Landisvalth Lima
Servidores de Jeremoabo em vigília. O prefeito não pagou salários, piso e 13º. (foto: Whatsapp/Bahia Notícias)
O lema que rege a fundação do município de Jeremoabo está em latim: Fides super omnia. Significa Fé em primeiro lugar ou Fé acima de tudo. O maior município de nossa região, que divide com Itapicuru a maior longevidade, tem a fé como marca registrada estampada na labuta do seu povo. Jeremoabo nasceu duas vezes. Primeiro foi em 1625, quando povoado pelos Tupinambás, da linhagem dos Muongorus e Cariacás. Algum tempo depois a aldeia foi incendiada pelo Garcia D’Ávila, senhor das 60 léguas, morador da Casa da Torre da Praia do Forte. No meu romance Cariri Sangrento, no Amazon.com, dedico um capítulo ao período da reconstrução, ordenada pelo Rei de Portugal e pelo Papa. O refundador foi o capitão Sebastião Dias. Renascido das cinzas, ao longo de sua história, Jeremoabo pode ser varrido do mapa mais uma vez. Seus mais de 40 mil moradores enfrentam uma sucessão de administradores corruptos jamais vista na história, principalmente após sua efetivação como cidade em 1925. Os últimos prefeitos de Jeremoabo parecem disputar entre si o título de mais desonrado. Não há previsão de vencedor, até aqui.
O município, mãe de vários outros neste sertão, não consegue dar o exemplo, mesmo depois da eleição suplementar, ocorrida em 3 de outubro de 2018. A vitória de Derisvaldo José dos Santos, conhecido como Deri do Paloma (PP), seu vice é Luiz Carlos Bartilotti Lima, conhecido como Lula de Dalvinho (DEM), deveria ser um divisor dos tempos. Deri seria o prefeito da nova Jeremoabo. Seu lema era até interessante: vencer é saber esperar. A espera deu chabu. Desonra, corrupção, desfaçatez, incompetência, nepotismo, ostentação e outras desgraças marcam sua decepcionante passagem pela cadeira de prefeito. E se trata de um homem economicamente bem posto na vida. O povo esperava dele o verbo transformar ou, pelo menos, melhorar. Deri devolveu o abraço de confiança do povo com um pontapé nas partes já frágeis de Jeremoabo.
É preciso lembrar que a eleição suplementar de 2018 foi necessária porque, no pleito de 2016, a candidata à prefeita mais votada, Anabel de Tista (PSD), teve o registro indeferido e os votos dela não foram validados. Ela conseguiu disputar a eleição com recursos na Justiça Eleitoral. Os crimes cometidos por Anabel, Tista, Dr. Spencer fazem inveja a qualquer preso da Operação Lava Jato. Só para que fiquem lembrados, houve contratação de escritórios de advocacia com superfaturamento, licitação de empresas para limpeza pública com flagrantes irregularidades, notas fiscais forjadas, atraso gritante de salários, superfaturamento de obras… A lista é quase infinita. A impressão que se tem é que os prefeitos gastam o dinheiro primeiro e depois vão a busca de justificativas para prestas contas.
Não causará surpresa se o atual prefeito disputar a reeleição, mesmo com tamanha catástrofe administrativa. Também não será surpresa se ele tiver como adversário um dos seus antecessores. As denúncias contra prefeitos, quando são a nível federal, mesmo demandando certo tempo, são julgadas. Muitos já foram condenados em 2ª instância e outros cumprem pena. Mas as denúncias a nível estadual parecem caminhar a passos de lesmas, quando são efetivadas. O Ministério Público da Bahia bate nos prefeitos com mão de lã. Por outro lado, movidos pelo desejo de vingança das desgraças promovidas pelo atual prefeito, muitos eleitores, principalmente servidores públicos, procurarão o vitorioso mais próximo para amainar sua ira. Isso também contribui para eleger oportunistas. Se Deri continuar sua trajetória de desonra pública administrativa, fará o povo esquecer, na hora do voto, das mesmas desgraças feitas por Dr. Spencer, Pedrinho de João Ferreira, Tista, Anabel de Tista, o interino Antônio Chaves e outros menos lembrados.
O Bahia Notícias, em reportagem de Francis Juliano e Lula Bonfim, e vários blogs de nossa região, a exemplo do Blog do Joilson Costa, noticiaram o vexame de servidores do município de Jeremoabo fazendo vigília e carreata por causa dos atrasos de salários e décimo terceiro. Os servidores promoveram uma carreata no centro da cidade na manhã desta sexta-feira (3). Na noite anterior, professores da rede municipal rezaram em uma vigília na frente da prefeitura.
Os servidores da educação reclamam que o reajuste salarial anual, previsto em Lei do Piso Nacional, não aconteceu em 2019. Além disso, o salário de junho de 2018 não teria sido pago. Para piorar, a grande maioria dos funcionários municipais não recebeu salário em dezembro. O vereador Kaká de Sonso (PSD), ligado ao grupo de Anabel, criticou duramente a falta de organização da prefeitura. O vereador está cumprindo seu papel, mas ele protestaria se o prefeito fosse Tista ou Anabel? Fato é que os servidores estão reagindo e prometem novas manifestações na próxima semana. Na quarta-feira (8), planejam uma manifestação em frente ao fórum da cidade, para cobrar uma atitude do Poder Judiciário, agora que já é possível ter um juiz de garantias.
Tudo isso que está ocorrendo é consequência da visão equivocada que os políticos têm do serviço público. A cultura cuidou de transformar o ato da escolha política como uma disputa de grupos, como se tivessem num jogo de campeonato. Ninguém pensa no coletivo, no público. Os políticos aproveitam tais rivalidades para transformarem suas administrações como caminho fácil para a prosperidade pessoal. Uns poucos, movidos pela honra, tentam ainda fazer algo de bom. Em Jeremoabo, há uma coisa que é possível encontrar nos seus últimos administradores: a ausência da honra.
Landisvalth Lima