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segunda-feira, janeiro 06, 2025

STF quer derrubar regra anti-Mendonça e Kassio para liberar votos de Dino e Zanin

 Foto: Gustavo Moreno/Arquivo/Divulgação

Plenário do STF06 de janeiro de 2025 | 06:29

STF quer derrubar regra anti-Mendonça e Kassio para liberar votos de Dino e Zanin

brasil

O STF (Supremo Tribunal Federal) pode rever uma regra, definida há dois anos, para manter a validade de votos deixados por ministros aposentados. Isso pode beneficiar, caso a ideia prospere, Cristiano Zanin e Flávio Dino —ambos indicados pelo presidente Lula (PT).

Hoje, com a regra de 2022, votos manifestados em julgamentos virtuais por magistrados que depois se aposentaram continuam valendo caso haja pedido para que o tema seja apreciado no plenário presencial.

Ao menos dois ministros, Alexandre de Moraes e Luiz Fux, mudaram a visão sobre o tema e defendem agora que tudo comece do zero, o que dá margem para os ministros novatos emplacarem seus entendimentos no lugar dos votos dos aposentados.

Se aprovada, a mudança pode impactar casos como o da descriminalização do aborto, da quebra de sigilo de buscas no Google ou do ISS (Imposto sobre Serviços) na base de cálculo do Pis/Cofins.

De acordo com dois integrantes da corte ouvidos pela Folha, a ideia preocupa tanto pelo risco de insegurança jurídica quanto pelo casuísmo.

Foi o próprio Moraes quem propôs a regra em junho de 2022, durante o governo Jair Bolsonaro (PL). André Mendonça e Kassio Nunes Marques foram os mais atingidos na ocasião.

Eles foram indicados em 2020 e 2021 pelo ex-presidente, que alimentava tensões com ataques à corte. Os dois foram recebidos com resistência pelo colegiado.

Em 2022, a corte discutia a revisão da vida toda sobre cálculos previdenciários, um caso bastante aguardado no ano. Pautado no plenário virtual, o tema somou 11 votos com maioria à tese que beneficiava aposentados e pensionistas, na linha aberta pelo relator Marco Aurélio Mello (que se aposentou em 2021) e Moraes.

Kassio Nunes Marques foi pró-INSS, e pediu destaque (para levar o caso ao plenário físico), a minutos do encerramento do julgamento no sistema eletrônico. O movimento gerou críticas.

Moraes argumentou que validar os votos dos aposentados estaria de acordo tanto com o regimento interno quanto com a legislação. “Uma vez dado, deve ser mantido o voto do ministro que já proferiu e que não pode debater e defender o seu voto”, disse Moraes.

Ele foi um dos maiores defensores da regra em 2022, aprovada quase por unanimidade.

André Mendonça foi o único contrário à ideia na época. Afirmou que violaria a ampla defesa porque, em novo julgamento, as partes não teriam chance de convencer ministros que já não faziam parte da corte.

Kassio Nunes Marques acompanhou a maioria, mas antes manifestou preocupação. Ele listou 25 casos que seriam afetados e indagou se a regra valeria para todas as ações a partir dali.

Não votaram os ministros Gilmar Mendes, ausente, e Dias Toffoli, que estava em videoconferência e ficou sem conexão.

Agora, a ideia da nova mudança foi dada por Fux, depois de consultar Moraes, e endossada por Toffoli. Os ministros dizem que a composição do tribunal mudou e as regras devem acompanhar a renovação. Os indicados por Lula têm bom trânsito na corte e participariam de mais casos com a revisão.

Fora, formalmente, de vários casos, Flávio Dino tem feito comentários e sugestões durante os debates no plenário. Os colegas brincam ser um ministro “com voz, mas sem voto”.

O discurso de Moraes sobre o tema, então, mudou. “Tivemos vários casos em que, se todos pudessem ter votado no mérito, não precisaríamos ter mudado o julgamento em análise de embargos. Até para o jurisdicionado fica algo estranho”, disse ele em outubro.

Fux falou em “repensar o regimento para permitir que novos votem em questões que ainda não acabaram”.

Ainda não há formalização do pedido de alteração à Comissão de Regimento. O grupo é presidido por Fux e tem Moraes e Fachin como integrantes.

Antes de sair do STF, os ministros costumam deixar votos em casos que consideram importantes. A ação da descriminalização do aborto foi a última pautada por Rosa Weber, em 2023. A ministra defendeu a autonomia das mulheres. Flávio Dino, ocupante da cadeira que foi dela, disse, na sabatina no Senado que antecedeu sua posse, que entende que o STF não deveria tratar do tema.

Rosa Weber também se manifestou na discussão sobre a Justiça determinar a entrega de dados de pessoas que procuraram informações em buscadores como o Google para órgãos de investigação. Para ela, o Marco Civil da Internet não admite essa possibilidade. O processo tem repercussão geral, e a tese servirá para todas as ações similares.

Outro caso, com votos de três magistrados já aposentados, é o do ISS na base de cálculo do Pis/Cofins, com previsão de impacto de R$ 35 bilhões em cinco anos à União. Rosa, Ricardo Lewandowski e Celso de Mello foram favoráveis ao contribuinte.

Professor de direito da Uerj (Universidade do Estado do Rio de Janeiro), Gustavo Binenbojm entende que há fundamento para os dois modelos. De um lado, até a conclusão, os ministros podem mudar de posição com base no debate. Do outro, a substituição de votos gera insegurança jurídica.

“Quando o ministro profere o voto e se aposenta, não pode mais mudar de ideia. O sucessor alterar o entendimento é um elemento que gera incerteza”, diz.

Para Binenbojm, isso poderia se dar quando, perto de uma aposentadoria, casos fossem suspensos como manobra para o sucessor alterar a posição majoritária. Outro risco seria o incentivo para que as partes entrem com recursos para rever decisões.

As regras sobre os votos de ministros aposentados
Como era
O regimento interno do STF e o Código de Processo Civil definem que, quando um julgamento é reiniciado, o voto daquele que se afastou por aposentadoria ou por outro motivo deve ser mantido.

Como ficou
Em junho de 2022, proposta de Alexandre de Moraes foi aprovada e aplicou essa regra também aos casos que forem transferidos do ambiente virtual para o presencial, mantendo votos de ministros que deixarem o cargo.

Como pode ficar
Caso a nova proposta avance, os votos dados por ministros que saíram da corte tanto no plenário virtual quanto no plenário físico, em julgamentos não concluídos, poderão ser substituídos pelas posições dos novatos. Ainda não há detalhamento da ideia.

Ana Pompeu/FolhapressPoliticaLivre

Bolsonaro deverá ser julgado por tentativa de golpe de Estado na Primeira Turma do STF

 Foto: Marcos Corrêa/Arquivo/PR

O ex-presidente Jair Bolsonaro06 de janeiro de 2025 | 07:11

Bolsonaro deverá ser julgado por tentativa de golpe de Estado na Primeira Turma do STF

brasil

O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) deve ser julgado criminalmente por tentativa de golpe de Estado na Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF). Ela é integrada pelos ministros Cristiano Zanin, Cármen Lúcia, Luiz Fux, Alexandre de Moraes e Flávio Dino.

Com exceção de Fux, cuja tendência é incerta na visão de integrantes do próprio STF e de pessoas do círculo próximo de Bolsonaro, os outros quatro são considerados votos certos contra o ex-presidente.

A defesa de Bolsonaro deve tentar apelar para que o caso seja levado ao plenário da Corte. A decisão, no entanto, é do relator do caso, o ministro Alexandre de Moraes. A expectativa é a de que ele mantenha o julgamento na Primeira Turma.

Em dezembro de 2023, o STF decidiu que julgamentos de ações criminais voltariam a ser feitos pelas duas turmas do tribunal, e não mais pelo colegiado de 11 magistrados. A partir de então, denúncias e julgamentos de crimes de deputados, senadores, ministros de governo e comandantes das Forças Armadas passaram a ser remetidas para os colegiados, integrados com cinco magistrados cada um

A iniciativa, do presidente do STF, Luís Roberto Barroso, visava racionalizar a distribuição de processos criminais e reduzir a sobrecarga do plenário. Na época, Barroso observou que os ataques às instituições no 8 de janeiro “trouxeram de volta ao tribunal o panorama de excesso de processos e de possível lentidão na sua tramitação e julgamento”.

Dando atribuição às turmas, há maior garantia de eficiência nos casos criminais, acelerando sua resolução definitiva “em observância à garantia constitucional da razoável duração do processo”, explicou o Supremo.

Mônica Bergamo/FolhapressPoliticaLivre

Exército tenta esconder quem evitou prisão de parentes de militares

Publicado em 5 de janeiro de 2025 por Tribuna da Internet

8JANBSB - Exército teve aval de Lula para vetar PM em acampamento na noite  de ataques golpistas - DefesaNet

Exército postou blindados para proteger os acampados

Francisco Leali
Estadão

A noite do 8 de Janeiro de 2023 ainda não terminou para o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Prestes a completar dois anos desde a invasão e a depredação dos prédios do Congresso, do Palácio do Planalto e do Supremo Tribunal Federal, o Comando do Exército mantém em segredo a identidade de quem deu a ordem para pôr blindados no Quartel General naquela noite.

O gesto de força impediu que policiais entrassem no setor militar da capital federal para prender os responsáveis pelos atos extremistas.

BANHO DE SANGUE – Na época, os militares fizeram chegar ao presidente Lula que haveria risco de um “banho de sangue” caso a operação fosse à noite. A prisão ficou para o dia seguinte. O local era frequentado por parentes de oficiais, incluindo a mulher do ex-comandante do Exército, Villas Bôas.

Quando a prisão foi consumada, na manhã do dia 9 de janeiro, na lista de detidos não havia familiares do oficialato.

A voz de comando para levar os blindados para a rua na noite do dia 8 é informação que o Exército prefere não dar. Uma semana após os atos extremistas, foi enviado um requerimento ao Comando, por meio da Lei de Acesso à Informação, perguntando de quem partiu a ordem para uso dos blindados. A Força Militar se negou a dizer.

CGU AUTORIZA – Ainda em fevereiro de 2023, o caso foi parar na Controladoria Geral da União (CGU), instância a quem cabe deliberar sobre demandas de cidadãos que têm seus pedidos rejeitados pelos órgãos do governo federal.

A CGU levou nove meses para analisar o pedido, cujo autor era o jornalista Mateus Vargas. Decidiu que o Exército era obrigado a prestar a informação por ser de caráter público.

A LAI prevê punição para os casos em que ficar configurado violação da lei com deliberada recusa de dar acesso a informações. No dia 13 de novembro, o Comando respondeu. Mas não deu nome de ninguém.

SAIU PELA TANGENTE – “Com relação ao acampamento em frente do Quartel-General do Exército, em Brasília, verificou-se que as ações para cumprimento da decisão, naquela noite, poderiam trazer danos colaterais com elevado risco à integridade física das pessoas. Portanto, houve uma reunião emergencial com a participação do Ministro da Justiça e Segurança Pública, do Ministro da Defesa, do Chefe da Casa Civil, do Interventor nomeado do DF, do Comandante do Exército e do Comandante Militar do Planalto para avaliar as condições envolvidas na operação que daria cumprimento à determinação da Justiça. A decisão coordenada foi realizar a desocupação na manhã do dia seguinte, atendendo às determinações contidas no despacho do ministro relator do aludido Inquérito”, diz a resposta, que omite a informação.

Para não abrir detalhes da operação, o Exército informou que “depoimentos e documentos correlatos” foram repassados ao STF e que os dados estavam em sigilo.

VARGAS INSISTE – O autor do pedido, jornalista Mateus Vargas, registrou que a decisão da CGU não tinha sido cumprida já que não fora informado de quem partiu a ordem para usar blindados no QG. A Controladoria reavaliou o caso e deu razão ao demandante da informação.

“Considerando-se que não houve a disponibilização da informação, compreende-se que deve ser acatada a denúncia apresentada pelo requerente, para avaliar se a omissão na entrega das informações foi deliberada e para apurar eventual responsabilidade na condução do cumprimento da decisão, no processo ora em análise”, diz parecer da CGU.

No dia 29 de dezembro de 2023, a secretária nacional de Acesso à Informação, Ana Túlia de Macedo, assinou despacho com a seguinte decisão: “Determino a remessa dos autos ao Centro de Controle Interno do Exército – CCIEx, para que sejam adotadas as providências relativas à apuração de responsabilidade de quem deu causa ao não cumprimento da decisão da CGU, com direito de ampla defesa e de contraditório”.

ENGAVETADO – Apesar da deliberação, o processo ficou parado na própria CGU. E só voltou a andar no dia 7 de outubro de 2024, depois que o Estadão mapeou o caso de descumprimento de decisão pelo Exército e pediu informações sobre se havia sido feita ou não uma apuração para encontrar os responsáveis por violar as regras da Lei de Acesso à Informação.

Foi só então que a Controladoria mandou ofício ao general Richard Nunes, chefe do Estado Maior do Exército (EME), com a ordem de apuração de descumprimento de decisão da CGU.

No último dia 26 de dezembro, depois de se negar reiteradamente a esclarecer se cumpriu ou não a determinação da Controladoria, o Exército enviou cópia de um documento com seis páginas com resultado de uma “apuração sumária” sobre o caso.

ARQUIVADO – Como se tudo tivesse sido feito em apenas um dia, o documento assinado pelo coronel Marcus Porto de Oliveira, 2º subchefe do EME, reproduz todo o vai e vem do pedido sobre o caso e anota que a CGU ficou com o processo parado até o pedido do Estadão. O oficial alega que tudo foi feito como manda a lei e arquivou o caso também sumariamente.

No mesmo dia 26, apenas duas horas depois de o Exército enviar sua resposta, a CGU já tinha pronto um novo parecer que também arquivava o caso. Ainda que a decisão original obrigasse a Força Militar a revelar quem dera a ordem do uso de blindados na noite do dia 8 de janeiro de 2023, a Controladoria deu o assunto por encerrado.

A CGU seguiu entendimento de que não poderia abrir uma sindicância ela mesma, como ocorre com servidores civis. A informação sobre o oficial que mandou por blindados no QG não foi divulgada.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
 – Grande matéria de Francisco Leali, coordenador da Sucursal do Estadão em Brasília. Comprova que o Exército oculta quem cometeu grave crime militar, ao evitar a prisão de parentes de oficiais que defendiam o golpe dentro do Quartel-General, o até então impenetrável Forte Apache. O texto exibe a importância da liberdade de imprensa. (C.N.)


“Comemoração” do 08/01 por Lula pode ser uma decisão arriscada


Sidônio terá de negociar mudanças caso assuma Secom - 05/01/2025 - Painel -  Folha

Lula e seu marqueteiro combinam o festejo do 08/01

Carlos Newton

Ainda não foi divulgada a autoria da ideia de “comemorar” os acontecimentos do 8 de Janeiro de 2023, mas tudo indica que partiu do marqueteiro Sidônio Palmeira, que se tornou o homem-forte da Secretaria de Comunicação da Presidência da República. Se não foi ideia dele ou de dona Janja da Silva, que manda e desmanda no governo, os dois certamente aplaudiram a sugestão, pois nada se faz no Planalto sem a concordância deles.

Como sempre, a programação está sendo feita na undécima hora. Dizem que Lula vai reinaugurar o relógio do século XVII, presenteado pela França a dom Pedro II, o único intelectual de verdade que governou este país.

Depois, vai dar uma circulada, fazer um daqueles pronunciamentos sensacionais, para então participar de um abraço à Praça do Três Poderes.

IDEIAS DE JERICO – Caramba, quantas ideias geniais ao contrário! Aproveitam a ausência de Noel Rosa e agora sai palpite infeliz por todo lado. O momento não é nada ideal para esse tipo de evento, mas Lula não pode perder oportunidade de buscar votos, mesmo que tente se fazer de vítima, quando o único prejudicado pela polarização é o povo brasileiro.

Dois anos depois da invasão e depredação dos prédios do Congresso, do Planalto e do Supremo, Tribunal Federal, a situação ainda é sinistra e nunca se sabe o que passa pela cabeça dos militares, que detestam Lula fervorosamente, jamais aceitaram a engenhosa libertação dele pelo Supremo, que depois passou alvejante na ficha suja, para que voltasse à política.

Imaginem o constrangimento dos comandantes das Forças Armadas, que terão de participar dessa comemoração cívica do 08/01.  Por que submetê-los a isso?

INQUIETAÇÃO – Os gênios do Planalto não percebem ou entendem essa inquietação dos militares, que decididamente não pretendem colaborar para a investigação do golpe.

Como informa Francisco Leali, do Estadão, o Comando do Exército mantém em segredo a identidade de quem deu a ordem para posicionar  blindados e tropas no Quartel General no 8/01, para evitar a prisão de militares da reserva e parentes de militares da ativa que participaram daquele “terrorismo armado”, na visão exagerada e doentia de Alexandre de Moraes.

Os militares querem sepultar o golpe e seguir em frente, já pediram que Lula apoie a anistia, mas o presidente e os gênios do Planalto pretendem o contrário. Querem fazer render ao máximo o golpe, para ajudar na reeleição de fundador do PT, apesar de o prazo de validade dele já estar mais do que vencido.

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P.S.
 – Qualquer idiota – fardado ou não – percebe que o país está cindido e precisa de pacificação. Mas o governa aposta nessa radicalização, que ameaça transformar o Brasil numa imensa Argentina. (C.N.)  


A polarização extrapola e já se tornou uma grave doença social

Publicado em 6 de janeiro de 2025 por Tribuna da Internet

Polarização fracassou como modo de governo e exercício de poder | A Gazeta

Charge do Amarildo (A Gazeta)

Demétrio Magnoli
Folha

Viradas de ano são intervalos dedicados a mensagens aspiracionais utópicas. Ninguém as leva a sério, inclusive seus autores. Previsivelmente, este 2025 começou com o chamado, dirigido aos políticos, pelo fim da polarização. A súplica não será atendida —mas, de qualquer forma, erra o alvo.

O discurso polarizador tornou-se estratégia política: um cálculo frio sobre ganhos eleitorais. Não é de agora. “Nós contra eles” forma uma gramática da política populista desde o século 19. O PT a exercita há décadas –e chegou ao poder nas suas asas.

ATÉ O ÁPICE – Bolsonaro e os seus conduziram a polarização até um ápice, na tentativa de preparar a ruptura da ordem democrática. Nenhum dos campos rivais desistirá da ferramenta, ao menos enquanto ela produzir os resultados almejados.

O ponto relevante é outro: a contaminação das relações sociais pela polarização que percola da superfície partidária. Ilustração didática: os comentários de leitores à notícia sobre as ameaças de um policial contra a jornalista Natuza Nery num supermercado paulistano.

Há, claro, uma maioria que, constatando o óbvio, solicita a punição do agressor. Contudo, refletindo uma doença social, sobram os praticantes de fuzilamentos simbólicos.

MUITOS EXAGEROS – Na defesa do policial delinquente, emergem expressões como “ratos vermelhos” e “ratos corruptos”, versão bolsonarista do “gusanos” castrista. Um valente chega a escrever que, diante de um jornalista da Globo, faria “o mesmo que esse policial”.

Em linha similar, mas simulando condenar a agressão, alguns opinam que, na condição de figura pública, a jornalista fica “sujeita a esse tipo de importunação”.

O “outro lado”, digamos assim, sai-se melhor –mas nem tanto. Dele, emana o mais clássico chavão, “nazifascismo”, aplicado genericamente a rivais políticos de Lula. Hitler, nada menos.

PENSADOR PROFUNDO – No auge do delírio, saudoso do “controle social da mídia”, um pensador profundo declara que “a Folha de S.Paulo é culpada por isso” pois “alimenta a direita” e “sempre foi neonazista”.

De acordo com um clichê, a sociedade brasileira nunca foi tão “politizada”. De fato, é o contrário. A febre de proclamações políticas obtusas que escorrem pelas redes sociais e contaminam as conversas cotidianas, no bar ou à mesa de jantar, evidencia o fenômeno da despolitização social.

Hannah Arendt percebeu que um traço singular do totalitarismo encontra-se na colonização das instituições sociais e da vida privada pela política.

LEMA BIPOLAR – “Tudo é político!” –o lema compartilhado por extremistas de direita e esquerda, pregadores religiosos e militantes identitários foi inventado pelos regimes consagrados ao extermínio radical da divergência política.

O sistema democrático caracteriza-se, em tempos normais, pela segregação da política aos processos eleitorais e às manifestações reivindicatórias. As pessoas esperam que o governo administre as coisas, fugindo à tentação de administrar as mentes. Votam, às vezes protestam nas ruas. Fora disso, querem que os políticos as deixem em paz, com seus amigos e afetos, seus hobbies e suas diversões.

Nosso problema não é a polarização do discurso dos políticos, mas a esmagadora polarização social. Ou, dito de outro modo, a despolitização radical do discurso político das pessoas comuns. Tempos anormais. Feliz 2025.

Você viu a Fernanda Torres? Totalmente premiada no Globo de Ouro!

Publicado em 6 de janeiro de 2025 por Tribuna da Internet

Fernanda Torres, maior estrela entre as maiores estrelas

Thiago Stivaletti
Folha

É sempre uma maratona cansativa acompanhar premiações como o Globo de Ouro e o Oscar, com mais de três horas e mais de dez intervalos imensos. Mas a espera desta vez valeu a pena. Nem a própria Fernanda acreditava, mas ela levou a melhor sobre Angelina Jolie, Nicole Kidman, Kate Winslet.

Atuando em português, ela venceu algumas das maiores estrelas de Hollywood numa das categorias mais fortes do ano. Isso depois de ser ignorada pelos câmeras da festa, só aparecendo por pouco mais de dois segundos na hora do anúncio dos indicados.

FESTA BRASILEIRA – O Twitter explodiu em festa, fãs gritaram na sala de casa e acordaram os pais, avós e irmãos que já dormiam às 0h50 da madrugada. Foi um grito de final de Copa do Mundo, aquele gol miraculoso marcado aos 40 do segundo tempo. Uma hora e quarenta minutos antes, já tínhamos tomado o primeiro gol: o favorito “Emilia Perez” tirou o prêmio de filme estrangeiro de “Ainda Estou Aqui”.

E no entanto, Fernanda venceu. Subiu ao palco e recebeu seu Globo de Ouro de ninguém menos que Viola Davis. Mesmo um pouco nervosa, fez um discurso impecável, em que dedicou o prêmio à sua mãe, que subiu naquele palco 26 anos antes, para receber o prêmio de filme estrangeiro, a “Central do Brasil”. E lembrou como a história de Eunice Paiva ajuda a sobreviver num mundo cheio de medo.

PRESSÃO TOTAL – Na internet, os fãs botavam a mesma pressão que fizeram na foto do baile de gala publicado pela Academia de Hollywood semanas atrás. Só na foto que o Globo de Ouro publicou dela, foram mais de 105 mil curtidas e 26 mil comentários.

A torcida ainda transbordava para todas as outras fotos publicadas. Como o povo não tem limites, havia até uma boa quantidade de ameaça de quebra-quebra (sim, à distância) do hotel em que rolou a cerimônia caso ela perdesse.

O Globo de Ouro para Fernanda torna praticamente certa a indicação ao Oscar – e autoriza a torcida a se renovar até o dia 2 de março, dia da cerimônia – que (atenção) rolará em pleno Carnaval; em caso de vitória, os blocos pegarão fogo.

OUTROS VENCEDORES – E o resto do Globo de Ouro? Diante de Fernanda, o resto se tornou realmente o resto. Mas vamos lá: a mestre de cerimônias, a comediante Nikki Glaser, não fez feio, mas também não arrancou grandes risos da plateia.

Ela gastou o seu cartucho de piadas mais afiadas logo no início, ao atacar “Coringa – Delírio a Dois”, “Duna – Parte II” e zoar com Keith Urban, o marido de Nicole Kidman (“continue tocando sua guitarra em casa, assim a Nicole quer sair e trabalhar mais”).

Foi lindo ver Demi Moore vencer em comédia ou musical por “A Substância” –o que a coloca como maior concorrente da nossa diva no Oscar. Demi fez um dos discursos mais emocionantes da noite ao lembrar que uma agente a rotulou de “atriz pipoca” (só para filmes comerciais) e dizer que este foi o primeiro prêmio que ganhou em mais de 30 anos de carreira.

MELHOR FILME – “Emilia Perez” repetiu o feito de “Parasita” no Oscar ao levar os prêmios de Melhor Filme (Comédia ou Musical) e Filme Estrangeiro, além do troféu de atriz coadjuvante para Zoe Saldaña. Diretor do filme, o francês Jacques Audiard pagou o mico de não saber uma palavra de inglês e precisar de tradutora.

“O Brutalista”, um filme difícil de quatro horas de duração sobre um arquiteto húngaro imigrante nos Estados Unidos, ficou com outros três prêmios nobres: Filme – Drama, Diretor (Brady Corbet) e Ator (Adrien Brody).

Em séries, a noite foi de “Shogum”, um épico japonês ambientado no século 16 que levou os principais prêmios da noite: Série – Drama e três de seus atores: Hiroyuki Sanada, Anna Sawai e Tadanobu Asano.

SÉRIE PREFERIDA – “Bebê Rena”, a série mais querida do ano passado, venceu como Melhor Minissérie e atriz para Jessica Gunning, a stalkeadora implacável. Pena que Richard Gadd perdeu o de melhor ator – mas foi por uma boa causa, o Pinguim de Colin Farrell, irreconhecível debaixo de quilos de maquiagem. E “Hacks” levou os prêmios de sempre: Série – Comédia e atriz para Jean Smart.

Mas esqueça os cinco últimos parágrafos. O importante é que uma atriz brasileira, falando português, deu uma surra na cara de Hollywood ontem. Que orgulho da Fernanda. E que orgulho do cinema brasileiro.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
 – Fica feio falar tanto na Fernanda Montenegro e esquecer o diretor do filme, Walter Salles, um cineasta de prestígio internacional.  Metade do prêmio é dele, claro. E viva Fernanda Torres, que segue os passos da mãe e do pai no mundo da arte! (C.N.)

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