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quinta-feira, março 14, 2019

É insanidade esperar resultados diferentes quando as atitudes são as mesmas




O que mais se falou em Jeremoabo foi a contratação de banquetes no período Anabel/Interino.
Falavam que  um município que decretava estado de Calamidade ou Emergência não teria condições de bancar banquetes, que era uma " tapa na cara do eleitor contribuinte".
Denunciavam muitas asneiras e demagogias apenas pelo simples motivo de não ser poder, de não ser vidro, apenas e simplesmente pedras.
Na administração municipal de Jeremoabo mudam-se os "caciques" porém os atos são os mesmos ou até piores.
Para encerrar faço a seguinte pergunta: " quando será que Lourdinha de Peró irá ter direito de participar de uma suposta licitação?

Entrevista | “A prisão dos supostos assassinos de Marielle é só um ‘cala a boca’ para a sociedade”

Para o sociólogo José Cláudio Souza Alves, especialista em milícias, morte da vereadora está ligada a estes grupos, que seguem ainda em crescimento e "intocáveis" sob uma estrutura política e econômica

Os filhos do quarto!






Mulher e a previdência


Dia 14 de março, menos de uma semana após o Dia Internacional da Mulher, o assassinato de Marielle Franco completa um ano. Ainda que tenha sido homenageada pela escola de samba vencedora do Carnaval carioca, o crime que tirou sua vida segue sem esclarecimento. Para piorar este quadro, políticas afirmativas, inclusivas e protetivas para mulheres negras e periféricas, parecem cada vez mais distantes.
Sabe-se que o crime contra Marielle teve motivação política, mas não é só uma coincidência que a ativista integrava uma das camadas da população mais atingidas pela desigualdade social: mulheres, negras e periféricas sofrem diretamente os reflexos de nossas políticas públicas, ou da ausência delas.
Dados do Ipea (Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas) apontam, por exemplo, que as mulheres são mais afetadas pelo desemprego, e entre elas, a situação das negras é mais aguda - cada vez que aumenta o desemprego elas são as mais atingidas, à frente de mulheres brancas, homens negros e brancos.
Neste caso, não é difícil presumir que para se aposentar, estratos sociais mais afetados pela falta de emprego terão maiores dificuldades em cumprir as novas exigências da reforma previdenciária, vendida como menina dos olhos do governo Bolsonaro. Como contribuir durante 40 anos ininterruptos sendo a camada mais afetada pela exclusão, pelo desemprego ou pela informalidade?
Ao negar proteção, a previdência, que deveria combater disparidades, passará então a agravá-las, reforçando desigualdades sociais, étnicas e de gênero, perpetuando a lógica de escravidão que impõe formas de trabalho degradantes e direitos mínimos.
Marielle dedicou sua vida à luta pela igualdade e pelos direitos das mulheres, da população negra, periférica, LGBTs e de todas que vivem qualquer forma de opressão.
Ela nos lembra que é preciso resgatar as políticas públicas como forma de garantir justiça social ao invés de reforçar desigualdades.
://www.gazetasp.com.br

Bolsonaro quer bajular Trump entregando a Base de Alcântara

Membros da Lava Jato cometem "desvio de função" ao firmar acordo com os EUA; entenda

Cientista político explica passo a passo os problemas de se criar uma fundação privada com dinheiro público da Petrobras

Brasil de Fato | São Paulo (SP)

Deltan Dallagnol, chefe da força-tarefa da Lava Jato no Paraná, está no centro das polêmicas / Heuler Andrey/AFP
Um acordo firmado entre a força-tarefa da Lava Jato, a Petrobras e autoridades dos Estados Unidos na última semana tem sido alvo de críticas por diferentes motivos no Brasil. Segundo o documento, a estatal, onerada por casos de corrupção, terá que pagar mais de R$ 3 bilhões ao Ministério Público Federal (MPF) e às autoridades estadunidenses. Para a gestão do recurso, o MPF propõe a criação de uma fundação de direito privado, sob controle dos procuradores. 
Nesta terça-feira (12), os membros do MPF anunciaram que fizeram uma nova proposta às partes, suspendendo a criação da fundação devido à repercussão negativa do acordo.
Em entrevista ao Brasil de Fato, o cientista político e professor da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (Fespsp), William Nozaki, explica passo a passo quais são os problemas daquele acordo e ressalta que “há um desejo do Ministério Público de atuar como Poder Executivo e como Poder Legislativo”.
Nozaki é diretor-técnico do Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (INEEP), que emitiu uma nota técnica criticando o acordo firmado entre a Petrobras, o MPF e as autoridades monetárias estadunidenses. 
Confira a íntegra da entrevista:
Brasil de Fato: O que se pode dizer sobre o histórico da relação entre a força-tarefa da Lava Jato, a Petrobras e os Estados Unidos, desde que a operação foi deflagrada, há cinco anos?
William Nozaki: Esse é um bom começo de conversa, porque o pano de fundo do que foi proposto no âmbito do acordo do Ministério Público Federal, das autoridades monetárias americanas e da Petrobras está inscrito na maneira como tem sido tratada a centralidade estratégica da Petrobras depois da descoberta do petróleo – do pré-sal, especificamente –, e como isso colocou a empresa no centro de um conjunto de interesses geopolíticos e geoeconômicos que nos obrigam a revisar a própria história da última década.
No centro dela, o que temos é a emergência da Petrobras como uma empresa estratégica central para o Brasil, e isso trouxe novas demandas geopolíticas. A articulação desses atores ou a centralidade desse processo começa a se explicitar há uma década, quando, em 2008, a Petrobras passa por um primeiro processo de espionagem industrial. Ela sofre um furto de dois contêineres contendo notebooks e HDs com informações sobre o pré-sal. Isso acontece um ano antes de se conformar uma conferência entre o Departamento de Justiça dos Estados Unidos e integrantes da Polícia Federal, do Ministério Público e do Judiciário brasileiro para tratar de procedimentos de combate à corrupção e à lavagem de dinheiro.
Isso caminha para a organização de um acordo de parceria, em 2010, no âmbito de uma iniciativa chamada Bridge Project, o "Projeto Pontes", que tentava estabelecer trocas de experiências de combate à corrupção e lavagem de dinheiro entre o Brasil e os Estados Unidos. E justamente o participante da delegação brasileira nesse encontro foi o juiz Sérgio Moro.
Tem alguns outros elementos interessantes nesse percurso e que chamam a atenção também. Sobretudo a partir de 2013, quando a denúncia do [Edward] Snowden revelou que havia documentos que mostravam como a presidenta Dilma [Rousseff (PT)], alguns ministros e altos dirigentes do governo, assim como a rede privada de computadores da Petrobras, eram alvo de espionagem. E um outro elemento que merece destaque nesse percurso é que tudo isso serve como antessala para a Lava Jato, que vai se instaurar em 2014. Ela se instala a partir de um conjunto de conexões com as autoridades judiciais e monetárias americanas e um conjunto de indícios sobre a relação entre a análise da indústria petrolífera brasileira e do pré-sal.
Se por um lado a gente não pode estabelecer nenhuma relação imediata de causa e consequência entre uma coisa e outra, porque a gente não tem prova, por outro lado tem uma coincidência temporal que é muito sintomática. E que precisa ser observada com atenção, porque ela vai revelar pontos de articulação que foram se explicitando mais recentemente nesse acordo que foi feito entre o Ministério Público Federal, as autoridades monetárias americanas e a Petrobras. 
No censo comum dos brasileiros, a Lava Jato foi a maior operação contra a corrupção no Brasil. Em relação à Petrobras, a força-tarefa afirma que o objetivo era sanar os problemas de gestão da empresa. Depois de tanto tempo, esse objetivo foi alcançado?
Não. A operação Lava Jato foi uma operação realizada em torno de certo diagnóstico sobre a corrupção, que me parece excessivamente simplista. É um diagnóstico que trata o Estado e as empresas estatais como instrumentos permeáveis aos desvios e aos ilícitos, mas não trata na mesma intensidade os atores do mercado como parte orgânica e sistêmica desse processo.
Além disso, ela produziu uma interpretação sobre o problema da corrupção que colocou menos na chave de uma questão política e econômica e mais em uma chave de um problema ético, moral e individual. Então, tudo isso fez com que ela se tornasse um instrumento muito favorável a um determinado tipo de combate à corrupção muito facilmente manejável como instrumento de luta política contra determinados segmentos, em detrimento de outros.
Um segundo problema é que ela se valeu de determinados instrumentos que vão das delações premiadas aos acordos de leniência, passando pelos vazamentos seletivos e, na prática, atuaram como um instrumento de luta política na conjuntura brasileira – muito mais do que um instrumento de combate à corrupção na Petrobras ou em qualquer outra empresa do setor. Prova disso é que o número de empresários presos e que permanecem ainda presos é muito menor do que o número de pessoas ligadas à política.
E um terceiro ponto é que, por conta desse diagnóstico, em um determinado momento a Lava Jato passou a produzir uma distorção jurídica. Porque a Petrobras foi vítima. Como uma empresa pública, ela foi lesada por um conjunto de diretores e gestores que se envolveram em casos de desvios. Mas a gente não pode confundir a figura dos diretores e gestores com a figura da empresa.
Ao fazer esse diagnóstico simplista e moralista da corrupção, a Lava Jato passou a tratar a Petrobras como o problema e não como a vítima desse percurso. E isso se explicita da maneira mais contundente nos termos desse acordo recente. Na prática, é um órgão de investigação que está cobrando um multa da empresa que foi lesada nesse processo.
William Nozaki, cientista político e professor em São Paulo. (Foto: Arquivo/STF)
O Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (INEEP) divulgou uma nota técnica sobre o acordo. Você poderia explicar quais os pontos mais problemáticos?
O primeiro ponto importante é que o início desse acordo, ou a primeira manifestação pública desse acordo, veio em setembro de 2018. Para evitar processos jurídicos dos acionistas americanos em função dos casos de corrupção no Brasil, a Petrobras aceita preventivamente fazer um acordo com as chamadas autoridades monetárias dos Estados Unidos, o Departamento de Justiça e o órgão responsável pela organização do mercado de capitais.
Por esse acordo, uma multa de R$ 3,6 bilhões deveria ser paga pela Petrobras a essas autoridades judiciais americanas e brasileiras. Naquela ocasião, definiu-se que 20% desse recurso seria destinado a prejuízos para os acionistas americanos e 80% ficaria sob responsabilidade do Ministério Público brasileiro. Então, aí há um primeiro problema que é exatamente que o órgão investigador se coloca no papel de instituição que deve receber uma multa da Petrobras em bônus pelo seu trabalho – tratando a empresa como se ela não tivesse sido parte lesada do processo, mas como um ente jurídico que deve ser punido. 
Em janeiro desse ano, quando o Ministério Público aprofundou em quais termos ele faria o recebimento e a utilização desses recursos, é que começaram a vir à tona outras questões que tornaram esse caso ainda mais escandaloso e problemático, como a gente tem visto nas últimas semanas. E de onde decorre esse conjunto de problemas? 
Em primeiro lugar, do fato de que o Ministério Público está se autoatribuindo a função de gerir esse recurso por meio da criação de uma fundação privada – o que já causa um primeiro estranhamento, pois se trata de um órgão público no exercício de sua função constitucional de investigação, utilizando o que deveria ser o resultado do seu trabalho como um bônus para a montagem de uma estrutura paralela ao Estado. Então, a natureza privada dessa fundação é o primeiro problema. 

Há um desejo do Ministério Público de atuar como Poder Executivo e como Poder Legislativo
O segundo problema está no fato de que essa fundação de natureza privada se arroga o direito de receber esse montante, em torno de R$ 2,5 bilhões. Portanto, isso mostra uma transferência um tanto quanto problemática entre uma empresa estatal e um órgão que também é de natureza pública e que está se comportando como confiscador de recursos da empresa que foi lesada. 
O terceiro problema é o fato de que o Ministério Público está se atribuindo uma função que não é a função constitucional que indica como deve ser a sua atuação e a sua finalidade. E tudo isso, penso, deve ser lido nesse contexto em que a Lava Jato instaurou um clima de combate à corrupção com esse viés moralista que eu estava descrevendo anteriormente. Com isso, criou uma criminalização da atividade política e um enaltecimento das atividades burocráticas dos procuradores, os colocando em uma posição de uma espécie de casta privilegiada capaz de tomar decisões corretas e eficientes sobre o uso dos recursos públicos.
Então, um problema fundamental que se desdobra daí é esse desvio de função do Ministério Público e dos procuradores, na maneira como foi construído esse acordo. Tudo isso só pode ser interpretado no âmbito desse clima criado pela Lava Jato – que, para uma parte da sociedade e para uma parte do próprio Ministério Público, colocou os procuradores nesse lugar privilegiado. 

Não cabe ao Ministério Público definir quais serão as fontes de financiamento do Estado
Tem duas manifestações anteriores que não têm relação direta com esse acordo que foi firmado com os Estados Unidos, mas que eu acho que devem ser lembradas porque mostram como por trás disso há um desejo do Ministério Público de atuar como Poder Executivo e como Poder Legislativo. A primeira dessas iniciativas acontece ainda na gestão do Rodrigo Janot na Procuradoria-Geral [da República (PGR)], quando ele tenta propor ao ministro relator naquela ocasião dos processos da Lava Jato, que era o Teori Zavaski, que os recursos repatriados pela empresa pudessem ser utilizados como forma de financiamento do STF [Supremo Tribunal Federal] e da PGR.
Então, naquela ocasião, uma primeira coisa curiosa estava surgindo, que era uma proposta de utilização de recursos recuperados nas ações de combate à corrupção como fontes de financiamento para instituições do Estado, especificamente o STF e a PGR. Evidentemente, não é função do Ministério Público decidir como deve ser a alocação de rubricas orçamentárias e de financiamento para entes permanentes da estrutura do Estado. Não cabe ao Ministério Público definir quais serão as fontes de financiamento do Estado, tampouco como serão utilizados os recursos das políticas públicas.
Isso vai revelando um clima que está presente em uma parcela dos procuradores, e que torna legítimo apresentar uma proposta de acordo com a Petrobras como esse que foi feito: uma fundação privada gerida por uma corporação regional e localizada, incorporando um volume de recursos de uma empresa que foi lesada pelo processo de corrupção e utilizando, por meio de construção de uma espécie de instituição paraestatal, financiada com recursos públicos. Esse processo é equivocado do começo ao fim.
A nota técnica do INEEP, do qual você faz parte, afirma que “a Lava Jato revela ser o contrário do que parece ser”. Em que se baseia essa afirmação tão contundente?
A Lava Jato foi construída em torno de uma ideia de que o Estado é o grande problema na ineficiência de alocação dos recursos públicos por conta da corrupção. Ela foi legitimada por meio de um discurso que indicava que o Estado, no Brasil, deveria ser enxugado e diminuído para que a gente pudesse combater com mais eficácia os problemas relacionados aos desvios e aos ilícitos.
Paradoxalmente, quando ela faz uma negociação em torno de valores que estão relacionados a esses casos, ela propõe exatamente criar uma instituição a partir de dentro do Estado, com recursos públicos, sendo gerida por uma corporação específica, que é a corporação dos procuradores. Portanto, ela se trai na medida em que deixa de dizer que os mesmos procuradores que têm uma visão tão crítica em relação ao Estado são parte constitutiva dessa mesma estrutura estatal.
Se esse tipo de política se naturaliza na nossa democracia, que perspectiva teríamos não só para a Petrobras, mas para as empresas públicas? Essa lógica poderia se reproduzir?
Por trás disso, está esse espírito da Lava Jato, da sociedade e uma parte das castas burocráticas do Judiciário, dos órgãos de fiscalização e transparência do Estado, de se colocarem no lugar de bastiões da eficiência e da capacidade de gerir a coisa pública, o que traduz uma visão elitista do que é a sociedade, o que é o Estado e qual é o papel deles neste processo.
Isso tudo instaura um clima de afronta contra a atuação das empresas estatais, de criminalização da atuação das empresas públicas, de perseguição e de questionamento da atuação dos servidores públicos, que só joga água no moinho da desestruturação do Estado, de encolhimento da capacidade de investimento e, portanto, provoca uma imensa dificuldade para que o país volte a discutir a partir de quais caminhos, a partir de quais relações entre o Estado e o mercado ele pode retomar a sua trajetória de crescimento e desenvolvimento.
No entanto, pelas manifestações mais recentes, dentro da própria estrutura do Estado, tanto no Judiciário quanto no Legislativo, essa proposta vai sofrer muitas restrições e provavelmente ela não vai conseguir prosperar com a tranquilidade com que a casta dos procuradores imaginava que avançaria.

 
Edição: Daniel Giovanaz

Base de Alcântara: Brasil cede a Trump o melhor local do mundo para lançar satélites

Para Flávio Rocha, especialista em geopolítica, Bolsonaro busca alinhamento com Estados Unidos a curto prazo

Brasil de Fato | São Paulo (SP


Documento deve ser assinado e divulgado na próxima semana, durante a visita do presidente Jair Bolsonaro aos EUA / (Foto: Valter Campanato/Agência Brasil)
Após quase 20 anos de negociações, Brasil e Estados Unidos estão prestes a fechar os termos do novo Acordo de Salvaguardas Tecnológicas (AST), que concede o uso comercial da base de Alcântara, no Maranhão, para o país comandado por Donald Trump. A informação foi antecipada pelo jornal O Estado de S. Paulo na última segunda-feira (11). A expectativa é que o documento seja assinado na próxima semana, durante a visita do presidente Jair Bolsonaro (PSL) aos Estados Unidos. 
Os esforços para concretizar o acordo foram retomados pelo governo Temer (MDB) em 2016, após duas tentativas frustradas: no Congresso Nacional, em 2001, e por meio de plebiscito, na mesma época. A proposta original do governo estadunidense era proibir a utilização da base pelo Brasil, devido à confidencialidade tecnológica. 
Professor de Relações Internacionais da Universidade Federal do ABC (UFABC), Flávio Rocha afirma que, a partir dessa nova negociação, os Estados Unidos teriam acesso ao local mais estratégico – de todo o mundo – para lançamento de satélites. O especialista em geopolítica e segurança internacional entende que o acordo é motivado por uma política "ultra-neoliberalizante".
“Busca-se um alinhamento geopolítico a todo custo, a curto prazo, com os Estados Unidos”, avalia Rocha, que é enfático ao afirmar que a negociação da base de Alcântara coloca a soberania do país sob perigo. 
“O maior risco que vejo nisso é uma perda de autonomia política e ideológica do país para desenvolver uma série de tecnologias que seriam de interesse nacional. São tecnologias que nos permitiriam escolher parceiros estratégicos, parceiros para desenvolver toda uma gama de ciência e tecnologias, que poderiam colocar o Brasil em um patamar distinto do que ele está hoje na comunidade científica mundial”, complementa. 
Na opinião do docente, o acordo “governo a governo”, sem a opinião de pesquisadores e especialistas da área, não foi feito de forma transparente.
Confira na íntegra entrevista com Flávio Rocha ao Brasil de Fato sobre as consequências da negociação da Base de Alcântara. 
Brasil de Fato: O que esse novo acordo significa, na prática?
Flávio Rocha: Precisamos entender ainda, verificar e ler os documentos. Até agora, o que está sendo veiculado na imprensa são declarações. Declarações do embaixador brasileiro em Washington, declarações das partes brasileiras ligadas especialmente a uma pequena parte das comunidades científicas que têm interesse em reativar o programa espacial. Precisamos ter mais detalhes, mas, no curto prazo, os Estados Unidos vão ter acesso ao melhor local para se instalar veículos lançadores de satélites do mundo. É um local cuja geografia ajuda muito.
O custo para se lançar satélites da Base de Alcântara vai ser muito menor que se lançar na Guiana Francesa, que é logo ali perto. Isso dá uma vantagem comercial muito grande para os Estados Unidos, especialmente no momento em que há uma competição tecnológica muito séria e muito forte com a China. Essa competição está se espraiando para o setor aeroespacial.
Para os Estados Unidos, será um excelente negócio. O problema é se isso vai ser um negócio tão excelente assim para o Brasil. Quando fazem acordo com parceiros que possuem tecnologias inferiores, os EUA não costumam ser cooperativos como quando fazem com potências que possuem capacidade industrial e tecnológica equivalente – como é o caso dos europeus e dos japoneses, para citar dois exemplos.
A grande dúvida que resta aqui é: o que o Brasil vai ganhar, especificamente, em termos de avanço da sua tecnologia aeroespacial e avanço comercial derivado dessa tecnologia, em um contexto onde há o acirramento de uma competição geopolítica internacional, em um contexto em que há o acirramento de uma competição econômica em torno do uso do espaço?
Os Estados Unidos vão ter grandes vontades. Resta saber o que vai acontecer com o Brasil. Até agora, não está claro.
Quais forças se articularam para que esse novo acordo acontecesse, depois de tantos anos? Por que ele foi aprovado com apenas três meses de governo Bolsonaro?
Há um desejo por esse acordo por parte dos Estados Unidos e de alguns grupos do Brasil há muito tempo, e isso nunca foi para frente por algumas razões. Uma delas é que nos governos Lula e Dilma não se considerou que os Estados Unidos seriam um parceiro confiável, no sentido de poder fazer um acordo de igual para igual. O governo Bolsonaro tem uma pauta ultra-neoliberalizante do ponto de vista da economia, ou seja, busca conseguir recursos fora da base do governo da maneira mais obsequiosa possível. E também se tem uma busca – até meio inacreditável – por um alinhamento geopolítico a todo custo, a curto prazo, com os Estados Unidos.
No governo Bolsonaro, o que se tem é o seguinte: a busca por esse alinhamento, principalmente, mas também a questão econômica, pesando na feitura desse acordo-relâmpago com os Estados Unidos. Não está se pesando, por exemplo, se seria interessante procurar outros parceiros ou fazer uma proposta de acordo de flexibilizar para que o Brasil tivesse a possibilidade de trazer outros parceiros também.
Basicamente, há a confluência desses dois interesses: o interesse econômico ultra-neoliberalizante e a pauta de alinhamento geopolítico irrestrito com os EUA a curto prazo. Resta saber, nos próximos cinco ou dez anos, se esse alinhamento irrestrito vai continuar.
A experiência que temos na história do Brasil é que os períodos de alinhamento irrestrito com os Estados Unidos nunca foram lucrativos para o país. Os governos que fizeram isso foram rapidamente sucedidos por governos que trataram de priorizar o interesse nacional e tirar o alinhamento da ordem do dia. Um exemplo que posso dar é o do próprio regime militar. Os militares fizeram, em um primeiro momento, um alinhamento muito próximo dos EUA, e o próprio regime militar com o governo Geisel tratou de se afastar para priorizar outros interesses do Brasil. 
Qual os impactos da presença estadunidense no Brasil?
O risco mais imediato é que haverá uma base na qual os Estados Unidos lançaram satélites, e não fica claro qual o tipo de satélites que lançarão. Provavelmente, serão satélites de telecomunicação, tecnologia, mas não saberemos se vão lançar satélites especificamente destinados a comunicações militares, espionagens, enfim. 
Fizemos um acordo de venda da Embraer para a Boeing americana, e a Boeing está fortemente integrada ao programa aeroespacial dos Estados Unidos. O maior risco que vejo nisso é uma perda de autonomia política e ideológica do país para desenvolver uma série de tecnologias que seriam de interesse nacional. Essas tecnologias nos permitiriam escolher parceiros estratégicos, parceiros para desenvolver toda uma gama de ciência e tecnologias, que poderiam colocar o Brasil em um patamar distinto do que ele tem hoje na comunidade científica mundial. 
O risco maior que vejo, a curto prazo, é esse alinhamento prejudicar nosso desenvolvimento autônomo. Não digo autônomo no sentido de se desenvolver sozinho, porque na ciência atual isso não existe, mas uma autonomia em que o Brasil possa dizer como quer desenvolver, como quer escolher isso, como quer aplicar esse desenvolvimento científico.
Quando se faz um tipo de parceria dessas com os Estados Unidos, um coisa certa em qualquer acordo do gênero é que existem vetos da cessão dessa tecnologia, da comercialização, para os países que são desafetos dos EUA. Para fazer esse acordo, vamos ter que adotar, pelo menos parcialmente, uma visão geopolítica deles que não necessariamente é do nosso interesse. 
Então, o Brasil está abrindo mão de um setor estratégico e coloca sua soberania em risco? 
Sim, sem dúvida. Tentamos nos últimos dez, quinze anos, instalar uma base para construir uma indústria aeroespacial no país, uma indústria de ponta. São vários cursos de engenharia aeronáutica e aeroespacial no Brasil que foram construídos com essa lógica. Esses cursos só têm sentido de existir se há esperança de fornecer uma indústria nesse setor. 
Com essa parceria com os Estados Unidos, junto com a venda da Embraer, o Brasil vai ficar relegado a desenvolver tecnologias que não são de ponta, mas sim, de apoio e de suporte. Do ponto de vista da soberania, o Brasil vai ficar, realmente, em uma posição muito submissa. De continuar a desenvolver não uma tecnologia de ponta, mas tecnologias acessórias do seu plano espacial. 
Em termos geopolíticos, a estratégia dos Estados Unidos parece ser a de impedir o surgimento de novas potências.
Sem dúvidas. Os Estados Unidos têm uma política externa que, nesse ponto, é muito clara. Eles têm que impedir a existência, o desenvolvimento de potências geopolíticas rivais que, de alguma maneira, não estejam de acordo com seus interesses. Criando uma amarração tecnológica dessas, se cria um obstáculo para o Brasil fazer um tipo de política externa de cunho mais nacionalista, para se tornar uma potência regional.
O Brasil já é uma potência e, nos últimos anos, desenvolveu uma visão muito independente dos interesses dos Estados Unidos. Nesse governo, especificamente, estamos vendo uma reversão disso. Esse acordo tem a lógica de colaborar com essa reversão. O Brasil não se concebe nesse governo como um país que não esteja alinhado sob a liderança dos EUA.
O que o governo Bolsonaro tem feito é uma coisa que está surpreendendo todo mundo. As coisas estão indo com rapidez, como se o governo fosse acabar amanhã. Falta um debate mais amplo. Não ouvimos falar que a comunidade científica brasileira pode opinar sobre isso. 
Foi um acordo governo a governo, feito de uma maneira não transparente. Geralmente, quando esses acordos são feitos de maneira não transparente, geram dúvidas. Quais são as salvaguardas disso? Qual é o plano B se esse acordo der errado? Se amanhã o governo americano estabelecer vetos a usos de recursos e tecnologias, como o Brasil vai reagir? Realmente, é uma coisa que vai amarrar o desenvolvimento brasileiro.
Não vamos conseguir, nos marcos do capitalismo, desenvolvermos uma indústria aeroespacial que faça uma concorrência a indústria aeroespacial americana. E é uma pena, porque geograficamente estamos no melhor local do mundo para fazer lançamento desse tipo de satélite.
Podemos caracterizar essa política como "entreguista"?
Eu vejo dessa forma. É lógico que há um limite estrutural. A própria estrutura do Brasil não deixa fazer isso em 100% dos casos. Mas, nesse caso específico, do setor aeroespacial, vejo uma política de entrega do desenvolvimento, da elaboração de políticas públicas. Está se alienando essa possibilidade em prol de uma colaboração com uma potência estrangeira.
Os Estados Unidos são o país que mais tem bases ao redor do mundo. Essa localização de Alcântara, no Nordeste brasileiro, em frente à África Ocidental, é ideal para um projeto de dominação.
Existe uma competição geopolítica muito clara. Os últimos documentos do governo Trump mostram taxativamente que é uma política de Estado considerar a China e a Rússia como potências rivais, que querem minar a influência dos Estados Unidos no mundo. Então, dentro dessa lógica, eles concebem o continente americano como uma área de domínio exclusivo, área de sua preponderância exclusiva. 
Ao posicionamento em Alcântara é fazer de uma maneira rápida, antes que algum outro governo tenha a ideia de fazer algum tipo de acordo parecido, como por exemplo, a China. 
Infelizmente, em curto prazo é isso. Ainda vamos ouvir, inclusive de fontes governamentais, reclamação sobre o acesso de cientistas brasileiros aos dados de pesquisa, dos lançamentos que têm em Alcântara. 
Os Estados Unidos podem até fazer um acordo de igual PARA igual com países que estão no mesmo nível tecnológico. Mas com um país que tem uma indústria aeroespacial que não decola por vários motivos, que tem um governo que não se preocupa em fortalecer a indústria, com esse tipo de país, os Estados Unidos vão fazer um acordo no qual eles serão a parte forte e vão impor sua visão em detrimento da nossa.

 
Edição: Daniel Giovanaz

STF adia decisão sobre Justiça Eleitoral julgar crimes da Lava Jato

Redação


Foto: Carlos Moura/ STF
Foto: Carlos Moura/ STF

O Supremo Tribunal Federal (STF) adiou para a conclusão do julgamento sobre a competência da Justiça Eleitoral para conduzir inquéritos de políticos investigados na Operação Lava Jato, que só deve ocorrer na quinta-feira (14).
Até o momento, o placar do julgamento está em 2 votos a 1 a favor do envio das acusações para a Justiça Eleitoral quando envolverem  simultaneamente caixa 2 de campanha e outros crimes comuns, como corrupção e lavagem de dinheiro. Faltam os votos de oito ministros.
A Corte começou a definir nesta quarta (13)se a competência para julgar crimes comuns conexos a crimes eleitorais é da Justiça Eleitoral ou Federal. Nas investigações da Lava Jato, a maioria dos políticos respondem pelos crimes de corrupção, lavagem de dinheiro e caixa 2 de campanha.
Até o momento, o relator do caso, ministro Marco Aurélio, e Alexandre de Moraes votaram a favor do envio de todas as acusações para a Justiça Eleitoral. Segundo os ministros, a competência da Justiça Eleitoral para julgar os crimes conexos está na jurisprudência da Corte há 30 anos.  A punição prevista para crimes eleitorais é mais branda em relação aos crimes comuns.
Em seguida, Edson Fachin, relator dos processos da Lava Jato no STF, votou a favor do fatiamento das investigações. Segundo ele, a Justiça Eleitoral deve julgar somente casos envolvendo crime de caixa 2 de campanhas eleitorais. Os crimes de corrupção e lavagem de dinheiro, os mais praticados por políticos investigados na operação, devem ser processados pela Justiça Federal.
Bahia.ba

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