Daniel CarvalhoEstadão
A possibilidade de indicar o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) como embaixador do Brasil nos Estados Unidos é o pior erro do presidente Jair Bolsonaro (PSL) nestes primeiros seis meses de governo. Esta é a avaliação da presidente da CCJ (Comissão de Constituição e Justiça), senadora Simone Tebet (MDB-MS).
Simone Tebet também integra como suplente a CRE (Comissão de Relações Exteriores), colegiado que sabatina e aprova ou rejeita indicações de embaixadores.
SENTIMENTO – “Foi talvez o maior erro do presidente até agora, até porque envolve o próprio filho, sem ter pelo menos tentado entender qual o sentimento hoje do Senado”, disse a senadora. “A sabatina expõe demais o governo e pode dar uma fragilidade que o governo ainda não tem na Casa.”
Tebet diz acreditar que, se fosse hoje, o nome de Eduardo não seria aprovado. “Hoje, ele corre sérios riscos de mandar para o Senado e ser derrotado. A votação é secreta, não tem precedentes no mundo, em países democráticos. Há discussões jurídicas e constitucionais se entraria no caso de nepotismo ou não. E entra até no mérito da questão, se ele está preparado ou não”, disse a presidente da CCJ.
EVANGÉLICO NO STF – Simone Tebet também criticou a declaração de Bolsonaro de que quer indicar um ministro “terrivelmente evangélico” para a próxima vaga que surgir no STF (Supremo Tribunal Federal). Para ela, o presidente foi amador.
“Ele pode escolher um evangélico, como um católico ou um ateu, é um direito que ele tem. Mas, a meu ver foi, no mínimo, uma declaração equivocada, para não dizer, de amador. O presidente erra mais ao falar do que ao agir. Se não tivesse falado, mas tivesse indicado alguém ‘terrivelmente evangélico’, seja lá o que isso significa, não estaríamos falando nada aqui. Estaríamos vendo se é capaz ou não é capaz”, afirmou.
Tebet também elencou como erro de Bolsonaro “querer ir contra as instituições democráticas”.
NÃO TEM VISÃO – “Se tivesse que fazer alguma crítica ao presidente — que eu acho que é bem intencionado, quer combater a corrupção—, é a falta de uma visão maior de país. Muito preocupado com a questão ideológica, com a pauta de costumes, de falar para o seu eleitorado em alguns pontos específicos de promessa de campanha que ele tem quatro anos para cumprir. Não precisa cumprir todas agora”, afirmou Simone Tebet.
“A impressão que eu tenho é que ele está administrando no varejo, quando o Brasil precisa de atacado. Ele precisa abrir o leque, dizer ‘eu tenho a pauta econômica, que não é só a reforma da Previdência, uma pauta de costumes e uma pauta de serviços públicos, políticas públicas’. Parece um samba de uma nota só.”
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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG – Já houve caso de recusa de nomeação de embaixador. Em 1961, o empresário José Ermírio de Moraes (grupo Vorotantim) foi indicado por Jânio Quadros para a embaixada na Alemanha Ocidental. Por pequena margem de votos, seu nome foi rejeitado, sem haver motivos. Na época, os senadores queriam apenas espezinhar Jânio, por suas ligações com o regime de Cuba. Em 1962, José Ermírio se elegeu senador pelo PTN de Pernambuco, com apoio de Miguel Arraes (PTB) e foi conviver com os parlamentares que o tinham rejeitado.
NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG – Já houve caso de recusa de nomeação de embaixador. Em 1961, o empresário José Ermírio de Moraes (grupo Vorotantim) foi indicado por Jânio Quadros para a embaixada na Alemanha Ocidental. Por pequena margem de votos, seu nome foi rejeitado, sem haver motivos. Na época, os senadores queriam apenas espezinhar Jânio, por suas ligações com o regime de Cuba. Em 1962, José Ermírio se elegeu senador pelo PTN de Pernambuco, com apoio de Miguel Arraes (PTB) e foi conviver com os parlamentares que o tinham rejeitado.
Ermírio gostou da brincadeira e se tornou político. No leito de morte, chamou os filhos José e Antonio Ermirio e lhes pediu que prometessem jamais entrar na política. José, o mais velho, cumpriu a promessa. Antonio Ermirio quebrou o voto e se candidatou a governador de São Paulo em 1986 pelo PTB. No início era favorito, mas no final perdeu de lavada para Orestes Quércia, do MDB. Aprendeu a lição e nunca mais quis saber de política. (C.N.)