Sempre de colete branco, Nabuco passa em revista a tropa
José Carlos Werneck
Ao reler uma edição da Tribuna de Petrópolis, de 9 de setembro de 2001, encontrei este texto de Luiz Cláudio D’Álamo Louzada sobre uma das mais brilhantes, competentes e elegantes personalidades da vida diplomática brasileira, o embaixador Maurício Nabuco, cavaleiro da Ordem do Império Britânico.
Era filho do célebre Joaquim Nabuco de Araújo, político, diplomata, historiador, jurista, escritor e jornalista brasileiro, um dos fundadores da Academia Brasileira de Letras.
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A TRAJETÓRIA DE UM SENHOR EMBAIXADOR
Maurício Hilário Nabuco de Araújo, nasceu em 1891 quando a família morava em Londres, e estudou na Universidade de Bonn, na Alemanha. Em 1913, entrou para o serviço diplomático.
Ele residiu, por muito tempo, no casarão da Avenida Piabanha, 720/732, em Petrópolis, que seu pai Joaquim Nabuco adquiriu em 2017. A construção talvez seja mais antiga que o Palácio Imperial, pois nela morou José Candido Guilhobel, um dos seus arquitetos. Mais recentemente foi residência do embaixador e ex-ministro Luiz Gonzaga Nascimento e Silva.
EM PETRÓPOLIS – O embaixador Mauricio Nabuco foi quem viveu mais tempo nesta histórica mansão, que depois do falecimento de Joaquim Nabuco foi dividida em duas residências. No número 720, continuaram residindo os filhos de Nabuco, e no número 732 veio a morar a família de Olavo Redig de Campos, arquiteto de renome que se tornou “arquiteto oficial” do Ministério do Exterior para todas as embaixadas brasileiras.
Seu irmão, Deoclécio Redig de Campos, igualmente renomado, foi por muitos anos diretor do Museu do Vaticano e responsável pela recuperação da internacionalmente conhecida estátua de Leonardo da Vinci, a “Pietá”, quando foi parcialmente destruída por um turista doente mental.
O Embaixador Nabuco era de uma personalidade marcante para sua geração. De alta estatura, chamativo, de uma elegância despreocupada. Porém, quase sempre envergando seus coletes brancos, impecáveis, confeccionados em Londres por seu alfaiate de preferência.
SEMPRE DE SMOKING – Homem de educação britânica, nascido em Londres em 10 de maio de 1891 e formado em Norwick e em Bonn. Jantava sempre de “smoking”, mesmo quando só. Era do seu raciocínio que não ficava de acordo exigir da sua criadagem a uniformização correta, quando ele, dono da casa, não estivesse adequadamente vestido.
O casarão da Piabanha não era usado para grandes recepções ou jantares, porém o Embaixador gostava de receber seus amigos mais íntimos para um chá “en famille”, como ele mesmo intitulava, ou um whisky, nunca antes das seis da tarde,.
Foi um diplomata exemplar, estruturou o sistema administrativo do Itamaraty, modernizando-o, o qual resistiu aos tempos até a implantação dos computadores. Influenciou a carreira de diversos diplomatas mais jovens como seus seguidores em posicionamento político e cultural, a exemplo de Vasco Leitão da Cunha, D’Alamo Lousada, Antonio Castelo Branco, dentre outros.