 939,6 bilhões. Ante o mesmo período de 2010, a alta foi de 4,2%.
Mas o consumo das famílias, que cresce há 30 medições e responde por 60% do PIB, perdeu parte do fôlego. A inflação em alta que corrói o salário dos trabalhadores desde outubro e as medidas de contenção ao crédito para o consumo, anunciadas pelo governo justamente para frear a alta de preços, são os principais responsáveis por esfriar a economia. Essa combinação só não derrubou o PIB no primeiro trimestre porque os investimentos cresceram, especialmente na construção civil.
O GLOBO
Modernização das Forças Armadas custa R$ 38 bi
Pelos valores até agora públicos, a modernização operacional e tecnológica das Forças Armadas está custando o equivalente a 38 Maracanãs reformados. Na Marinha, o gasto com cinco submarinos (um deles, de propulsão nuclear), mais um estaleiro e uma base naval será de R$ 18,7 bilhões até 2024. Na Aeronáutica, a compra de 36 aviões de combate (adiada pela presidente Dilma) é calculada em R$ 10 bilhões.
Agora é o Exército que apresenta a conta de seu upgrade: US$ 6 bilhões (algo em torno de R$ 9,6 bilhões) para a implantação, em 10 anos, do Sisfron, um projeto para resolver (com tecnologia de ponta) um velho problema do país, a vulnerabilidade de seus 16,8 mil quilômetros de fronteira seca, sobretudo na Região Amazônica - que agora voltou a estar em evidência por conta dos crimes ambientais. Na verdade, a conta já passa dos R$ 38 bilhões, cifra que recentemente incorporou os US$ 6 bilhões do Sisfron.
A sigla que engordou a conta do salto das Forças Armadas para a modernidade é o Sistema Integrado de Monitoramento de Fronteiras, cujo conteúdo o Exército vem tornando público aos poucos. Até porque o projeto em si ainda está em desenvolvimento.
Nos 'livro' do MEC, 10 - 7 = 4. Faz sentido
O Ministério da Educação pediu à Controladoria Geral da União (CGU) para abrir sindicância e apurar os responsáveis por erros encontrados numa publicação distribuída pelo MEC para escolas rurais em todo país no final do ano passado. Técnicos do próprio ministério descobriram textos com frases que não terminam, contas aritméticas com resultado errado e ainda outros problemas de revisão em publicação produzida pela Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade (Secad).
Um dos erros mais gritantes está no livro de matemática: lá está escrito 10 - 7 = 4 . Foram distribuídos 200 mil exemplares da coleção que tem 35 volumes e custou R$ 14 milhões. Os livros fazem parte de um material de apoio destinado a escolas rurais que reúnem numa mesma sala alunos de 1ª a 4ª série do ensino fundamental.
Apesar de a sindicância só ser instalada a partir da próxima segunda-feira, os erros na publicação já provocaram uma baixa no governo: o secretário executivo da Pasta dos Direitos Humanos, André Lazaro, pediu demissão [ontem]. Ele era o chefe da Secad quando os livros foram editados e distribuídos no ano passado. O MEC determinou a suspensão do uso do material nas escolas.
Belo Monte: consórcio avalia como evitar atraso
O consórcio Norte Energia está estudando novas soluções de engenharia e de logística para evitar atrasos no início da operação comercial da primeira turbina da hidrelétrica de Belo Monte, no rio Xingu (PA), marcada para fevereiro de 2015. A demora no licenciamento do Ibama reduziu o prazo para a construção da barragem do sítio Pimental, a principal do empreendimento, de 18 para 12 meses.
A licença de instalação só foi concedida na quarta-feira. Também houve atrasos no licenciamento da instalação do canteiro de obras, obtido em janeiro, mas que, devido a ações na Justiça, só passou a valer em março, informa reportagem de Mônica Tavares e Liana Melo. - Se vai ser uma solução de logística ou de projeto, o que vai definir é qual vai ser a mais barata, para compensar os quatro a seis meses na demora da licença de instalação do Ibama - disse o diretor de construção do consórcio, Luiz Rufato.
Depois do desmatamento, queimadas ameaçam floresta amazônica no Mato Grosso
Após o pico do desmatamento, as áreas de floresta no Mato Grosso enfrentam uma nova ameaça. São as queimadas, que já começaram a causar destruição no estado. O boletim de monitoramento da Amazônia Legal, elaborado pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama) registrou focos de calor em 36 cidades do estado na quinta-feira.
A pior situação é a do município de Gaúcha do Norte, porta de entrada para o Parque Nacional do Xingu, com 10 focos identificados pelos satélites. Em Nova Ubiratan, cidade que registrou o maior número de alertas no Sistema de Detecção de Desmatamentos em Tempo Real (Deter) em abril passado e teve segunda maior área desmatada do estado, eram quatro áreas sendo queimadas.
Maioria dos economistas mantém previsão para o PIB de 2011
Com o crescimento do PIB forte, mas dentro das expectativas no trimestre , a maioria dos bancos e corretoras manteve as previsões para que a economia brasileira feche o ano com expansão entre 3,6% e 4,7%. Economistas esperam que a economia brasileira experimente, ao longo do ano, uma desaceleração, ainda fruto das medidas de restrição de crédito, de um lado, e da elevação de taxa de juros (Selic), de outro.
Fonte: Congressoemfoco