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sábado, março 28, 2020

No jogo da política, Jair Bolsonaro se desespera e aposta todas as fichas numa só cartada


Giuseppe Sala: chiesto un anno e un mese di reclusione - Corriere.it
O prefeito de Milão, Beppe Sala, postou alto e perdeu tudo
Carlos Newton
A paciência não é seu forte e ele não tem a capacidade de raciocínio dos grandes mestres, mas sabe que sempre deu sorte e confia em sua intuição. Por isso, decidiu apostar tudo de uma vez só, como nas rodadas de fogo do carteado no clássico “Hienas do Pano Verde”, filme de Blake Edwards. Assim é Jair Bolsonaro, que não sabe esperar a hora certa e quer garantir a reeleição dois anos e meio antes do primeiro turno da sucessão.
Jair Bolsonaro está nesse desespero porque pensa (?) que sua vitória em 2022 dependerá exclusivamente da retomada do desenvolvimento. Algum filho deve ter-lhe passado aquela frase célebre de James Carville (“É a economia, estúpido!”), e o presidente brasileiro acreditou no desabafo do velho marqueteiro de Bill Clinton.
FALTA DE CULTURA – Se a família Bolsonaro tivesse maior cultura política, saberia que não existe receita nem garantia de vitória eleitoral, tudo depende das circunstâncias, como ensinava o genial pensador espanhol Ortega y Gasset.
O mais curioso é que pai e filhos não perceberam que a coronavírus lhes dera um habeas corpus preventivo, que de certa forma retirava do governo a obrigação de dar certo. Com a pandemia, o presidente passara a ter mil e uma justificativas de um possível fracasso na política econômico, e a oposição nada poderia cobrar de um governo açoitado pela maior calamidade pública dos últimos cem anos.     
Assim, para garantir seu passaporte carimbado para a reeleição, Bolsonaro precisava apenas cuidar do apoio financeiro e logístiico a governadores e prefeitos, porque é a eles que cabe a responsabilidade pela saúde da população. Mas deu tudo errado.
JOGA FORA NO LIXO – A impaciência e o despreparo falaram mais alto. O presidente e os filhos acham (?) que o agravamento da crise econômica lhes roubará a reeleição. Por isso, jogaram no lixo a situação política privilegiada em que se encontravam. Assim, ao invés de respeitar as medidas de prevenção tomadas por governadores e prefeitos, Bolsonaro passou a cobrar-lhes justamente o contrário, exigindo um isolamento apenas vertical, ou seja, reabrindo as cidades e mantendoi em casa somente a faixa de maior risco – idosos e pessoas com diabetes, problemas cardíacos, asma etc.
Com essa atitude arriscada e perigosa, a família Bolsonaro meteu-se numa arriscadíssima situação. Se a contaminação e as mortes continuarem aumentando, os responsáveis não serão mais os governadores e prefeitos. A culpa recairá totalmente sobre o clã Bolsonaro, em função dos decretos presidenciais, da campanha publicitária e da minimização da pandemia, tratada como “gripezinha” e “resfriadozinho”.
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P.S.
 – Os fanáticos podem alardear que Bolsonaro tem razão e o isolamento precisa acabar, porque o coronavirus é fraco, a pandemia vai refluir naturalmente etc. e tal. Foi exatamente o que pensou (?) o prefeito de Milão, que lançou uma campanha para não haver isolamento na cidade industrial. Hoje a atividade mais rentável na cidade é a fabricação de caixões funerários, e o prefeito Beppe Sala já sabe que sua carreira política está encerrada. (C.N.)

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