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Daniela LimaPainel/Folha
Além de expor a desarticulação no Congresso, a tentativa do presidente Jair Bolsonaro, que pretendia aliviar as regras de aposentadoria de agentes de segurança mantidos pela União, expôs de maneira indefectível as divergências entre o presidente e sua equipe econômica. Na manhã de quinta-feira (dia 4), por exemplo, Onyx Lorenzoni (Casa Civil) fez apelo para que policiais federais fossem retirados da reforma da Previdência e inseridos em novo projeto de lei complementar. O ministro Paulo Guedes (Economia) mandou recado na direção oposta.
Guedes sinalizou sua opinião por meio de interlocutores. Ele não se envolveu pessoalmente na operação que contrariava a vontade do chefe.
LOBBY DAS CATEGORIAS – O entendimento da equipe econômica é semelhante ao do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), de que abrir precedente aos policiais pode ampliar o lobby de outras categorias.
A ação do ministro da Economia foi detectada por aliados de presidente que trabalhavam, no Parlamento, para atender os agentes de segurança, uma das bases do bolsonarismo. Esse grupo de deputados diz que Guedes foi “egoísta” ao trabalhar contra a emenda dos policiais.
Aliados de Bolsonaro dizem que as divergências nesse “casamento hétero”, como o próprio presidente nomina sua aliança com Guedes, devem ficar ainda mais claras.
“INGÊNUO”? - O fato de o ministro ter chamado o chefe de “ingênuo” e ainda assim ter sido ovacionado por agentes do mercado financeiro em evento da XP tende a favorecer o quadro de estranhamento.
A bateção de cabeças no partido de Bolsonaro e entre integrantes do próprio governo foi saboreada por líderes de siglas de centro e centro-direita. Pela primeira vez, dizem eles, o presidente prova o gosto da política de confrontação e pressão que criou via redes sociais.
EMENDA – Permanece viva no PSL a ideia de apresentar no plenário uma emenda que retire as polícias da reforma e preveja condições especiais em um projeto de lei complementar.
Em almoço com dirigentes e líderes de partidos, Maia pediu o empenho deles na aprovação das novas regras de aposentadoria até o fim deste mês. Ele avalia que lobbies de servidores vão ganhar mais força com o passar do tempo.
A insatisfação dos agentes de segurança mantidos pela União não foi direcionada apenas a Bolsonaro e Paulo Guedes. O silêncio do ministro Sergio Moro (Justiça) foi alvo de críticas.
SEM DEFESA – “Não tivemos quem nos defendesse na nossa própria casa”, diz Flávio Werneck, diretor jurídico da Federação Nacional dos Policiais Federais.
O retrato final da votação do relatório da reforma na comissão especial marca uma quebra de confiança entre os policiais e o governo. “O presidente não tem força nessa reforma. Está demonstrando que não consegue controlar sua equipe no Congresso”, diz Werneck.