Certificado Lei geral de proteção de dados

Certificado Lei geral de proteção de dados
Certificado Lei geral de proteção de dados

sexta-feira, setembro 09, 2022

12 de 30.143 Bolsonaro corta Farmácia Popular | Repercussão morte da rainha Elizabeth

 

EM DESTAQUE
Indústria farmacêutica quer alertar governo sobre corte no Farmácia Popular
05:05 - 09 DE SETEMBRO DE 2022
Indústria farmacêutica quer alertar governo sobre corte no Farmácia Popular
Lula compara 7 de Setembro bolsonarista a reunião da Ku Klux Klan
05:46 - 09 DE SETEMBRO DE 2022
Lula compara 7 de Setembro bolsonarista a reunião da Ku Klux Klan
Lula diz que aumentará salário mínimo acima da inflação
06:14 - 09 DE SETEMBRO DE 2022
Lula diz que aumentará salário mínimo acima da inflação
MUNDO
POLÍTICA
Banco da Inglaterra vai anunciar mudança nas cédulas após período de luto
06:35 - 09 DE SETEMBRO DE 2022
Banco da Inglaterra vai anunciar mudança nas cédulas após período de luto
Charles 3º é o novo rei; saiba quem foram Charles 1º e Charles 2º
05:40 - 09 DE SETEMBRO DE 2022
Charles 3º é o novo rei; saiba quem foram Charles 1º e Charles 2º
TRE do Rio indefere candidaturas de Witzel e Garotinho
06:38 - 09 DE SETEMBRO DE 2022
TRE do Rio indefere candidaturas de Witzel e Garotinho
Bolsonaro diz que eleição será definida no 1º turno
05:10 - 09 DE SETEMBRO DE 2022
Bolsonaro diz que eleição será definida no 1º turno
FAMA E TV
Rainha Elizabeth 2ª se tornou ícone pop, mas obras inventaram sua vida privada
06:31 - 09 DE SETEMBRO DE 2022
Rainha Elizabeth 2ª se tornou ícone pop, mas obras inventaram sua vida privada
'Só é imbrochável quem não tem sentimentos', diz Leo Jaime no Rock in Rio
05:15 - 09 DE SETEMBRO DE 2022
'Só é imbrochável quem não tem sentimentos', diz Leo Jaime no Rock in Rio
Caio Castro diz que polêmica sobre pagar conta lhe rendeu duas campanhas
06:03 - 09 DE SETEMBRO DE 2022
Caio Castro diz que polêmica sobre pagar conta lhe rendeu duas campanhas
BRASIL
JUSTIÇA
Brasil tem 47,9% da população vacinada com reforço ou dose adicional
06:08 - 09 DE SETEMBRO DE 2022
Brasil tem 47,9% da população vacinada com reforço ou dose adicional
Após críticas, Rock in Rio reforça revista de objetos no festival
05:25 - 09 DE SETEMBRO DE 2022
Após críticas, Rock in Rio reforça revista de objetos no festival
Mulher negra é agredida após ser acusada de furto em supermercado
06:19 - 09 DE SETEMBRO DE 2022
Mulher negra é agredida após ser acusada de furto em supermercado
Ronnie Lessa é condenado por comércio ilegal de armas
05:35 - 09 DE SETEMBRO DE 2022
Ronnie Lessa é condenado por comércio ilegal de armas
LIFESTYLE
TECH
Sabe aquela dor no peito que às vezes tem? Calma, pode não ser o coração
05:56 - 09 DE SETEMBRO DE 2022
Sabe aquela dor no peito que às vezes tem? Calma, pode não ser o coração
O destino turístico mais popular do mundo no ano que você nasceu
05:30 - 09 DE SETEMBRO DE 2022
O destino turístico mais popular do mundo no ano que você nasceu
Apple presta homenagem à rainha Elizabeth II
06:00 - 09 DE SETEMBRO DE 2022
Apple presta homenagem à rainha Elizabeth II
NASA espera realizar decolagem de foguete ainda em setembro
05:20 - 09 DE SETEMBRO DE 2022
NASA espera realizar decolagem de foguete ainda em setembro
ESPORTE
ECONOMIA
São-paulinos festejam 'noite incrível' e vaga na decisão da Sul-Americana
05:50 - 09 DE SETEMBRO DE 2022
São-paulinos festejam 'noite incrível' e vaga na decisão da Sul-Americana
Justiça manda libertar flamenguista que beijou repórter em jogo da Libertadores
05:00 - 09 DE SETEMBRO DE 2022
Justiça manda libertar flamenguista que beijou repórter em jogo da Libertadores
Europa promove elevação histórica dos juros em resposta à inflação
06:26 - 09 DE SETEMBRO DE 2022
Europa promove elevação histórica dos juros em resposta à inflação
Número de empresas fechadas sobe quase 25% em um ano
05:43 - 09 DE SETEMBRO DE 2022
Número de empresas fechadas sobe quase 25% em um ano

De asas cortadas, o “Pato” pode morrer na praia

 em 9 set, 2022 8:26

Adiberto de Souza


O ex-prefeito de Itabaiana, Valmir de Francisquinho (PL), popularmente chamado de “Pato”, sofreu uma nova derrota ontem, ao ter negado o registro de sua candidatura a governador de Sergipe. A decisão unânime do Tribunal Regional Eleitoral agravou sobremodo a situação do postulante, pois a sua defesa corre contra o tempo para tentar mantê-lo na disputa. Ressalte-se que a Justiça Eleitoral só deu até a próxima segunda-feira para o PL substituí-lo na chapa majoritária. Aliás, entre os apoiadores de Valmir já há quem defenda a substituição dele pela candidata a vice-governadora Emília Corrêa (Patriota) ou por Eduardo Amorim (PL), que concorre ao Senado. Quem defende a troca de nomes entende serem mínimas as chances de reverter a situação de Francisquinho. Além do mais, essa demora tem causado sérios prejuízos eleitorais aos candidatos proporcionais da coligação “O povo quer”. Portanto, depois que os magistrados do TRE voltaram a lhe cortar as asas, o “Pato” corre um sério risco de morrer na praia. Misericórdia!

Ciro na terrinha

O presidenciável pedetista Ciro Gomes dará com os costados em Aracaju na próxima quarta-feira. O candidato será recepcionado pelo prefeito da capital e presidente estadual do PDT Edvaldo Nogueira, devendo participar de um ato político no Iate Clube. Não há previsão de outros candidatos à Presidência aparecerem em Sergipe antes das eleições de outubro. A vinda de Lula ao estado, por exemplo, está praticamente abortada. É que todos os presidenciáveis estão envolvidos na disputa de votos nos grandes colégios eleitorais, como São Paulo, Minas e Rio de Janeiro. Ah, bom!

Bico seco

Aracaju, Nossa Senhora do Socorro e Barra dos Coqueiros vão ficar sem água a partir de amanhã, por conta de serviços de manutenção preventiva na Adutora do São Francisco. A previsão da Companhia de Saneamento de Sergipe (Deso) é que a situação se normalize dentro de 48 horas, após o início da operação. O comunicado da estatal sobre a suspensão do fornecimento de água revela que “alguns pontos” das três cidades ficarão com as torneiras vazias, mas não detalha quais regiões da Grande Aracaju serão mais afetadas. A Deso recomenda a utilização econômica da água existente nas caixas d’água e reservatórios residenciais. Quem avisa, amigo é!

Deus, salve a Rainha!

A morte da rainha Elizabeth 2ª, aos 96 anos, provocará mudanças na letra do hino oficial do Reino Unido. “God Save the Queen” (“Deus Salve a Rainha”) mudará para “God Save the King” (“Deus Salve o Rei”) — já que Charles, filho mais velho da monarca, assume o trono. Novas cédulas britânicas também serão impressas com o rosto do rei Charles III. Gradativamente, as moedas e notas atuais com o retrato de rainha Elizabeth 2ª sairão de circulação. Parodiando o hino do Reino Unido, os súditos de Elizabeth apelam em orações para que Deus salve a rainha das pragas dos argentinos. Aff Maria!

Orai por eles e elas

Políticos de A a Z foram ontem a Lagarto pedir graças a Nossa Senhora da Piedade, padroeira daquele município sergipano. No grupo dos irmãos pessedistas Fábio e Sérgio Reis, candidatos a deputado federal e estadual, estava a postulante a senadora Danielle Garcia (Pode). Também presente à festa religiosa, o deputado federal Gustinho Ribeiro (Republicanos) pediu que “a nossa padroeira abençoe a caminhada de todos nós”. Nem precisa dizer que todos os políticos acompanharam a procissão com um olho no andor de Nossa Senhora e o outro nos fieis eleitores. Creindeuspai!

Filosofia de Britto

Do sergipano Carlos Ayres de Britto, ministro aposentado do Supremo Tribunal Federal: “É pela vontade mesma da Constituição que o nosso Estado é ao mesmo tempo laico e devoto; ou seja, um Estado tão religiosamente a-confessional quanto politicamente devoto da democracia. Logo, eleitor, somente dê voto a quem for devoto… da democracia. A Constituição lhe gradece.”. É vero!

Promessa eleitoreira

Não são poucos os candidatos que incluíram em seus discursos a construção do Canal de Xingó. Entre eles está Katarina Feitoza (PSD), postulante a uma cadeira na Câmara Federal. A fidalga promete que, se eleita, vai cobrar a execução de tal empreendimento. Ressalte-se que não se trata de uma obra simples, como os políticos tentam fazer crer. Avaliado em R$ 2,3 bilhões, o canal terá 114,55 quilômetros de extensão, entre Paulo Afonso (BA) e Poço Redondo (SE). Aqui pra nós, nada melhor do que prometer água aos sertanejos. Portanto, anunciada ao longo dos anos, essa obra dificilmente sairá do papel a curto ou médio prazo, mas garantirá um rio de votos aos seus defensores. Quem viver verá!

Vigarice eleitoral

A campanha eleitoral traz em seu bojo os ladrões de consciência, aqueles políticos que enxergam o eleitor como gado preso no curral e pronto para ser vendido a quem pagar mais. Política virou meio de vida de gente desonesta. Portanto, a sociedade precisa ficar atenta e denunciar os abusos e crimes eleitorais. É papel de todo cidadão ajudar a inibir as ações dos maus políticos, que pensam ser a eleição um trampolim para o enriquecimento ilícito. Ao povo, cabe denunciar os vigaristas eleitorais que tentarem corrompê-lo, pois vender o voto é perder a cidadania. Só Jesus na causa!

TCE na campanha

Três dos sete conselheiros do Tribunal de Contas de Sergipe estão envolvidos nas campanhas eleitorais de parentes. Ulices Andrade trabalha pela reeleição do filho Jeferson (PDT) para o Legislativo estadual. Luiz Augusto Ribeiro quer reeleger o herdeiro Gustinho (Republicanos) para a Câmara federal e a esposa Áurea (Republicanos) para a Assembleia. Por fim, a conselheira Angélica Guimarães tenta eleger o sobrinho Netinho Guimarães (PL) deputado estadual, em substituição ao esposo dela Vanderbal Marinho (PSC). E olha que o TCE jura ser um órgão iminentemente técnico. Já pensou se fosse político? Marminino!

Virou cabo eleitoral

Após ter desistindo de disputar a reeleição, o deputado estadual e radialista Gilmar Carvalho (PL) virou cabo eleitoral do também deputado Adailton Martins (PSC). Ao anunciar que tirou o time de campo, comunicador pediu a quem já tinha ele como candidato que vote agora no pessedista: “Votar nele será o mesmo que votar em mim”, discursa o ilustre. Embora já tivesse com a campanha nas ruas há semanas, Gilmar alegou questões pessoais para desistir da empreitada. Satisfeito com o apoio, Adailton agradeceu a Carvalho, acrescentando que “essa parceria fará a diferença no desenvolvimento do nosso estado”. Então, tá!

Prometendo vingança

O ex-prefeito de Itabaiana, Valmir de Francisquinho (PL), deixou transparecer ter sentido o golpe do TRE, que lhe negou o registro da candidatura a governador de Sergipe. Numa mensagem postada na internet, o distinto afirmou ter “a certeza de que aqueles que fizeram toda essa maldade comigo não terão o respaldo do povo sergipano nas urnas”. Mesmo sem citar nomes, Valmir deu a entender que se referia ao candidato a governador Fábio Mitidieri (PSD), pois foi o partido do governista que contratou um advogado em Brasília para acusar o ex-prefeito no Superior Tribunal Eleitoral. Francisquinho conclui a mensagem ameaçando: “Vamos pra cima”. Home vôte!

INFONET

Exclamações de “imbrochável” e faixas pedindo ditadura não acrescentaram votos a Bolsonaro


E cresceu, mais uma vez, o nariz do presidente “imbrochável”

Pedro do Coutto

As seguidas exclamações de Bolsonaro atribuindo a si próprio a confissão de “imbrochável”, imagem que conduz ao plano do sexo, e faixas em Brasília e em Copacabana defendendo ditadura militar com Bolsonaro não acrescentaram votos ao presidente, além daqueles que ele possui e que não avançam no terreno da democracia. Pelo contrário, ameaçam o próprio regime.

Tanto assim, que o próprio presidente da Câmara, Arthur Lira, e o presidente do Congresso, senador Rodrigo Pacheco, não compareceram à manifestação de Brasília. A ausência de Lira, inclusive, na minha impressão, significa que o Centrão ameaçado da mesma forma que a sociedade brasileira por um golpe militar, não votará em Bolsonaro como o Planalto supunha por uma questão muito simples: uma ditadura militar fecha o Congresso e, com isso, o Centrão desaparece do cenário brasileiro.  

SUBVERSÃO – O apelo ao golpe como alternativa à derrota nas urnas permaneceu na atmosfera de Brasília. Tanto assim que Bolsonaro aceitou que as manifestações não excluíssem as faixas subversivas. Reportagem do O Globo e da Folha de S. Paulo destacam nitidamente o que se passou e o que a concentração nas Esplanada dos Ministérios representou ao recorrer ao radicalismo, demonstrando um dos caminhos pretendidos além das urnas, mantendo o apelo também às armas.

Na Folha de S. Paulo, a psicóloga Maria Homem analisa o que a seu ver representaram as exclamações seguidas de “imbrochável” de Bolsonaro para consigo mesmo. Pela primeira vez na história ocorre tal fato, sem precedentes, até esta semana nos 200 anos da Independência do Brasil.

REFLEXO – Vamos aguardar o que traduzirão as pesquisas do Datafolha e do Ipec, sobretudo entre o eleitorado feminino e junto ao qual Bolsonaro encontra-se em acentuada desvantagem. Agora, ao rol das afirmações consideradas machistas do presidente da República, uniu-se uma imagem de mau gosto quando Boslonaro, dirigindo-se ao eleitorado, compraou Michelle Bolsonaro à socióloga Rosângela da Silva, Janja, mulher do ex-presidente Lula.

As exclamações de “imbrochável” incentivavam o público a repetir a palavra em coro, exaltando a qualidade pessoal do presidente. A exclamação “imbrochável” repercutiu na imprensa internacional, inclusive obtendo destaque no New York Times. No google, houve um aumento acentuado de buscas por pessoas que não conheciam o termo num contexto político.

Bolsonaro elogia a própria mulher, Michelle, a quem classificou como mulher “de Deus, da família e ativa” em sua vida. “Não é só ao meu lado. Às vezes ela está em minha frente”. Após, Bolsonaro dirigiu-se de forma surpreendente, para mim, aos homens solteiros: “Procurem uma mulher, uma princesa , casem-se com ela para serem mais felizes ainda”.

DESCONEXÃO – Houve desconexão nas comemorações. Em Brasília, o presidente Bolsonaro sentou-se ao lado do empresário Luciano Hang, colocando-o na cadeira entre ele e o presidente de Portugal, Marcelo Rebelo. Outra falha, foi a distância entre Bolsonaro e o vice-presidente Hamilton Mourão, quando, pelo protocolo, deveria estar ao seu lado.

Há menos de um mês das urnas, a manifestação de 7 de setembro terminou sendo objeto de contestação por Lula da Silva, por Ciro Gomes e por Simone Tebet que assinalaram ter o presidente da República transformado a data num grande comício político e eleitoral. Ontem, Bolsonaro não compareceu e nem mandou mensagem à solenidade realizada no Congresso Nacional presidida pelo senador Rodrigo Pacheco também em comemoração aos 200 anos de Independência.

Ainda a respeito do 7 de setembro, Igor Gielow, Folha de S. Paulo desta quinta-feira, publicou matéria afirmando que o presidente Bolsonaro sequestrou o feriado nacional, ângulo de análise destacado também por Miriam Leitão ,no O Globo, num artigo em que acentua que a atuação do presidente Bolsonaro ficará na história do Brasil como um ato escandaloso de abuso do poder e de utilização da data cívica para efeito pessoal buscando votos em sua campanha.

CRÍTICA – O jornalista Nelson de Sá, Folha de S.Paulo de ontem, focalizou a crítica feita no ar por Fernando Gabeira, na GloboNews, referindo-se ao fato das emissoras darem destaque muito grande à fala de Bolsonaro, o que, frisou, só seria razoável se fosse feita a cobertura da mesma forma dos outros candidatos.

O episódio destaca, ao meu ver, a grande importância e a alta audiência da GloboNews no campo político e eleitoral, mas sou de opinião que a cobertura dada a Bolsonaro foi proporcional ao cargo que ele exerce e nada impede que a GloboNews a partir de hoje, por exemplo, abra espaço para as candidaturas de Lula, Ciro Gomes e Simone Tebet.

De outro lado, o espaço ocupado pelo noticiário sobre o presidente da República pelo conteúdo dos fatos, não acrescenta nada em matéria de votos além daqueles que ele já possui e não perderá, pois são marcados pela paixão política. Não creio que a crítica de Fernando Gabeira tenha uma precedência maior mesmo dentro das lentes de uma análise mais apurada.

NOTA DA REDAÇÃO –  Dizem as más línguas que após puxar o coro de “imbroxável” para si mesmo, Bolsonaro impôs sigilo de 100 anos sobre a sua vida sexual. Michelle não se sabe se ri ou se chora (de tanto rir). (M.C.)


O que houve, então, com a nossa democracia?




Não parece exagero afirmar que estamos diante de um processo de autocratização, que se expressa em várias frentes

Por Mônica Sodré* (foto)

As democracias são uma conquista civilizatória relativamente recente, de trajetória não linear, e nada garante que vão durar. Hoje, 80% da população mundial vive em países só parcialmente livres ou não livres e o nível de liberdade global tem caído por 16 anos consecutivos.

No Brasil, somos apontados desde 2019 como um dos dez países com maior tendência autocrática do mundo. Há 7 anos deixamos de ser classificados como uma democracia liberal – nas quais há eleições livres, regulares, direitos de expressão e associação e respeito ao Estado de Direito – e caímos uma categoria, sendo classificados como democracia eleitoral pelo Varieties of Democracy (V-DEM), um dos think tanks globais mais prestigiados. No relatório de 2021, figuramos como uma das cinco lideranças globais no processo conhecido como “autocratização”, acompanhados por Hungria, Polônia, Sérvia e Turquia.

A literatura sobre regimes democráticos no mundo nos permite afirmar que estamos diante de uma nova onda de autocratização, cuja característica é singular: ela é lenta e a ruptura democrática se dá gradualmente e sob disfarce legal, num processo que envolve elementos políticos e de justiça. Aqui, não parece exagero afirmar que estamos diante deste processo, que se expressa em várias frentes.

Sua manifestação pode ser percebida pela busca de controle pelo Estado do dia a dia da sociedade, traduzido no uso de mecanismos de vigilância, que ocorre quando o Exército compra, sem licitação pública, ferramenta que extrai dados de celulares e permite recuperar imagens e localizações, bem como registro de redes sociais. Ou quando o Parlamento busca modificar uma legislação antiterrorismo ampliando sua possibilidade de interpretação e no aguardo de manifestação de comissão na Câmara dos Deputados.

Na sociedade civil, isso é visível quando se busca reduzir seus espaços, ao tentar que a Secretaria de Governo fique responsável pela supervisão e pelo monitoramento das organizações não governamentais, e não pela interlocução política com elas, ou quando se extinguem conselhos participativos, espaços políticos consolidados de envolvimento da sociedade na formulação de políticas públicas. Quando informações de interesse público, como a agenda do chefe do Executivo, passam a ser classificadas como sigilosas ou quando se busca, como foi feito por sua decisão, ampliar o número de atores com responsabilidade de decretar sigilo em documentos oficiais.

Na educação, o processo de autocratização se manifesta na tentativa de revisionismo histórico-científico, quando o Ministério da Educação (MEC) exclui “violência contra a mulher” e “quilombolas” de edital de livros didáticos ou quando o Ministério da Defesa afirma que o golpe de 1964 fortaleceu a democracia.

Sua expressão se dá, também, na incitação à violência, quando o número de armas registradas do País salta de quase 638 mil, em 2017, para 1,5 milhão, em 2021. Quando a violência grave contra jornalistas cresce a taxas anuais superiores a 20%, havendo um recorde de 69,2% nestes últimos sete meses, com relação ao mesmo período de 2021.

É possível notá-lo, também, quando as instituições são esvaziadas por dentro, tendo sua autonomia reduzida ou suas funções descaracterizadas. É o que ocorre quando o Ministério Público Federal, cuja função é defender os interesses da sociedade, opta por não agir.

Quando indígenas, minorias cujo direito de existência é assegurado pela Constituição, têm recorde de assassinatos em 25 anos, mostrando quão distantes estamos da declaração da ONU de 1948, que afirma que todos nós nascemos livres e iguais em direito e dignidade, e quão distantes estamos também dos preceitos constitucionais.

Ou, ainda, quando a fragilização das instituições dá espaço ao uso distorcido das liberdades, inclusive de opinião, e deputados federais defendem intervenção militar pró-governo, atacam ministros e exaltam o Ato Institucional n.º 5. Ocorre, também, quando 1/3 das emendas de relator tem sua destinação não informada, a despeito da exigência de transparência da principal Corte do País.

No que diz respeito às Forças Armadas, a cada novo ataque do presidente da República às instituições e à democracia, surgem dúvidas sobre a posição e coesão dos militares. A dúvida não é infundada nem uma questão acessória numa democracia recente pós-regime militar, e parte de uma premissa: a ruptura democrática ainda não se deu.

Parte da população e dos analistas espera uma forma flagrante para determinar a existência e o momento dessa ruptura, ignorando dois fatos: não foi o consenso que orientou o grupo nos golpes de 1955 e de 1964, o que não impediu a história de acontecer da maneira que conhecemos. Em segundo lugar, já estamos diante de um processo de erosão político-institucional, característico das democracias atuais, em que dia após dia tudo parece igual, até que de repente tudo está diferente. Os fatos falam por si. As saídas são a consciência, a política, a qualificação de lideranças políticas, a união de democratas e a própria democracia.

*Cientista-política, é diretora executiva da Rede de Ação Política pela Sustentabilidade (RAPS) 

O Estado de São Paulo

Em destaque

Formatura da primeira turma de Gestão Pública em EAD da Faculdade Anasps: confira tudo o que rolou!

  Formatura da primeira turma de Gestão Pública em EAD da Faculdade Anasps: confira tudo o que rolou! Publicado em  23  de  set  de  2024  e...

Mais visitadas