Carlos Newton
Os fanáticos pelo “mito” podem esculhambar à vontade a pesquisa do Instituto Datafolha, dizer que é mais uma obra dos esquerdopatas, petralhas e comunistas que dominam a mídia nacional e internacional, mas a realidade é uma só – Jair Bolsonaro não tem condições mínimas para comandar um país da importância do Brasil, que é o quinto maior em território, sexto em população e nono em volume de PIB, ou seja, gigante pela própria natureza.
O fato concreto é que Bolsonaro, diante do primeiro problema realmente grave de sua gestão, além de demonstrar não saber administrar a crise, está atrapalhando as autoridades encarregadas de fazê-lo.
BOLSONARO ISOLADO – Com essa postura negativa e inaceitável, o presidente está perdendo apoio em todos os setores, especialmente na classe média e entre os militares, embora ele julgue (?) que as Forças Armadas estariam dispostas a tudo para mantê-lo no poder.
É claro que a ficha está caindo e o próprio Bolsonaro começou a sentir esse isolamento. Na manhã de segunda-feira, dia 30, ele descumpriu a agenda e resolveu visitar o general Eduardo Villas Bôas, ex-comandante do Exército, para lhe pedir apoio, e foi atendido, com uma nota postada no Twitter pela assessoria do oficial.
Neste sábado, entrevistado pela jornalista Tânia Monteiro, do Estadão, Villas Boas confirmou a visita e o pedido de apoio, que revela a insegurança do presidente da República. A repórter então perguntou se Bolsonaro tinha perdido apoio dos militares, e o general (ou sua assessoria, pois ele está muito doente) disse que não.
APOIO DOS MILITARES – Em tradução simultânea, este “não” do general Villas Bôas nada significa, porque jamais falaria contra o amigo que ajudou a eleger, mas a verdade é que Bolsonaro não tem mais apoio incondicional das Forças Armadas, que não pretendem avalizar nenhuma insensatez do presidente.
Os oficiais-generais vão cumprir a Constituição, ajudar o governo (qualquer governo) no possível, mas sem se intrometer. Não querem que a imagem das Forças Armadas seja prejudicada por atos de um presidente complicadíssimo, que pensa (?) estar representando os militares, mas não está. Eis a questão.
Para os chefes militares, a situação gravíssima e inaceitável é que Bolsonaro não se comporta como militar.
QUEBRA DE HIERARQUIA – Como se sabe, uma das dogmas das Forças Armadas é o respeito à hierarquia, um princípio que não se resume a respeitar ordens superiores.
Na crise do coronavírus, os generais da ativa estão assistindo a uma gravíssima quebra de hierarquia cometida por Bolsonaro, cuja obrigação funcional é respeitar a orientação científica das autoridades de saúde do país (Ministério e Vigilância Sanitária) e da Organização Mundial de Saúde, da qual o Brasil é país-membro fundador.
É preciso entender que o raciocínio dos generais é sempre cartesiano. Eles avaliam que um presidente que não respeita a hierarquia científica nacional e mundial, em assunto de interesse vital da saúde de todos os brasileiros, por consequência isso significa que esse presidente não aceita hierarquia alguma.
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P.S. – A carreira militar instrui os oficiais a obedecerem ao método cartesiano, criado pelo francês René Descartes. Consiste em se guiar sempre por aquilo que possa ser provado. No caso de Bolsonaro, em meio a uma pandemia, ele insiste em tentar conduzir o país utilizando teses e medicamentos ainda não comprovados cientificamente. Para os oficiais-generais e para qualquer pessoa com um mínimo de bom senso, esse comportamento é intolerável. (C.N.)
P.S. – A carreira militar instrui os oficiais a obedecerem ao método cartesiano, criado pelo francês René Descartes. Consiste em se guiar sempre por aquilo que possa ser provado. No caso de Bolsonaro, em meio a uma pandemia, ele insiste em tentar conduzir o país utilizando teses e medicamentos ainda não comprovados cientificamente. Para os oficiais-generais e para qualquer pessoa com um mínimo de bom senso, esse comportamento é intolerável. (C.N.)