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terça-feira, setembro 17, 2024

Governo deve perder no STF ações contra reforma da Previdência que custarão R$ 132,6 bi

 Foto: Rosinei Coutinho/STF/Arquivo

Plenário do Supremo Tribunal Federal17 de setembro de 2024 | 17:00

Governo deve perder no STF ações contra reforma da Previdência que custarão R$ 132,6 bi

economia

O governo deve sofrer derrotas no Supremo Tribunal Federal (STF) em ações que questionam a reforma da Previdência que terão um impacto fiscal de pelo menos R$ 132,6 bilhões. O número é apontado em nota técnica da Advocacia-Geral da União (AGU) obtida com exclusividade pelo jornal O Estado de S.Paulo. Embora o julgamento das ações na Suprema Corte esteja suspenso por pedido de vista do ministro Gilmar Mendes feito em junho, outros dez ministros já votaram e formaram maioria para derrubar quatro trechos da reforma.

Em dois deles, a União deverá ser impedida de acionar gatilhos que poderiam reduzir o déficit atuarial do Regime Próprio de Previdência Social (RPPS) em R$ 126,5 bilhões. Também foi formada maioria para derrubar o artigo que cria cálculos diferenciados para as alíquotas da contribuição paga por mulheres no regime geral e no regime do serviço público. Esse último caso tem risco fiscal estimado em R$ 6,1 bilhões para o RPPS, de acordo com a nota da AGU. Até a proclamação do resultado, os integrantes da Corte ainda podem alterar seus votos.

Os reveses para a reforma da Previdência, em vigor desde 2019, acontecem num momento em que especialistas já alertam sobre a necessidade de um novo endurecimento das regras, diante do rombo cristalizado nas contas públicas que deve se aprofundar nos próximos anos. Para 2025, o déficit projetado para o Regime Próprio dos servidores civis da União é de R$ 56 bilhões, o que corresponde a 0,49% do Produto Interno Bruto (PIB). Em 2026, a previsão é de um saldo negativo de R$ 61,6 bilhões, ou seja, 0,50% do PIB projetado.

No caso do Regime Geral, o rombo previsto para este ano é de R$ 272,5 bilhões, ou 2,4% do PIB.

Recentemente, para 2025, a cifra fica praticamente estável em relação ao PIB, mas economistas acreditam que o déficit pode saltar para 10% da economia brasileira em 30 anos.

Questionamentos

A reforma da Previdência proposta pelo governo de Jair Bolsonaro previa uma economia inicial de R$ 1 trilhão em 10 anos, mas o texto aprovado em outubro de 2019 garantiu um impacto de cerca de R$ 800 bilhões, segundo as contas da equipe econômica da época.

Se, por um lado, a reforma feita é considerada insuficiente, por outro, nem sua integralidade está garantida, diante do quadro no STF. O assunto chegou à Corte por um conjunto de 13 ações, que, se aceitas pelo STF, representariam um aumento no déficit atuarial do RPPS no valor de R$ 497,9 bilhões, um dos maiores riscos fiscais contabilizados no projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) do próximo ano. No total, as demandas judiciais contra a União somam um risco fiscal de R$ 1,170 trilhão.

O montante é visto como conservador porque não inclui os R$ 126,5 bilhões referentes a dois trechos que representariam, segundo a AGU, “tão somente uma mera possibilidade de redução do déficit”. Isso porque se trata, na prática, de gatilhos que poderiam ser acionados pela administração pública. Um desses artigos já considerado inválido pela maioria dos ministros prevê que, quando houver rombo na Previdência, a base de cálculo da contribuição de aposentados e pensionistas (inativos) pode ser ampliada — a regra geral é que a base não pode ser maior do que um salário mínimo. A governo estima que perde a chance de reduzir o déficit atuarial em R$ 55,1 bilhões.

Outro ponto estabelece que, se a ampliação da base de cálculo não for suficiente para equilibrar o rombo, pode ser criada contribuição extraordinária para inativos e servidores públicos. A perda dessa alternativa impede a redução do saldo negativo em R$ 71,4 bilhões, segundo a AGU.

Os números foram levantados em novembro do ano passado pelo Ministério da Previdência Social e repassados à AGU, que faz a defesa da União no STF. Segundo a nota técnica da AGU, todos os impactos referentes às regras de cálculo e de concessão dos benefícios foram calculados sobre os futuros benefícios, não abrangendo os benefícios já em andamento, “uma vez que estes foram considerados como direito adquirido, não sendo, portanto, atingidos por futuras alterações na legislação”.

Por último, a Corte já tem oito votos para invalidar o trecho da reforma que anula as aposentadorias já concedidas por contagem recíproca (soma do tempo de contribuição no regime geral e no regime do serviço público) sem o recolhimento da respectiva contribuição.

A prática ocorria principalmente no meio jurídico: ao ingressar na magistratura, advogados que atuavam como profissionais liberais conseguiam contabilizar o tempo de serviço anterior para a aposentadoria, mesmo sem demonstrar o pagamento ao INSS. A reforma passou a exigir a comprovação da contribuição.

De acordo com os votos proferidos até agora, a regra não pode alcançar o passado, o que exclui a possibilidade de a União entrar com ações rescisórias para desfazer as decisões que favoreceram esses trabalhadores. Nesse caso, não há estimativa de impacto para as contas públicas, assim como sobre outros pontos que o governo alega não ser possível mensurar o efeito da regra.

Gilmar vai desempatar julgamento

Em jogo no STF, a invalidação da alíquota progressiva da contribuição previdenciária de servidores públicos pode aumentar o déficit atuarial do RPPS em R$ 73,8 bilhões, de acordo com a nota técnica da AGU obtida com exclusividade pelo jornal O Estado de São Paulo. A decisão caberá ao ministro Gilmar Mendes, que vai desempatar o julgamento sobre o trecho da reforma da Previdência. Em junho, o ministro pediu vista e suspendeu a análise, cujo placar estava em 5 a 5 sobre esse ponto específico.

O questionamento às alíquotas progressivas faz parte de um pacote de 13 ações contra diversos pontos da reforma, em vigor desde 2019. Ao todo, a União estimou um risco fiscal de R$ 497,7 bilhões para todos os processos. Já há maioria para invalidar quatro artigos, mas os dez votos proferidos até o momento confirmaram a constitucionalidade da maior parte dos trechos.

Antes da reforma, a alíquota previdenciária dos servidores era fixa em 11%, independentemente da remuneração. A partir de 2020, as alíquotas passaram a ser escalonadas por faixa salarial, entre 7,5% e 22%. Na prática, o teto da alíquota efetiva gira entre 14% e 15%. Entidades do funcionalismo público ajuizaram ações contra a progressividade alegando que ela é confiscatória.

“Para o servidor, se levar até o teto, na prática houve um aumento de 3%, mas nada que pudesse, a princípio, convencer o Supremo de que há um confisco”, avalia Diego Cherulli, presidente do Instituto Brasiliense de Direito Previdenciário (IBDPrev).

De acordo com o governo, a inconstitucionalidade dessas normas resultaria em substituição das alíquotas progressivas, previstas para o RPPS da União, pela alíquota linear anterior de 11% para os segurados e de 22% para o ente federativo. Nessa hipótese, o valor presente atuarial das contribuições seria reduzido em 20,02%, aumentando o rombo do Regime Próprio em R$ 73,8 bilhões.

Até o momento, votaram a favor da alíquota progressiva os ministros Luís Roberto Barroso, Cristiano Zanin, Kássio Nunes Marques, Alexandre de Moraes e Luiz Fux. Foram contrários à progressividade os ministros Edson Fachin, Rosa Weber (já aposentada), Dias Toffoli, Cármen Lúcia e André Mendonça. Até a proclamação do resultado, contudo, os votos ainda podem ser alterados.

O prazo de 90 dias para Gilmar devolver o processo para julgamento vence em meados de outubro. A partir da devolução, caberá ao presidente do Supremo, Luís Roberto Barroso, definir uma data para o julgamento.

A expectativa de advogados ouvidos pela reportagem é é de que o ministro defenda a progressividade da alíquota, já que costuma invocar a responsabilidade fiscal em seus votos. Além disso, antes de pedir vista, o ministro citou o rombo previdenciário e afirmou que o julgamento é “extremamente delicado” porque trata da declaração de inconstitucionalidade de uma emenda à Constituição.

“Certamente estamos a falar de uma emenda constitucional que, já na sua concepção original, serviu para atenuar, mas não serviu para debelar, o grande déficit hoje existente nessa seara e que repercute sobre estados e municípios”, afirmou.

As novas regras para os servidores também foram destacadas na mensagem presidencial que foi encaminhada ao Congresso junto do projeto de lei orçamentário anual (PLOA) do próximo ano. No texto, o governo Lula destaca a adoção de alíquotas progressivas como um dos itens responsáveis pela “forte redução” do déficit do RPPS em relação ao PIB registrado desde 2020.

Também há maioria formada em um caso com impacto de R$ 6,1 bilhões, de acordo com a nota da AGU. Os ministros consideraram inconstitucional o dispositivo que cria cálculos diferenciados para o valor do benefício das mulheres nos dois regimes da Previdência.

Dos demais pontos questionados, uma das regras que, derrubadas, poderiam causar o maior prejuízo para o regime próprio trata sobre o cálculo da contribuição previdenciária de inativos. O caso tem impacto estimado em R$ 227,3 bilhões. Outro ponto, avaliado em R$ 131,5 bilhões, criou novas regras de transição para servidores que ingressaram em cargo efetivo antes de 2003. O Supremo já tem ampla maioria, de 10 votos, para manter esses trechos da reforma.

O governo ainda projetou o que poderia ocorrer se, numa “hipótese extrema”, toda a reforma fosse declarada inconstitucional pelo STF. Neste cenário, haveria uma redução do valor presente atuarial das contribuições em 31,25% e aumento do valor presente atuarial dos benefícios a conceder em 37,43%. Isso aumentaria o déficit atuarial do RPPS da União em R$ 389 bilhões.

Amanda Pupo/Lavínia Kaucz/FolhapressPoliticaLivre

Livro mostra a saga do comunista que virou espião do regime militar


Severino Theodoro de Mello em seu apartamento em Copacabana, no Rio, em 2018, cinco anos antes de morrer, aos 105 anos

Severino ajudou a destruir o Partido Comunista Brasileiro

Naief Haddad
Folha

A partir da decretação do AI-5 (Ato Institucional número 5), em dezembro de 1968, a repressão militar intensificou o combate aos grupos que recorriam à luta armada para se opor ao governo autoritário. Eram organizações egressas do PCB (Partido Comunista Brasileiro), como a ALN (Aliança Libertadora Nacional) e o MR8 (Movimento Revolucionário 8 de Outubro).

Seis anos depois, esses grupos estavam destruídos ou muito fragilizados. Foi a partir daí que a ditadura militar decidiu enfrentar com mais ênfase o PCB propriamente, o mais importante partido de esquerda no Brasil ao longo do século 20.

NA CLANDESTINIDADE – Àquela altura, em meados dos anos 1970, os comunistas estavam na clandestinidade no país, mas mantinham discussões sobre os rumos políticos e lançavam publicações.

Nessa nova etapa, uma das estratégias da inteligência militar era cooptar militantes comunistas, como Severino Theodoro de Mello, o mais importante desses infiltrados entre os integrantes do PCB. Ele é uma das figuras centrais de “Cachorros – A História do Maior Espião dos Serviços Secretos Militares e a Repressão aos Comunistas até a Nova República”, livro de Marcelo Godoy, repórter e colunista do jornal O Estado de S. Paulo.

Os militares chamavam de “cachorro” aquele que tinha mudado de lado e que contribuía com relatos orais, documentos, fotos e outros tipos de dados das organizações de esquerda.

DOUTOR PIRILO – O outro nome-chave do livro é o capitão da Aeronáutica Antônio Pinto, que manteve um “canil” ao longo do regime autoritário e mesmo nos primeiros anos da redemocratização. Durante 20 anos, Mello ficou sob o controle do Doutor Pirilo (o codinome de Pinto), com quem falava com frequência.

Esses dois homens, como escreve Godoy, “estiveram no centro da mais duradoura operação de espionagem política da República”. Embora tenham sido determinantes para o enfraquecimento do PCB, ambos foram até então poucas vezes lembrados em produções jornalísticas e acadêmicas.

As informações passadas por Mello – cujo codinome era Vinicius – para os militares tiveram efeito devastador para a sigla comunista. As delações dele foram a base para uma operação que causou a morte de pelo menos dez dirigentes do partido, em geral depois de longas sessões de tortura.

TUDO CONFIRMADO – “Entrevistei diversos agentes militares, e todos me falaram que as quedas relacionadas ao PCB tinham vindo do Mello. Me diziam que só tinham conseguido avançar na repressão ao partido por causa dele”, conta Godoy, que em 2014 lançou “A Casa da Vovó: uma Biografia do DOI-Codi (1969-1991), o Centro de Sequestro, Tortura e Morte da Ditadura Militar”.

A revelação de que Mello era um espião a serviço da caserna veio à tona na entrevista do ex-agente Marival Chaves ao repórter Expedito Filho, da revista Veja, em 1992. Mas os colegas de militância custaram a crer que ele pudesse ser um infiltrado, afinal, havia sido próximo de Luís Carlos Prestes durante décadas, inclusive em uma longa temporada na União Soviética, e integrado o comitê central da organização.

“Não havia nenhuma desconfiança em relação ao Mello. Ele era um companheiro antigo – era de 35 – e depois sempre foi de toda a confiança da direção e sempre esteve ligado aos aparelhos do partido”, disse Anita, filha de Prestes e Olga Benario, ao autor do livro (Anita se refere à revolta dos comunistas em 1935, uma tentativa de golpe contra o governo de Getúlio Vargas).

EXPULSO DO PPS – Só em 2016 o PPS (Partido Popular Socialista), que sucedeu o PCB, retirou Mello dos seus quadros. Naquela ocasião, as provas da traição tinham se tornado incontestáveis.

Caso tivesse iniciado hoje sua pesquisa, Godoy não chegaria ao mesmo resultado, já que seus dois protagonistas, que concederam entrevistas, morreram nos últimos anos: Pinto em 2018 e Mello cinco anos depois.

O oficial da Aeronáutica respondeu a dezenas de dúvidas do jornalista em trocas de e-mails. O infiltrado, além de mensagens, falou longamente a Godoy em seu apartamento em Copacabana em 2018.

MUITAS FONTES – “Cachorros” não se baseia apenas nesses depoimentos. O repórter se valeu de outras entrevistas, além de um vasto cardápio de fontes documentais.

As falas de Pinto e Mello, no entanto, ocupam papel central no relato. A partir da trajetória dos dois, o autor monta um painel da acidentada história do PCB, fundado em 1922, e do sistema repressivo organizado durante a ditadura militar.

Mello, o comunista que virou cachorro, morreu aos 105 anos. Nenhum camarada esteve no seu enterro.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG 
– Depois das reveladoras entrevistas do famoso Cabo Anselmo, com livros e até documentários, fica faltando apenas a biografia do “Barba”, codinome de Lula da Silva, que no regime militar prestava serviços de espionagem à Polícia Federal, reportando diretamente ao delegado Romeu Tuma as atividades de seus colegas no Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo e Diadema. Para disfarçar, os militares chegaram a prender Lula durante um mês, e assim ele ganhou prestígio com os verdadeiros esquerdistas. Em matéria de cachorrada, o “Barba” era imbatível. (C.N.)

Anielle teria afirmado que preferia esquecer tudo e evitar um escândalo


Anielle e Silvio

Anielle e Silvio pareciam ser grandes amigos na capital

Marcela Mattos
Veja

A ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, sofreu importunações e comentários enviesados, além de ao menos um episódio de importunação sexual, por parte do seu colega de Esplanada, o agora ex-ministro Silvio Almeida, sem formalizar nenhuma denúncia aos órgãos de controle do governo.

O caso ficou mantido sob sigilo por mais de um ano, e veio à tona após publicação do portal Metrópoles, no início do mês. Almeida foi demitido do Ministério dos Direitos Humanos e um inquérito foi instaurado pela Polícia Federal.

BASTIDORES – O assunto, porém, já circulava nas rodas de poder antes da publicação. Em agosto, um ministro, a pedido de Lula, se reuniu com Almeida em busca de esclarecer os “rumores” sobre o assédio e indicando a saída dele do cargo caso fosse verdade. O então chefe dos Direitos Humanos, porém, negou com veemência qualquer investida.

Na sequência, esse mesmo ministro procurou Anielle, que acabou confirmando ter sido alvo de importunações por parte de Almeida. Na ocasião, ela alegou manter os detalhes do ocorrido em sigilo temendo que virasse um escândalo e dizendo que preferia esquecer do ocorrido.

A ministra também disse ter receio de, apesar de ser a vítima, acabar prejudicada e demitida em meio ao desgaste que, conforme já esperava, seria provocado com o episódio.

OUTRA RECUSA – Diante da confirmação do assédio, o auxiliar de Lula voltou novamente a Silvio Almeida, que, em tom ainda mais contundente, se recusou a pedir demissão, manteve a versão de que não fizera nada de errado e ainda alegou ter provas de que não fizera nada de errado e ainda alegou ter provas de que mantinha uma boa relação com Anielle.

Silvio Almeida foi demitido na última sexta-feira, 6, um dia após a publicação da reportagem. Anielle entrou de férias na última semana e não deu nenhuma posição pública sobre o episódio.

A previsão é que ela retome os trabalhos nesta semana.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
 – O que era uma novela romântica está se tornando uma chanchada, com as versões sempre favoráveis a Anielle Franco. Uma das Piadas do Ano contidas no roteiro é dizer que a ministra Anielle foi assediada numa reunião em que Silvio Almeida estava sentado diante de Andrei Rodrigues, diretor-geral da Polícia Federal, que poderia tê-lo prendido na hora, mas confessa que não viu nada. Certamente a defesa de Almeida vai arrolar o delegado como testemunha. É um caso estranho, porque Anielle é recém-casada, uniu-se em matrimônio no dia 27 de julho com o engenheiro Carlos Frederico da Silva, com quem vive há seis anos e tem duas filhas. Como dizia Ibrahin Sued, em sociedade tudo sabe. Comprem bastante pipocas. (C.N.)


Vice-governador de Minas desafia ordem de Moraes e continua a fazer posts no X

 

Publicado em 17 de setembro de 2024 por Tribuna da Internet

Vice-governador de Minas, Mateus Simões cumpre agendas em Itabira e no Vale do Aço

“Censura, não!”, diz o vice-governador Mateus Simões

Mario Sabino
Metrópoles

Li nos jornais que o vice-governador de Minas Gerais, Mateus Simões, resolveu desafiar a ordem judicial de Alexandre de Moraes e continuar usando o Twitter. “VPN funcionando. Nunca me imaginei praticando e propagando desobediência civil, mas censura não pode ser admitida, jamais”, escreveu o vice-governador no seu perfil na rede social de Elon Musk, em publicação compartilhada no Instagram.

Ouço dizer que muita gente decidiu fazer o mesmo e correr o risco de pagar a multa de 50 mil reais por dia imposta pelo ministro, assim como fez Mateus Simões.

MARCAR POSIÇÃO – A desobediência civil é um ato de resistência tão antigo quanto o Estado contra o qual ela se volta. Mas teve a sua formulação desenvolvida no século XIX, em 1849, para ser exato, pela pena do escritor americano Henry Thoreau, autor de um ensaio que tem justamente este título: “Desobediência Civil”.

Horrorizado com a invasão do México pelos Estados Unidos e com o regime escravocrata em vigor no país, que anteviu expandido com a incorporação dos territórios mexicanos, Henry Thoreau resolveu parar de pagar impostos e, assim, deixar de financiar como indivíduo o que considerava ser (e era mesmo) uma ignomínia.

Preso, ele decidiu explicar os seus motivos no ensaio. Em “Desobediência Civil”, Henry Thoreau prega abertamente a violação de leis injustas que atentem contra a liberdade e a dignidade humanas. Violação não violenta, deixe-se claro, de forma semelhante à sugerida pela francês Étienne de La Boétie, no século XVI, quando ele diz que a melhor forma de derrubar um tirano absolutista era deixar de obedecer às suas ordens.

LUGAR DO JUSTO – Para o americano desobediente ou “insubmisso”, como classificariam na Procuradoria-Geral da República brasileira, arcar com as consequências funestas desse enfrentamento só engrandecia o indivíduo e a sua luta. “Sob um governo que aprisiona qualquer pessoa injustamente, o verdadeiro lugar para um homem justo é a prisão”, escreveu ele.

Henry Thoreau, que se isolaria no mato para viver uma existência autossuficiente, em experimento que resultaria no clássico “Walden” ou “A Vida nos Bosques”, é tido como precursor do movimento libertário. Com “Desobediência Civil”, ele influenciaria o escritor russo Tolstói, anarquista espiritual, o indiano Mahatma Gandhi, líder da independência do seu país do domínio britânico — e o movimento pelos direitos civis nos Estados Unidos, na década de 1960, como não poderia deixar de ser.

Não sei se o vice-governador de Minas Gerais leu Henry Thoreau, visto que o conceito desenvolvido pelo escritor americano tem história própria que o antecede. Se não o fez, aconselho a Mateus Simões a leitura de “Desobediência Civil”, espero que não na cadeia. É instrutivo e prazeroso. Se os ministros do STF tiverem tempo, eles também poderiam dar uma olhada. Vai que entendem que a punição coletiva a 20 milhões de cidadãos que nada fizeram, além de exercer a sua liberdade constitucional, é uma injustiça contra a qual os punidos se sentem no direito de rebelar-se?

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PS:
 Saio de férias por duas semanas. Vou ali tentar entrar no Twitter sem cometer crime de lesa-majestade e já volto(MS)


Governo Lula patina e mostra que terá dificuldades para disputar a reeleição

Publicado em 17 de setembro de 2024 por Tribuna da Internet

Lula vai deixar a presidência por problemas de saúde; Saiba mais sobre a  doença

Lula vive em campanha, mas o governo deixa a desejar

Vera Magalhães
O Globo

O governo Lula enfrenta, nas últimas semanas, um 7 a 1 provocado não pela oposição, mas por gols contra em temas da própria agenda, como meio ambiente e direitos humanos. Justamente nas áreas em que o presidente precisaria, e poderia, se distinguir do governo negacionista de Jair Bolsonaro, os fatos gritam e põem em dúvida a capacidade de colocar o discurso em prática.

Os incêndios que castigam todo o país — e devem afetar, e muito, uma economia que vinha mostrando capacidade de resistir mesmo a fatores como juros altos, inflação pressionada e chuvas no Rio Grande do Sul — evidenciaram que, de novo, Lula não levou a sério a emergência climática como prometera aos eleitores e ao mundo.

INSUFICIÊNCIA – Nem a acuidade de Marina Silva em fazer diagnósticos e apontar ferramentas tem o condão de, sozinha, fazer frente a uma situação que demonstra a insuficiência de meios técnicos, orçamentários e políticos para ser combatida.

Um Lula perplexo lançou mão do script de sempre diante da fumaça e do fogo. Reuniu um punhado de ministros — escrete que parece cada vez mais limitado, diga-se — e se despencou para a Amazônia para exibir perplexidade e consternação. Muito pouco diante da emergência por que passamos todos nós que respiramos.

O governo se incomodou com a intervenção do seu ex-integrante Flávio Dino, que arregaçou as mangas e saiu expedindo ordens administrativas para medidas (que deveriam ser) triviais como colocar mais bombeiros para apagar as chamas. Mas onde está o ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, diante dessa e de outras situações que demandam, também, colaboração do aparato de segurança e coordenação com Judiciário e Ministério Público? Há meses não se ouve a voz do sucessor de Dino, enquanto do outro lado da Praça dos Três Poderes o outro segue a todo vapor.

INCÊNDIO SEXUAL – O caso envolvendo as denúncias de assédio sexual e moral contra Silvio Almeida é outro que desnuda como exalar superioridade moral é mais fácil que agir em situações delicadas. Foi pela demora de Lula em apagar (mais esse) incêndio que o caso ganhou as manchetes, com desgastes profundos para todos.

Diante desse quadro, o presidente corre o risco de chegar ao fim de quatro anos com dados piores que Bolsonaro em tópicos como área desmatada em biomas cruciais, caso de Amazônia e Pantanal. E terá anotado um escândalo com consequências para a luta antirracista e feminista que a pasta comandada por Damares Alves não registrou. Tudo isso enquanto a pauta da absolvição do golpismo bolsonarista avança num Congresso que, a exemplo do fogo, o Planalto ainda não sabe como controlar.

O resultado de tudo isso é uma direita que vai trocando a pele do bolsonarismo para algo potencialmente ainda mais virulento, enquanto o lulismo não encontra um caminho para manter coesa a base que derrotou Bolsonaro e deu uma inédita nova chance a Lula.

ENVELHECIMENTO – A estupefação diante dos temas da modernidade — emergência climática, intolerância contra assédios vários que antes poderiam passar batidos, velocidade do meio digital para criar líderes e amplificar crises — mostra um presidente envelhecido, longe de sua melhor forma como articulador e leitor da realidade, qualidades que já foram cantadas em prosa e verso ao longo de sua carreira.

Lula vai se mostrando um padrinho de poderio limitado nas eleições municipais, fato só agravado porque as crises “em casa” diminuem sua possibilidade de fazer o que ainda mais gosta: estar em palanques falando e falando.

O resultado é uma pesquisa recente, do Ipec, que mostra idêntica parcela dos que o consideram ótimo e bom e aqueles que o avaliam como ruim ou péssimo. Os gols contra a própria meta só tendem a engrossar o primeiro bloco e a fazer minguar o segundo.

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Homem se deitou, colocou artefato na cabeça e aguardou explosão, diz segurança do STF

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