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sábado, março 05, 2022

A guerra é aqui




Por excesso de dependência, Brasil é pego de calça curta na guerra, como na pandemia

Por Eliane Cantanhêde (foto)

Depois de falar com o russo Vladimir Putin, o francês Emmanuel Macron avisou ao mundo que “o pior está por vir na Ucrânia”. Quem avisa amigo é, e o pior não atinge só a Ucrânia, bombardeada, invadida e ameaçada de extinção, mas também potências e países periféricos. O Brasil não passa ileso.

Os efeitos da guerra em si, e do cerco e das sanções à Rússia, já começam a chegar, não na forma de bombas, tanques e tiros, mas de ameaça ao fornecimento e aos preços de gás, combustível, fertilizantes e trigo. Logo, às famílias, empresas e economia, com mais inflação e juros, menos crescimento e empregos.

Na pandemia de covid-19, o Brasil foi pego de calças curtas pelo excesso da dependência externa de insumos para vacinas e medicamentos, respiradores e equipamentos hospitalares e até máscaras. Há uma década, produzia 55% dos IFAs (Ingredientes Farmacêuticos Ativos) e, agora, 5%. Ou seja, importa 95%.

Na guerra da Rússia contra a Ucrânia, o Brasil está novamente frágil, pelo excesso de dependência de fertilizantes, apesar de ser um dos três maiores produtores agrícolas do mundo, e também de trigo, um dos dois principais alimentos na mesa dos brasileiros, junto com o arroz.

O País importa 85% dos fertilizantes que consome, 1/3 disso da Rússia e de Belarus. Segundo a ministra Tereza Cristina, o problema será na próxima safra, entre agosto e setembro. E propõe: ampliar os fornecedores, com foco no Canadá; facilitar os processos de importação; a Embrapa ensinar como usar menos fertilizantes.

E o Brasil é autossuficiente e até exporta soja e milho, utilizados para a pecuária, mas é dependente do trigo, único grão de consumo estritamente humano, base para pães, macarrão, bolos e biscoitos. Importa 60% do consumo interno, 85% da Argentina, mas a Rússia é o maior exportador no mundo e a Ucrânia está entre os dez maiores produtores. Os preços internacionais dispararam. Bom para a Argentina, ruim para o Brasil.

Ontem, o presidente da Associação Brasileira da Indústria do Trigo (Abitrigo), ex-embaixador Rubens Barbosa, pediu a Tereza Cristina atenção a dois planos há anos na gaveta do governo. Um, de 2019, é da própria associação e o outro, de 2020, é da Embrapa – estatal –, prevendo produzir trigo no Cerrado. Custaria R$ 3 milhões e acarretaria uma economia de R$ 450 milhões por ano.

O presidente Jair Bolsonaro, aliás, tem uma saída para os fertilizantes: explorar potássio em reservas indígenas. E ataca: “o Brasil foi em parte inviabilizado no passado com a indústria da demarcação das terras indígenas”. Guerra? Que nada! O problema são os indígenas.

O Estado de São Paulo

EUA devem reconhecer Taiwan "livre", afirma ex-secretário de Estado Mike Pompeo

 




O ex-secretário de Estado americano Mike Pompeo discursa em Taipé 

Os Estados Unidos deveriam reconhecer diplomaticamente Taiwan "livre e soberana", disse Mike Pompeo, ex-secretário de Estado durante a presidência de Donald Trump, durante sua visita a esta ilha.

Embora Washington deva manter sua relação com Pequim como um governo soberano, "não se pode continuar ignorando, evitando ou tratando como secundário" oferecer um reconhecimento diplomático a Taiwan, disse Pompeo, que foi um dos integrantes mais duros com a China do ex-presidente republicano.

"O governo dos Estados Unidos deveria imediatamente adotar os passos necessários e muito atrasados para fazer o correto e óbvio, que é oferecer à República da China o reconhecimento diplomático como país livre e soberano", afirmou.

República da China é o nome oficial de Taiwan, em contraposição à República Popular da China governada pelo Partido Comunista em Pequim.

Após o fim da guerra civil da China, o grupo nacionalista derrotado fugiu para Taiwan em 1949, mas continuou sendo considerado o governo legítimo de todo o país.

Durante muito tempo, parte da comunidade internacional manteve relações diplomáticas com Taipé em vez de Pequim, mas atualmente apenas 15 países não reconhecem oficialmente a China comunista.

O governo dos Estados Unidos deu este passo em 1979, embora tenha permanecido como o aliado mais importante de Taiwan e seu principal fornecedor de armas.

A visita de Pompeo ocorre em um contexto de crescente tensão a respeito da ilha governada democraticamente, considerada por Pequim como um território próprio que algum dia será recuperado, inclusive pela força se necessário.

AFP / DefesaNet

A emergência não é climática, mas civilizatória




Por Geraldo Luís Lino 

De forma mais que previsível, as fortes chuvas de verão que têm castigado vários estados brasileiros, causando centenas de mortes, enormes prejuízos materiais e desarticulando os cotidianos de várias cidades, têm sido lançadas na conta da mudança climática, reforçando os apelos do ativismo alarmista pela decretação de uma emergência climática.

Assim, a tragédia em Petrópolis, na Região Serrana do Rio de Janeiro, quando uma tempestade concentrada causou mais de 250 mortes, em 15 de fevereiro, foi prontamente explicada pelo Observatório do Clima (OC) como uma “digital da mudança do clima”.

Em janeiro, segundo o Greenpeace, os problemas causados pelas chuvas fortes no Rio de Janeiro, Maranhão, Tocantins, Piauí, Bahia e Minas Gerais foram decorrentes do “descaso político e negligência do Brasil com a crise climática (Greenpeace, 13/01/2022)”.

Um mês depois, a ONG do “arco-íris” conclamou os governadores dos estados brasileiros a decretarem um estado de “emergência climática”: “Chega de descaso político com a crise climática! Ainda que a responsabilização das três esferas públicas seja urgente e necessária, as medidas de adaptação aos eventos extremos precisam ser pensadas de acordo com a dinâmica da realidade de cada território. Por isso fazemos um chamado aos governadores para que decretem emergência climática e executem planos de adaptação (Greenpeace, 15/02/2022).”

Ora, é preciso repetir à exaustão, como este Alerta tem feito: não existe crise ou emergência climática; os problemas causados pelas chuvas de verão no Brasil são recorrentes e não há nada de inusitado nos volumes de chuvas que têm caído sobre o País no atual, salvo em casos pontuais como o de Petrópolis, que recebeu o maior volume de chuvas em um dia em 90 anos. Ainda assim, fortes temporais de verão são uma constante no estado do Rio de Janeiro, assim como os grandes danos causados por eles e, principalmente, as justificativas posteriores das autoridades para explicar a inação e a falta de providências que ajudariam a mitigar consideravelmente as consequências daqueles eventos meteorológicos. Para ficar apenas nas seis décadas anteriores, recordem-se os temporais de 1966, 1967, 1971, 1988, 1992, 1996, 1998, 2001, 2010 e 2011, responsáveis por literalmente milhares de mortes.

Destes, resultaram apenas alguns poucos efeitos práticos no sentido da prevenção. Um deles foi a criação do Instituto de Geotécnica do Rio de Janeiro (atual Fundação Geo-Rio), após o devastador temporal de 1966, que realizou numerosas obras de contenção nos morros da cidade, as quais contribuíram sobremaneira para reduzir os danos das tempestades posteriores. Outro foi o aprimoramento dos sistemas de defesa civil, reforçado pelo emprego de radares meteorológicos, capazes de antecipar em algumas horas a ocorrência de chuvas fortes. A criação do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), após a tragédia que se abateu sobre a Região Serrana do Rio de Janeiro em 2011, reforçou o elenco de medidas preventivas.

Porém, os resultados dessas providências positivas têm sido neutralizados, em grande medida, pela persistência do descaso diante dos problemas de gerenciamento de um espaço urbano vasto e complexo como o do Rio de Janeiro e dos municípios vizinhos, fisicamente espremidos entre a Serra do Mar e as áreas planas da Baixada Fluminense. Aí, uma população de mais de 12 milhões de pessoas se debate com os problemas decorrentes da precariedade das infraestruturas de drenagem, saneamento, coleta e disposição de lixo, além da ocupação disseminada de áreas de risco, como encostas e várzeas de rios, que afetam principalmente a população de baixa renda. Problemas que se repetem em todos os estados brasileiros.

A ênfase que tem sido atribuída à mudança climática (expressão pleonástica, dado que a mudança é o estado natural do clima) tem contribuído negativamente para distorcer a percepção dos verdadeiros problemas que afetam a qualidade de vida e a segurança das populações urbanas, além da prioridade que deveriam receber nas políticas públicas. No Rio de Janeiro, por exemplo, a Prefeitura tem uma Gerência de Mudanças Climáticas e Desenvolvimento Sustentável, no âmbito da Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Conservação, cuja função é coordenar a “adoção de políticas públicas visando reduzir e combater os efeitos climáticos na cidade”. Convenhamos que o fato de um município –  mesmo com as dimensões da metrópole carioca – ter uma “política climática” implica em um desperdício de recursos humanos e energias que poderiam ter melhor utilização no enfrentamento dos problemas reais da população, os quais, no entanto, vale enfatizar, não podem ser equacionados isoladamente.

Em essência, as tragédias meteorológicas corriqueiras nada têm a ver com uma imaginária “emergência climática”. Ao contrário, são consequências de problemas socioeconômicos estruturais da sociedade brasileira, decorrentes de um déficit civilizatório persistente, que só poderá ser revertido com uma vasta mobilização de cidadania conscientizada e vontade política, capaz de recolocar o País no caminho do desenvolvimento e da redução das desigualdades, no âmbito de um vasto projeto de reconstrução nacional. Esta, sim, é a verdadeira emergência nacional.

MSIa

Biden quer 'fortalecer a relação' com a Finlândia




O presidente americano, Joe Biden, avaliou nesta sexta-feira (4) que há "uma oportunidade para fortalecer ainda mais a relação" com a Finlândia, país fronteiriço com a Rússia, ao receber seu contraparte finlandês, Sauli Niinisto, na Casa Branca.

A Finlândia "é um importante aliado dos Estados Unidos, um forte parceiro na área da defesa e um parceiro da Otan para reforçar a segurança do Mar Báltico", disse o presidente americano no Salão Oval da Casa Branca.

"Quero agradecer sua liderança. Estamos precisando disso neste momento", afirmou o presidente finlandês.

"Temos uma associação de muitos anos, relações muito boas, e espero (...) que possamos fortalecê-las, entre os Estados Unidos, a Finlândia e todos os países nórdicos", disse.

Nenhum dos dois dirigentes mencionou uma possível adesão da Finlândia à Otan.

A invasão russa da Ucrânia tem provocado um acalorado debate na Finlândia sobre se o país deveria entrar na Otan e uma pesquisa recente mostrou que pela primeira vez, a maioria dos finlandeses é favorável a esta adesão.

O presidente finlandês tentou acalmar os ânimos, dizendo na quinta-feira que "em meio a uma crise aguda, (é) particularmente importante manter a mente fria e avaliar cuidadosamente o impacto da crise ucraniana na nossa segurança".

Uma adesão da Finlândia à Otan, possivelmente seguida da Suécia, enfureceria Moscou, que não quer que a aliança militar se estenda, aproximando-se de suas fronteiras. ]

AFP / Estado de Minas

Putin: vizinhos da Rússia não devem agravar tensões



Presidente russo afirma que não há más intenções com vizinhos

Moscou - O presidente da Rússia, Vladimir Putin, pediu hoje (4) aos países vizinhos da Rússia que não aumentem as tensões, oito dias depois que Moscou enviou suas forças para a Ucrânia.

"Não há más intenções em relação aos nossos vizinhos. E eu também os aconselharia a não agravar a situação, a não introduzir quaisquer restrições. Cumprimos todas as nossas obrigações e continuaremos a cumpri-las", disse Putin em comentários transmitidos pela televisão.

"Não vemos aqui qualquer necessidade de agravar ou piorar nossas relações. E todas as nossas ações, se surgirem, são sempre exclusivamente em resposta a algumas ações hostis, ações contra a Federação Russa."

Putin foi mostrado na TV participando online, de sua residência fora de Moscou, em uma cerimônia de hasteamento da bandeira de uma balsa no Norte do país.

Guerra de informação

O Parlamento da Rússia aprovou nesta sexta-feira lei que impõe pena de prisão de até 15 anos por divulgação intencional de informações "falsas" sobre as Forças Armadas, enquanto Moscou reage ao que classifica como guerra de informações sobre o conflito na Ucrânia.

Autoridades afirmam repetidamente que informações falsas têm sido espalhadas intencionalmente por inimigos da Rússia, como Estados Unidos e seus aliados da Europa Ocidental, na tentativa de semear discórdia entre o povo russo.

Os parlamentares aprovaram emendas ao código criminal, tornando a disseminação de informações "falsas" crime que pode ser punido com multas ou penas de prisão. Os parlamentares também impuseram multas por pedidos públicos de sanções contra a Rússia.

"Se as falsidades levarem a sérias consequências, há risco de prisão de até 15 anos", disse a câmara baixa do Parlamento, conhecida como Duma em russo, em comunicado.

A Duma delineou escala móvel de punições para qualquer um que tenha desacreditado as Forças Armadas, com penalidades mais duras para aqueles que intencionalmente espalham informações falsas ou pedem ações públicas.

As emendas, que não puderam ser vistas pela Reuters no site da Duma, parecem dar ao Estado russo poderes muito mais fortes para reprimir.

"Literalmente, a partir de amanhã (5) a lei reforçará a punição - e punição muito dura - para aqueles que mentiram e fizeram declarações que desacreditaram nossas Forças Armadas", disse Vyacheslav Volodin, presidente da Duma.

RTP - Rádio e Televisão de Portugal

Agência Brasil

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Cidade ucraniana sitiada de Mariupol está ficando sem comida


Prefeito da cidade faz apelo por ajuda militar

Lviv (Ucrânia) - A cidade ucraniana de Mariupol não tem água, aquecimento ou eletricidade e está ficando sem comida depois de ter sido atacada por forças russas nos últimos cinco dias, disse seu prefeito nesta sexta-feira (4).

O prefeito Vadym Boychenko fez um apelo televisionado por ajuda militar e disse que um corredor humanitário deve ser criado para retirar os civis da cidade portuária do sudeste do país.

"Estamos simplesmente sendo destruídos", disse.

Reuters / Agência Brasil

Otan diz que "pior ainda está por vir" na Ucrânia

 




Aliança recusa pedido de Kiev para criar zona de exclusão aérea, temendo uma guerra total na Europa. Secretário-geral alerta para mais mortes nos próximos dias.

O secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, afirmou nesta sexta-feira (04/03) que a aliança militar do Atlântico Norte não imporá uma zona de exclusão aérea sobre a Ucrânia, após os pedidos do presidente ucraniano, Volodimir Zelensky.

"O único jeito de implementar uma zona de exclusão aérea é enviar caças da Otan para o espaço aéreo ucraniano, e impor a medida por meio da derrubada de aviões russos", explicou, após uma reunião de emergência com os ministros do Exterior dos Estados-membros.

Kiev havia pedido a medida para ajudar a impedir os bombardeios a várias cidades ucranianas. "Se fizéssemos isso, acabaríamos com algo que poderia levar a uma guerra total na Europa, com o envolvimento de mais países e com muito mais sofrimento humano. Esta é a razão pela qual tomamos essa dolorosa decisão."

Stoltenberg alertou que "os próximos dias serão provavelmente piores, com mais mortes, mais sofrimento e mais destruição, enquanto as Forças Armadas russas trazem armamentos ainda mais pesados e continuam os ataques em todo o país".

O ministro ucraniano do Exterior, Dmytro Kuleba, lamentou a decisão: "Minha mensagem: ajam agora antes que seja tarde demais. Não deixem [o presidente russo, Vladimir] Putin transformar a Ucrânia em uma Síria. Estamos prontos para lutar, continuaremos lutando. Mas, precisamos de parceiros que nos ajudem agora com ações concretas, resolutas e rápidas", escreveu em seu perfil no Twitter.

Defesa do território da Otan

A Otan reforçou sua presença nos países do Leste Europeu e membros da aliança anunciaram o envio de armamentos para ajudar a Ucrânia a defender a si própria. "Não somos parte desse conflito e temos a responsabilidade de assegurar que a situação não se agrave e se espalhe para além da Ucrânia", afirmou o secretário-geral da aliança.

"Faremos todo o necessário para proteger e defender cada centímetro do território da Otan. A Otan é uma aliança de defesa. Nossa tarefa primordial é manter nossos 30 países em segurança", disse Stoltenberg.

Kiev havia dito que, caso a Otan se recuse a fechar o espaço aéreo ucraniano, os aliados deveriam então enviar aviões e sistemas de defesa antiaérea ao país. Até agora, os países europeus vêm se recusando a enviar aeronaves, prometendo apenas armamentos mais leves e sistemas de mísseis antitanques e antiaéreos.

Deutsche Welle

Estamos todos com a Ucrânia, mas é a Ucrânia que luta por todos nós.

 




A Rússia não irá parar na Ucrânia tal como nada impedirá a China de continuar a exercer a sua influência económica e tecno-autoritária para além das suas fronteiras. 

Por Marta Mucznik (foto)

“#IstandwithUkraine” tornou-se, e bem, o hashtag da ordem do dia juntamente com a exibição das cores da bandeira ucraniana, o azul e o amarelo, e as manifestações em massa de solidariedade com o povo ucraniano. Mas por cada ‘#IstandwithUkraine’, devemos estar conscientes de que neste momento, quem luta por todos nós e em nosso nome é a Ucrânia, liderada pelo Presidente Zelensky, que está na linha da frente de um combate que extravasa em larga escala a fronteira Russo-Ucraniana e que nos diz respeito a todos, no conforto das nossas casas, no Ocidente.

Não se trata apenas da Ucrânia, como tem alertado, vezes sem conta, o corajoso presidente nos seus sucessivos apelos aos líderes europeus e ocidentais. Esta invasão é também uma declaração de guerra às democracias liberais. Putin tudo fará para impedir uma Ucrânia soberana, independente e democrática junto das suas fronteiras, que o líder Russo vê como ameaça direta ao seu regime. Como já tem sido amplamente discutido e analisado, Putin quer marcar a sua posição face ao Ocidente e manter a sua esfera de influência nos países vizinhos e fá-lo num contexto geopolítico mais vasto, marcado pela rivalidade das grandes potências, que opõe regimes autocratas e ditadores, por um lado, e democracias liberais ocidentais, por outro: onde se esgrimam ideias, valores, modos de vida, liberdades e modelos distintos de governança global.

Muito se tem falado sobre o declínio do Ocidente e a impotência da Europa em lidar com este mundo novo dominado pela rivalidade das grandes potências. Para este mundo, a ordem multilateral que nasceu das cinzas da WWII, o multilateralismo da unanimidade, não pode, nem consegue, dissuadir esta ameaça nem dar resposta à bipolarização que parece vir a definir o contexto geopolítico do século XXI. Talvez sejam necessárias novas formas de organização multilateral, novas alianças e uma nova arquitetura de segurança. Ou talvez um novo sentido de missão e um investimento redobrado nas instituições e formatos que já existem que unam países com os mesmos valores em torno de objetivos comuns. Este tem sido o grande objetivo da administração Biden, que elegeu a defesa das democracias e o combate aos regimes autoritários como o grande desafio ideológico e global dos nossos tempos, o sucessor da guerra fria e da guerra contra o fundamentalismo islâmico como principio inspirador da política externa norte-americana. Tem sido, de resto, a abordagem preferencial das sucessivas administrações americanas que, em diferentes momentos da história recente, não hesitam em avançar para formatos de coligações de países like-minded quando confrontados com a iminência do dia e para prosseguir os seus objetivos estratégicos, seja no Indo-Pacífico, na Europa ou no Médio Oriente.

É neste contexto que surgem também, com cada vez mais frequência, promessas de Bruxelas e de líderes europeus de afirmar a “Comissão Geopolítica” e de aprender a falar também a “linguagem do poder” e não apenas a da “paz” ou do “soft power” europeu. Muita tinta tem corrido sobre o sonho da autonomia estratégica da UE e o assumir de mais responsabilidades pela segurança europeia na vizinhança a leste. E apesar da coordenada e quase heroica demonstração de unidade europeia e transatlântica na resposta à invasão da Ucrânia, esta guerra veio reforçar a urgência e a necessidade de a UE se dotar de um verdadeiro exército europeu e de uma verdadeira autonomia estratégica, investindo mais na defesa e delegando mais poderes nesse domínio na UE. Só assim poderá a UE afirmar-se como ator global e credível, capaz de agir em tempo real e de intervir em crises. Mas para isso é preciso confrontar o “elefante na sala”, ou seja, equacionar uma maior integração europeia no domínio da política externa e de segurança e defesa, recorrendo, por exemplo, ao voto por maioria qualificada em determinadas áreas da política externa, como aliás já defendi aqui.

Esta é uma discussão complexa e com repercussões a múltiplos níveis, defendida por alguns e rejeitada por outros, para além de controversa junto de muitos Estados membros. Mas é uma discussão que merece maior atenção no espaço europeu e que, atendendo aos desenvolvimentos recentes, poderá vir a estar na ordem do dia daqui em diante. Poder-se-ia por exemplo ponderar o voto por maioria qualificada dentro de determinados limites e apenas em poucos domínios ou mesmo num registo ad-hoc, sem pôr em causa o princípio da unidade e coesão europeias e sem que os Estados membros abdiquem dos respetivos interesses nacionais. De resto uma ideia já defendida pela atual Presidente da Comissão Europeia, Úrsula Von der Leyen. Mas não tenhamos ilusões: a autonomia estratégica só se tornará uma realidade quando existir de facto uma cultura estratégica comum a 27, o que implica necessariamente que os Estados-membros estejam dispostos, não só a aumentar os gastos na defesa, como a abdicar de determinadas prerrogativas em prol do papel e ação da UE nos assuntos globais.

A Rússia não irá parar na Ucrânia tal como nada impedirá a China de continuar a exercer a sua influência económica e tecno-autoritária para além das suas fronteiras. As provocações russas a leste continuarão, tal como as ameaças híbridas, a guerra da desinformação e a interferência nos processos democráticos dos nossos países. Cabe aos Estados membros e a todos nós, cidadãos europeus, refletir sobre o papel que queremos que a UE desempenhe no mundo. A impotência de que muitos falam não é só dessa figura vaga a que chamamos “o Ocidente”. Também não é só da UE. É de todos nós, porque todos nós somos o Ocidente e todos nós somos a UE. E no final do dia, a UE mais não é do que a soma das suas partes.

Observador (PT)

O visionário que previu o conflito




Alerta contra a expansão da Otan é o mais lembrado, mas George Kennan também advertiu para o fortalecimento das instituições ocidentais que já não são mais alvo da investida comunista, mas do populismo de direita

Por Maria Cristina Fernandes (foto)

No dia 18 de janeiro de 1990, George Kennan, maior conhecedor da Rússia na história da diplomacia americana, chegou ao Comitê de Relações Internacionais do Senado. Tinha 86 anos e viu-se na obrigação de se preparar exaustivamente para falar sobre o estado da arte da relação entre os dois países.

Lá encontrou um único senador, representante de Delaware, 48 anos, e no exercício do seu terceiro mandato. O esvaziamento da sessão “reduziu sobremaneira a qualidade do evento”, disse Kennan, ao considerá-la sua despedida da vida pública.

A melancolia testemunhada por Joe Biden naquela audiência pública foi a de um diplomata que viu se perderem todas as fichas apostadas na suspensão da escalada armamentista. Trinta e dois anos depois, o presidente americano recusa-se a enviar tropas e lidera a política de sanções contra a brutalidade do ataque à Ucrânia.

Durante mais de três décadas no Senado, porém, Biden participou ativamente do debate e da formulação da política externa americana que acabou por reescrever as diretrizes deixadas por Kennan, morto em 2005, aos 101 anos.

Entre 2001 e 2009, as despesas do Pentágono cresceram 70%. Passaram de um terço dos gastos militares mundiais para metade. Durante metade desse período, Biden presidiu a Comissão de Relações Exteriores do Senado.

Bancadas republicanas e democratas têm defendido, em nome da geração de empregos, a indústria bélica estrategicamente distribuída em estados-chave da Federação. Foi assim que se construiu o apoio parlamentar às intervenções americanas no Afeganistão, no Iraque e na Síria.

No momento daquela audiência pública, Vladimir Putin estava em seu penúltimo ano de KGB, de onde sairia para entrar na política e, em 1999, substituir Bóris Iéltsin no poder, de onde não sairia mais. Nascido no ano em que Kennan tornou-se embaixador em Moscou, Putin é representante da geração que o diplomata americano apontou como aquela que carregaria tanto os traumas da ditadura comunista quanto das humilhações decorrentes da dissolução da URSS.

Foi a liberalização desenfreada, sem instituições que pudessem regulá-la, que criou as bases para o populismo autoritário de direita na Rússia e para os oligopólios que hoje dominam a economia e sustentam Putin.

“Coisas normais como a segurança e o conforto do lar praticamente só existem nos lugares mais remotos da União Soviética. E observadores ainda não têm certeza se isso não vai deixar sua marca na geração que está ingressando na maturidade”, escreveu Kennan em 1947, sob o pseudônimo “X”, em artigo na “Foreign Affairs”.

Kennan tem sido celebrado como o visionário que, nos anos 1940, previu a guerra que ora se desenrola na Ucrânia com seus alertas sobre os acordos do pós-guerra que deram início à Guerra Fria e aqueles que, depois da queda do Muro de Berlim, fizeram avançar a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) sobre os despojos do antigo império soviético.

Nos primeiros dias da guerra, o decano dos analistas de política externa americana, Thomas Friedman, foi um dos primeiros a lembrar Kennan em sua coluna no “The New York Times”: “Ele [Putin] é um líder ruim para a Rússia e para seus vizinhos. Mas os EUA e a Otan não são espectadores inocentes nesta evolução”.

A leitura das 768 páginas do diário do diplomata americano, “The Kennan Diaries” (W. W. Norton & Company, 2014), deixa claro que seu legado não pode ser reivindicado pela extrema esquerda que ainda considera a Rússia um foco de resistência ao imperialismo americano, nem pela extrema direita que vê Putin como um aliado contra os alicerces da democracia ocidental.

O jovem diplomata de 29 anos, fluente em russo e leitor compulsivo de Anton Tchékhov, chegou a Moscou em 1933 junto com a primeira missão diplomática americana depois do reconhecimento, pelos Estados Unidos, da União Soviética. Ainda serviria mais uma vez no país, nos anos 1940, antes de voltar, em 1952, como embaixador.

Ao longo desses anos passados na Rússia, Kennan descobriu um grampo em seu gabinete e foi chamado de “inimigo da URSS” pelo “Pravda”, mas nunca perdeu a visão idílica do país - do diplomata que preferia viver na Sibéria a morar na Park Avenue, em Nova York, àquele que, às vésperas do seu centenário, sonhava estar em busca da mãe, morta na sua infância, em meio a multidões de camponeses russos.

Parece ter sido este o gás de sua busca persistente em traduzir a Rússia para os americanos. O primeiro documento que lhe deu fama foi o do telegrama de 1946, escrito depois da derrota em sua posição favorável à permanência da Alemanha como um país uno, desmilitarizado e neutro.

No telegrama, escrito a partir de Moscou, Kennan recomendou que os Estados Unidos não confrontassem o Kremlin porque Stalin precisava de um inimigo externo para justificar a ditadura. Sugeriu três caminhos - contenção, reconstrução da Europa com o que ficaria conhecido como o Plano Marshall, e fortalecimento das instituições.

A expansão da Otan ignorou a política de contenção e a reconstrução da Europa não impediu outra guerra em suas fronteiras. A última das sugestões do diplomata americano, porém, é a menos lembrada.

Kennan dizia que o que mais vulnerabilizava o Ocidente frente aos soviéticos era a permanência de uma sociedade fatalista e indiferente aos problemas de suas comunidades. Ele via o Ocidente desagregado e suscetível à influência soviética sobre sindicatos, movimentos estudantis e organizações sociais de toda ordem.

Esta visão moldou a ajuda americana à Europa via Plano Marshall, mas custou a prevalecer entre os compatriotas de Kennan que, como ele mesmo descreve, preferiam combater os soviéticos com falsa propaganda a educar o público americano para a realidade russa: “A imprensa não pode fazer isso sozinha (...) haveria um anti-sovietismo bem menos histérico em nosso país se as realidades desta situação fossem melhor compreendidas. Não há nada tão perigoso quanto aterrorizar o desconhecido”.

Setenta e seis anos depois, os papéis se inverteram. Enquanto um apoplético Biden não soube o que responder aos repórteres que lhe indagaram, na primeira entrevista pós-invasão, como os EUA negociariam o cerco à Rússia com a China e a Índia, Putin partiu para a ameaça aberta no discurso com o qual anunciou os ataques: “Quem quer que tente interferir conosco, e ainda mais para criar ameaças ao nosso país, ao nosso povo, deve saber que a resposta da Rússia será imediata e o levará a consequências como você nunca experimentou em sua história”.

Putin vale-se do segundo maior arsenal nuclear do mundo para ameaçar o planeta, risco que Kennan via ausente das reflexões de Mikhail Gorbachev. Achava que o líder da Perestroika havia prestado um serviço à humanidade com a destruição do antigo sistema, mas o julgava desprovido de qualidades para a política e para a administração pública. E temia pelo futuro da Rússia e de suas relações com o Ocidente.

Em 5 de maio de 1990, escreveu em seu diário: “Nosso governo se prepara, sob pressão dos parceiros linha-dura da Otan, notadamente franceses e britânicos, para explorar a precária e confusa situação da Rússia com vistas a excluí-la de qualquer participação nos problemas de segurança do continente (...) sempre achei um erro tirar vantagem de uma posição momentaneamente enfraquecida de outro grande poder para tirar vantagens que não seriam obtidas sob circunstâncias normais”, disse Kennan, antes de concluir que ali estava sendo germinada a semente da vingança.

Restringir os motivos da guerra da Ucrânia à expansão da Otan é uma maneira tão ligeira quanto incompleta de resumir Kennan. A ascensão de regimes de extrema direita que flertam ou flertaram com Putin, dos Estados Unidos de Donald Trump à Hungria de Viktor Orban, passando pelo Brasil de Jair Bolsonaro, se deu sob a deterioração das condições de vida nesses países.

Aquela ordem que serviu de chamariz para a adesão de partidos, sindicatos, estudantes, operários e intelectuais ao comunismo acabou. É ao populismo ultraconservador que tem em Putin um ícone e na Rússia, um abrigo para suas investidas cibernéticas, que os contingentes eleitorais vulneráveis ficaram expostos.

O ataque à Ucrânia já tirou do líder russo o apoio de lideranças europeias deste campo, como Matteo Salvini, na Itália, e Marine Le Pen e Eric Zemmour, na França, e provocou reações bipolares de Donald Trump, nos EUA.

No Brasil, o presidente Jair Bolsonaro, de seu carnaval no Guarujá (SP), vestiu a fantasia de estadista da ambiguidade. Valeu-se da viagem a Moscou para mostrar alguma participação na política mundial que não seja a da ojeriza e só contribuiu para desgastar ainda mais a política externa brasileira. Está abraçado ao "bolivarianismo" que tanto criticou. Basta ver o que Nicolás Maduro e Daniel Ortega dizem do conflito.

A principal aposta do Ocidente para o cerco a Putin continua sendo o das sanções econômicas. O maior dos óbices a esta estratégia, porém, é a dependência que a Europa tem de suas fontes de energia. Uma COP-25 e uma pandemia depois, a urgência da mudança na matriz energética não resistiu à guerra. As gigantes russas de gás, Gazprom, e de petróleo, Rosneft, foram excluídas das sanções econômicas largamente anunciadas e continuam a financiar Putin.

Em 2001, às vésperas de seu centenário, Kennan se pôs a refletir sobre a iminência de novos conflitos. Disse que nenhum dos países envolvidos poderia se arvorar na mediação de uma solução sem que fontes alternativas de energia fossem encontradas para manter o padrão de conforto alcançado pelas economias ocidentais.

Kennan dizia receber de 500 a mil convites por mês para palestras, mas não se encantava com isso. Via-se como uma fonte de entretenimento e não como agente de mudança.

Valor Econômico

Quanto a Rússia vai sofrer




Nas previsões, economia russa vai sofrer como a do Brasil dos anos 2010

Por Vinicius Torres Freire

A economia da Rússia pode encolher de 7% a 10% neste ano por causa das sanções de governos e da debandada de empresas e bancos americanos e europeus. Sim, previsão de crescimento econômico costuma ser chute ruim. No caso da Rússia em guerra com a Ucrânia e sob ataque econômico ocidental, a especulação é ainda mais temerária.

Mas suponha-se que as primeiras previsões menos pessimistas de bancões e similares se confirmem: queda de uns 7% do PIB neste ano e, então, crescimento regular entre 1% e 1,5%. Parece o Brasil da década de 2014 a 2019.

A economia brasileira encolheu mais de 7% no biênio 2015-2016 e cresceu em torno de 1,5% de 2017 a 2019. Em 2021, recuperou as perdas do ano de epidemia de 2020 e algo mais —vamos saber detalhes nesta sexta-feira (4), quando sai o PIB.

Pelas previsões de agora, a Rússia estaria muito longe de um colapso venezuelano e mesmo do tombo do Irã, estrangulado pelas sanções de Donald Trump, mas que sobrevive. Nós sobrevivemos, na nossa morte lenta. Haveria tumulto político na Rússia, onde de resto jamais houve democracia, fora umas tentativas de meia dúzia de anos?

Que esquema de poder sustenta Vladimir Putin? Que grupos, militares ou oligarquia, daria um chega para lá no autocrata? Ainda que Putin fosse posto para fora, qual seria a política externa? Haveria um recuo geral, uma subordinação russa ao esquema americano-europeu a ponto de as sanções serem logo canceladas? Não parece provável.

Não se sabe quanto a guerra vai durar, quanto vai custar ou mesmo se pode dar em desastre internacional ainda maior. Não se sabe se o "Ocidente" ainda vai impor sanções que podem jogar o mundo inteiro em recessão (que seria o caso se houvesse boicote oficial e geral do petróleo, do gás, dos grãos e dos minérios e metais russos).

É possível, porém, apontar de modo razoável os riscos de colapso, além de mais inflação e juros altos, o mais óbvio.

A Rússia e suas empresas podem dar um calote na dívida externa, com o que secariam as fontes restantes de financiamento. É o que escreve Sergei Aleksashenko, vice-ministro de Finanças e vice do Banco Central da Rússia nos anos 1990, em artigo para a Al Jazeera.

Segundo Alekasashenko, bancos e empresas russos teriam de pagar mais de US$ 100 bilhões de juros e parte do principal de sua dívida externa nos próximos 12 meses. Muito? Em 2021, o saldo do balanço de pagamentos, a conta final de entradas de dinheiros por comércio e finança, foi positiva em impressionantes US$ 120 bilhões.

Mesmo que repetisse esse saldo, o pagamento da dívida deixaria a Rússia no osso. No entanto, o país ainda vai perder investimento externo, não vai receber quase nenhum e deve exportar menos (pois empresas do resto do mundo comprarão menos da Rússia, mesmo que não estejam impedidas por sanções). Então, a Rússia teria de importar menos e dar um jeito de sacar reservas internacionais a que ainda têm acesso. Como?

O problema não para por aí, claro. A economia dita real vai padecer, pois não vai poder importar peças, componentes e máquinas. Muita coisa vai pifar, a produtividade vai cair.

A questão óbvia é saber se a Rússia pode contar com a China como cliente ainda maior de suas exportações, como facilitadora de pagamentos internacionais e exportadora, no que puder, de insumos industriais em particular (em parte não vai poder, pois não tem a tecnologia).

Aleksachenko diz que os russos esperaram grande ajuda da China quando foram submetidos às sanções motivadas pela anexação da Crimeia (2014). Tiveram apenas pequena ajuda. Não há motivos para acreditar que a posição chinesa mude agora, diz Aleksachenko.

Folha de São Paulo

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