Pedro do Coutto
No espaço que ocupa em O Globo e na Folha de São Paulo nas edições de domingo, com seu estilo esmerado, Elio Gaspari ingressou no universo do romance policial que tem Conan Doyle e Agatha Christie como maiores destaques. Na trilha de Sherlock Holmes e Hercule Poirot, o jornalista percorre minuciosamente horários nas conversas mantidas pelo ministro Sérgio Moro quando estava à frente do juízo de Curitiba e construiu o processo que culminou com a condenação do ex-presidente Lula, entre outros réus acusados de corrupção.
Gaspari diz que, antes porém, Sérgio Moro divulgou o telefonema entre Dilma Rousseff e Luiz Inácio Lula da Silva, episódio que impediu a nomeação do líder do PT para a Chefia da Casa Civil.
ESQUECIMENTO – Gaspari, entretanto, esqueceu de dizer que o STF decidiu contra a posse do grande eleitor de Dilma Rousseff e responsável pela sustentação, até o limite do possível, da sua ex-candidata e sucessora no Palácio do Planalto.
Gaspari não leva em conta os resultados concretos da atuação de Sérgio Moro, não considerando um aspecto essencial: não fosse ele, o mar de corrupção teria continuado na praia da omissão e do silêncio conivente.
Mas falei no grampeamento do telefonema entre Lula e Dilma, o acontecimento hoje faz parte da história. Mas como no Brasil até o passado é imprevisível, nos dias atuais de fato a divulgação da conversa retirou o combustível numa estrada que transportaria o líder do PT à chefia da Casa Civil.
OUTROS DETALHES – Por trás da divulgação desses fatos de 2016, está a hipótese de anulação das sentenças do juiz então do Paraná não observa que a condenação de Lula foi ampliada pelo Tribunal Regional Federal nº 4, e, no lance subsequente reduzida pelo Superior Tribunal de Justiça. Portanto, anular uma das sentenças apenas revela o absurdo do projeto em curso, por diversas vezes nas últimas semanas levantado por Elio Gaspari. Assim, como poderia ser feita tal anulação?
O artigo de ontem não é um texto isolado, pelo contrário. O jornalista vem abordando a hipótese, como disse acima há algum tempo. Deixa a impressão que se assemelha à tese certa vez erguida pelo General Golberi do Couto e Silva que a utilizava para explicar um ponto comum de convergência para que fossem agudamente interpretado contextos políticos inesperados. Mas esta é outra questão.
CONTRADIÇÃO – Agora a questão essencial está em que, ao condenar as interferências telefônicas entre Sérgio Moro e Deltan Dallagnol, o jornalista Elio Gaspari, para criticar Moro baseia-se num processo semelhante criado pelo site Intercept. Quer dizer, não vale articulação do atual Ministro da Justiça no episódio Lula, mas vale a interceptação do mesmo tipo praticada pela Intercept…
No raciocínio do jornalista, só é ilegítima a atuação do atual Ministro da Justiça. Para finalizar, uma observação que julgo importante para análise do conflito Sérgio Moro e Intercept. As gravações da Intercept foram realizadas em 2016. Qual o motivo da demora de três anos para sua divulgação?