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domingo, outubro 09, 2022

Bolsonaro diz que pode descartar aumento de ministros do STF se corte baixar temperatura

 Domingo, 09 de Outubro de 2022 - 15:40

por João Gabriel, Renato Machado e Paula Soprana | Folhapress

Bolsonaro diz que pode descartar aumento de ministros do STF se corte baixar temperatura
Foto: Reprodução / YouTube

O presidente Jair Bolsonaro (PL) afirmou neste domingo (9) que deve decidir sobre a proposta de aumento do número de ministros do STF (Supremo Tribunal Federal) após as eleições e que ela vai depender da "temperatura" na corte.
 

Em entrevista para um canal no YouTube, Bolsonaro fez as contas dos ministros que pode ter a seu favor caso seja reeleito. Seriam os dois já indicados por ele, Kassio Nunes Marques e André Mendonça, mais dois que entrariam no próximo mandato, após a aposentadoria de Rosa Weber e Ricardo Lewandowski.
 

O mandatário foi questionado especificamente por um dos entrevistadores sobre a sugestão de aumentar a composição do STF, que tem 11 ministros atualmente. Disse que já recebeu essa sugestão, mas que vai decidir depois das eleições.
 

"Se eu for reeleito, e o Supremo baixar um pouco a temperatura, já temos duas pessoas garantidas lá [Kassio Nunes Marques e André Mendonça], tem mais gente que é simpática à gente, mas já temos duas pessoas garantidas lá, que são pessoas que não dão voto com sangue nos olhos, tem mais duas vagas para o ano que vem, talvez você descarte essa sugestão", afirmou o presidente ao canal Pilhado.
 

"Se não for possível descartar, você vê como é que fica. Você tem que conversar com o Senado também a aprovação de nomes. Você tem que conversar com as duas Casas a tramitação de uma proposta nesse sentido. E está na cara que muita gente do Supremo vai para dentro da Câmara e do Senado contrário, porque se você aumenta o número de ministros do Supremo, você pulveriza o poder deles. Eles passam a ter menos poder e lógico que não querem isso", completou.
 

O presidente teve um ambiente bastante amigável durante o podcast, com ambos os entrevistadores manifestando voto em Bolsonaro e repetindo mantras bolsonaristas, como críticas ao Judiciário e à imprensa.
 

Um deles, Paulo Figueiredo, é neto do último ditador do regime militar, o ex-presidente João Baptista Figueiredo (1918-1999). O comentarista louvou em alguns momentos o governo de seu avô, como a política habitacional.
 

Bolsonaro repetiu em diversos momentos críticas aos ministros do Supremo, embora não tenha usado desta vez palavras de baixo calão. Disse novamente ser perseguido e voltou a citar a determinação do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), que o proibiu de realizar lives dentro do Palácio do Alvorada.
 

"Os caras têm lado político, os caras decidem. Qualquer ação no Supremo, TSE, dá ganho de causa para o outro lado. Não tem isenção nisso tudo", afirmou.
 

O candidato também fez um apelo para que a corte eleitoral não derrube a rede de influenciadores e políticos que faz propaganda intensa a ele pelo Twitter. O time jurídico do PT vem estudando os principais perfis pró-Bolsonaro e entrou no TSE com uma representação cobrando a rede social pela disseminação de fake news por essas contas.
 

A lista de mais de 30 nomes inclui os filhos Carlos e Flávio Bolsonaro, sendo o primeiro o líder da campanha do pai na internet, a deputada federal Carla Zambelli (PL-SP), o deputado federal Ricardo Salles (PL-SP), a produtora Brasil Paralelo e influenciadores como Kim Paim e Bárbara Destefani.
 

"Peço que nosso querido TSE não embarque nessa porque se tirar o pessoal lá e eu nada fizer aqui é você mandar um batalhão para a guerra e no meio do caminho você tira os canhões dele. É nessa situação que eu fico aqui. Eu ia entrar na guerra e, em vez de fuzil e canhão, com pau e pedra, vou perder essa guerra", afirmou, referindo-se ao segundo turno da eleição.
 

Bolsonaro também foi questionado sobre o deputado federal André Janones (Avante-MG) e disse que ele é um "mal tremendo à nação".
 

O presidente depois acrescentou que "é impossível eu governar mais quatro anos com o Supremo fazendo ativismo judicial".
 

Em outro momento, Bolsonaro afirmou que o STF "condena santos e liberta capetas". O presidente usou a palavra santo, em particular, para se referir ao deputado Daniel Silveira (PTB-RJ), condenado por ameaças e incitação à violência contra ministros da corte.
 

O presidente Jair Bolsonaro também disse que, em caso de reeleição, terá muito mais facilidade para aprovar medidas de seu interesse no Congresso Nacional, por ter fortalecido a sua bancada nas últimas eleições.
 

"Temos um Congresso mais conservador [...] vou ter facilidade para aprovar projetos de interesse da população", afirmou.
 

Bolsonaro também criticou o uso pela campanha de Luiz Inácio Lula da Silva de entrevista na qual afirma que comeria um índio. Disse que a menção ao canibalismo teria o intuito de "amedrontar a população". A frase associada ao canibalismo foi dada por Bolsonaro em entrevista ao jornal New York Times.
 

O mandatário também acusou seus opositores de jogo sujo ao divulgarem que o senador Fernando Collor de Mello (PTB-AL) se tornaria ministro da Previdência em eventual segundo governo e que iria confiscar a aposentadoria de aposentados.
 

"Agora estão falando duas coisas aí. Primeiro, que eu sou canibal. Pô, é foda né? Aguentar um trem desse aí. A outra é que o Collor vai ser ministro e que nós vamos confiscar a aposentadoria dos aposentados. É o tempo todo assim", afirmou.
 

Após ter relacionado a vitória de Lula no Nordeste à alta taxa de analfabetismo na região, Bolsonaro buscou amenizar a situação e disse que nunca havia feito essa associação. E, sem provas, levantou dúvidas sobre o desempenho do petista na região.
 

"Falam muito que o Nordeste é reduto do PT, no meu entender não é mais reduto do PT. Tem voto lá o PT, tem. Mas não a esse ponto. Não teve festa na Bahia com o Lula com dois terços do voto pro lado dele. Não justifica isso. Então, foi bastante esquisito esse resultado", afirmou.
 

Bolsonaro passa o domingo em Brasília após viagem no fim de semana. No sábado (8), o presidente participou das festividades do Círio do Nazaré, em Belém. O mandatário esteve a bordo da Corveta da Marinha Garnier Sampaio, embarcação que leva a Imagem Peregrina de Nossa Senhora de Nazaré, mas permaneceu isolado.
 

A procissão pelas águas da baía do Guajará faz parte das 13 romarias do Círio de Nazaré, considerada uma das maiores festas religiosas católicas do mundo.
 

Ao retornar a Brasília, no fim da tarde, o presidente foi direto para o estádio nacional Mané Garrincha, onde posou para fotos com a dupla Henrique e Juliano.

Bahia Notícias

Lula minimiza apoio de Zema a Bolsonaro e diz que 'povo' não é 'gado'

 Domingo, 09 de Outubro de 2022 - 17:00

por Leonardo Augusto e Matheus Tupina | Folhapress

Lula minimiza apoio de Zema a Bolsonaro e diz que 'povo' não é 'gado'
Foto: Divulgação/Ricardo Stuckert

O ex-presidente e candidato ao Planalto Luiz Inácio Lula da Silva (PT) minimizou o apoio do governador reeleito de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), ao presidente Jair Bolsonaro (PL) para o segundo turno a ser disputado entre os dois. Em entrevista coletiva antes de caminhada realizada pelo petista em Belo Horizonte, capital mineira, Lula afirmou que Zema tem liberdade de apoiar quem ele quiser, mas que o "povo" não é "gado".
 

"Primeiro, o governador Zema tem liberdade de apoiar quem ele quiser. Não me oporei, nem pensava que fosse diferente [ele não apoiar Bolsonaro]. A única coisa que ele tem que levar em conta é [se ele] pensar que o povo é gado, que o povo pode ser levado prá lá e pra cá. O povo tem consciência", disse.
 

Ele também prometeu terminar o Hospital Geral de Divinópolis, ressaltando os feitos dos governos petistas. "Se Zema fizer mais de 10% do que fizemos aqui em Minas, ele terá remorso. Ele precisa ver quantas casas populares foram feitas aqui em Minas até 2016", afirmou o ex-presidente.
 

O governador mineiro anunciou, na última terça-feira (4), o apoio à reeleição de Bolsonaro. O mandatário afirmou que a ajuda é "essencial" e "decisiva" para vencer as eleições.
 

Zema, por sua vez, disse que tem divergências com o chefe do Executivo, mas que neste segundo turno das eleições é importante deixar as diferenças de lado para evitar uma vitória do ex-presidente petista.
 

Na entrevista, Lula também disse que não ganhou no primeiro turno porque uma parcela da população não quis, e relembrou os pleitos de 2002 e 2006, dizendo que nunca venceu uma eleição na primeira etapa. Ademais, reiterou que aceitará o resultado das eleições independentemente de qual for.
 

"Agora, os votos estão definidos. Quem é Cruzeiro, é cruzeiro e quem é Atlético, é Atlético. Agora não tem choro nem vela, quem tiver mais voto ganha. Gostaria de ter convencido mais gente a votar em mim, mas o resultado será acatado. Por mim não tenham dúvida. Quem ganhar, e espero que seja eu, tenha direito de sorrir, e quem perder, tenha direito de chorar."
 

Lula também reagiu à decisão do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) que obrigou a retirada de conteúdos que envolvem Bolsonaro a práticas canibalistas, com base em entrevista dada pelo então deputado ao jornal americano The New York Times em 2016.
 

"Justiça pediu para tirar coisa nossa que não é fake news. É o presidente falando em entrevista. Ele pensa assim. Se puder, ele come índio", declarou.
 

Semanas antes do primeiro encontro do eleitor com as urnas, Zema disse ter recusado proposta de aliança com Bolsonaro, mas questionado sobre um possível apoio no segundo turno, afirmou que "apoiar o PT te adianto que não apoiarei".
 

Porém, Zema também declarou achar natural um voto combinado entre ele e Lula, chamado de "Luzema". "O eleitor é pragmático. Ele vota onde percebe que há melhores perspectivas e tivemos no passado uma coincidência durante o governo do presidente Lula de uma série de fatores no mundo", disse.

Bahia Notícias

Macron planeja vir para eventual posse de Lula, mas não de Bolsonaro, diz coluna

 Domingo, 09 de Outubro de 2022 - 09:40

por Redação

Macron planeja vir para eventual posse de Lula, mas não de Bolsonaro, diz coluna
Foto: Ricardo Stuckert/Divulgação

O presidente da França Emmanuel Macron planeja vir para a posse de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), em janeiro, caso o petista seja eleito. No entanto, o mesmo não ocorrerá se Jair Bolsonaro (PL) for reeleito.

 

A informação foi divulgada pelo Metrópoles, parceiro do Bahia Notícias. A relação entre Bolsonaro e Macron não é boa, principalmente desde que Bolsonaro fez piada com a professora Brigitte Macron, casada com o francês.

 

Já com Lula, Macron tem excelente relação. Os dois se reuniram no ano passado no Palácio do Eliseu, honraria nunca concedida a Bolsonaro.

Bahia Notícias

Bolsonaro pode ser o autor do maior esquema de corrupção da história do Brasil

 cervo Online | Brasil

por Gabriel Dantas Romano
7 de outubro de 2022

Em 5 de outubro de 2022, o presidente Bolsonaro desviou mais R$ 10,5 bilhões de verbas que seriam destinadas à saúde, ciência e educação para agregar metade do valor ao “orçamento secreto”

O argumento de combate à corrupção tem sido a justificativa central dos votos de milhares de brasileiros. Historicamente, a corrupção sempre foi um tópico sensível para o eleitor, capaz de reativar um suposto sentimento cívico e de dever moral da nação que batalha para viver em um país melhor.

Nas campanhas de 1960, Jânio Quadros se valeu da emblemática “vassourinha” como elemento simbólico de combate à corrupção e foi eleito sob o pretexto de solucionar a questão. Mas será que os eleitores da época tiveram a oportunidade de pensar se esse combate vinha acompanhado de propostas e projetos políticos econômicos que realmente iriam beneficiar o Brasil? O que vem dentro do pacote do “combate à corrupção”? Ao longo da história, esse discurso atrativo, sedutor e vazio vem acompanhado ou desacompanhado de medidas realmente eficientes? No final das contas, sabemos que o discurso difere da prática. No caso de Jânio, ele foi exposto como corrupto pela própria filha, apesar de ter se valido dessa antiquíssima batalha moral para construir uma imagem positiva.

Assim, o combate à corrupção vem sendo mobilizado como uma solução para as mazelas sociais e políticas do Brasil. Nos discursos eleitorais, a corrupção aparece como a causa da decadência e fracasso do país; as mazelas sociais, a desolação do povo e o atraso são responsabilidades dela, e não do funcionamento de uma estrutura socioeconômica mais profunda. Ou seja, anunciam a corrupção como uma causa e não como uma consequência. Pela natureza dessa lógica, não são a configuração do sistema e a estrutura das relações sociais e econômicas que reproduzem desigualdades, problemas sociais e afins, mas sim o desvio de dinheiro público. Nesse âmbito, o problema da corrupção, um tópico tão necessário e importante, é sequestrado por um combate falso e desvencilhado de projetos políticos reais e coerentes.

Por isso, a indignação contra esse grave problema deve ser estimulada junto de um entendimento mais amplo e profundo sobre a política. Nos últimos anos, testemunhamos um combate hipócrita e parcial. Numa sociedade de telecomunicações para massas, até a indignação contra o desvio de dinheiro é algo fabricado para beneficiar interesses pré-determinados e se torna algo completamente seletivo. Ao invés de um repúdio generalizado da corrupção e compra de voto como forma de governo, presenciamos no Brasil contemporâneo um ataque seletivo que visa desmoralizar um partido em específico. Do mesmo modo que, na época de Jânio, o projeto desenvolvimentista de Juscelino Kubitschek teve sua reputação prejudica pelo mesmo pretexto.

O presidente Bolsonaro desviou mais R$ 10,5 bilhões de verbas que seriam destinadas à saúde, ciência e educação para agregar metade do valor ao “orçamento secreto”. (Foto: Rodrigo Paiva/Getty Images)

 

Não é segredo que Bolsonaro está envolvido em escândalos de corrupção. Porém, a indignação contra os esquemas criminosos que ele arquiteta não se populariza. Desde o orçamento secreto, em que o repasse de recursos para o Congresso opera sem transparência de como, onde e por quem o dinheiro será gasto e utilizado, os esquemas de corrupção vêm sendo institucionalizados. Em relação aos crimes imorais e gananciosos dos “homens de bem”, a nação continua deitada em berço esplêndido, pois nenhuma revolta é manifestada.

Para quem acompanha com rigor o mundo da política, já está claro que o orçamento secreto é um mecanismo de desvio dinheiro público e compra de voto, uma forma de corrupção institucionalizada. Esse assalto aos cofres públicos está sendo responsável por um rombo de bilhões de reais, o desvio de verbas desse esquema já envolve inúmeras denúncias de corrupção. Foi através do orçamento secreto que tratores, equipamentos agrícolas, caminhões de lixo, ônibus escolares, ambulâncias, puderam ser comprados acima dos valores, num caso evidente de superfaturamento. Com a verba desviada pelo orçamento, prefeituras estão contratando empresas suspeitas de desvio de dinheiro da saúde e educação e bancando fraudes no SUS, e os políticos estão podendo negociar compra de votos bilionárias. Nesses três anos, esse esquema subtraiu R$ 65 bilhões de dinheiro público. Além disso, no dia 5 de outubro de 2022, o presidente Bolsonaro desviou mais R$ 10,5 bilhões de verbas que seriam destinadas à saúde, ciência e educação para agregar metade do valor ao “orçamento secreto”.

Parece que os “homens de bens” possuem certa permissibilidade para perpetrar seus crimes sem impedimentos. A imagem de corrupto, ladrão, não se populariza quando diz respeito a um homem “cristão, conservador, defensor da família e cidadão de bem”. Talvez se Bolsonaro fosse um político trabalhista que luta por melhorias e avanços sociais, os adjetivos negativos pegassem nele. A mídia não repete à exaustão cada passo em falsos de um político pró-sistema. Não é isso que acontece, não há nenhuma cobertura exaustiva da mídia sobre o assunto, não é atribuído ao ato nenhum escândalo moral e os brasileiros não são imbuídos de pânico pelo esquema. Há omissão.

Quem defende o sistema sempre terá imunidade, não importa o que faça, pois simplesmente há uma estrutura de poder apoiando tal indivíduo. Há uma permissibilidade social subentendida. Por isso, Bolsonaro pode falar vários absurdos e nunca ser responsabilizado (por exemplo, dizer que vacinas causam Aids), ou até mesmo ser um corrupto descarado sem ter a sua reputação prejudicada.

Já quem possui consciência social e de alguma forma ameaça interesses dos poderosos, mesmo que de forma tímida e limitada, sempre terá suas falas e atitudes escrutinadas e analisadas nos mínimos detalhes a fim de ser recriminado, criminalizado e demonizado à exaustão. Qualquer passo em falso é hiperbolizado, ampliado, a fim de destruir a sua reputação. Dilma furou o teto de gastos para financiar programas sociaos e sofreu um impeachment, Bolsonaro estourou o teto em R$ 213 bilhões visando medidas eleitoreiras e continua intacto, com 51 milhões de votos no primeiro turno.

 

Gabriel Dantas Romano é ativista ambiental e estudante da USP.

https://diplomatique.org.br/bolsonaro-pode-ser-o-autor-do-maior-esquema-de-corrupcao-da-historia-do-brasil/

Besteira pouca é bobagem




Por Carlos Brickmann (foto)

Falta pouco para a escolha do presidente da República. Até agora nenhum dos dois candidatos disse o que pretende fazer se for eleito. Lula, segundo pessoas próximas, aproveitará seu mandato para lustrar uma biografia de extrema esquerda, com estatizações, regulamentações generalizadas (o que inclui a imprensa, num retorno à Censura), volta à política dos “campeões nacionais”. Segundo outras pessoas próximas, vai aproximar-se da classe média, com políticas que exercitou em seus mandatos e baseadas na Carta aos Brasileiros. Bolsonaro garantirá verbas à Educação e à Pesquisa, irá se afastar ou se aproximar da China, continuará a administrar por atrito?

Os dois candidatos se esmeram, ao contrário, apenas em campanhas de destruição da imagem do adversário. Lula desenterrou uma velha declaração de Bolsonaro, de estupenda falta de senso, dizendo que só não comeu carne de índio por falta de companhia. Bolsonaro recortou uma fala de Lula para inverter seu sentido: Lula disse que nenhum governo investiu em educação e foi preciso que ele, quase analfabeto, abrisse universidades e garantisse verbas para o ensino. Bolsonaro só manteve a parte referente a “nenhum governo investiu em educação” no vídeo que divulgou, para dar a impressão de que Lula incluía seu governo entre os que não gastaram com educação.

Em 1692, houve uma caça às bruxas em Salem, nos EUA. Não é que agora, mais de 300 anos depois, a eleição aqui gira em torno da religião?

 De volta para o futuro

Em 1618, na Europa, começou a Guerra dos 30 Anos, entre protestantes e católicos. No final, houve um acordo: em cada Estado a população teria a religião de seu monarca. Naqueles tempos, era estranhíssima a ideia de que cada pessoa pudesse ter a religião de sua escolha. E que é que discutimos no Brasil de hoje? Se um candidato ter visitado um templo maçom é suficiente para que não se vote mais nele, ou se evangélico deve ser obrigado a votar em evangélico. No século 15, Galileu Galilei demonstrou que a Terra é uma esfera. E hoje temos discussões sobre a Terra plana.

Só falta discutir se os índios têm alma – e dá até medo ver essa ideia voltar na campanha eleitoral mais antiga de nossa História.

Boa notícia

O jornalista e escritor Ruy Castro, competentíssimo, é o novo membro da Academia Brasileira de Letras. Castro, com seu texto deliciosamente agradável, é colunista da “Folha de S.Paulo”, autor de excelentes biografias de Garrincha, Carmen Miranda, Nelson Rodrigues, de livros sobre movimentos musicais – “Chega de Saudade”, “A Onda que se Ergueu no Mar”, sobre a bossa nova, “A Noite do Meu Bem”, sobre o samba-canção, e sobre o Rio de Janeiro, sua cidade do coração (embora tenha nascido em Caratinga, Minas Gerais).

Pois Ruy Castro é carioca como poucos cariocas. É capaz de escrever sobre temas dolorosos e complexos com sinceridade e mantendo uma qualidade literária que agrada a todos. Ruy é alcoólatra e narra sua luta diária contra o problema; já foi demitido por adultério. Um nome que engrandece a Academia Brasileira de Letras. Como escreve bem!

 A marcha das urnas

Já saem as primeiras pesquisas sobre o segundo turno, com vantagem para Lula, mas encostado no empate técnico. De qualquer forma, é cedo: a campanha está aberta e o fôlego do bolsonarismo e de Bolsonaro surpreendeu. Haverá erros e alguns, em ambas as candidaturas, podem ser fatais. Lembremos que, nas eleições de 2018, uma declaração infeliz de Ciro Gomes (de que o papel de sua então esposa Patrícia Pillar na campanha era o de dormir com ele) provocou forte queda em seus índices.

 As mudanças

Bolsonaro está um pouco atrás, mas tem a caneta, a tinta e a disposição para utilizar todo o poder da Presidência na luta pela reeleição. Pode-se achar um monte de defeitos no presidente, mas ele não pode ser subestimado. Sim, pode ser grosso, tosco, o que se quiser, mas burro não é: burro não chega até onde chegou. E não leve muito a sério a tradição de que ninguém ganha uma eleição se não ganhar em Minas Gerais: a tradição existe enquanto existir, e nada impede que seja modificada. Lula, sem dúvida, tem mais carisma. Mas ou mostra o que pretende fazer se eleito ou corre grandes riscos.

Bolsonaro mente com a maior tranquilidade (agora, nega que tenha prometido nomear um ministro terrivelmente evangélico para o Supremo. Mas já nomeou André Mendonça; já comentou que gostaria de ver o STF iniciar as sessões com uma oração). A mentira pode ou não pegar e influir poderosamente nos números finais.

A grande pergunta

Uma dúvida: sabendo-se que o país está dividido e que é muito mais difícil governar assim, qual dos candidatos terá planos para reduzir o ódio entre as alas predominantes no país? Algum candidato terá esses planos?

Brickmann.com.br

"Bolsonaro lucrou se aliando com a política tradicional"




Bolsonarismo soube usar ferramentas digitais para fazer trabalho de base e foi impulsionado ainda mais com o apoio da máquina partidária, segundo cientista social Marcos Nobre (foto).

Por Rayanne Azevedo

O bom desempenho do presidente Jair Bolsonaro no primeiro turno das eleições é resultado de uma combinação de atuação digital e de política tradicional, avalia Marcos Nobre, presidente do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap) e professor do departamento de filosofia da Unicamp.

"Bolsonaro apelou para alguém que sabe fazer política tradicional, que pega recursos de campanha e consegue transformá-los em mais votos. Junto com isso houve uma atuação paralela dessa máquina de desinformação e propaganda do partido digital bolsonarista", afirma Nobre.

O pesquisador atribui ainda o sucesso eleitoral de Bolsonaro e seus aliados no primeiro turno ao "trabalho de base" do "partido digital bolsonarista", expressão que usa para se referir à militância aguerrida reunida no entorno do presidente. "A mensagem bolsonarista entra em grupos de mães, em discussões de grupos religiosos, de pessoas que procuram emprego – redes de solidariedade de todo tipo."

Em entrevista à DW Brasil, Nobre analisa também o cenário pós-eleitoral e alerta para o risco real de uma guinada autoritária no Brasil, caso Bolsonaro vença o segundo turno.

"Vamos ter um cenário húngaro: com a confiança nas instituições democráticas sendo minada no primeiro mandato para, num segundo mandato, efetivamente fechar o regime por dentro", destaca o autor do livro Limites da Democracia, uma análise da política brasileira desde as jornadas de Junho de 2013 até os dias atuais.

DW Brasil: O que explica o bom desempenho da direita bolsonarista no primeiro turno?

Marcos Nobre: Houve uma aliança com a política tradicional – com o PL do Valdemar Costa Neto, PP e Republicanos, além de partidos menores como PTB e PSC. Bolsonaro apelou para alguém que sabe fazer política tradicional, que pega recursos de campanha e consegue transformá-los em mais votos. Junto com isso houve uma atuação paralela dessa máquina de desinformação e propaganda do partido digital bolsonarista.

É uma combinação de política tradicional e elementos novos digitais. De um lado, tem a política tradicional; de outro, interesses mais diretos do partido digital bolsonarista. Uma estrutura potencializa a outra. Às vezes elas entram em conflito, mas na maioria dos casos elas se complementam. Um exemplo desse conflito é a corrida pelo Senado em Brasília: tinha a candidata do PL, que é o partido de Bolsonaro, mas o partido digital bolsonarista atuou o tempo todo pela eleição da Damares [Alves, ex-ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, que foi eleita pelo Republicanos].

Tem também o poder da máquina partidária e do governo. Bolsonaro é o presidente, não dá para desconsiderar isso. Isso gera uma potencialização da votação do PL que é muito impressionante – desde 1998 que não tinha uma bancada desse tamanho [no Congresso].

E por que esse partido digital bolsonarista é eficiente?

O partido digital bolsonarista atua na esfera institucional, em conjunto com a política tradicional, mas também está no cotidiano das pessoas. Há muita fantasia sobre o que é esse tipo de organização em rede partidária, porque as pessoas acham que são grupos de WhatsApp, Telegram e TikTok só sobre política. Isso não é verdade.

A mensagem bolsonarista entra em grupos de mães, em discussões de grupos religiosos, de pessoas que procuram emprego, que precisam trocar coisas – redes de solidariedade de todo tipo. Os antigos partidos faziam isso, que é conhecido como trabalho de base – e é o que o bolsonarismo faz. Essa é a sua força. Não é só um partido, uma máquina de desinformação e propaganda que está descolada da vida das pessoas. De jeito nenhum. Está lá, no cotidiano. E é por isso que consegue eleger.

E a esquerda?

O campo progressista acha que basta chegar nas pessoas e dizer o que é o mundo ideal que elas automaticamente vão se converter. Não é uma postura de convencimento; é uma postura de chegar para dar lição. Perderam a tecnologia e a capacidade de fazer trabalho de base. E fazer trabalho de base é conversar de verdade. É chegar lá para ouvir, ser escutado, respeitar a posição e saber que a pessoa, depois de horas de conversa, pode manter a mesma posição que tinha antes.

Progressistas quando encontram alguém que não vota no ex-presidente Lula e diz "Lula é ladrão", viram as costas e vão embora, dizem que não dá para conversar. Tem que discutir, levar a sério. Se esse é o ponto de partida, não se conseguirá nunca mesmo convencer ninguém.

O bolsonarismo age diferente?

O bolsonarismo faz isso, ele convence aqueles que não estão primeiramente convencidos, faz trabalho de base. Tem essa diferença. Acho que é uma diferença grave, porque mostra que o partido digital bolsonarista tem enraizamento e representatividade na sociedade.

Votar em Bolsonaro não significa ser autoritário. Pelo contrário. Cerca de 15% do eleitorado é efetivamente autoritário. É um grupo grande, mas de maneira alguma chega aos 43% que votaram no Bolsonaro. Colocar todo mundo no mesmo saco é abrir mão de fazer política.

Caso Bolsonaro perca a eleição, qual é o futuro dessa extrema direita que ele personifica?

Bolsonaro, num primeiro momento, vai ser o líder da oposição porque ele tem a hegemonia do campo mais amplo da direita. E o tipo de oposição que ele vai fazer é muito diferente do que já se viu no Brasil, porque é uma oposição que não está preocupada em ganhar a próxima eleição. Não que ele não queira ganhar, não é isso. Mas essa não é a preocupação central, então não há limites para o tipo de oposição que você pode fazer. É uma oposição, em termos democráticos, totalmente desleal, feroz.

Temos uma situação hoje em que o campo da direita no Brasil é hegemonizado pela extrema direita. Vai surgir uma nova direita democrática para disputar essa hegemonia? Porque se isso não acontecer, teremos um governo que vai ter como principal opositor a extrema direita, e não a direita. E isso implica um risco autoritário permanente para o país.

O que seria essa oposição desleal?

Existem algumas limitações para uma oposição que é democraticamente leal, que segue as regras da alternância de poder democrático – porque quando ela chegar ao poder, vai ter que ser capaz de entregar aquilo que criticou no outro. No caso da extrema direita, como o objetivo não é a democracia, você pode dizer absolutamente qualquer coisa. Não há limites. O projeto não é meramente eleitoral. A eleição é só uma escadinha para chegar ao seu objetivo, que é destruir a democracia – nesse esquema característico do autoritarismo da década de 2010, que são autoritarismos pela via eleitoral, e não mais golpes clássicos.

E se o Bolsonaro for reeleito, o que esperar?

Vamos ter um cenário húngaro, seguindo esse modelo estabelecido pela Hungria, [nos moldes dos] autoritarismos da década de 2010: com a confiança nas instituições democráticas sendo minada no primeiro mandato para, num segundo mandato, efetivamente fechar o regime por dentro.

Como?

Primeiro, assumindo o controle da maioria da suprema corte – no caso, do Supremo Tribunal Federal. Já tem uma emenda na Câmara para aumentar de 11 para 15 o número de ministros. Aumentando de 11 para 15, o Bolsonaro já indicou dois, indicaria mais quatro [mais os sucessores de Ricardo Lewandowski e Rosa Weber, que se aposentam em 2023, totalizando oito ministros], e ele teria maioria no STF. Na sequência, você faz uma reforma legislativa que te dá maioria parlamentar mesmo você não tendo a maioria dos votos.

Você começa a impor restrições para aquelas parcelas do eleitorado que não fazem parte do seu bastião de votos – por exemplo, os mais pobres –; faz um projeto de centralização do controle das polícias; mantém elementos tipicamente ditatoriais, como o orçamento secreto; oficializa uma polícia secreta; asfixia a imprensa; começa a restringir as críticas de todos os lados. Vai sufocando as pessoas cada vez mais – na universidade, na imprensa – e tem um fechamento progressivo do regime por dentro.

Isso já vem sendo preparado no primeiro mandato: sete em cada dez brasileiros têm medo de emitir as suas opiniões, medo de violência. Isso já é uma vitória enorme do bolsonarismo, [que] quer infundir nas pessoas o medo de se expressar livremente.

Deutsche Welle

Eleições 2022: por que Bolsonaro perdeu votos em capitais e cresceu em cidades do interior?




Votos no presidente migraram das capitais e grandes cidades para municípios menores, especialmente naqueles onde ele recebeu poucos votos há quatros anos

Por Luis Barrucho, em Londres 

Um fenômeno foi observado por especialistas ao fim do 1º turno das eleições presidenciais: os votos em Jair Bolsonaro (PL) migraram das capitais e grandes cidades para municípios menores na comparação com 2018, quando ele assumiu a Presidência.

E isso se deu com mais força naqueles lugares onde ele recebeu poucos votos há quatros anos, segundo Fernando Meireles, pesquisador de pós-doutorado em Ciência Política no Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap).

Em cidades com menos 50 mil eleitores no Nordeste e no Norte, por exemplo, o atual presidente, que concorre à reeleição, melhorou sua votação média em mais de três pontos percentuais. Nos maiores, ao contrário, perdeu mais que isso.

No Nordeste, o percentual de votos válidos em Bolsonaro cresceu por todo o interior dos Estados. No Norte, especificamente, esse padrão quase não teve exceções.

Mas o mesmo não foi observado em praticamente nenhuma das capitais: Bolsonaro se saiu "pior" do que na eleição anterior.

Na cidade de São Paulo, por exemplo, Bolsonaro teve 37,99% dos votos válidos, contra 47,54% de Lula. Em 2018, Bolsonaro teve 60,38% dos votos válidos contra 39,62% de Haddad na capital paulista.

Meireles lembra que o atual presidente teve um desempenho excepcional nas grandes metrópoles em 2018, muito melhor que o de Aécio Neves no 1º turno de 2014.

Mas o que poderia explicar esse voto em Bolsonaro em cidades menores?

'Apesar de ter ido melhor do que as pesquisas indicavam em SP e RJ, Bolsonaro foi pior em praticamente todos os municípios desses Estados agora. No Rio, a piora foi quase geral'

Esse fenômeno de interiorização de votos em Bolsonaro ainda não é inteiramente compreendido por especialistas.

Mas há hipóteses.

Uma delas é o pagamento do Auxílio Brasil.

Uma reportagem recente da Folha de S. Paulo analisou o padrão de votação dos dois candidatos nos municípios brasileiros, considerando a cobertura do programa social que substituiu o Bolsa Família. A reportagem concluiu que o pagamento do benefício não reverteu a tendência de vitória no PT entre os mais pobres.

Ou seja, Lula foi, de forma geral, o grande vencedor nesses municípios.

Segundo outra reportagem, da CNN Brasil, o petista liderou os votos em todas as 100 cidades que mais recebem Auxílio Brasil.

Mas cruzando os dados dos resultados do 1º turno do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e o pagamento do Auxílio Brasil, Meireles mostrou que há uma relação mais forte entre os municípios que receberam mais repasses per capita do Auxílio Brasil e a votação em Bolsonaro na comparação com 2018 sobretudo no Norte, mas também no Nordeste e no Centro-Oeste.

No Sudeste, essa relação também parece existir em algumas cidades, mas no Sul, não.

Ou seja, "no nível agregado", municípios deram mais votos a Bolsonaro justamente nos locais mais beneficiados pelo Auxílio, contrabalançando a perda das grandes cidades, segundo Meireles.

Tome-se como exemplo o caso de Serrano do Maranhão, no Maranhão, que tem 34% do seu PIB ocupado por rendimentos vindos do Auxílio Brasil, segundo um estudo recente realizado por Ecio Costa, professor titular de economia da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).Ali, Lula foi o grande vitorioso. Nove em cada dez pessoas votaram nele.

'No nível agregado, municípios deram mais votos a Bolsonaro justamente nos locais mais beneficiados pelo Auxílio, contrabalançando a perda das grandes cidades'

Mas Bolsonaro melhorou seu desempenho em relação a 2018. Há quatro anos, recebeu 6,86% dos votos válidos, ou 359 votos. Neste ano, teve 8,71% dos votos válidos, ou 564 votos.

Porém, não se pode dizer, ressalva Meireles, que foram os beneficiários que votaram mais em Bolsonaro: podem ter sido outros eleitores beneficiados indiretamente; ou eleitores de Lula que se abstiveram mais.

Para se saber isso, seria necessário analisar uma pesquisa de boca de urna, que não houve neste ano.

"É muito provável que o Auxílio tenha influenciado a decisão de voto. Talvez a pessoa que recebeu o benefício considerou votar mais no Bolsonaro, talvez ela já votaria no Bolsonaro, mas talvez não compareceria. Mas talvez tenha ficado mais propensa a comparecer, pois quer 'ajudar' o governo para que o benefício continue sendo pago."

"É preciso lembrar que o efeito do Auxílio Brasil no município não incide somente para as pessoas que recebem o benefício. Se a gente pensar num município do interior, quando há muitas pessoas pobres que de uma hora para outra passam a receber o Auxílio Brasil, o comércio local muda, várias pessoas passam a ter outro perfil de consumo. A realidade das famílias também, e isso altera várias dinâmicas de socialização dessas pessoas."

Meirelles afirma que, por exemplo, as pessoas podem se encontrar mais, fazer mais almoços de família e se preocupam menos com desemprego, com mais acesso a lazer e cultura.

"O Auxílio Brasil tem efeitos que vão além do eixo do benefício individual da renda. Ou seja, afeta a população de um município como um todo", diz o pesquisador.

"Não dá para cravar, portanto, se o Auxílio Brasil teve um efeito diretamente sobre o beneficiários ou se foi por outras razões que Bolsonaro aumentou sua votação. Mas o que os dados mostram é essa relação entre a maior votação em municípios menores e o pagamento do benefício nas regiões Norte, Nordeste e Centro Oeste, principalmente."

Outra possível explicação para essa interiorização de votos em Bolsonaro é a comunicação direta que o presidente tem com o eleitor dessas cidades menores.

O analista Bruno Carazza, autor do livro Dinheiro, Eleições e Poder: as engrenagens do sistema político brasileiro, afirma que, de modo geral, o interior do país — tanto do Sudeste quanto do Sul e do Centro-Oeste — tem sido negligenciado por acadêmicos, analistas e imprensa.

Dessa forma, deixa-se de compreender um conjunto de valores e anseios diferentes dos que predominam nos grandes centros urbanos, bem como como de representá-los corretamente do ponto de vista estatístico, argumenta ele.

'Interior do país vem sendo "negligenciado", assinala especialista'

"Todo mundo — acadêmicos, analistas, imprensa — há muito tempo não tem olhado com atenção ao interior do país, onde a agroindústria cresce e atrai gente para trabalhar, com uma forte cultura de prosperidade e valores diferentes dos grandes centros urbanos. 2018 já foi um alerta e a gente não captou, e agora o alerta vem novamente. E Bolsonaro sabe se comunicar muito bem nessa região, o que ficou explícito na votação para Câmara e Senado (com alta votação de nomes do bolsonarismo)", assinala.

Especialistas ouvidos pela BBC News Brasil também falam sobre a força das igrejas em municípios menores — ali pastores evangélicos têm um papel mais preponderante como lideranças locais e também são mais próximos do poder, como prefeitos ou vereadores, instrumentais para as eleições presidenciais em termos de "captação de votos".

Bolsonaro tem a preferência do eleitorado evangélicos ante a Lula.

Em entrevista à BBC News Brasil, a brasilianista Amy Erica Smith, da Universidade Estadual de Iowa (Estados Unidos), diz acreditar que "é possível que a campanha dentro das igrejas ou nas redes sociais direcionada aos fiéis evangélicos tenha tido um papel relevante nos resultados".

Smith é autora do livro Religion and Brazilian Democracy: Mobilizing the People of God ("Religião e Democracia Brasileira: Mobilizando o Povo de Deus", em tradução literal).

O cientista político Rafael Cortez, sócio da Tendências Consultoria, acredita que existe também uma influência nos eleitores das emendas parlamentares, "sobretudo nessa parte do Orçamento Secreto, um recurso cada vez mais livre de controle".

Por fim, cidades maiores costumam sofrer mais as consequências diretas da inflação e do desemprego — o que também poderia explicar por que o voto em Bolsonaro caiu nas grandes cidades na comparação com 2018, em termos porcentuais, segundo Meireles. 

BBC Brasil

Sistema partidário brasileiro em processo de recomposição




Urnas determinaram que a direita, bolsonarista ou não, domina a política brasileira; o centro-liberal perdeu relevância; e o PT se consolida na dianteira da esquerda, distanciando-se de outras legendas.

Por Jairo Nicolau* (foto)

A diferença de apenas cinco pontos percentuais entre Lula e Bolsonaro foi uma enorme surpresa para jornalistas, analistas e cientistas políticos, já que as pesquisas feitas pelos mais conhecidos institutos apontavam que a distância entre os dois seria de pelo menos de dez pontos. A discussão sobre os erros pesquisas dominou o debate nos dias seguintes, e pouca gente comentou a dimensão mais decisiva das eleições de 2022: o efeito disruptivo que as eleições produziram no sistema partidário brasileiro.

Em 2018, a vitória de Bolsonaro produziu um primeiro choque no sistema partidário configurado em meados da década de 1990, cuja característica central era a polarização entre dois partidos (PT e o PSDB) nas eleições presidenciais.

O PT, força dominante no campo da esquerda enfrentou, em dez turnos sucessivos (1994, 1998, e duas vezes em 2002, 2006, 2010 e 2014) o PSDB, uma legenda de centro. Ao longo dessas duas décadas, os partidos conservadores, mantinham uma forte presença no Congresso e na política subnacional, mas não apresentaram candidatos competitivos nas eleições presidenciais.

A vitória de Bolsonaro em 2018 representou não somente a chegada, pela primeira vez de um nome da ultradireita à Presidência, mas também uma derrota das forças de centro-direita representados pelo PSDB, PMDB/MDB e PFL/DEM. O PSL, o partido de Bolsonaro, que tinha apenas sete representantes antes das eleições, sai das urnas como o mais votado para a Câmara dos Deputados, elegendo 52 cadeiras. É fundamental não perder de vista que a ascensão do PSL aconteceu, sobretudo nos estados do Sudeste e Sul, onde as bancadas do PSDB, PMDB e PFL tiveram fortes perdas.

Em um país federalista com diversos níveis de distribuição de poder partidário e com um número reduzido de candidatos à Presidência, a melhor forma de dimensionar o desempenho dos partidos é observar a votação para a Câmara dos Deputados.

Um sinal de reconfiguração do sistema partidário pode ser observado no desempenho das legendas que apoiaram a candidatura de Simone Tebet. Somados, os quatro partidos obtiveram apenas 72 cadeiras (14% da Câmara dos Deputados). Esse número é revelador do declínio dos partidos que ocupam o centro do sistema partidário; a vitória da direita aprofundou uma tendência de perda de espaço do MDB e PSDB, partidos que foram centrais para a configuração da ordem política pós-1988.

Lula obteve o apoio de todos os partidos esquerda (somente o PDT lançou Ciro Gomes) e de algumas pequenas legendas de centro-direita. O total das cadeiras dos partidos que apoiaram Lula é de 120 (23% do total).

Os grandes vitoriosos da eleição são os partidos de direita que somados elegeram 59% da Câmara dos Deputados. PL, PP e Republicanos, partidos que participaram formalmente da coligação de Jair Bolsonaro elegeram 187 deputados (36% do total). A direita que não apoiou Bolsonaro obteve 117 cadeiras (23%), concentradas em duas legendas União Brasil e PP.

Os partidos brasileiros de centro-direita têm segmentos pró-Bolsonaro e pró-Lula, como ficou claro na posição de diversos dirigentes do MDB, do PSD e do PSDB ao longo da campanha. E essas divisões já estão se refletindo nos apoios das lideranças e diretórios estaduais aos dois candidatos que disputarão o segundo turno. Por isso, a pura contabilidade das cadeiras das principais forças que disputaram a Presidência está longe de ser um indicador seguro a respeito de como os partidos se comportarão diante do novo presidente.

De qualquer modo, as eleições para a Câmara mostram alguns sinais claros da recomposição em curso do sistema partidário; esses indicam que a direita (na sua versão bolsonarista ou não alinhada à Bolsonaro) se tornou a força dominante da política brasileira, o centro-liberal perdeu relevância, e à esquerda observamos a consolidação do PT como força dominante, se distanciando em poder parlamentar de outras legendas.

*Jairo Nicolau é cientista político e professor da FGV/CPDOC.

Deutsche Welle

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