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segunda-feira, junho 13, 2011

O PT tem que entender que seus aliados existem

Osvaldo Lyra-EDITOR DE POLÍTICA

Em entrevista exclusiva à Tribuna da Bahia, a deputada federal e pré-candidata à prefeitura de Salvador em 2012, Alice Portugal (PCdoB), afirma em alto e bom som que o seu partido terá fôlego suficiente para alçar o primeiro voo solo sem o PT. Mais além, a comunista assegura que o PT tem que começar a entender com naturalidade que seus aliados existem. Ela assegurou ainda que não existe nada que possa motivar uma desistência do projeto do PCdoB para 2012. “Só se houvesse um fenômeno intransponível de uma vitória anunciada da direita, do retorno do carlismo, mas esse não é o cenário. Portanto, a nossa decisão é manter a candidatura até o fim e quem tocar o coração do povo no primeiro turno, com certeza, terá o apoio dos outros”.

Tribuna – O PCdoB terá fôlego para alçar o primeiro voo solo sem o PT?
Alice Portugal – O PCdoB terá sim condições porque nós somos um partido com uma marca histórica, somos a mais antiga legenda em exercício político no Brasil, temos uma clareza muito grande sobre a importância das frentes, diga-se de passagem, em função de frentes amplas, nós conseguimos sobreviver às ditaduras que o Brasil já teve no século XX e à última ditadura, que terminou na década de oitenta (1980) no Brasil. Nós prezamos muito o projeto que compartilhamos com o PT, quer seja na Bahia, com Jaques Wagner à frente, quer seja no Brasil, hoje com a presidenta Dilma Rousseff à frente, mas Salvador é uma cidade com dois turnos. Nós teremos uma atitude responsável em relação ao campo político, porque no segundo turno estaremos juntos, mas nós não podemos perder a chance de botar as nossas ideias na rua e para nós é muito importante fazer isso na Bahia, em outras cidades também, e no Brasil.

Tribuna – Seu nome já está posto para 2012. Existe algo que possa motivar uma desistência?
Alice – Não. Só se houvesse um fenômeno intransponível de uma vitória anunciada da direita, do retorno do carlismo, mas esse não é o cenário. Portanto, a nossa decisão é manter a candidatura até o fim e quem tocar o coração do povo no primeiro turno, com certeza, terá o apoio dos outros.

Tribuna – O PT pode emperrar o projeto do PCdoB?
Alice – Eu não acredito que o PT se posicione com este tipo de intenção porque o projeto do PT é o nosso projeto. De maneira similar, temos construído juntos no Brasil. Nós não faríamos voo hoje à condução de governar o Brasil se o PT não tivesse contado com aliados como o PCdoB, fiéis, de primeira hora. Então, eu não acredito que qualquer emperramento seja colocado sob o véu de uma retaliação contra um partido co-irmão, nós temos esse direito, especialmente quando a reforma política anuncia o fim das coligações. É uma tendência muito forte. Então, se essas coligações partidárias terminam, os partidos serão obrigados a colocar as suas chapas para proporcionais, vereadores e deputados federais e estaduais e, evidentemente, candidatos majoritários. Isso é da democracia e a evolução democrática está desenhando essa possibilidade e, portanto, o PT tem que começar a entender com naturalidade que seus aliados existem.

Tribuna - Daniel Almeida chegou a declarar à Tribuna que vão convencer Wagner de que seu nome é a melhor opção da base. Vislumbra um recuo da candidatura petista ou isso é utópico?
Alice – Não é utópico. Na verdade, é o processo de discussão política no primeiro turno. O presidente do partido (do PCdoB), Daniel Almeida, colocou essa intenção de debater com o governador, diga-se de passagem, nós fomos ao governador antes de anunciarmos a pré-candidatura para a imprensa e para a sociedade. Tamanha é a nossa atitude cortês e respeitosa para com o governador Jaques Wagner, um homem com ideias avançadas e com uma prática interessante do ponto de vista da discussão da co-participação com os partidos aliados e o que o Daniel tem dito é que a nossa candidatura, de fato, tem marcas importantes e pode ser que ela seja a candidatura que ofereça um tabuleiro de novidades para a cidade e, objetivamente, isso acontecendo, nós vamos querer o apoio do governador, o governador é de todos nós, é um governador de toda a base aliada e, se for uma candidata de um partido aliado, que lhe traga mais vantagens para o projeto geral, por que não? Por que ele tem que ficar amarrado ao candidato da sua legenda? Na verdade, ele é o governador de toda a base aliada, então vamos ver, vamos oferecer à cidade a oportunidade de conhecer nossas ideias, a nossa prática. Eu já sou uma deputada de cinco mandatos. Eu fui deputada estadual por duas vezes e sou pela terceira vez deputada federal, portanto me sinto madura e preparada, com a serenidade necessária, para colocar as minhas observações e propostas sobre a cidade e ao mesmo tempo aprender também o que a cidade nos diz.

Tribuna - Com a postura de cooptação do PT, há ameaça de ruptura futura?
Alice – Não. Não há risco nesse sentido. Nós e o PT, como se diz na gíria da política, somos primos carnais, nós somos filhos de uma mesma árvore, da mudança social, da expectativa de direitos sociais. Nós estamos no mesmo campo de maneira inexorável na política, então, eu não acredito que qualquer ruptura seja possível, há alianças estratégicas, há um compartilhamento estratégico, agora podem haver diferenças táticas, podemos estar com candidatos diferentes em alguns municípios, como já aconteceu no movimento sindical, muitas vezes tentamos em chapas opostas, mas do ponto de vista de uma responsabilidade com o que há de mais importante para nossa população, que é seu destino, marcado pela ação do Poder Executivo. Não existe possibilidade de ruptura. Pode haver diferenças, com candidaturas diferentes.

Tribuna – O vice-prefeito Edvaldo Brito anunciou na semana passada candidatura entre PTB, PCdoB e PSB. É o nome da senhora que desponta? Como é que está a conversação entre os partidos?
Alice – Esses três partidos têm promovido debates e reuniões porque entre nós há uma agregação constituída por causa do bloco parlamentar na Câmara dos Deputados. O PT aliou-se com o PMDB em bloco, não trabalham num só bloco, mas são os dois grandes partidos do Congresso Nacional e esses partidos da base aliada se agregaram até por motivo de operacionalidade parlamentar nesse bloco parlamentar PTB, PCdoB, PSB e com um diálogo muito bom com o PDT também e por força dessa nossa agregação parlamentar estamos promovendo esse debate. Nossa expectativa é que possa surgir daí, sim, uma candidatura, mas ainda não existe nada traçado para dizer: ‘olha, existe um acerto para o PCdoB ser a cabeça da chapa, o PTB vice’ ou vice-versa, ou o PSB vir também como cabeça, com nomes importantes, como tem, mas não há qualquer discussão nesse plano. O que há é agregação em função da facilidade que temos de estarmos no mesmo bloco parlamentar e estarmos conduzindo um debate, inclusive vamos começar a chamar o PT para participar.

Tribuna – O PCdoB ajudou a eleger João Henrique no primeiro mandato dele. Qual a avaliação, hoje, na oposição, do prefeito? Qual o maior erro da gestão dele?
Alice – Você sabe que nós apoiamos Nelson Pelegrino e apoiamos Walter Pinheiro nessas duas últimas eleições que houve na cidade e, no segundo turno, participamos, inclusive, do governo municipal com dois quadros importantes, Olívia Santana e Ney Campello na Secretaria de Educação, trazendo frutos importantes para a educação da cidade. A minha opinião é que, infelizmente, essa alternância das agregações políticas feitas pelo prefeito, a falta de um projeto definido para a cidade, as atitudes de uma certa dependência de determinados setores da economia da cidade geraram uma despersonalização do projeto dele. Então, hoje, o projeto que ele representa é um projeto superado, é um projeto que não dá respostas às necessidades da cidade, avança por áreas perigosas do ponto de vista do futuro financeiro da cidade, em relação a essa questão da mobilidade urbana, do desenvolvimento das construções civis na cidade, o uso do solo, enfim.

Tribuna – A senhora colocou a questão da mobilidade urbana. É possível reverter essa situação que beira o caos hoje em Salvador?
Alice – Tem que se lutar por isso porque, senão nós declararemos nossa cidade inviável. Então, é preciso lutar por isso. O primeiro debate que nós fizemos sobre mobilidade, ouvimos o presidente do IAB, o arquiteto Daniel Colina. O próprio Ney Campello, à frente da Secretaria Especial da Copa (Secopa), tem tratado, visitado cidades com a visão da estrutura de desenvolvimento de Salvador, foi à África do Sul. Nós temos que trabalhar de maneira muito ampla. A ideia do intermodal, eu tenho achado ela muito mais sensata. Você precisa ter metrô em uma cidade de quase três milhões de habitantes, você precisa completar essa relação com VLT (Veículo Leve sobre Trilhos) em áreas onde não seja possível o metrô e com o BRT (Bus Rapid Transit) para as vias de acesso ao transporte principal. Isso Porto Alegre fez muito bem. É claro que não há paralelo entre uma cidade como Porto Alegre e Salvador, do ponto de vista do desenvolvimento urbano, mas a ideia do intermodal, ela é de fato, em minha opinião, completa e inteligente. Há soluções para Salvador.

Tribuna – Nós estamos em junho de 2011. Falta muito pouco tempo para a Copa do Mundo 2014. É possível, com tanta coisa que falta, deixar a cidade pronta para a Copa das Confederações (2013) e para a Copa do Mundo? Não há um risco de expor Salvador de uma forma muito precária para o mundo todo?
Alice – Acredito que não. Eu, quando estou contra, e quando estou a favor, não duvido da competência da nossa indústria da construção civil. Então, nós sabemos que temos hoje tecnologia. A única coisa que pode complicar é não se aprovar a flexibilidade para a facilitação das licitações, a aceleração das licitações. Então, aprovando-se isso, que está em pauta nessa próxima semana (nesta) no Congresso, e ao mesmo tempo garantindo-se um pacto com São Pedro (risos), mas, felizmente, não somos um lugar de grandes períodos de chuva, eu acredito que dê tempo com certa margem para que Salvador se prepare.

Tribuna - Na Câmara o clima é tenso entre comunistas e petistas. Há risco de rompimento, já que tem tido posicionamentos opostos e conflitantes?
Alice – Não. A relação é de unidade e de luta. Então, estamos juntos naquelas questões que, de fato, julgamos importantes para a cidade. Não vamos estar juntos em questões como a que aconteceu em relação a um projeto de reforma na área relacionada com as águas, um projeto que envolvia um processo de centenas de páginas e, objetivamente, você não teve a oportunidade de ter lido, de conhecer. As nossas vereadoras são preparadas, são pessoas que advêm de movimentos que lhe exigiram qualificação. Então, evidentemente, elas não se submeterão a esse tipo de afogadilho que pode pôr um área estratégica da cidade em risco.

Tribuna – O PCdoB reconhece o vereador Henrique Carballal como líder da bancada de oposição? Sente-se liderado por ele?
Alice – Ele é o líder. De fato, nós estamos envolvidos nessa bancada de oposição, mas temos a independência, a liberdade de, no momento de discordarmos fraternalmente, dizermos a ele que naquele ponto específico não nos submeteremos àquele ordenamento. Isso é que é importante nas coalizões e nas coligações, unidade e luta, apoio e crítica.

Tribuna – Os próprios petistas atribuem esse clima tenso justamente à sucessão municipal, eles dizem que isso se dá devido ao acirramento da disputa em 2012. A senhora se considera o pivô, já que sua candidatura está indo de vento em popa?
Alice – Eu não acredito que, evidentemente, essas coisas se coloquem no nível da sucessão. Será? Será que Carballal articulou e tratou com João Henrique para facilitar a vida financeira da cidade através da Embasa para construir uma coalizão a posteriori? Não sei. Então, eu acredito que tenha sido episódico e espero, quero crer, que nós trabalharemos juntos, de preferência, do primeiro turno, em torno de uma candidatura que possa ser analisada, de uma força aliada. Se- não, estaremos no segundo turno para evitar qualquer ameaça de retorno do carlismo. Isso para nós é fundamental. Eu dediquei a minha juventude enfrentando esse mal maior que infelicitou a Bahia por quase quarenta anos. Obviamente nós não teremos qualquer dúvida de no segundo turno estarmos ao lado do que se sair melhor no primeiro. Mas nós estamos com muita certeza que temos chance de sermos abraçados pela população de Salvador.

Tribuna – O que a senhora avalia hoje como maior entrave no governo Wagner?
Alice – Eu acho que o governo vai muito bem. Lhe falo sinceramente. Acho que o governo tem dado viradas históricas em relação à alfabetização de jovens e adultos na Bahia; em relação à espraiar serviços de água; a própria saúde, apesar da minha discordância com a terceirização de serviços na saúde, que pode gerar prejuízos futuros ao próprio erário público e menospreza a importância dos seus servidores, mas o governador vem dando respostas com a construção de novos hospitais; com o renascimento da Bahiafarma, e eu, como farmacêutica, saúdo especialmente essa renovação. Eu acho que o governo vai muito bem. A crise econômica nos abalou no ano passado e continua deixando seus vestígios no objeto investimento. Então, o que é que nós temos que destravar? Destravar investimentos para que a Bahia possa ocupar de fato o lugar que tem, mas eu confio que o governador está atento a isso.

Colaboraram:
Fernanda Chagas e Romulo Faro.

Fonte: Tribuna da Bahia

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