Presidente do Senado afirma que Olavo está agredindo o Brasil
Daniel GullinoO Globo
O presidente da Comissão Especial da Reforma da Previdência na Câmara, deputado Marcelo Ramos, disse em seu Twitter, nesta terça-feira, dia 7, que “o Brasil precisando discutir a Reforma da Previdência e o Presidente da República preocupado com armas pra caçadores e defesa do Olavo de Carvalho. Um presidente precisa ter noção de prioridade”. Depois, em entrevista ao Jornal Nacional, Ramos acrescentou que essas brigas e polêmicas, que nada têm a ver com gestão do país, acabam atrapalhando não apenas o Executivo, mas também o Legislativo, que precisa concentrar esforços e manter o foco na reforma da Previdência.
MOÇÃO DE APOIO – No Senado, parlamentares de diversos partidos também cobraram uma reação do presidente Jair Bolsonaro contra as frequentes declarações de Olavo, espécie de guru do presidente, contra militares que fazem parte do governo. Uma moção de apoio ao general da reserva foi apresentada por Plínio Valério (PSDB-AM), e o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), afirmou que a ofensa a Villas Bôas é uma “agressão ao Brasil”.
“Quero me solidarizar com o general Villas Bôas, com o Exército brasileiro, com os trabalhadores desse país que lutam todos os dias para construir uma grande nação. Um cidadão que está em outra nação, em outro país, agredindo o general Villas Bôas, é uma agressão ao Brasil” — disse.
Na segunda-feira, Villas Bôas havia dito que Olavo enfrenta um “vazio existencial” e age com desrespeito às Forças Armadas. Nesta terça-feira, o ideólogo chamou o ex-comandante do Exército, que sofre de uma doença degenerativa, de “doente preso a uma cadeira de rodas”.
CADEIRA DE RODAS – Em uma rede social, a senadora Mara Gabrilli (PSDB-SP), que é tetraplégica, disse que a “cadeira de rodas não é uma prisão” e classificou o general da reserva como “exemplo de grandeza, lucidez e produtividade”.
De noite, senadores se revezeram no microfone do plenário para apoiar Villar Bôas e repudiar Olavo de Carvalho. Líder do PSL no Senado, Major Olímpio (SP) procurou afastar o partido de Bolsonaro do ideólogo:
“Repudiando que façam associação desse senhor ao PSL, quero expressar minha total solidariedade ao general Villas Bôas ou a qualquer pessoa que possa ter sido ofendida. Não é com ofensas, não é com palavras chulas que se pode fazer um debate legítimo dentro do campo da democracia e, principalmente, com palavras dessa ordem ao general Villas Bôas”.
AUTORIDADE – Simone Tebet (MDB-MS) disse que Bolsonaro precisa mostrar autoridade para impedir que o governo seja paralisado: “E aí, com toda a consideração que eu tenho pelo cargo máximo do chefe do Poder Executivo, eu quero neste momento me dirigir ao presidente Jair Bolsonaro; eu quero dizer a ele: nos ajude, senhor presidente, a ajudá-lo a construir um outro país. Mas dessa forma não dá! Nós estamos aqui paralisados porque Vossa Excelência não diz quem é que manda no Executivo!”
Chico Rodrigues (DEM-RR), que é um dos vice-líderes do governo no Senado, defendeu outro general atacado por Olavo, o ministro da Secretaria de Governo, Carlos Alberto dos Santos Cruz.
“O general foi convocado pelo presidente Jair Bolsonaro para exercer as altas funções de governo, sim, tendo como outras responsabilidades a articulação política e a vasta área da comunicação governamental. Senhoras senadoras e senhores senadores, a pergunta é recorrente: por que alguém resolve atacar de maneira tão contundente e estapafúrdia um quadro com a estatura do General Santos Cruz? Por que desonrar uma figura que tanto bem fez ao Brasil e ao mundo? Só há uma resposta, a intenção é a de afastar os militares convocados para a administração federal e colocar em seu lugar perfis identificados com a extrema-direita ideológica.
INCÊNDIOS – Na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE), os parlamentares mencionaram a disputa quando discutiam um projeto que obriga que todos os veículos tenham extintores de incêndio. O senador Otto Alencar (PSD-BA) disse que o governo “está precisando muito de extintor de incêndio” porque “é incêndio todos os dias”, e afirmou que Olavo de Carvalho “tem sido o grande gestor dessas crises todas”. O presidente da comissão, Omar Aziz (PSD-AM), saiu então em defesa de Villas Bôas e do ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), Augusto Heleno:
“Eu vejo um cidadão que não está aqui, não vive o dia a dia, não conhece a realidade total brasileira. Se tem méritos, eu não os conheço ainda, o senhor Olavo, mas posso dizer que tanto o general Villas Bôas como o general Heleno, com quem eu tive o prazer de conviver e trabalhar em conjunto em várias ações que beneficiaram a região do nosso Estado, eu posso dizer à senhora que são dois grandes brasileiros completos, dois brasileiros completos, que têm equilíbrio, democratas que sempre tiveram o equilíbrio necessário”.
PALAVRÕES – Kátia Abreu (PDT-TO) afirmou, em referência a Olavo, que uma pessoa que “mora do outro lado do mundo” não pode “desmoralizar as Forças Armadas com palavrões e com palavras de baixo calão”.
“Não são Forças Armadas de Bolsonaro, não, são Forças Armadas dos brasileiros e nós não podemos aceitar esse tipo de atitude de um presidente da República e de quem quer que seja que mora do outro lado do mundo e que venha desmoralizar as Forças Armadas com palavrões e com palavras de baixo calão, de baixo nível. Esse cidadão está insuflando, ele não sabe onde ele está mexendo. Esse governo não conhece as Forças Armadas. Todo mundo tem brio, todo mundo tem limite”.
O senador Plínio Valério (PSDB-AM) ironizou o fato do ideólogo já ter trabalhado como astrólogo:
“Quando o astrólogo lê, não interpreta as estrelas direito e ofende o General Villas Bôas, está ofendendo, em particular, todos nós amazônidas, todos nós amazonenses. A gente está providenciando, senadora Kátia, não sei o termo correto, uma moção de repúdio a Olavo, ou de apoio a Villas Bôas, mas a gente está dando entrada a essa moção agora. Não pode passar em branco isso. Se esse cidadão acha que pode atacar uma pessoa de bem como o nosso Villas Bôas, certamente pensa que vai poder outras coisas. Aliás, ele pensa que pode outras coisas”, assinalou.