Posted on by Tribuna da Internet
Naira Trindade
Natália Portinari
O Globo
Natália Portinari
O Globo
Detentor de uma parcela do fundo eleitoral que deve chegar aos R$ 202,2 milhões, além do segundo maior tempo de propaganda em rádio e televisão, o PSL desponta como objeto de desejo de candidatos de outros partidos para as eleições municipais.
A costura de alianças em 2020 também faz parte do cálculo eleitoral da própria legenda após o rompimento com o presidente Jair Bolsonaro. Diante das saídas de Bolsonaro e de deputados aliados do presidente, que atuariam como cabos eleitorais, a cúpula do PSL tem admitido internamente que terá menos nomes próprios do que o previsto anteriormente na eleição.
CANDIDATO PRÓPRIO – Com Bolsonaro, a legenda presidida pelo deputado federal Luciano Bivar (PE) tinha a meta de lançar candidato próprio em todas as cerca de 300 cidades com mais de 100 mil habitantes. A estratégia fazia parte de um plano para oferecer retaguarda competitiva a Bolsonaro nos municípios, de olho na disputa à reeleição em 2022. Sem o presidente e seus aliados, o PSL vê uma redução de nomes cacifados para concorrer às principais prefeituras do país.
Nesse cenário, a verba do fundo eleitoral do partido virou atrativo para a formação de alianças. Na Bahia, por exemplo, o prefeito de Salvador, ACM Neto (DEM), lançou nesta semana a candidatura de Bruno Reis (DEM) com apoio de 12 partidos, entre eles o PSL. A sigla levará à aliança seus 57 segundos diários de tempo de TV.
CONTRAPARTIDA – Como contrapartida, o PSL espera receber o apoio do DEM à candidatura da professora Dayane Pimentel (PSL) à prefeitura de Feira de Santana, segunda maior cidade da Bahia. Alberto Pimentel, marido de Dayane, é secretário de Trabalho, Esporte e Lazer em Salvador.
Presidente nacional do DEM, ACM Neto afirmou ter liberado os presidentes dos diretórios regionais para costurar alianças nos estados, acreditando que essa autonomia ajuda a “construir uma harmonia nacional”. “O PSL se tornou um partido importante no cenário político e tem de ser visto com atenção”, afirmou o prefeito de Salvador.
A aliança do PSL com o DEM também pode se repetir em outras capitais. No Rio, o PSL declarou oficialmente que lançará o deputado estadual Rodrigo Amorim, eleito com o melhor desempenho nas urnas do estado em 2018 —mais de 140 mil votos. Porém, nos bastidores, as duas siglas costuram uma coligação que pode fazer com que o partido apoie Eduardo Paes (DEM) à prefeitura carioca.
INDEFINIÇÃO EM SP – PSL e DEM também avaliam uma aliança em São Paulo. Lá, a expectativa é que as duas legendas se unam em torno do atual prefeito, Bruno Covas (PSDB). A avaliação de dirigentes do DEM e do PSDB é que Joice Hasselmann pode ser vice na chapa de Covas. O PSL, no entanto, insiste em lançá-la como cabeça de chapa.
Dirigentes do PSL veem Joice Hasselmann, eleita com cerca de 1,07 milhão de votos no estado em 2018, como a principal aposta da legenda. Outro nome de destaque da sigla é Fernando Francischini, deputado estadual no Paraná, que disputará a prefeitura de Curitiba.
“NOIVA COBIÇADA” – O pesquisador da Fundação Getulio Vargas (FGV) Carlos Pereira vê o PSL como uma “noiva” cobiçada nas próximas eleições. Embora candidatos com menor volume de gastos e enfoque nas redes sociais tenham obtido sucesso eleitoral em 2018, Pereira afirma que isto não necessariamente se repetirá nos pleitos municipais.
“A trajetória do PSL será procurar aliados com potenciais puxadores de voto em troca desses recursos”, afirmou Pereira. Em pelo menos dez capitais, o PSL ainda não definiu se lançará candidatura própria. A sigla avalia se vale a pena o investimento em algumas pré-candidaturas já colocadas, como as dos deputados federais Charlles Evangelista, em Belo Horizonte, e Heitor Freire, em Fortaleza.
IMPACTO – O deputado federal Nereu Crispim, presidente do PSL gaúcho, admite que a saída de Bolsonaro impacta o planejamento para as eleições municipais. Crispim, porém, mantém a ideia de lançar candidaturas próprias — inclusive em Porto Alegre, onde disputa a indicação internamente com o deputado estadual Ruy Irigaray (PSL).
“Claro (que muda), até pela maneira como houve essa ruptura. Existia um discurso um pouco mais forte de contestar a união política com outros partidos, e agora fica mais fácil formar alianças”, disse Crispim.
RISCO – Para o cientista político Antônio Augusto de Queiroz, diretor de documentação do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap), o PSL enfrenta o risco de ser visto como um “partido comum” por esta nova configuração. “O PSL deixa de ser o catalizador de todas as indignações do país e passa a ser um partido que vai se valer basicamente do fundo eleitoral”, avaliou.