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domingo, abril 09, 2023

“Que sejam expulsos os vendilhões do templo”

 






Uma das cenas bíblicas que quase nunca ganha destaque na fala dos religiosas é a dos "vendilhões do templo" (João 2,13-25). Trata-se da passagem em que Jesus Cristo expulsa os vendedores que ocupavam o templo, que é a Casa do Senhor. Na verdade, Ele fez isso duas vezes                     

Dois mil anos depois, os vendilhões do templo não apenas seguem, como se sofisticaram. Eles não vendem mais animais para sacrifícios. Nem bugiganjas. Nem comidas. Nem cartela de bingo em quermesses no fundo das igrejas. Agora, o prefeito de Jeremoabo autopromove-se as custas do dinheiro público,  tenta vender a fé para pessoas desesperadas ou que foram doutrinadas a temer a vinda de Jesus. (Jessé Souza*)

"o jeremoabense deve ir aprendendo que o desenvolvimento é incompatível com a mediocridade, com a falta de coragem e que, ao contrário, é compatível com a ousadia de sonhar sonhos grandes, sonhos possíveis de serem realizados. “Desenvolvimento já!” é possível, sim

A cruzada do desenvolvimento não é convocação que se faça aos covardes, de almas míopes; não é tarefa que se entregue aos que se acomodam, que se conformam; não é serviço para os que não gostam do salário honesto.

                                (...)

Precisamos mostrar a nós mesmos o quanto somos capazes, fortes, honestos, idealistas, criativos. Precisamos resgatar valores, muitos dos quais nos foram arrebatados pelo populismo político, de alguns dos quais fomos nos desprendendo em momentos difíceis de fadiga moral imposta pela predominância de tantos maus exemplos. Precisamos resgatar a família, a escola com a educação moral e cívica e, também, a fé religiosa. É esse engenho de virtudes que vai nos restituir a coesão familiar, a responsabilidade escolar, o respeito com o coletivo e os limites espirituais.  Tudo em favor de uma sociedade mais comprometida com o desenvolvimento e com a paz.

Para nada servem as leis quando o Estado, encarregado de fazer cumpri-las, se enfraquece e se distancia, ampliando o dissenso entre a sociedade e os grupamentos políticos incumbidos de fazê-lo funcionar.

As leis não se realizam na sua força coercitiva quando a sociedade, indiferente, não as legitima. Sem legitimidade, não há autoridade e, sem autoridade, tudo resulta num teatrinho de intermináveis formalidades. As pessoas do povo em geral já não disfarçam o cansaço com a desfaçatez que de há muito estamos vivenciando.

A criminalidade a ser combatida não é apenas a das ruas, das praças, das favelas. Não podemos perder de vista a criminalidade do conluio, da cumplicidade, do silêncio; a criminalidade engravatada, exatamente aquela do malandro “que nunca se dá mal”, conforme os versos de Chico Buarque de Hollanda:

“Agora já não é normal / o que dá de malandro / regular, profissional / malandro com aparato de malandro oficial / malandro candidato a malandro federal / malandro com retrato na coluna social / malandro com contrato / com gravata e capital / que nunca se dá mal (…)”.

O povo brasileiro, que é todo, em si, íntegro, trabalhador, honesto, ético, envergonha-se quando se apercebe de que está sendo enganado por quantos, malandramente, conseguem mandatos políticos e, malandramente, passam a atuar no seu nome.  Não sendo tais políticos pessoas honradas, não têm como honrar a representação. Aliás, nem precisam, até porque os seus compromissos são outros e com outros igualmente malandros.

                                                               (...)

O retrato moral do mundo de hoje, o Brasil incluído, até supera o quadro de decadência que o apóstolo Paulo descreveu sobre os romanos do seu tempo:

“Estão cheios de toda sorte de injustiça, de perversidade, de cupidez, de maldade, cheios de inveja, de homicídios, de brigas, de dolo, de depravação, são difamadores, detratores, inimigos de Deus, provocadores, orgulhosos, fanfarrões, astutos para o mal, rebeldes contra os seus pais, sem inteligência, sem lealdade, sem coração, sem compaixão”.

Nossa sociedade se entredevora feroz em apetites egoísticos. Ficam em segundo plano a fraternidade e a paz entre os homens. É como se todos se digladiassem na luta insana para esmagar o próximo, fazendo tábula rasa da solidariedade, que até os irracionais manifestam em sua vida coletiva.

É hora de restaurar valores eternos, que se julgam superados, mortos, enterrados. A História, que Cícero chamava de “a professora da vida” (magistra vitae), está aí para nos recordar exemplos de superação de momentos críticos, nos quais a nação se reencontra e ganha forças para vencer as dificuldades.

                                                 (...)

Ontem, diante do arbítrio, a História nos cobrou a coragem de resistir. Resistimos e vencemos. Hoje, na democracia, a mesma História nos cobra atitudes, resgate de princípios, lealdade a valores, muitos dos quais até esquecidos. E é a História que molda o caráter de um povo, que dá consistência a uma Nação.

Devemos, portanto, aprender com as lições da História. Ela nos ensina que o País não se compadece dos covardes, dos acomodados, dos conformados, dos que insistem na defesa dos seus privilégios em detrimento da democracia e da cidadania. O que a História afinal nos ensina é que não devemos ter medo. E o povo brasileiro não terá medo.( Ex-Ministro e Presidente do STJ))





Bolsonaro “pendurado” no TSE e 8 de janeiro desafiam oposição a Lula em seus 100 dias




Oposição anuncia que tem assinaturas para abrir CPMI sobre 8 de janeiro

Ex-presidente esteve fora do país e enfrenta ações que podem torná-lo inelegível; especialistas ouvidos pela CNN veem oposição com dificuldades para se articular após repercussões negativas de atos criminosos de 8 de janeiro e a chamada "minuta do golpe", encontrada na casa de Anderson Torres

Por Danilo Moliterno e Leonardo Rodrigues

A estadia do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) nos Estados Unidos durante os primeiros meses do ano e a possibilidade de o ex-mandatário ficar inelegível por conta de inúmeros processos no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) fragmentaram a oposição ao governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e dificultaram a articulação destes grupos, segundo especialistas ouvidos pela CNN.

“A oposição ainda não está articulada como deveria para fazer um embate mais direto com o governo. Não sei se isso vai acontecer. Há grupos bolsonaristas dentro de partidos fisiologistas. Então a gente nem sabe o tamanho dessa oposição”, aponta a pesquisadora do Núcleo de Estudos sobre o Congresso da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), Beatriz Rey .

O bolsonarismo, principal núcleo da oposição, enfrentou dias conturbados no início de 2023. Cientistas políticos ouvidos pela CNN apontam que os atos criminosos de 8 de janeiro, a minuta golpista encontrada na casa do ex-ministro da Justiça Anderson Torres e a reunião golpista delatada pelo senador Marcos do Val (Podemos-ES) desgastaram a imagem do grupo.

Sem líderes ou causas proeminentes para coordenar ações e com repercussões negativas, a oposição não conseguiu ferir o governo significativamente nos primeiros 100 dias, apesar de Lula ter cedido espaços para críticas, segundo a cientista política Deysi Cioccari.

“Lula está perdido em algumas questões, como nos ataques ao Banco Central, no próprio arcabouço fiscal, em declarações que deu sobre a possibilidade de não ser verdade que o Primeiro Comando da Capital (PCC) planejou matar Sergio Moro. E a oposição não está sabendo explorar isso”, afirma.

Ausência de Bolsonaro

O ex-presidente Jair Bolsonaro viajou aos EUA antes mesmo da posse de Lula e retornou somente no final de março. Durante os três meses em que esteve fora do Brasil, se pronunciou poucas vezes e não coordenou ações políticas relevantes. No último dia 29, chegou a declarar à CNN que não lideraria a oposição.

“Não vou liderar nenhuma oposição. Vou participar com meu partido, como uma pessoa experiente, 28 anos de Câmara, quatro de presidente, dois de vereador e quinze de Exército, para colaborar com o que eles desejarem, como a gente pode se apresentar para manter o que tiver de ser mantido e mudar o que tiver de ser mudado”, explicou.

Para o cientista político Bruno Carazza, a viagem foi prejudicial ao espaço de Bolsonaro dentro da oposição. “Essa decisão enfraqueceu muito a posição dele em relação à cena política brasileira e até em relação ao bolsonarismo — sem considerar os muito radicais, claro”, indica.

Ao mesmo tempo, o ex-presidente encara rumores sobre a possibilidade de se tornar inelegível desde as eleições. A hipótese que ganhou corpo com o avanço de processos na Justiça Eleitoral.

Uma das ações, apresentada pelo PDT, acusa Bolsonaro de ter cometido abuso de poder político e uso indevido de meios de comunicação ao questionar a confiabilidade das urnas. A minuta encontrada na casa de Anderson Torres também foi incluída no processo, que já superou as fases de produção de provas e oitiva de testemunhas.

A situação do presidente ficou mais sensível com a revelação dos casos das joias que foram transportadas da Arábia Saudita ao Brasil em sua gestão. Bolsonaro depôs à Polícia Federal (PF) na quarta-feira (5) sobre o ocorrido.

“A postura do Bolsonaro neste início de ano, somada à questão das joias, dificulta que ele exerça um papel de liderança”, opina Bruno Carazza.

Cioccari destaca a dificuldade da oposição em se organizar na ausência de Bolsonaro. “A direita ficou sem um líder, porque não soube se organizar para formar uma liderança. E o impacto disso é que a oposição democrática fica sem um centro”, aponta.

Neste vácuo político, o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, mencionou mais de uma vez a possibilidade de a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro concorrer à Presidência em 2026.

O governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), também foi citado por Valdemar como potencial presidenciável. Até o momento, no entanto, nenhum nome da oposição — bolsonarista ou não — foi capaz de agregar grupos e ganhar projeção nacional.

Para Beatriz Rey, há espaço para o avanço de outras lideranças dentro da oposição. Ela destaca, porém, que a ascensão destes nomes depende do fim das indefinições sobre o ex-presidente.

“Na medida em que Bolsonaro não assume esse papel de liderança, se isso se concretizar, temos outros nomes, inclusive para assumir candidatura presidencial, como os governadores Tarcísio [de Freitas, de São Paulo] e [Romeu] Zema”, diz.

Cientista político e professor da FGV Ebape, Carlos Pereira reitera o potencial de outras lideranças para ocupar este espaço: “Há uma disputa, na direita, para concentrar o voto desse eleitor brasileiro de direita. Tem o Tarcísio e o próprio Moro, por exemplo. Mais ao centro, podemos mencionar o PSDB, com o governador Eduardo Leite”.

8 de janeiro e minuta do golpe

Apenas oito dias após o início do governo Lula, criminosos atacaram as sedes dos Três Poderes, em Brasília, em protesto contra o resultado das eleições. A consequência dos atos, apontam especialistas, prejudicou a imagem do bolsonarismo.

“Tudo foi ligado ao bolsonarismo e ao próprio fato de Bolsonaro ter questionado o resultado das urnas. A direita como um todo sofreu, mas muito mais o bolsonarismo”, avalia Deysi Cioccari.

O instituto AtlasIntel divulgou uma pesquisa após o ocorrido a fim de testar a opinião pública: 75,8% dos entrevistados discordaram dos ataques, ao passo que 18,4% disseram concordar e 5,8% não souberam responder.

Quatro dias depois dos ataques, a PF encontrou uma minuta que propunha um golpe de Estado na casa de Anderson Torres — o que culminaria na prisão do ex-ministro da Justiça e Segurança Pública.

Em fevereiro, o senador Marcos do Val revelou ter se reunido com Bolsonaro e com o ex-deputado federal Daniel Silveira (PTB-RJ) durante as eleições, em ocasião na qual o ex-parlamentar propôs um golpe de Estado.

A sequência de acontecimentos colocou ainda mais pressão sobre a opinião pública em relação ao bolsonarismo, mas também apreensão sobre possíveis consequências jurídicas.

Carlos Pereira destaca os “custos” dos atos golpistas para o bolsonarismo, mas volta a pontuar que os efeitos são diferentes para os diferentes núcleos que compõem a oposição.

“O custo político, além do judicial, que o bolsonarismo deve pagar pelos atos golpistas são enormes. Agora, existe uma direita liberal no Brasil que é, antes de tudo, antipetista. Bolsonaro foi a alternativa, a esses eleitores, para evitar o PT”, aponta.

Lampejos de articulação

Beatriz Rey destaca como tentativas de articulação da oposição à eleição para a presidência do Senado e o recolhimento de assinaturas para a abertura de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar possível omissão do governo federal no dia 8 de janeiro.

“A oposição tentou fazer algumas articulações, por exemplo na eleição da presidência do Senado, com a CPI para apurar o dia 8 de janeiro, mas nada teve muito impacto até agora. Acho que o lugar onde a oposição está mais organizada é nas redes sociais”, aponta.

No Senado, a oposição lançou a candidatura de Rogério Marinho (PL-RN), e Michelle Bolsonaro chegou a comparecer à Casa Alta para apoiar o parlamentar. Contudo, o ex-ministro acabou derrotado por Rodrigo Pacheco (PSD-MG), candidato do governo.

A possibilidade de uma CPI para investigar os atos, por sua vez, perdeu força após Pacheco apontar impasses para a leitura de seu requerimento. Apesar disso, a investigação ainda pode ser iniciada.

CNN

Revisionismo do The Guardian é pior que fake news




O jornal britânico quer faturar com o passado sombrio de seu fundador. Com isso, só está fazendo publicidade. 

Por André Marsiglia Santos (foto)

Só quem não entende patavina de jornalismo é capaz de acreditar que o grande perigo da modernidade são as fake news. O perigo é a publicidade disfarçada de jornalismo.

O jornal britânico The Guardian apresentou na semana passada a seu público o “Cotton Project”, ou “Projeto Algodão”, por meio do qual expôs a ligação de seu fundador, Edward Taylor, com o tráfico de escravizados para o cultivo de algodão nas Américas. Embora o fato tenha se passado em 1821, houve por parte do jornal um pedido de desculpas e o anúncio de que investirá algo em torno de 60 milhões de reais em “projetos de reparação” e “políticas editoriais afirmativas”.

Caro leitor, sabe o que isto significa? Que o The Guardian quer lucrar com o passado sombrio de seu fundador. Como se diz por aí, quer fazer do limão uma limonada: atinge-se a simpatia popular reposicionando o passado de uma forma positiva. Até aí, problema nenhum. Em tempos de politicamente correto, as empresas fazem isso mesmo para reforçar sua credibilidade. Obviamente, nem sempre são sinceros os posicionamentos, mas qual publicidade é sincera, não é mesmo?

O revisionismo histórico, tal como promovido pelo The Guardian, não passa de uma peça da engrenagem publicitária. Por intermédio do conteúdo político, de cunho histórico, choca-se o consumidor do jornal com o apelo do passado nefasto para, em seguida, engajar o mesmo consumidor com a postura politicamente correta do presente, gerando simpatia à marca. Embora o método não explicite a intenção publicitária, pode ser aceitável à maior parte das empresas, mas não a um veículo de comunicação, que ancora sua essência no tratamento jornalístico dos fatos.

É óbvio que o jornalismo não é neutro, mas não é sua neutralidade que o diferencia dos textos publicitários, por exemplo. Os fatos não são um dado da natureza, existem a partir da interpretação e vivem por meio da interação humana, portanto, em toda escrita, inclusive a jornalística, sempre será encontrado o posicionamento do autor.

Vidal Serrano tem uma hipótese que calha bem a essa discussão. Entende que a diferença entre textos jornalísticos e publicitários não está na neutralidade, mas na espontaneidade da escolha, ou seja, na intenção de cada autor. Quando uma escolha editorial é espontânea, mesmo que o texto carregue o posicionamento político do autor, é jornalismo; quando uma escolha é previamente feita para convencer o leitor de algo, é publicidade.

O revisionismo histórico do The Guardian não é uma leitura espontânea do passado, mas política e, certamente, cravejada de expectativas de retorno positivo à reputação de sua marca no mercado. Ou seja, é publicidade, não jornalismo. E ao anunciar seu conteúdo como jornalismo, age de forma enganosa com o leitor. O próprio jornal denuncia sua intenção ao dizer que seu projeto promoverá “políticas editoriais afirmativas”. Ora, isso não existe: ou políticas ou editoriais. A expressão não faz sentido, é uma contradição, uma armadilha.

Termino meu texto como o comecei. Fake news não são o maior perigo da modernidade, são espécies do gênero publicidade tentando se passar por conteúdo jornalístico, mas são de quinta categoria. Há, no entanto, os de primeira categoria: aplaudidos, premiados e que gozam da simpatia do público e dos tribunais.

Revista Crusoé

O Estado e a verdade




Querem incluir as fake news no rol de crimes passíveis de impeachment. 

Por Fernando Schüler (foto)

O Estado brasileiro anda obcecado pela “verdade”. Leio que o governo criou uma procuradoria para combater a “desinformação”. O país viveria uma “ruína moral” e seria preciso combater a “praga” das fake news. O mesmo que faz o novo portal ao estilo fact-checking, no qual o governo diz o que é ou não verdadeiro sobre o próprio governo. O fenômeno não se dá apenas no Executivo. Ainda na campanha, o ministro Fachin filosofou que estamos metidos em uma imensa “desordem informacional”, o que justificaria a ação reguladora do Estado. É o que tem ocorrido. Por estas semanas, o Supremo recriou a norma constitucional, quebrando a imunidade de um deputado federal, porque, entre outras razões, ele teria veiculado “fatos sabidamente falsos”, nas redes sociais, em um bate-boca sobre o projeto de uma colega deputada. Tudo com direito a uma frase síntese: “Liberdade de expressão não é liberdade de propagação de discursos mentirosos”. Isso é tudo muito curioso. Houve tempo em que havia certo consenso de que não cabia ao Estado se envolver nessas coisas. Ainda em 2019, o vice-procurador-geral eleitoral Humberto de Medeiros dizia que não cabia ao Estado “ser o dono da verdade” e “tutelar sobre aquilo que é fato”. E que, se tentasse, iria agir como um herói truculento, que “resolve um problema criando vários outros”. Agora as coisas mudaram.

Por óbvio, não estamos falando de uma decisão técnica, no curso do devido processo, sobre a verdade de uma prova ou alegação específica. O problema é a presunção da verdade sobre fatos e opiniões, no debate geral da sociedade. Quem teria a prerrogativa de definir essas coisas? Alguns dizem que Sebastian Castellion, um sábio francês do século XVI, foi o primeiro a se fazer essa pergunta, sugerindo que “somos todos hereges aos olhos de quem diverge de nós”. A pergunta agora parece renascer. Dias atrás, li a proposta do governo para a “lei das fake news”, que tramita no Congresso. A lei usa quinze vezes a palavra “desinformação”, cria uma Comissão e um código regulando o que pode ou não ser dito. Achei curioso o veto ao impulsionamento de conteúdos negando “fatos históricos violentos bem documentados, com o objetivo de minimizá-los”. Quem sabe um seminário sobre a Revolução Russa? Ou nossa Revolução Farroupilha? Fiquei no ar. O problema parece generalizado. No último pleito, a Justiça Eleitoral literalmente editou o debate eleitoral, como nunca havia acontecido no país, e mesmo agora uma lei proposta pelo presidente do Senado deseja incluir as fake news no rol dos crimes de responsabilidade, passíveis de levar um presidente ao impeachment.

O argumento pró-censura é sempre muito parecido. Gira em torno de temas como a “disseminação de notícias falsas”, “ameaças à democracia”, “discursos de ódio”. Quanto mais abertos os conceitos, mas discricionariedade nas mãos de quem tem poder. Se você questionar, surge a falácia do espantalho: “Então pode propaganda nazista? Pode mentir à vontade?”. Estes dias me aplicaram esta, em um debate, e imediatamente me lembrei do caso Hunter Biden. À época, o Twitter e o Facebook esconderam a notícia sobre os e-mails comprometedores para a imagem de Joe Biden, então concorrendo à Presidência, referentes a negócios nebulosos do filho dele na Ucrânia e na China quando o pai era vice-presidente de Barack Obama. Os eleitores foram privados de ter acesso a uma informação que poderia ter afetado sua decisão, porque os donos de algumas redes acharam que a informação deveria ser censurada. Fica claro qual é o problema?

Durante a campanha eleitoral, nossa Justiça Eleitoral proibiu os jornais de associarem Lula ao ditador Daniel Ortega. Agora, no início de março, o governo Lula se recusou a assinar uma nota conjunta de 55 países, na ONU, incluindo Estados Unidos e grandes democracias europeias, condenando as infrações a direitos humanos na Nicarágua. Teria sido importante que os eleitores tivessem acesso àquela crítica? Ela era dura demais? Cabia ao Estado bloquear aquela opinião?

É evidente que deve haver limites. Cometimento de crimes bem tipificados, como a pedofilia e a injúria racial, são exemplos claros no Brasil. Ou tudo que envolva o que os americanos tipificam como “fighting words”, que funcionam como convocações diretas à violência. Isso nada tem a ver com um cidadão dizer “prefiro uma ditadura à vitória do candidato A ou B”, em um grupo privado, ou uma crítica, ácida que seja, a nosso sistema eleitoral. O ministro Alexandre de Moraes disse em um seminário que “é uma narrativa ridícula” dizer que se está tentando limitar a liberdade de expressão. Com o respeito devido ao ministro, censurar previamente um filme ou alguém por dizer que prefere viver uma ditadura ou criticar as urnas eletrônicas (os exemplos poderiam ir longe) é, sim, constranger a liberdade de expressão. A não ser que aceitemos a tese da tutela estatal sobre a verdade. Há muita gente que acredita nisso, em geral quando os censurados são os “outros”, um pouco como os hereges, na boa lição de Castellion. O ponto é que delegar ao Estado o direito de arbitrar sobre a verdade é trair uma das grandes promessas modernas, do poder político como fundamentalmente apartado da consciência individual. Estados totalitários recriaram essa ideia, com as consequências sabidas. Não vivemos em um Estado totalitário no Brasil. Apenas vamos aceitando, na miséria da guerra política, um iliberalismo a conta-gotas, feito de urgências políticas e visões plásticas de quem detém o poder.

Algo que me intriga é a ideia comum de que o surgimento da internet tornou obsoletas as grandes lições modernas sobre a liberdade de expressão. É irônico observar como se pensou assim a cada nova revolução nas tecnologias da informação. De fato, há riscos. O rádio, a TV e o cinema foram usados para a guerra e a dominação, tanto quanto para a liberdade. Nossa atual revolução tecnológica parece fatal por ter oferecido um desmedido aos indivíduos. Acentuou a dispersão de ideias e valores em um mundo cuja marca de nascença é a própria diversidade. Me lembra a imagem de John Milton, em sua Areopagítica, sobre Osíris, o deus egípcio esquartejado e lançado às águas do Nilo. “Tomaram a virgem verdade, cortaram suas belas formas em mil pedaços e a jogaram aos ventos.” Apenas no juízo final, dizia ele, isso tudo será refeito. Até lá, nosso destino é a incerteza.

De um jeito mais pragmático, foi a mesma intuição do jovem Alexis de Tocqueville, em sua icônica viagem à América, em 1830. Ele se impressionou com a abundância de jornais circulando na jovem república. Era aquela diversidade de vozes que impedia “a formação dessas grandes correntes de opinião que derrubam tudo à frente”. Seu ponto é sutil: a saída não reside no controle, mas na abundância. Na multiplicidade de vozes que se opõem, nos enfurecem, mas que ao longo do percurso regulam-se mutualmente. E mais importante: nos ensinam a viver em meio ao ruído, ao risco dado pelo avanço implacável da tecnologia, que não podemos deter.

Revista Veja

O que os chips cerebrais realmente podem fazer?




Para Elon Musk, alcançar a telepatia ajudaria a humanidade a prevalecer em uma guerra contra a inteligência artificial

Dono da Neuralink, Elon Musk quer usar implantes cerebrais para ler a mente das pessoas – algo que especialistas consideram improvável. No entanto, tecnologia pode ter impactos transformadores na saúde humana.

Por Fred Schwaller

"O futuro vai ser estranho", disse Elon Muskem 2020, ao explicar os potenciais usos dos implantes cerebrais desenvolvidos por sua empresa de neurotecnologia Neuralink.

Nos últimos sete anos, a empresa vem desenvolvendo um chip de computador projetado para ser implantado no cérebro, onde monitora a atividade de milhares de neurônios.

O chip – oficialmente considerado uma Interface Cérebro-Computador (ICC) – consiste em uma pequena sonda contendo mais de 3.000 eletrodos ligados a fios flexíveis mais finos que um fio de cabelo humano.

Musk quer conectar o cérebro com computadores para permitir o download de informações e memórias das profundezas da mente, como no filme de ficção científica Matrix, de 1999.

Além de usar a tecnologia para tentar tratar condições como cegueira e paralisia, Musk expressou ambições de usar o Neuralink para alcançar a telepatia humana, que, segundo ele, ajudaria a humanidade a prevalecer em uma guerra contra a inteligência artificial. Musk também disse que quer que a tecnologia forneça às pessoas uma "supervisão".

Ficção científica ou realidade?

Isso é viável? Resposta curta: não.

"Não podemos ler a mente das pessoas. A quantidade de informação que podemos decodificar do cérebro é muito limitada", afirma Giacomo Valle, engenheiro neural da Universidade de Chicago, nos Estados Unidos.

Juan Alvaro Gallego, pesquisador de ICC no Imperial College London, no Reino Unido, concorda.

"O problema fundamental é que realmente não sabemos onde ou como os pensamentos são armazenados no cérebro. Não podemos ler pensamentos se não entendermos a neurociência por trás deles", disse à DW.

Usos clínicos de ICCs

Musk apresentou a tecnologia Neuralink em 2019, mostrando um porco com um chip implantado no cérebro e um vídeo de um macaco jogando pong com a mente.

Mas o potencial das ICCs vai muito além de animais jogando.

Segundo Gallego, a tecnologia foi desenvolvida inicialmente para ajudar pessoas paralisadas por lesões na coluna ou condições como a síndrome do encarceramento – quando um paciente está totalmente consciente, mas não consegue mover nenhuma parte do corpo, exceto os olhos – a se comunicar.

"Se você [pudesse] traduzir sua comunicação interna em palavras em um computador, seria uma mudança de vida", disse Gallego.

Nesse tipo de caso, as ICCs são projetadas para registrar sinais elétricos de neurônios no córtex motor e, em seguida, enviar os sinais para um computador onde são exibidos como texto.

Normalmente, o córtex motor não está envolvido no pensamento. Em vez disso, é onde as instruções de movimento são enviadas ao corpo, como os movimentos dos músculos da língua e da mandíbula quando se fala.

O que os eletrodos realmente registram é um plano motor – mais precisamente, o resultado final de todo o processamento em diferentes partes do cérebro (sensorial, linguístico, cognitivo) necessário para se mover ou falar.

Portanto, as ICCs não registram realmente os seus pensamentos, mas sim o plano do cérebro de mover um dedo, uma perna ou abrir a boca para fazer um som.

"Os cientistas também mostraram que podem ler a intenção do córtex motor de desenhar uma letra", disse Gallero. "Usando modelagem complexa [com o computador conectado], isso permitiu que participantes paralisados digitassem 10 palavras por minuto, o que foi um avanço".

ICCs e as sensações

Outro avanço ocorreu em 2016, quando o então presidente dos EUA, Barack Obama, apertou a mão robótica de Nathan Copeland.

Copeland, que ficou paralisado após um acidente de carro, sentiu o aperto de mão de Obama como se estivessem tocando pele com pele.

"Isso demonstrou uma capacidade diferente das ICCs. Em vez de usar eletrodos para registrar o cérebro e interpretar os movimentos pretendidos, eles estimularam o cérebro com pequenas correntes para produzir sensações", explica Gallego.

No caso de Copeland, uma ICC chamado Utah Array foi implantado em seu cérebro para melhorar o funcionamento de uma parte deficiente de seu sistema nervoso.

O dispositivo, produzido por um rival da Neuralink, foi implantado em seu córtex sensorial e conectado a sensores na ponta de sua mão robótica.

Quando Copeland apertou a mão de Obama, esses sensores enviaram sinais fazendo com que eletrodos no córtex sensorial estimulassem a região da "mão" no cérebro, permitindo que Copeland "sentisse" a mão do presidente.

Essas novas capacidades das ICCs representam a próxima geração de estimulação cerebral profunda, um tratamento que envolve a implantação de eletrodos em áreas do cérebro para ajudar pessoas com distúrbios do movimento.

"Essas tecnologias já existem há algum tempo. A estimulação cerebral profunda tem sido usada para ajudar centenas de milhares de pessoas com Doença de Parkinson desde a década de 1990", explica Gallego.

Cirurgia cerebral para todos?

Por enquanto, as ICCs como a Utah Array estão sendo usadas apenas em casos especiais como o de Copeland, e a tecnologia da Neuralink foi testada apenas em animais.

"Todas as aplicações clínicas das ICCs ainda estão em fase de pesquisa e ainda não foram implementadas na prática clínica", destaca Valle.

A Neuralink tentou obter a aprovação dos reguladores federais de medicamentos dos EUA para testar sua tecnologia em humanos no ano passado, mas sofreu um golpe quando as autoridades rejeitaram o pedido, citando grandes preocupações de segurança.

O dispositivo consiste em 96 pequenas sondas flexíveis que devem ser inseridas individualmente no cérebro.

Cirurgia cerebral não é brincadeira. Mesmo que o procedimento invasivo necessário para conectar uma ICC ao cérebro corra bem, o potencial de infecção ou "rejeição" imunológica do dispositivo permanece por muito tempo após o implante.

A empresa de Musk segue em busca de permissão para conduzir testes clínicos em humanos ainda neste ano.

O nascimento da neuroética

A longo prazo, disse Valle, as ICCs levantam "uma variedade de preocupações éticas" que precisarão ser consideradas cuidadosamente por pesquisadores, empresas, agências financiadoras, reguladores e pelos próprios usuários.

A tecnologia está dando origem a um novo campo de investigação moral: a neuroética. É aqui que as discussões se tornam mais ficção científica.

"Por exemplo, quais são as consequências das violações de privacidade quando os dados em questão se relacionam com os pensamentos das pessoas? Como podemos garantir que a falta de acesso não exacerbe a desigualdade social? O que acontece quando essa informação pode ser inserida diretamente no cérebro?", pontua Valle.

Afinal, é papel da ficção científica nos preparar para o que pode vir no futuro.

Advertências sobre vigilância e controle tecnológico estavam presentes nos romances do início do século 20, como Admirável Mundo Novo (Aldous Huxley, 1932) e 1984 (George Orwell, 1949). Nós os ouvimos?

Deutsche Welle

Em todo o mundo, acusações criminais não são barreira para cargos na política




O ex-presidente dos EUA, Donald Trump, deixa a Trump Tower enquanto se dirige para uma audiência de acusação em 04 de abril de 2023 na cidade de Nova York

Casos semelhantes ao do ex-presidente americano Donald Trump ocorreram em Israel, Brasil, Argentina, Malásia e Itália

Por Caolán Magee

Donald Trump é o primeiro ex-presidente dos EUA a enfrentar acusações criminais. Porém, em todo o mundo, muitos líderes foram processados ou até mesmo passaram algum tempo na prisão.

Muitos deles denunciaram as acusações contra eles como politicamente motivadas. Mas os processos, muitas vezes, não foram uma barreira para que eles ocupassem um cargo político.

Aqui estão alguns exemplos recentes notáveis.

Benjamin Netanyahu, Israel

Ninguém serviu como primeiro-ministro israelense por mais tempo do que Benjamin Netanyahu, que assumiu seu sexto mandato no fim do ano passado.

O primeiro-ministro também está enfrentando um julgamento por corrupção, sob a acusação de fraude, suborno e quebra de confiança. Algumas das alegações afirmam que Netanyahu recebeu presentes como charutos e champanhe de empresários estrangeiros.

Ecoando parte da linguagem usada por Trump, Netanyahu negou todas as acusações e chamou o julgamento de “caça às bruxas”.

À medida que o caso avança, Netanyahu vem promovendo um plano controverso para enfraquecer o Judiciário de Israel.

Uma das medidas inclui limites nas formas como um primeiro-ministro em exercício pode ser declarado inapto para o cargo, levando muitos políticos da oposição israelense a alegar que Netanyahu está usando a revisão judicial para se proteger. Ele nega as acusações.

Luiz Inácio Lula da Silva, Brasil

Luiz Inácio Lula da Silva (PT) foi preso em abril de 2018, passando um ano e meio atrás das grades até sua libertação, em novembro de 2019.

Ele foi condenado por corrupção e lavagem de dinheiro, depois que ele e sua então esposa supostamente receberam cerca de R$ 5,54 milhões em melhorias e despesas de uma construtora para um apartamento à beira-mar.

Em troca, disseram os promotores, a empresa conseguiu obter contratos lucrativos da Petrobras.

Lula chamou as acusações de “farsa”, alegando que tinham motivação política. Após sua libertação da prisão, em 2019, o Supremo Tribunal Federal (STF) rejeitou suas condenações por corrupção, o que permitiu a Lula concorrer às eleições presidenciais de 2022, derrotando Jair Bolsonaro (PL). Ele foi empossado como presidente pela terceira vez em janeiro.

Agora é Bolsonaro quem enfrenta possíveis problemas legais, incluindo acusações de que ele incitou ataques violentos na capital, Brasília, em janeiro.

Cristina Kirchner, Argentina

A vice-presidente argentina Cristina Fernández de Kirchner foi condenada a seis anos de prisão em dezembro passado, após ser considerada culpada de corrupção durante seus dois mandatos como presidente, de 2007 a 2011 e de 2011 a 2015.

Ela foi acusada de conspirar com outros funcionários do governo para fechar contratos no valor de milhões de dólares para obras rodoviárias que, segundo a denúncia, eram incompletas, superfaturadas e desnecessárias.

Cristina disse que as acusações contra ela foram motivadas politicamente.

O tribunal argentino considerou Cristina, que já havia atuado como presidente do país, culpada de “administração fraudulenta” e a inabilitou para ocupar cargos públicos novamente.

Ela, no entanto, tem imunidade temporária por causa de sua função atual, o que significa que ela não irá para a prisão em breve e pode apelar.

Anwar Ibrahim, Malásia

Em uma mudança extraordinária na sorte, Anwar Ibrahim tornou-se primeiro-ministro da Malásia em novembro de 2022, após duas passagens pela prisão antes de seu cargo de primeiro-ministro.

Anwar foi preso em abril de 1999 após ser condenado por sodomia (prática de sexo anal). Mesmo que seja consensual, a sodomia é punível com até 20 anos de prisão na Malásia de maioria muçulmana. Ele sempre negou veementemente as acusações, alegando que eram politicamente motivadas.

Essa condenação foi anulada por um tribunal em 2004. Após seu retorno como figura da oposição, mais acusações de sodomia foram feitas contra ele e –após uma longa batalha judicial que durou anos– ele voltou para a prisão em 2014.

Anwar recebeu um perdão real e foi libertado da prisão em maio de 2018. Ele voltou rapidamente ao parlamento, antes de liderar a coalizão Pakatan Harapan para ganhar uma pluralidade de cadeiras nas eleições gerais de 2022 na Malásia.

Silvio Berlusconi, Itália

O extravagante magnata italiano foi primeiro-ministro da Itália e renunciou ao cargo em 2011.

Berlusconi foi a figura dominante na política italiana por quase duas décadas, período em que também foi julgado por pelo menos 17 acusações, envolvendo alegações de peculato, fraude fiscal e suborno.

Ele sempre negou irregularidades e muitos dos casos foram anulados na apelação.

Não foram as preocupações legais, mas a crise da dívida da Itália que levou à sua renúncia em 2011.

Depois de deixar o cargo, Berlusconi foi posteriormente condenado por fraude fiscal, onde foi sentenciado a um ano de serviço comunitário em uma casa de repouso, enquanto um tribunal anulou sua condenação por pagar por sexo com uma prostituta menor de idade.

Berlusconi também foi considerado culpado de subornar um senador para mudar de facção política, mas não cumpriu pena de prisão.

Em setembro de 2022, o homem de 81 anos conquistou uma cadeira no Senado e seu partido faz parte da coalizão governista da Itália.

CNN

Autoridades ucranianas criticam proposta de Lula para acabar com a guerra




Rússia anexou a península do Mar Negro em 2014, em uma ação denunciada pela Ucrânia

Declarações foram feitas um dia após o presidente Luiz Inácio Lula da Silva sugerir que a Ucrânia poderia ceder a península da Crimeia à Rússia

Autoridades ucranianas manifestaram, nas redes sociais, que o país não não fará concessões territoriais, em especial, com relação à Crimeia, em troca da paz. As declarações foram feitas um dia após o presidente Luiz Inácio Lula da Silva sugerir que a Ucrânia poderia ceder a península à Rússia.

“O que Putin quer? Ele não pode ficar com o território da Ucrânia. Talvez nem se discuta a Crimeia, mas, o que ele invadiu de novidade, vai ter que repensar”, afirmou o presidente.

No Facebook, o porta-voz da diplomacia da Ucrânia, Oleg Nikolenko, afirmou que a Ucrânia agradece os esforços do presidente Lula para encontrar uma solução para o conflito. No entanto, ele complementou: “Não há nenhuma razão legal, política ou moral pela qual temos de ceder pelo menos um centímetro de terra ucraniana”.

Nikolenko comentou ainda que qualquer esforço de mediação para restabelecer a paz deve ser baseado no respeito pela soberania do país.

O diplomata ucraniano aposentado Olexander Scherba também utilizou as redes sociais para criticar Lula. No Twitter, ele questionou se o chefe do Executivo brasileiro aplicaria a declaração a si mesmo.

“Presidente do Brasil Lula da Silva: ‘Zelensky não pode querer tudo!’ Defina ‘tudo’, por favor! A soberania da Ucrânia sobre sua própria terra? Você aplicaria esse princípio a si mesmo?”

Na quinta-feira (6), em café com jornalistas, Lula defendeu o fim da guerra que, para ele, “não tem justificativa” para continuar.

“Não há nenhuma justificativa para essa guerra continuar. Quando uma guerra começa, a gente faz análise como se fosse uma coisa muito complicada, difícil e diferente do nosso dia a dia. Acho que essa guerra já passou da conta. O Brasil defende a integridade territorial de cada nação, portanto não concordamos com a invasão da Rússia à Ucrânia.”

Anexação da Crimeia

A Rússia anexou a península do Mar Negro em 2014, em uma ação denunciada pela Ucrânia e muitos aliados ocidentais por violar o direito internacional.

O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, prometeu retomar o território enquanto o país luta contra a invasão em grande escala da Rússia, lançada oito anos depois de tomar a península.

Os dois países não conversam sobre o fim dos combates há um ano. A sugestão de que a Crimeia poderia estar em negociação tem sido essencialmente um tabu para as autoridades ucranianas desde os primeiros dias da guerra.

Por Pedro Zanatta

CNN

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