A exemplo do presidente Bolsonaro, o ex-juiz Sergio Moro, ex-ministro do governo, aposta em entrevistas a rádios pelo país
Por Guilherme Peixoto
O exponencial aumento das aparições de Moro é visto no Twitter, no qual ele costuma anunciar as participações em atrações jornalísticas
Desde que se filiou ao Podemos e passou a discursar como pré-candidato à Presidência da República, o ex-juiz Sergio Moro intensificou a agenda de entrevistas. Embora converse reiteradamente com veículos de projeção nacional, o ex-ministro da Justiça e Segurança Pública do governo Bolsonaro tem investido em entrevistas a comunicadores de cidades do interior do país.
Levantamento feito pelo Estado de Minas mostra que, desde 10 de novembro, data do ingresso de Moro na vida partidária, ele concedeu ao menos 29 entrevistas a rádios, jornais e emissoras de televisão do interior.
Na lista, há jornalistas de estações radiofônicas de cidades como Nortelândia (MT), Caruaru (PE) e Maringá (PR). A estratégia é similar à adotada pelo presidente Jair Bolsonaro (PL), que diminuiu a frequência de entrevistas exclusivas nos últimos meses, mas de agosto para cá teve pelo menos 23 compromissos do tipo — contando conversas com a grande imprensa. Na relação de veículos atendidos pelo presidente, o interior pernambucano está contemplado, bem como Três Lagoas (MS) e Tietê (SP).
A estratégia de Moro é similar à adotada pelo presidente Jair Bolsonaro (PL)
O exponencial aumento das aparições de Moro é visto no Twitter, no qual ele costuma anunciar as participações em atrações jornalísticas. De novembro pra cá, ele fez 36 postagens divulgando entrevistas — número que considera idas a programas de veiculação nacional. No resto de 2021, porém, o magistrado da Operação Lava-Jato noticiou poucas exclusivas, mas quando ainda dava expediente na consultoria estadunidense Alvarez & Marsal, mencionou, por exemplo, a participação feita em um podcast que tratou de temas como o combate à corrupção na América Latina.
Moro ainda tem tido dificuldades para atingir dois dígitos nos levantamentos de intenções de voto. Na mais recente pesquisa XP/Ipespe, por exemplo, ele aparece com 8%, empatado com Ciro Gomes (PDT). Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Bolsonaro, os líderes, têm 44% e 24%, respectivamente. Em busca de fazer ecoar suas ideias, o ex-juiz deposita fichas na boa e velha “latinha”. “Acredito que as rádios têm a capacidade de amplificação, fazer com que as propostas do nosso projeto cheguem a um maior número de pessoas”, disse ele ao EM. “O papel da imprensa, especialmente em ano eleitoral, é fundamental”, completa.
Comumente, Moro anuncia entradas em programas matutinos, faixa de horário em que as rádios costumam ter suas maiores audiências — visto que muitas pessoas seguem para o trabalho sintonizadas nas estações. Quando falou à Rádio Metrópole, de Salvador, no último dia 11, por exemplo, o político do Podemos entrou no ar por volta das 8h. A Rádio Banda B, de Curitiba (PR), agendou conversa com Moro para as 7h30 de 25 de novembro.
“As pesquisas mostram que, no interior do país, as rádios locais ainda têm uma penetração muito grande. As pessoas confiam e gostam de ouvir. É uma maneira de ganhar visibilidade e de tentar chegar aos eleitores — principalmente os que não estão tão digitalizados”, explica o cientista político Felipe Nunes, professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e diretor da Quaest Pesquisa e Consultoria.
Na segunda-feira passada, Sergio Moro foi de um “extremo” ao outro em sua tática de comunicação: pela manhã, respondeu por vídeo a perguntas feitas em uma emissora de Teresina, capital do Piauí. À noite, estava em um estúdio em São Paulo para conversar com os influenciadores Monark e Igor "3K" Coelho, do Flow Podcast, programa famoso entre os jovens na internet. O papo durou quase cinco horas.
“Nas grandes capitais, as redes sociais acabam sendo mais massificadas. No caso das pequenas cidades, não. [Falar em estações radiofônicas] é uma estratégia de mídia que, geralmente, é bem relevante”, observa Nunes.
“NÃO HÁ RISCO DE SATURAÇÃO”
Quando falou aos mato-grossenses pela Rádio Capital pouco depois das 7h de 29 de dezembro, o ex-juiz Sergio Moro cometeu um deslize que, depois, seria aproveitado por adversários. Ao tecer comentários sobre o apoio de parlamentares de seu partido ao governo federal, passou a discorrer sobre a Operação Lava-Jato, que culminou na prisão do ex-presidente Lula.
"Como é que a gente pode defender um governo desse? Com pessoas [com fome] na fila de ossos, um governo que foi negligente com as vacinas, um governo que ofende as pessoas, um governo que desmantelou o combate à corrupção", observou, para depois complementar: "Tudo isso por medo do quê? Do PT? Não. Tem gente que combateu o PT na história de uma maneira muito mais efetiva, muito mais eficaz: a Lava-Jato". O ex-juiz logo percebeu o ato falho e tentou consertar, dizendo que a operação revelou "esquemas de corrupção e mostrou o que o PT verdadeiramente é".
O cientista político Felipe Nunes não enxerga a chance de Moro acabar saturando sua imagem e desgastando o discurso por causa da grande exposição aos microfones de várias rádios. “Não há nenhum risco de saturação. Pelo contrário. O desejo é justamente de conseguir a atenção das pessoas em algum lugar”, assevera. “O público das rádios menores é muito segmentado. É como se você estivesse falando para nichos diferentes.”
Maratona nos microfones
Em agosto do ano passado, o presidente Jair Bolsonaro passou por verdadeira maratona de sabatinas. Do dia 3 ao dia 30 do mês, recebeu questionamentos de veículos de vários cantos do país. Começou com a TV Asa Branca, de Caruaru; terminou com a Rede Fonte de Comunicação, conglomerado de mídia de Goiânia. Pouco a pouco, o presidente foi diminuindo a intensidade das conversas — em dezembro, por exemplo, não chegou a publicar, no Twitter, chamadas para entrevistas. Ele passou alguns dias de férias no Guarujá (SP) e em Santa Catarina; depois, precisou passar por nova cirurgia para desobstrução intestinal.
Neste ano, Bolsonaro esteve nas páginas da Gazeta do Povo, do Paraná, nas ondas da Jovem Pan, em São Paulo (duas vezes) e da Rádio Viva FM, de Vitória. O portal Gazeta Brasil também deu espaço a ele. A segmentação não é só regional, visto que em agosto uma das emissoras agraciadas com uma entrevista exclusiva de Bolsonaro foi a Brado, que se define como a “primeira rádio conservadora do Brasil” e está baseada em Salvador.
“A predileção do presidente Bolsonaro em conceder entrevistas para veículos menores, do interior é, para, ao mesmo tempo, conseguir alcançar uma população que está mais distante, também fugir daquele viés de interesses escusos presentes em muitos órgãos de imprensa”, analisa o deputado federal Junio Amaral (PSL-MG), um dos mineiros em Brasília com mais acesso ao Palácio da Alvorada.
Amaral crê que Bolsonaro vai aumentar a frequência de entrevistas a veículos do interior do país à medida que a eleição presidencial intensificar as batidas à porta. “Por uma necessidade básica de prestação de contas, tendo em vista ser o último ano deste mandato, não só creio que ele vai, como deve, realizar cada vez mais entrevistas nesse formato que ele, normalmente, tem como opção”, projeta.
RELAÇÃO DE ENTREVISTAS
» JAIR BOLSONARO
Desde agosto/2021
19/1 - Jovem Pan - São Paulo (SP)
17/1 - Rádio Viva FM - Vitória (ES)
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10/1 - Jovem Pan - São Paulo (SP)
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10/11 - Rádio Cultura FM - Castelo (ES)
9/11 - Rádio Jornal da Cidade Online - Internet
28/10 - RedeTV! - Canal aberto e YouTube
27/10 - Jovem Pan - Manaus (AM)
25/10 - Rádio Caçula FM -
Três Lagoas (MS)
27/9 - Jovem Pan - São Paulo (SP)
23/9 - Revista Veja
30/8 - Rede Fonte de Comunicação - Goiânia (GO)
26/8 - Rádio Jornal do Commercio - Recife (PE)
24/8 - Rádio Farol - Maceió (AL)
23/8 - Rádio Nova Regional - Tietê (SP)
17/8 - Rádio Capital Notícia - Cuiabá (MT)
12/8 - Rádio Jovem Pan - Maringá (PR)
9/8 - Rádio Brado - Salvador (BA)
5/8 - Rádio 93 FM - Rio de Janeiro (RJ)
4/8 - Jovem Pan - São Paulo (SP)
4/8 - Rádio 96 FM - Natal (RN)
3/8 - TV Asa Branca - Caruaru (PE)
» SERGIO MORO
Desde que se filiou ao Podemos, em 10/11/2021
27/1 - Rádio CBN Caruaru - Caruaru (PE)
24/1 - Flow Podcast - YouTube e aplicativos de música
24/1 - TV Cidade Verde - Teresina (PI)
20/1 - UOL (coluna de Felipe Moura Brasil)
19/1 - Rádio Difusora - Nortelândia (MT)
19/1 - Jovem Pan de Maringá - Maringá (PR)
18/1 - Band FM - Porto Velho (RO)
18/1 - Jovem Pan - São Paulo (SP)
17/1 - Rádio 94 FM - Natal (RN)
17/1 - Rádio A Tarde - Salvador (BA)
14/1 - Revista Veja
11/1 - Eu Quero Investir - Internet
11/1 - Grupo NSC de Comunicação - Florianópolis (SC)
11/1 - Rádio Metrópole - Salvador (BA)
7/1 - Rádio Jornal - Caruaru (PE)
6/1 - Rádio Correio 98 FM - João Pessoa (PB)
29/12 - Rádio Capital FM - Cuiabá (MT)
23/12 - Canal de Carlos Alberto Di Franco - YouTube
20/12 - MyNews - YouTube
17/12 - Grupo Liberal - Belém (PA)
16/12 - Rádio 98 FM - Natal (RN)
15/12 - Jovem Pan - São Paulo (SP)
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14/12 - Canal de Marco Antonio Villa - YouTube
14/12 - Rádio CBN - Goiânia (GO)
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6/12 - Rádio O Povo CBN - Fortaleza (CE)
5/12 - Correio Braziliense - Brasília (DF)
3/12 - Rádio Jornal do Commercio - Recife (PE)
1/12 - Rádio Jovem Pan - Curitiba (PR)
1/12 - CBN Maringá - Maringá (PR)
25/11 - CBN Curitiba - Curitiba (PR)
25/11 - Rádio Banda B - Curitiba (PR)
23/11 - CNN Brasil - TV por assinatura
18/11 - O Antagonista - YouTube
16/11 - Rede Globo - TV e internet
*O levantamento considera apenas entrevistas divulgadas por Jair Bolsonaro e Sergio Moro no Twitter até as 12h de sexta-feira (28/1)
Estadão / Estado de Minas