Carlos Newton
Um fato concreto e inquestionável. Além de ser superavitária na extração de petróleo, a Petrobrás tem capacidade de refinar toda a produção nacional e assim suprir com menores custos as necessidade de derivados no país. Por que isso não acontece? Não tem explicação nem justificativa. A verdade é que a empresa estatal continua a importar óleo diesel em enorme quantidade, numa negociata que vem beneficiando petrolíferas e traders (intermediários) norte-americanos. Ao mesmo tempo, mantém uma desnecessária exportação de petróleo cru, embora suas refinarias estejam operando com cerca de 40% de capacidade ociosa.
Isso não é de hoje, é a prática de sempre, que representa um escândalo muito mais grave e danoso do que o chamado Petrolão, que envolveu o então presidente Lula, o PT e diversos partidos políticos
INFORMAÇÃO FALSA – No mês de novembro, em palestra na Comissão de Infraestrutura do Senado, o atual presidente da Petrobrás, Roberto Castello Branco, ao tratar do parque de refino da Petrobrás afirmou: “A Petrobrás assinou acordo voluntário com o CADE para vender oito de suas treze refinarias, que representam 50% da sua capacidade de refino”. Para justificar a negociação da maioria de suas unidades de Refino, Castello Branco foi capaz de dizer que “as principais petrolíferas do mundo têm desinvestido e reduzido sua capacidade de refino”.
É preciso ter muita ousadia para inventar uma balela, mas o presidente da Petrobras da audacioso e não conhece limites. Mentiu descaradamente perante os parlamentares federais, porque está acontecendo exatamente o contrário. As maiores petrolíferas estão apostando na integração vertical e aumentando a capacidade operacional de refino, para garantir agregação de valor ao petróleo cru.
Segundo o presidente da Associação dos Engenheiros da Petrobrás (Aepet), Felipe Coutinho, “a atual direção da Petrobrás está acelerando na contramão do mercado. Diz ele que, das 25 maiores petrolíferas do mundo, 19 são estatais. E tanto as estatais quanto as multinacionais privadas estão fortalecendo seu posicionamento no segmento de Refino, Transporte e Comercialização (o chamado downstream).
SHELL E EXXON – “A Shell, por exemplo, admite que seu fluxo de caixa é suportado pela integração da cadeia, o que traz maior robustez ao conglomerado empresarial. De acordo com o relatório ‘Shell Investors Handbook’ (de 2018), a empresa tem 21 refinarias em operação, capacidade de 2,8 milhões de barris por dia e está ampliando sua rede de distribuição, com 44 mil postos com bandeira Shell no mundo”, revela Felipe Coutinho.
E assinala que a Exxon também considera que a verticalização do downstream se tornou cada vez mais importante para o desempenho financeiro do grupo, especialmente nos ciclos recentes de preços baixos do petróleo. “A Exxon tem 22 refinarias, com capacidade de refino de 5 milhões de barris por dia e 21 mil postos com a bandeira Exxon no mundo. No momento, a Exxon está duplicando sua refinaria de Beaumont, no Texas, um projeto de US$ 2 bilhões para processar o chamado tight oil (um tipo de óleo mais consistente), que é produzido nos Estados Unidos, e fortalecer sua integração vertical”, diz o presidente da Aepet, acrescentando que a francesa Total também está em ampliação, investindo fortemente em projetos na Arábia Saudita e na Índia, aumentando a distribuição de combustíveis e recentemente comprou uma distribuidora de Minas Gerais.
EXPANSÂO DO REFINO – “Todas as grandes petrolíferas do mundo apresentam expansão de seus parques de refino, tendo em vista a estratégia de integração vertical da cadeia produtiva, como forma de agregar valor ao petróleo, maximizando assim a renda petroleira e aumentando a resiliência do fluxo de caixa em ciclos de preços baixos do petróleo, conforme observado recentemente”, diz Coutinho.
Em sua visão, realmente as maiores petrolíferas de capital privado (majors) estão cada vez mais integradas, tentando deixar de ser vendedoras de commodities para se tornarem empresas de derivados e petroquímicos de alto valor agregado. Porém, a importância relativa das majors tem se reduzido, e das 25 maiores petrolíferas, são 19 estatais.
“As multinacionais privadas são consideradas empresas decadentes, porque não recuperam suas reservas na medida em que são esgotadas e têm produção histórica declinante. Já as estatais têm hoje 90% das reservas e 75% da produção mundiais. E também as estatais têm investido na integração, para agregação de valor ao petróleo cru no refino e na petroquímica”. acentua o presidente da Aepet.
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P.S. 1 – Felipe Coutinho provou que Roberto Castello Branco mentiu em diversos pontos de seu depoimento na Câmara, porque desde os tempos de John Davidson Rockefeller (1839-1937) já se sabe que “o melhor negócio do mundo é uma empresa de petróleo bem administrada, o segundo melhor é uma empresa de petróleo mal administrada”. Mas quem se interessa?
P.S. 1 – Felipe Coutinho provou que Roberto Castello Branco mentiu em diversos pontos de seu depoimento na Câmara, porque desde os tempos de John Davidson Rockefeller (1839-1937) já se sabe que “o melhor negócio do mundo é uma empresa de petróleo bem administrada, o segundo melhor é uma empresa de petróleo mal administrada”. Mas quem se interessa?
P.S 2 – No dia em que a Lava Jato investigar a compra e venda de petróleo da Petrobras no exterior, todos verão que o escândalo do Petrolão de Lula foi apenas um aperitivo. (C.N.)