Certificado Lei geral de proteção de dados

Certificado Lei geral de proteção de dados
Certificado Lei geral de proteção de dados

quarta-feira, julho 06, 2022

A descoberta que pode ajudar a entender força que permite existência dos átomos




As partículas 'exóticas' são produzidas durante colisões subatômicas

Por Pallab Ghosh

Cientistas descobriram novas configurações "exóticas" de quarks, as menores partículas conhecidas pela humanidade.

Os quarks são as partículas subatômicas que compõem outras partículas subatômicas, conhecidas como hádrons.

Os prótons e nêutrons, que compõem o núcleo dos átomos, são tipos de hádrons. Cada um dos prótons e nêutrons são compostos por três quarks.

Partículas descobertas nos últimos continham configurações "exóticas" dos quarks: em vez de três, elas são formadas por quatro ou cinco quarks (tetraquarks e pentaquarks).

Agora, os cientistas fizeram três novas descobertas: um pentaquark e dois tetraquarks nunca vistos antes.

A existência dessas partículas com configuração "diferente" foi verificada pelos cientistas do Grande Colisor de Hádrons, o maior acelerador de partículas do mundo, que fica na Suíça. Com as três novas descobertas, o número de partículas com configurações exóticas de quarks sobe para 21.

As novas estruturas são formadas por colisão de partículas subatômicas e existem por um instante tão curto que é até difícil de imaginar - duram um milésimo de bilionésimo de bilionésimo de segundo.

Apesar da existência extremamente breve, essas partículas viajam a uma velocidade próxima à velocidade da luz, deixando "trilhas" de alguns milímetros que são analisadas pelos pesquisadores.

Os cientistas estão empolgados com as características das três novas partículas. O novo pentaquark libera partículas que nenhum dos outros produz ao se decompor. E os dois novos tetraquarks têm a mesma massa, o que sugere que eles podem ser o primeiro par de estruturas exóticas descoberto.

'A descoberta foi feita no maior acelerador de partículas do mundo'

A força forte

Mas o mais importante, segundo os pesquisadores, é que as últimas descobertas significam que agora há uma quantidade dessas partículas suficientes para criar uma categorização e organização - como a dos elementos na tabela periódica.

Isso é essencial para a criação de uma teoria e a descoberta do conjunto de regras válidas para essa matéria exótica.

Físicos estão discutindo essa questão na terça-feira (5/7) em um encontro no Centro Europeu de Pesquisa Nuclear, instituição que abriga o Grande Colisor de Hádrons.

Entender as diferenças entre a menores partículas conhecidas pode parecer uma questão pouco prioritária. Mas a interação dos quarks acontece através da chamada "força forte", que mantém as partículas dos átomos unidas - ou seja, que mantém toda a matéria do Universo.

'Os tetraquarks são partículas formadas por quatro quarks em vez de três'

"A força forte é extremamente difícil de calcular", diz o professor Chris Parks, da Universidade de Manchester, no Reino Unido. "E nós não temos previsões exatas de como os tetraquarks e pentaquarks são constituídos. Mas esperamos conseguir desenvolver teorias para entendê-los melhor."

O Grande Colisor de Hádrons recentemente passou por um grande aprimoramento, e os pesquisadores envolvidos acreditam que isso vai possibilitar provar a existência de mais partículas exóticas, que hoje só existem na teoria.

Os cientistas tem a hipótese de que algumas partículas têm até seis quarks.

O que são quarks?

A ideia de que a matéria do mundo é formada por pequenas partículas indivisíveis - os átomos - surgiu na Grécia no século 5 a.C,, proposta pelo filósofo grego Demócrito.

No final do século 19 e início do século 20, experimentos científicos mostraram que os átomos eram compostos de partículas menores: elétrons, nêutrons e prótons.

E, na década de 1960, ficou claro que os próprios nêutrons e prótons eram feitos de partículas ainda menores, chamadas quarks.

A ciência que estuda esse universo subatômico é chamada física quântica, e foi seu desenvolvimento que permitiu o surgimento de tecnologias como a energia nuclear e de ameaças como a bomba atômica.

Na década de 1960, também se descobriu que a interação dos quarks entre si está ligada a uma das forças fundamentais da natureza, a chamada força forte.

É essa força forte que mantém a unidade dos núcleos dos átomos, que por sua vez compõe toda a matéria do Universo.

BBC Brasil

Privatização do Estado




A permissão para a posse indiscriminada de armas é o primeiro passo para a reinstauração da guerra privada

Por Luiz Gonzaga Belluzzo* (foto)

O Estadão informa: “Um relatório divulgado na terça-feira pela ONG Fórum Brasileiro de Segurança Pública revela o aumento de registros de pessoas autorizadas a possuir armas nos país nos últimos anos. A flexibilização promovida pelo governo de Jair Bolsonaro fez subir em 474% o número de cidadãos armados no território nacional.”

Essa proeza armamentista se desenrolou sem contraposição das forças policiais e militares que, no Estado Moderno, deveriam envergar as prerrogativas do monopólio da violência.

Os militares e policiais brasileiros certamente não estudaram Thomas Hobbes nas Academias de Polícia ou Agulhas Negras. Se tivessem passado os olhos no Leviatã talvez entendessem que a proposta de armar a população significa dispensá-los das funções que a Constituição lhes atribui. É o colapso do Estado Moderno, o naufrágio do liberalismo político e a entrega da (des) ordem às milícias privadas.

Os bolsonaristas declararam guerra aos demais. Uma declaração de guerra apoiada no pretexto do antipetismo, do anticomunismo e anticristaníssimo travestido de pentecostalismo. Eles estão conclamando os aliados e - atenção!! - também os adversários para a guerra civil. Essa é forma que assumem as divergências sociais quando as regras da convivência pacificada pelo Estado são massacradas pelo retorno à barbárie.

Observador das turbulências que assolaram a sociedade inglesa no século XVII, Thomas Hobbes imaginou que o terror disseminado pelos bandos privados na luta religiosa só poderia ser contido pela concentração do poder e da força no Leviatã. Para ele, a visão da sociedade em que os homens conviviam pacificamente só pode surgir quando o Estado está consolidado, em que todos estão submetidos às leis emanadas do Soberano.

Hobbes surpreende a sociedade dos indivíduos no momento em que o Estado submergiu na voragem da guerra religiosa, soçobrou na crise da sociedade governada pelo desejo e pelo medo. Para Hobbes, é permanente a possibilidade de o Estado, o Deus Mortal, ser destruído em uma crise desencadeada pelas rivalidades espicaçadas pela truculência individualista.

Por isso a suprema obrigação moral do Estado é a de dar proteção ao cidadão. Hobbes considerava as forças armadas e a polícia órgãos imprescindíveis do Estado moderno, a encarnação de sua essência. Mas, a segurança do cidadão estaria garantida apenas mediante a imposição de controles e limites aos funcionários da segurança pública, determinados pela lei. Essas funções devem ser exercidas com rigor para conter impulsos destrutivos dos indivíduos, mas submetida às restrições necessárias para impedir que a soberania do Estado se transforme em arbítrio, ou seja, no exercício de um poder privado pela burocracia estatal encarregada da segurança pública. Não por acaso, a proposta de liberação das armas vem acompanhada do desejo de aparelhamento da Polícia Federal.

Nas repúblicas modernas, se é que temos aqui algo parecido com isso, figuram entre as cláusulas pétreas aquelas relativas à representação legitimada pelo voto, à impessoalidade na administração pública, à constituição de um sistema de poderes e garantias fundados na lei. O sistema de poderes e garantias ancorado na lei é o núcleo central do Estado contemporâneo. É isso que o obriga a punir, no exercício do monopólio da violência, as tentativas de opressão arbitrária de um indivíduo sobre o outro.

O descumprimento do dever de punir pelo ente público termina por solapar a solidariedade que cimenta a vida civilizada, lançando a sociedade no desamparo e na violência sem quartel. Os códigos da cidadania moderna foram concebidos como uma reação da maioria mais fraca contra o individualismo anarquista dos que se consideram com mais direitos e poderes.

As manifestações contra o STF são a prova cabal de sua aversão à igualdade fundamental entre os cidadãos. O tom dessas manifestações permite suspeitar que os bolsonaristas sentem-se ungidos, superiores aos demais cidadãos.

As conquistas da modernidade das quais não se pode abrir mão vêm sendo pisoteadas por quem imagina defendê-las com tropelias dos homens das cavernas. Sequer cuidam de ocultar da sociedade, em cujo nome dizem agir, o empenho com que laboram para tecer a corda em que enforcarão os direitos e garantias individuais. Nas investidas do bolsonarismo, o Estado se transforma num aparato administrativo desgovernado e despótico, numa caricatura de si mesmo, num butim a ser dilapidado por ocupantes eventuais.

A permissão para a posse indiscriminada de armas é o primeiro passo para a reinstauração da guerra privada e, provavelmente, para o aparecimento de alguma forma de despotismo extralegal. Incapacitado de garantir aos “indivíduos pacificados” proteção diante da turbulência bárbaros, o Estado brasileiro se amesquinha e não consegue cumprir o dever elementar de exercer o monopólio da violência.

Presa fácil das forças subterrâneas que movem este processo, de consequências funestas, a sociedade se debate, sem rumo. A impossibilidade de encontrar os meios adequados para conter a violência, o medo da destruição e da morte engendram a fuga para as campanhas de opinião que apelam para medidas extremas. São manifestações de impotência, travestidas de ações da sociedade civil, em cujos becos e desvãos escuros, aliás, se acumula a energia que alimenta a onda de violência que atinge a todos. Enquanto isso, deitam e rolam os que se beneficiam da desagregação do aparelho de Estado desde o seu interior.

No bate-bumbo da controvérsia sobre a interferência na Polícia Federal para frear as investigações sobre o ex-ministro Milton Ribeiro e os pastores negocistas, Jair Bolsonaro e seus apoiadores definiram claramente sua concepção das instituições e das prerrogativas dos ocupantes de funções públicas. “Eu administro a República com a minha família, como se fosse minha casa.” Essa é a síntese do pensamento bolsonarista, de seus acólitos e servidores.

Paulo Guedes e sua trupe se empenham na privatização da Eletrobras, Petrobras e Bancos Públicos. Bolsonaro & Família foram mais expeditos: já realizaram a privatização do Estado.

*Luiz Gonzaga Belluzzo é professor titular do Instituto de Economia da Unicamp.

Valor Econômico

Conferência define bases para reconstrução da Ucrânia




Países e organizações reunidos na Suíça se comprometem em apoiar Kiev na recuperação após a guerra. Entre pontos acordados, estão a necessidade de transparência e combate à corrupção. Recuperação deve custar US$ 750 bilhões.

Dezenas de países se comprometeram nesta terça-feira (05/07) a apoiar a Ucrânia no que se espera ser uma reconstrução longa e onerosa, e concordaram com a necessidade de amplas reformas para aumentar a transparência e combater a corrupção no país.

Encerrando uma conferência de dois dias na cidade de Lugano, no sul da Suíça, líderes de cerca de 40 países e de organizações internacionais assinaram a Declaração de Lugano, que estabelece um conjunto de princípios para a reconstrução da Ucrânia.

Os pontos incluem o compromisso com um processo democrático com participação de toda a sociedade, o envolvimento de empresas privadas, a transformação verde para uma sociedade livre de CO2, uma administração digitalizada e projetos de desenvolvimento livres de nepotismo e enriquecimento ilícito. "O processo de reconstrução deve ser transparente", diz. "O Estado de direito deve ser sistematicamente fortalecido e a corrupção, erradicada."

O presidente suíço, Iganzio Cassis, que co-organizou a conferência juntamente com a Ucrânia, saudou a declaração como um "primeiro passo fundamental no longo caminho da recuperação da Ucrânia".

"Nosso trabalho se prepara para o pós-guerra, mesmo com a guerra ainda em andamento", disse ele na cerimônia de encerramento. "Isso deve dar ao povo da Ucrânia esperança e a certeza de que eles não estão sozinhos."

Custo de cerca de US$ 750 bilhões

O primeiro-ministro ucraniano, Denys Shmyhal, disse na segunda-feira na conferência que a recuperação do país após a invasão da Rússia deve custar pelo menos 750 bilhões de dólares.

Ele afirmou nesta terça-feira que a declaração foi "definitivamente o início de nosso processo de longa distância". "Temos que fazer tudo que foi destruído melhor do que era", disse.

O texto da declaração afirma que os países, além da Ucrânia e da União Europeia, "comprometem-se totalmente a apoiar a Ucrânia em todo o seu caminho, desde a recuperação inicial até a recuperação de longo prazo". O documento acrescenta que os aliados apoiam "a perspectiva europeia da Ucrânia e o estatuto de país candidato à UE".

Entre os princípios, os países concordaram que a própria Ucrânia deve estar no comando da reconstrução. À medida que bilhões de dólares em ajuda fluem para a Ucrânia, crescem preocupações a respeito da corrupção generalizada no país.

A declaração enfatiza que "o processo de recuperação deve contribuir para acelerar, aprofundar, ampliar e alcançar os esforços de reforma e a resiliência da Ucrânia em consonância com o caminho europeu da Ucrânia".

"O processo de recuperação deve ser transparente e responsável perante o povo da Ucrânia", frisa o texto, além de pedir que o processo de recuperação seja "inclusivo e garanta a igualdade de gênero" e que a Ucrânia seja reconstruída de maneira "sustentável".

Shmyhal apresentou na segunda-feira o plano de reconstrução em fases do governo, focado nas necessidades imediatas das pessoas afetadas pela guerra, seguido pelo financiamento de projetos de reconstrução de longo prazo destinados a tornar a Ucrânia europeia, verde e digital.

Nesta terça-feira, ele enfatizou que seu país está ansioso para agir rapidamente para implementar a estrutura para garantir mudanças rápidas. "Quando dizemos que estamos prontos para agir rápido, realmente queremos dizer rápido", disse ele, citando uma reunião planejada para começar a implementação ainda nesta terça-feira.

Ele também observou que duas conferências de acompanhamento já foram planejadas, uma delas sob liderança da UE, a ser realizada em alguns meses, e a outra a ser sediada em Londres no próximo ano.

Deutsche Welle

Rússia ataca Sloviansk e tenta controlar todo Donbass




Prefeito pede que civis evacuem a cidade do leste da Ucrânia, novo alvo das tropas russas, o mais rapidamente possível. Ataque deixam pelo menos dois mortos e sete feridos.

As autoridades de Sloviansk, no leste da Ucrânia, apelaram nesta terça-feira (05/07) aos civis que abandonem rapidamente a cidade, após duas mortes na ofensiva russa para a conquista total do Donbass. No domingo, seis já haviam sido mortas e 15 feridas em outro ataque russo. 

"É importante retirar o maior número possível de cidadãos", pediu o prefeito, Vadim Liach.

De acordo com ele, Sloviansk está sob fogo pesado do exército russo há dias. "Bombardeio maciço da cidade. No centro, no norte. Todos nos abrigos antiaéreos", escreveu no Facebook.

Liach acusou a Rússia de usar munições de fragmentação nos ataques à cidade – o que é proibido por tratados internacionais de que Moscou não é signatário.

Segundo Pavlo Kyrylenko, governador da região de Donetsk, onde Sloviansk se localiza, houve sete feridos num ataque russo ao mercado central da cidade: "Mais uma vez, os russos estão visando intencionalmente os locais onde os civis se reúnem. Isto é terrorismo puro e simples."

Novo alvo russo

Após a queda de Lysychansk no domingo, na região vizinha de Lugansk, as forças russas avançaram para oeste e dirigiram-se para Sloviansk, que tinha cerca de 100 mil habitantes antes da guerra.

Kramatorsk, centro administrativo regional ainda sob controle ucraniano, também está no caminho da ofensiva russa para assumir todo o Donbass. As duas cidades se situam na região de Donetsk.

A Rússia anunciou que suas forças assumiram o controle de Lugansk com a conquista das cidades de Sievierodonetsk e Lysychansk.  Ao celebrar a vitória, o presidente russo, Vladimir Putin, ordenou ao ministro da Defesa, Sergei Shoigu, que as forças armadas prosseguissem com a ofensiva em Donetsk.

Resistência da Ucrânia

Enquanto isso, o exército ucraniano afirma ter evitado vários avanços das tropas russas. Unidades invasoras foram expulsas de volta ao norte de Sloviansk, perto de Dolyna, informou o Estado-Maior em Kiev. 

Além disso, a usina termelétrica de Wuhlehirsk segue sendo contestada. Um ataque russo ao sul, em Nowoluhanske, foi repelido. Ataques na fronteira com a região perdida de Lugansk, perto de Bilohorivka e Verkhnyokamyanske, também foram rechaçados.

Um pouco mais ao sul, no entanto, unidades russas perto de Spirne continuaram avançando em direção da cidade de Siversk. Além disso, o Estado-Maior Geral relatou intenso bombardeio de artilharia em grandes partes das regiões de Kharkiv, Donetsk, Zaporizhia, Kherson e Mykolaiv. Pela primeira vez em quase uma semana, houve um alerta aéreo em todo o país, incluindo a capital Kiev.

Pouco progresso em Donetsk

Em entrevista à DW, a analista de política externa e segurança Domitilla Sagramoso disse que, apesar desses desdobramentos, a Rússia fez progressos limitados em Donetsk. Ela também destacou os esforços defensivos das forças ucranianas.

"Quase não houve avanços das forças russas no resto do Oblast de Donetsk. Até agora [os ucranianos] têm sido muito bons em deter qualquer ataque russo. Eles têm posições defensivas muito boas, então pode-se esperar que, por algum tempo, essas regiões não caiam."

Sagromoso também destacou a capacidade da Ucrânia de realizar "ataques e retirada" a alvos russos: "Também é importante notar o quanto os ucranianos estão atacando atrás das linhas. Houve ataques a depósitos de munição, infraestrutura e aeroportos nas áreas de Melitopol, Kharkivst e Donetsk."

Deutsche Welle

Otan assina protocolos de adesão da Finlândia e da Suécia




Países concluíram nesta semana as negociações

Bruxelas - Os embaixadores dos 30 países que integram atualmente a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) assinam nesta terça-feira (5) os protocolos de adesão da Finlândia e da Suécia à aliança.

Os dois países concluíram nesta semana as negociações para se tornarem membros da Otan, uma formalidade depois de a Turquia ter retirado o veto à entrada de Helsinque e Estocolmo na Aliança, durante a Cúpula de Madri, na semana passada.

As negociações com os países "confirmaram formalmente a vontade e capacidade de cumprir as obrigações e os compromissos políticos, legais e militares da adesão à Otan", observou a aliança.

A Finlândia e a Suécia não devem assinar esses protocolos de adesão, mas os seus chefes de diplomacia estarão presentes hoje, na sede da organização, em Bruxelas, para entrevista conjunta com o secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg.

RTP - Rádio e Televisão de Portugal

Agência Brasil

***

Finlândia e Suécia assinam adesão à Otan, mas precisam de ratificação

É a expansão mais significativa da aliança desde os anos 90

Por Robin Emmott e Sabine Siebold 

Bruxelas - Os 30 integrantes da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) assinaram protocolo de adesão para Finlândia e Suécia nesta terça-feira (5), permitindo que os dois países se juntem à aliança assim que os parlamentos ratificarem a decisão. É a expansão mais significativa da aliança desde os anos 90.

A assinatura, na sede da Otan em Bruxelas, segue um acordo com a Turquia na cúpula da aliança da semana passada em Madri. Na reunião, Ancara suspendeu o veto às propostas de adesão nórdicas após garantias de que ambos os países farão mais para combater o terrorismo.

"Este é realmente um momento histórico", disse o secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, ao lado dos ministros das Relações Exteriores dos dois países. "Com 32 nações ao redor da mesa, seremos ainda mais fortes."

O protocolo significa que Helsinque e Estocolmo podem participar de reuniões da Otan e ter maior acesso à inteligência, mas não serão protegidos pela cláusula de defesa mútua da Otan - que prevê que um ataque a um aliado é um ataque contra todos - até a ratificação. Isso provavelmente levará até um ano.

Foi em uma cúpula aliada em Madri, em 1997, que Hungria, Polônia e República Tcheca foram convidadas a participar, na primeira de várias ondas de expansão da Otan em direção ao leste -, vistas como uma conquista para o Ocidente, mas que irritaram a Rússia.

Moscou advertiu repetidamente os dois países contra a adesão à Otan. Em 12 de março, o Ministério das Relações Exteriores da Rússia disse que "haverá sérias consequências militares e políticas".

Stoltenberg pediu aos aliados que ratifiquem rapidamente as adesões e assegurou aos dois países nórdicos o apoio da Otan nesse meio tempo.

"A segurança de Finlândia e Suécia é importante para nossa aliança, inclusive durante o processo de ratificação", afirmou.

"Muitos aliados já fizeram compromissos claros com a segurança da Finlândia e da Suécia, e a Otan aumentou nossa presença na região, inclusive com mais exercícios militrares."

Os embaixadores da Otan e Stoltenberg ficaram juntos para uma foto, na qual os ministros das Relações Exteriores da Suécia e da Finlândia seguravam os documentos assinados.

"Obrigada pelo apoio! Agora começa o processo de ratificação por cada um dos aliados", disse a ministra sueca das Relações Exteriores, Ann Linde, no Twitter.

No entanto, o presidente da Turquia, Tayyip Erdogan, alertou na quinta-feira passada 30), na cúpula da Otan, que a Finlândia e a Suécia devem primeiro cumprir as promessas feitas à Turquia em um acordo, ou a ratificação não será enviada ao Parlamento turco.

De acordo com memorando assinado, Finlândia e Suécia se comprometeram a não apoiar os grupos militantes curdos PKK e YPG ou a rede do clérigo Fethullah Gulen, os quais Ancara rotula como organizações terroristas.

Reuters / Agência Brasil

***

Otan avança em processo de adesão de Suécia e Finlândia

Embaixadores dos 30 países-membros da aliança assinam em Bruxelas os protocolos de associação das nações nórdicas. Aprovação de parlamentos nacionais deve levar de seis a oito meses.

Embaixadores dos 30 países-membros da Otan assinaram nesta terça-feira (05/07) em Bruxelas os protocolos de adesão de Finlândia e Suécia, num importante passo para as duas nações nórdicas se unirem à aliança militar ocidental.

"Este é um bom dia para a Finlândia e a Suécia e um bom dia para a Otan", disse o secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, pouco antes da cerimônia de assinatura, durante uma entrevista coletiva junto com os ministros do Exterior de ambos os países. "Com 32 nações ao redor da mesa, seremos ainda mais fortes, e nosso povo estará ainda mais seguro ao enfrentarmos a maior crise de segurança em décadas."

A assinatura dos protocolos de adesão abre um período de meses para que os membros da aliança ratifiquem as adesões, num processo que normalmente envolve os parlamentos nacionais. Segundo estimativas, ainda devem ser necessários entre seis a oito meses até que a Finlândia e a Suécia realmente possam aderir à aliança.

"Estamos gratos"

"Estamos tremendamente gratos por todo o forte apoio que nossa adesão recebeu dos aliados", disse a ministra sueca do Exterior, Ann Linde. "Estamos convencidos de que nossa adesão fortalecerá a Otan e aumentará a estabilidade na área euro-atlântica."

Após a invasão da Ucrânia pela Rússia em fevereiro, a Suécia e a Finlândia solicitaram oficialmente em 18 de maio a associação à Otan, abandonando décadas de não alinhamento.

A cúpula da Otan realizada em Madri no fim de junho endossou essa medida ao emitir convites oficiais para os dois países, depois que a Turquia obteve concessões sobre as preocupações que havia levantado e uma promessa dos EUA de receber novos aviões de guerra.

O presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, acusou Estocolmo e Helsinque de serem refúgios para militantes curdos que ele acusa de promover terrorismo. Ele também exigiu que os dois países suspendam os embargos de armas impostos como reação à incursão militar da Turquia na Síria em 2019.

Contudo Erdogan manteve o resto da Otan em suspense ao dizer que ainda pode bloquear as adesões da Suécia e da Finlândia se os dois países não cumprirem suas promessas, algumas das quais não foram reveladas, incluindo possíveis acordos de extradição.

Deutsche Welle

Quando a democracia chegará na Rússia?




A intimidação da população russa é bem sucedida porque não há alternativas políticas para o sistema Putin. 

A guerra contra a Ucrânia entrou em uma nova fase. O caminho que Kiev seguirá é rumo a Europa, ao Ocidente e à democracia. Mas o que vai acontecer com a Rússia? Será que ela ainda tem uma chance de desenvolvimento democrático? Ou continuará a se transformar em uma ditadura cada vez mais rígida?

A presidência de Dmitry Medvedev (7 de maio de 2008 - 7 de maio de 2012) foi vista por muitos, em parte ingenuamente, como o início de uma nova fase de democratização controlada do país - inclusive na Suíça. O lema de Medvedev "Liberdade é melhor do que a falta de liberdade" foi levado a sério como o programa de desenvolvimento do país para a próxima década. No entanto, no mais tardar com os protestos na Praça Bolotnaya em Moscou, em 6 de maio de 2012, ficou claro que estas esperanças não seriam cumpridas.

Seguiu-se uma série de etapas de autocratização: A emenda constitucional - no verão de 2020 - com o objetivo de prorrogar o mandato do presidente Putin, a tentativa de assassinato de Alexei Navalny, a consequente destruição dos remanescentes do governo autônomo local, uma padronização total da mídia - que culminou com a liquidação do canal de televisão "Rain TV" e da estação de rádio "Ekho Moskvy" -, as repressões até mesmo contra os chamados liberais do sistema no governo e, finalmente, a agressão contra a Ucrânia. Em retrospectiva, tudo isso não parece uma série de eventos aleatórios, mas sim uma preparação deliberada do regime de Putin para a guerra que agora se está travando.

Sociedade sitiada

"O Kremlin conseguiu colocar a sociedade russa em estado de dormência mental", diz Ulrich Schmid, linguista eslavo suíço, crítico literário e professor universitário. "Três em cada quatro russos acreditam que a OTAN é uma organização hostil", continua ele. "O desafio russo à hegemonia americana também encontra ampla aprovação. A intimidação do povo russo é bem-sucedida, porque não há alternativas políticas para o sistema Putin. Dos dois únicos dois políticos que poderiam mobilizar a população, um está morto, - Nemzow - o outro na prisão - Navalny."

"Há um abismo entre a Rússia e a Europa na proteção dos direitos humanos"

A carreira acadêmica de Ulrich Schmid começou na Universidade da Basiléia, como professor de estudos literários eslavos. De 2003 a 2005 foi professor financiado pela SNF (Fundo Nacional Suíço destinado a pesquisas científicas) no Instituto de Línguas e Literaturas Eslavas da Universidade de Berna, e desde fevereiro de 2020 é pró-reitor de relações externas na Universidade de St. Gallen.

Segundo Schmid, pensamentos imperiais desempenham um grande papel na Rússia. "Infelizmente, a ideia imperial sempre teve o papel de um trunfo na Rússia, o que supera todas as outras cartas." Assim, ainda hoje alguns oposicionistas liberais hesitam quando se trata de dizer adeus aos sonhos de grande poder, que são tão destrutivos para o país e para o mundo. Para ele, apenas um fortalecimento do federalismo russo poderia ser uma maneira de amortecer um pouco esse entusiasmo imperial.

"Pluralismo impressionante"

Na vizinha Ucrânia - que por violação do direito internacional foi atacada pela Rússia de Putin em 24 de fevereiro - a evolução após o colapso da União Soviética foi mais positiva. "Uma razão para isto é que na virada do milênio não havia nenhum homem forte do serviço secreto que pudesse explorar as fraquezas do sistema político para sua própria base de poder", diz Benjamin Schenk, professor de História da Europa Oriental e de História Geral Moderna no Departamento de História da Universidade da Basiléia. "É por isso que o poder de mídia dos oligarcas concorrentes nunca foi esmagado na Ucrânia, o que assegurou um pluralismo impressionante de opiniões diferentes na televisão ucraniana, até muito recentemente."

A sociedade civil ucraniana também foi capaz de se desenvolver livremente nos últimos 20 anos - em contraste com a Rússia sob Putin. O contato intensivo com pessoas da Europa Central e Ocidental também teve um efeito positivo no país nos últimos anos: em parte devido ao regime de isenção de vistos na União Europeia desde 2017. Além disso, muitos ucranianos alimentaram a esperança de participar do projeto de paz "União Europeia" de uma forma ou de outra, num futuro próximo.

Num vácuo

Em relação à Rússia atual, Benjamin Schenk aponta que as pessoas nas zonas de ocupação ocidental da Alemanha do pós-guerra foram literalmente instruídas pelos aliados para a democracia – ao contrário da Rússia pós União Soviética. Com o Plano Marshall, a reconstrução e a fundação de uma união econômica europeia, lançaram-se os as bases para o milagre econômico na Alemanha, no início da República Federal. Na Rússia, no entanto, não existiram programas deste tipo após 1991. De acordo com Schenk, este foi mais um dos motivos pelos quais a democracia não teve uma posição comparável na Rússia.

Ulrich Schmid concorda com este ponto de vista - e vê oportunidades correspondentes no futuro. "Após a II Guerra Mundial, os alemães foram forçados a se vincular ao projeto ocidental de direitos humanos, democracia e tolerância", diz ele. "Esta abordagem só foi possível porque o país se rendeu, e foi ocupado por potências ocidentais. Não há dúvida de que a Rússia também deve assumir a responsabilidade por seus crimes de guerra. Mas tal reavaliação do passado só será possível após o fim da era Putin".

Assim, os dois vizinhos desiguais - Rússia e Ucrânia - enfrentam agora pontos de partida muito diferentes, com vistas a um período pós-guerra no futuro: enquanto na Ucrânia a luta defensiva e a solidariedade internacional fortaleceram o apoio aos valores de uma sociedade livre e democrática, a maioria dos russos que se aqueceram com tais desenvolvimentos antes da guerra deixaram o país.

Então, o que a Rússia precisa no futuro para uma mudança democrática? Ulrich Schmid faz uma lista: "Uma imprensa livre, que denuncia os abusos, um judiciário independente, que estabelece a segurança jurídica. E precisa de uma sociedade civil vigilante, que não se deixe adormecer pela propaganda."

Falhas do Ocidente

Benjamin Schenk, por sua vez, denuncia os fracassos do Ocidente. "O Ocidente poderia e deveria ter apoiado muito mais a democratização do país, seja com uma ajuda econômica abrangente, seja com programas de intercâmbio para alunos e estudantes, com uma rede de parcerias entre cidades ou com a abolição da obrigatoriedade de visto para os viajantes."  Ele também diz que o Ocidente "não deveria ter apoiado ativamente a nova elite econômica russa na pilhagem do país por interesse próprio."

"As especialistas e os especialistas da sociedade civil russa sabem melhor do que eu, quais são as medidas necessárias na Rússia", diz Schenk. "Eles não precisam de nenhum conselho de minha parte."

SWI

O Novo Conceito Estratégico da OTAN




O Emb Sérgio Duarte* analisa o "NATO 2022 Stratgic Concept" apresentado em Junho 2022.
 
Considerações gerais
 
A reunião de cúpula da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) realizada em Madrid de 28 a 30 de junho último teve com o objetivo principal de assegurar a adaptação da Aliança Atlântica às mudanças ocorridas no mundo desde a última reunião desse tipo, ocorrida em 2010. O conclave adotou o novo “Conceito Estratégico”, que deverá orientar as ações da Aliança no curto e médio prazo.  

Em resumo, o documento adotado identifica a Rússia como “a ameaça mais importante e direta à segurança dos aliados, pela primeira vez trata da China e outros desafios – como o terrorismo e uso hostil da cibernética e outros avanços tecnológicos – e dedica grande atenção ao conflito entre a Rússia e a Ucrânia.

Entre as decisões tomadas estão:

- o aumento das forças militares em alerta em determinadas regiões e a defesa de países específicos, especialmente na fronteira leste; o compromisso de cada país de dedicar ao menos 2% do PIB para a defesa até 2024;

- o prosseguimento do apoio militar à Ucrânia e promessas de ajuda a outros parceiros em situação de risco, inclusive Bósnia-Herzegovina, Moldávia e Geórgia;

- o lançamento de um Fundo de Inovação,que investirá € 1 bilhão ao longo dos próximos 15 anos para desenvolvimento de tecnologias de uso duplo;

- o convite oficial à Suécia e à Finlândia para fazerem parte da Aliança e a reafirmação da política de “portas abertas” para ingresso de novos membros.

Panorama internacional

O novo Conceito Estratégico da OTAN representa a pá de cal sobre as esperanças de uma era de entendimento e cooperação que parecia haver-se aberto entre a Federação Russa e o Ocidente com a implosão da União Soviética. Deve-se recordar que o Conceito Estratégico de 2010 considerava a Rússia como possível “parceiro”. 

A sensação inicial de otimismo sobre os rumos das relações internacionais deu lugar a um período de incerteza no qual a redução das tensões consubstanciada no Tratado Novo START, do mesmo ano, foi sendo substituída por progressiva desconfiança mútua e abandono dos acordos bilaterais de controle de armamentos entre os Estados Unidos e a Rússia.

Embora não tenham ocorrido novos episódios de proliferação de armas nucleares além dos atuais nove possuidores, revelou-se impossível conter as ambições da Coreia do Norte, se prepara para novo ensaio com explosivos, enquanto o combalido acordo denominado JCPOA com o Irã ameaça soçobrar sem realizar seus objetivos.

Os limites numéricos de ogivas nucleares e vetores fixados pelo Novo START permanecem em vigor, mas os aperfeiçoamentos tecnológicos introduzidos desde então tornam necessário um novo entendimento entre as duas principais potências, que no entanto parece no mínimo remoto. Nenhum dos dois países se mostra interessado em estabelecer novos padrões de controle sobre seu armamento. Por sua vez, a China se esforça por acompanhar a evolução da tecnologia bélica e por expandir sua presença militar no oceano Pacífico e sua influência no mundo em desenvolvimento.
  
O avanço da Aliança Atlântica para o leste, englobando a maior parte dos países da Europa Oriental que anteriormente se encontravam sob o domínio da URSS acentuou a preocupação de Moscou com questões relativas a sua segurança. Historicamente ciosa de sua importância geopolítica e limitada pelo relativo isolamento que a geografia lhe impõe, a Rússia parece agora empenhada em recuperar a importância e prestígio de que desfrutou nos tempos da Guerra Fria.  

Nos últimos anos a evolução do relacionamento Leste-Oeste seguiu a lógica da desconfiança e da hostilidade. Enquanto os Estados Unidos adotavam uma orientação de aberta confrontação com sua rival e destinavam recursos crescentes à “modernização” de seus arsenais, o caminho escolhido pela Rússia foi o de rearmamento, intervenção militar e ameaça não muito velada de uso de armas nucleares.

Assim como em uma briga entre jovens, não importa estabelecer quem é o maior responsável pela situação atual. Embora todos os membros das Nações Unidas estejam obrigados pela Carta a solucionar suas divergências por meios pacíficos e a abster-se do uso ou ameaça da força em suas relações internacionais, desde 1945 não se verificava a ocorrência de agressão militar entre países europeus, como ocorreu em fevereiro último com o ataque russo contra a Ucrânia a pretexto de resguardar interesses nacionais.

Por um breve momento, a declaração dos presidentes das duas potências em junho de 2021 no sentido de que “uma guerra nuclear não terá vencedores e não deverá jamais ser travada” pareceu prenunciar a retomada da tendência a um entendimento estratégico que levasse à progressiva redução dos riscos de confrontação armada e de uma hecatombe nuclear. Esses propósitos, porém, não tiveram seguimento.

As consequências negativas da invasão da Ucrânia pela Rússia vão desde a desorganização do fornecimento de combustíveis à Europa ocidental à ameaça de desabastecimento de grãos básicos oriundos da Ucrânia para regiões menos desenvolvidas do mundo, sem falar na tragédia humana e social representada pela destruição e pelo deslocamento de milhões de pessoas afetadas pela guerra. Inflação, aumento da pobreza e rearmamento, em lugar de investimentos produtivos, são outros efeitos nefastos que já começam a fazer-se sentir. No que respeita especificamente à segurança europeia, em vez de opor um freio à expansão da OTAN a invasão teve o efeito contrário de reforçar a união dos países ocidentais, promover a entrada na Aliança de novos membros que até agora hesitavam e facilitar o acordo para o aumento da contribuição de todos ao orçamento militar da Organização. 

O arcabouço de normas e pressupostos em que se baseava a convivência internacional desde o fim da Segunda Guerra Mundial se encontra gravemente combalido. A conclusão inevitável é que ordem mundial estabelecida desde 1945 já não corresponde à realidade contemporânea.

O novo Conceito Estratégico
 
O novo Conceito Estratégico 2022 aprovado em Madrid substitui o documento anterior, datado de 2010, e se inicia reconhecendo a existência de desafios críticos para a paz e estabilidade internacionais em um mundo imprevisível, no qual a OTAN percebe ameaças persistentes de terrorismo, instabilidade, competição estratégica crescente e avanço do autoritarismo, em contraposição aos interesses e valores da Aliança. 

Define também os três elementos básicos de sua ação: dissuasão e defesa, prevenção e gestão de crises e segurança cooperativa, além de ressaltar o caráter essencialmente defensivo da instituição.

Os líderes europeus concordaram em aumentar consideravelmente, até o próximo ano, dos atuais 40.000 para 300.000 homens, os efetivos militares das forças de reação rápida ao longo da fronteira oriental, desde a Romênia até os países bálticos. A inclusão da Suécia e da Finlândia, já aprovada em princípio pela Aliança, acrescentará 1.300 quilômetros à linha que separa a OTAN da Rússia.

No que parece ser um gesto de aproximação, o Conceito enfatiza em várias passagens a ameaça mais importante e direta à segurança de seus membros e à paz e estabilidade no espaço euro-atlântico, representada pela Rússia, mas afirma a disposição de manter abertos os canais de comunicação com Moscou a fim de mitigar os riscos, evitar a escalada e aumentar a transparência.

O documento vê também na China uma ameaça aos interesses, segurança e valores da OTAN ao procurar expandir sua influência no mundo e projetar seu poder mantendo pouco transparentes suas intenções e desenvolvimento militar, mas registra a disposição de levar adiante um engajamento construtivo com a potência asiática.

Mais além do horizonte europeu, o Conceito Estratégico aborda a existência de conflitos e a fragilidade e instabilidade na África, particularmente no norte e no Sahel, onde mudanças climáticas e insegurança alimentar continuam a estimular o êxodo de imigrantes para a Europa, e afirma que a situação no Oriente Médio afeta diretamente a segurança da OTAN e seus parceiros. Ressalta também a importância da região do Indo-Pacífico para o tratamento de desafios comuns e interesses compartilhados. Não há nenhuma menção à América Latina.

O documento reconhece o impacto negativo sobre a estabilidade estratégica da erosão da arquitetura de controle de armamentos, desarmamento e não proliferação, e imputa à Rússia violações e implementação seletiva de obrigações nesse campo, que teriam contribuído para a deterioração do panorama mais amplo de segurança. Novamente menciona nesse contexto a atuação da China, que expande rapidamente seu arsenal nuclear e desenvolve sistemas sofisticados de lançamento sem aumentar a transparência e nem se engajar de boa fé em atividades voltadas para o controle de armamentos e redução de riscos.

Reafirma, finalmente, o compromisso com a implementação integral do Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares, inclusive o Artigo VI e reitera o objetivo de “criar um ambiente de segurança para um mundo sem armas nucleares”. 

Comentário

O Conceito Estratégico é perfeitamente claro e incisivo ao definir e defender os interesses da aliança atlântica, que até certo ponto coincidem, ainda que com nuances, com os de boa parte da comunidade internacional, com a qual a OTAN se declara disposta a cooperar. O documento se dirige também a outros países do entorno europeu que pretendam tornar-se membros, inclusive a Geórgia e a Ucrânia, confirmando o que parece ser a intenção de prosseguir em direção ao leste.

Nesse particular, é evidente a profunda divergência com o interesse da Rússia de evitar a expansão da Aliança para o Cáucaso e mais além. No curto prazo este é sem dúvida o principal fator de instabilidade, e não apenas para a Europa.

O tom das menções e acusações à China ao longo do texto é mais suave do que o utilizado em relação à Rússia. Na visão da OTAN, esta última busca o estabelecimento de esferas de influência e de controle direto mediante coerção, subversão, agressão e anexação de territórios, além de disposição de usar a força para seus objetivos políticos e para solapar a ordem internacional baseada em normas. Pequim é acusada de ambicionar o controle de setores-chave de tecnologia, infraestrutura, materiais estratégicos e cadeias de suprimento, além de dedicar-se a práticas comerciais e financeiras condenáveis.

As reações imediatas da Rússia e da China vieram por meio de declarações de suas autoridades. O presidente Putin disse que não vê problemas na entrada da Suécia e Finlândia para a OTAN, mas que tomará as medidas de segurança que considerar cabíveis. O ministro do exterior Sergey Lavrov afirmou que está sendo criada uma nova “cortina de ferro” entre a Rússia e o Ocidente.

A China, por sua vez, reagiu dizendo que o verdadeiro desafio sistêmico à paz e estabilidade mundiais é a própria OTAN, que não cessa de ampliar-se além de seus limites regionais. Para Pequim, atitude da OTAN representa uma “relíquia da Guerra Fria”, que não teria mais lugar no mundo de hoje.

Não é demais recordar que algumas das estratégias e métodos atribuídos às duas potências, afinal, pouco ou nada diferem das utilizadas pelos países ocidentais em outros momentos da História em relação ao restante do mundo para obter e assegurar hegemonia política e econômica.  

O Conceito retoma a ideia, cara a certos setores do pensamento político norte-americano, de que é necessário subordinar a adoção de medidas efetivas de desarmamento nuclear à criação de um ambiente de segurança favorável. Muitos analistas consideram que essa posição na verdade impede qualquer progresso no sentido de passos construtivos e sequenciais em direção ao desarmamento nuclear. Nesse sentido, o documento justifica a permanência de seu próprio armamento atômico “enquanto as armas nucleares existirem”. Essa convicção, expressa com essa fórmula que denota o interesse em preservá-las, explica a feroz resistência a iniciativas de proibição linear das armas nucleares como passo inicial para sua completa eliminação.

É visível a preocupação dos redatores do Conceito Estratégico em enfatizar as finalidades pacíficas da aliança atlântica e ressaltar o caráter defensivo e não excludente de suas intenções, assim como o compromisso de trabalhar em prol de uma paz equânime e duradoura, com base em regras reconhecidas e respeitadas por todos.

A comunidade internacional certamente compartilha os propósitos descritos no final do Prefácio o documento: um mundo no qual a soberania, integridade territorial, os direitos humanos e o Direito Internacional sejam respeitados e no qual cada país possa escolher seu próprio caminho, livre de agressão, coerção ou subversão. É necessário que todos participem do desenvolvimento, elaboração e  adoção dos instrumentos que permitam atingir esses objetivos.

*Embaixador. Presidente das Conferências Pugwash sobre Ciência e Assuntos Mundiais.  Ex-Alto Representante das Nações Unidas para Assuntos de Disarmamento.

DefesaNet

Em destaque

Tragédia em Sergipe: Rodovia cede e causa a morte de três pessoas

  Tragédia em Sergipe: Rodovia cede e causa a morte de três pessoas domingo, 12/01/2025 - 18h40 Por Redação Foto: Divulgação Pelo menos três...

Mais visitadas