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terça-feira, setembro 06, 2022

De D. Pedro para Lula e Bolsonaro, de coração




Crises fiscais e inflação assombram o país há 200 anos

Por Bruno Carazza* (foto)

Esqueça o brado retumbante de um povo heroico ouvido pelas margens plácidas do Ipiranga, cantadas no Hino Nacional. Há duzentos anos, quando rompemos os laços de submissão que nos prendiam a Portugal, o grito “ou ficar a Pátria Livre ou morrer pelo Brasil”, mencionado no Hino da Independência, foi apenas uma frase de efeito. Na verdade, “o Brasil nasceu de uma crise fiscal. Seu pai foi o déficit; sua mãe, a inflação”.

Provocadora, a frase sintetiza as conclusões de uma pesquisa profunda e um texto muito bem escrito conduzidos pelo jornalista Rafael Cariello e pelo economista Thales Zamberlan Pereira. “Adeus, senhor Portugal: crise do absolutismo e a Independência do Brasil”, que será lançado hoje em São Paulo, mais que uma robusta tese sobre o contexto da nossa Independência, utiliza a economia para conectar as circunstâncias do passado com os desafios do presente.

Desde que Dom João VI e a família Real se instalaram no Rio em 1808, após fugirem da invasão de Portugal pelas tropas de Napoleão, sobriedade e contenção não eram virtudes cultivadas por aqui.

Os gastos palacianos eram absurdos. Entre 1808 e 1821, quando o monarca retorna a Lisboa, as despesas destinadas à manutenção da família Real e seu séquito de cortesãos giravam entre 20% e 29% do total de dinheiro o que o Estado português aplicava no Brasil.

Além dos empregados, festas, banquetes e a manutenção de palácios, havia a distribuição de privilégios. Junto com os títulos de viscondes, barões e comendadores, seguia-se uma farta distribuição de ajudas de custos, pensões, rendas, monopólios e outras benesses arcadas pelo Tesouro Real.

Para piorar, o Reino se digladiava em duas frentes. Em Portugal, o Exército estava envolvido em batalhas e escaramuças para expulsar as tropas napoleônicas invasoras. Na América, mobilizava tropas para conquistar a província Cisplatina, atual Uruguai, e assim garantir o acesso à foz do rio da Prata. As guerras tinham preço alto e crescente - entre 1808 e 1820, os gastos militares, somente no Brasil, aumentaram duas vezes e meia.

Para arcar com as pesadas despesas com a guerra e com a Corte, recorreu-se à elevação dos tributos sobre nossas commodities. Açúcar e algodão, principalmente nas províncias da Bahia, Pernambuco e Maranhão, viviam um boom internacional com a Revolução Industrial.

Mas o aumento da carga tributária não foi suficiente. Para cobrir os déficits, o governo passou a recorrer ao Banco do Brasil. Fundado em 1808, o BB se tornou o principal credor do Reino Unido de Brasil, Portugal e Algarves. Os autores levantaram dados que revelam que, nos últimos anos da Corte joanina no país, 34% da receita do reino vinha de empréstimos bancários.

Como principal acionista do BB, o governo também colocou as máquinas de impressão de cédulas e moedas para girar mais rápido. O montante de papel-moeda em circulação quadruplicou entre 1814 e 1820. A emissão descontrolada de moeda logo resultou em inflação. Nas contas de Cariello e Zamberlan Pereira, os dois principais itens da cesta básica da população, farinha de mandioca e carne-seca, dobraram e triplicaram de preço entre 1815 e 1830.

A cuidadosa pesquisa feita pelos autores também demonstra que a inflação corroeu os salários da emergente classe média urbana do Rio de Janeiro e de Salvador. Profissões de maior qualificação naquele tempo, como carpinteiros e pedreiros, tiveram seus rendimentos reais corroídos pela carestia.

A inflação penalizava não apenas trabalhadores e consumidores. Os grandes proprietários de terra passaram a ter que arcar com valores cada vez mais altos para alimentar e manter seus estoques de negros escravizados.

Quando o Banco do Brasil ficou à beira da falência, o governo começou a atrasar os pagamentos dos soldos do Exército. Com o povo, militares e elites insatisfeitos com a situação econômica, o colapso, que começou no campo fiscal e contaminou o lado monetário, disseminando a inflação, ganhou contornos políticos. A Independência se tornou inevitável.

Crises fiscais e crises políticas andaram juntas ao longo da história brasileira desde então.

Para ficar apenas nas últimas décadas, o golpe militar de 1964 e a queda da ditadura em 1985, bem como os impeachments de Collor e de Dilma, em todas essas inflexões de nossa história estão presentes descontrole fiscal, inflação e convulsão política.

Dom Pedro I assumiu o trono do novo país e não foi capaz de oferecer soluções para os problemas daquela época: o descontrole nas contas públicas, as relações conflituosas entre a Corte e suas províncias, o inchaço do funcionalismo público, o sistema tributário disfuncional e a maior das nossas aberrações, a escravidão.

Substitua “Corte” por “União”, “províncias” por “Estados e municípios” e, principalmente, “escravidão” por “desigualdade social” e, transcorridos dois séculos, está tudo aqui ainda.

Se o modelo de Estado adotado no Brasil após a Independência, segundo Cariello e Pereira, poderia ser descrito como uma “monarquia constitucional oligárquica”, pois apenas uma pequena fração da sociedade brasileira estava representada no Congresso, mantendo uma sociedade profundamente desigual, não seria exagero dizer que, pelas mesmas razões, nós vivemos hoje numa “República constitucional oligárquica”.

Caso o coração de Dom Pedro I falasse, talvez ele teria um recado a dar aos atuais dois líderes na disputa pela Presidência da República.

A Jair Bolsonaro, ele diria que ações autoritárias, como a dissolução da Assembleia Constituinte - o Congresso da época - em vez de resolver a crise, apenas postergou em alguns anos a necessidade de sair fugido do Brasil.

Para Lula, o recado estaria na economia. Depois do oba-oba da consagração como líder da nação, se não houver coragem para enfrentar os graves problemas fiscais, a popularidade logo se esvai.

*Bruno Carazza é mestre em economia e doutor em direito, é autor de “Dinheiro, Eleições e Poder: as engrenagens do sistema político brasileiro” (Companhia das Letras)”.

Valor Econômico

Um orçamento irrealista e disfuncional




Seja pelo aperfeiçoamento do teto de gastos, seja pela adoção de uma nova regra, será preciso focar no controle dos gastos obrigatórios

Por Sergio Lamucci (foto)  

O cenário para as conta públicas de 2023 está marcado por incertezas. O projeto de lei orçamentária anual (PLOA) apresentado na semana passada trouxe projeções irrealistas e prioridades discutíveis, além de reforçar o quadro cada vez mais disfuncional do Orçamento brasileiro. Como pano de fundo, há a indefinição sobre uma regra que dê previsibilidade para a trajetória fiscal de longo prazo, uma vez que o teto de gastos foi driblado várias vezes pelo governo de Jair Bolsonaro, minando a credibilidade do instrumento.

No terreno do irrealismo, um dos destaques é o Auxílio Brasil, que aparece no PLOA com valor médio de R$ 405, embora os candidatos à Presidência prometam manter no ano que vem os R$ 600 vigentes no segundo semestre deste ano. Isso deve exigir nova mudança na Constituição, para driblar mais uma vez o teto de gastos. O ministro da Economia, Paulo Guedes, cogitou na semana passada a prorrogação do estado de calamidade no ano que vem para seguir com o benefício nos atuais R$ 600.

A manutenção do valor atual custará cerca de R$ 52 bilhões além dos R$ 105,7 bilhões já embutidos no Orçamento, para atender a um total de 21,6 milhões de famílias. Um programa de transferência de renda para os mais pobres é sem dúvida necessário e relevante, mas o desenho do Auxílio Brasil, o sucessor do Bolsa Família, tem vários equívocos, segundo especialistas em política social. Um dos principais é pagar um valor fixo por família, independentemente do número de integrantes. Com isso, é menos eficaz para reduzir a pobreza, além de estimular que pessoas da mesma família se cadastrem como se morassem separados, para aumentar o valor a ser recebido. Um programa com problemas de concepção, desse modo, vai se consolidando com um orçamento elevado, que deve se aproximar de R$ 158 bilhões no ano que vem.

O projeto reserva ainda R$ 14,2 bilhões para o reajuste dos servidores públicos. Nas contas de Gabriel Leal de Barros, sócio e economista-chefe da Ryo Asset, um aumento de 5% para o funcionalismo custaria R$ 17 bilhões em 2023, já acima do valor previsto no PLOA do ano que vem. Um reajuste de 20%, uma demanda de várias categorias de servidores, exigiria R$ 67 bilhões nos cálculos de Barros, ex-diretor da Instituição Fiscal Independente (IFI). Ele estima ainda que um aumento real do salário mínimo, de 0,5% ao ano acima da inflação de 2023 a 2026, adicionaria cerca de R$ 27 bilhões nesse período, ou quase R$ 7 bilhões por ano, à “ampla lista de gastos adicionais”.

Barros observa ainda que o impacto gira em torno de R$ 70 bilhões a R$ 120 bilhões apenas em 2023, sendo ainda maior nos anos seguintes. “Caso incluíssemos o apetite para a ampliação de investimentos, emendas de relator e a criação ou prorrogação de renúncias fiscais, a fatura é ainda mais excepcional”, escreve ele, em post para o Blog do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre).

No campo das prioridades discutíveis, a proposta prevê a prorrogação da zeragem dos impostos federais sobre combustíveis, a um custo de R$ 52,9 bilhões em 2023. É uma quantia muito elevada para segurar os preços de itens como gasolina e óleo diesel, o que está longe de ser prioritário.

Os economistas do Banco Safra lembram que a iniciativa exige a aprovação de uma nova lei pelo Congresso. “Inserir as previsões de perdas de receitas no orçamento é condição necessária para sua aprovação, mas é insuficiente para que a medida em si seja posta em prática, pois isso depende de lei específica”, afirmam eles, ressaltando que “a promessa de prorrogar a desoneração de combustíveis também dependerá do rápido avanço da matéria no Congresso após as eleições”.

Cada vez mais disfuncional, o Orçamento deverá ter em 2023 emendas parlamentares no valor de R$ 38,8 bilhões, de acordo com o projeto apresentado pelo governo na semana passada. Metade desse total, ou R$ 19,4 bilhões, se refere às emendas de relator, que constituem o chamado orçamento secreto. A metade restante é composta pela soma das emendas individuais e das bancadas estaduais.

Recursos alocados por parlamentares representam uma fatia cada vez maior do Orçamento, na maior parte dos casos sem que haja um planejamento cuidadoso ou a adoção de critérios técnicos. Do total de gastos de custeio e investimentos para a saúde previstos para o ano que vem, estimados em R$ 20,2 bilhões, R$ 10,4 bilhões terão como origem dinheiro das emendas de relator. Além da pouca transparência do mecanismo, trata-se de uma opção ruim e pouco racional para aplicar recursos num segmento tão essencial como o saúde.

Outro dado que evidencia o tamanho dos problemas do orçamento brasileiro é a parcela enorme de despesas obrigatórias, que deve ficar em 93,7% em 2023. Com isso, o governo terá liberdade para manejar apenas 6,3% dos gastos no ano que vem. Em 2022, o percentual estimado também é baixo, ficando em 8,4%. Nesse quadro de rigidez orçamentária, o investimento realizado diretamente pela União tem sido baixíssimo, calculado por Barros em R$ 22,1 bilhões para 2022 e R$ 23,5 bilhões em 2023.

Com tantas incertezas quanto ao Orçamento de 2023, ganha força a ideia de uma licença para aumento de algumas despesas no ano que vem além do permitido pelas regras fiscais como o teto, que limita o crescimento dos gastos da União à inflação do ano anterior. Essa eventual válvula de escape, porém, precisa ser bem delimitada, e deve ser utilizada enquanto se discute uma nova regra fiscal que dê previsibilidade à trajetória das contas públicas. Os números mais recentes do déficit e da dívida pública têm sido mais favoráveis do que se projetavam na virada do ano, mas, com o teto de gastos violado seguidas vezes, permanecem incertezas quanto à sustentabilidade fiscal.

Seja pelo aperfeiçoamento do teto de gastos, seja pela adoção de uma nova regra, será preciso focar no controle dos gastos obrigatórios e na redução das distorções do Orçamento. Sem uma âncora fiscal crível, os juros de longo prazo não vão ceder para níveis mais baixos, prejudicando o crescimento.

Valor Econômico

Formulação racional de políticas públicas - Editorial




Há pessoas e instituições produzindo evidências para qualificar o Estado. Mas campanhas baseadas em luta entre o ‘bem’ e o ‘mal’ turvam a escolha entre o que funciona ou não

Em 1999, um artigo publicado pelo governo do Reino Unido (Modernizando o Estado) notava que o governo deve “produzir políticas que realmente lidem com os problemas, que olhem para frente e sejam moldadas por evidências, em vez de uma resposta a pressões de curto prazo”, ou seja, políticas “que enfrentem as causas, não os sintomas”. Foi uma das primeiras articulações do conceito de “políticas públicas baseadas em evidências”: a ideia de que decisões políticas devem ser informadas por dados objetivos, em contraste com decisões baseadas em ideologias, “senso comum” e intuições.

É a tradução para a política da “medicina baseada em evidências”, em que decisões clínicas são apoiadas em indicadores de eficiência extraídos de pesquisas e testes randomizados controlados. Duas iniciativas recentes na área de segurança exemplificam como esse conceito pode ser aplicado na gestão pública.

Uma é o Indicador de eficiência de operações policiais, criado pelo Grupo de Estudos dos Novos Ilegalismos, da Universidade Federal Fluminense, com base em três parâmetros: o impacto aos envolvidos (número de mortos, feridos e presos); quantidade de ilícitos apreendidos (armas, drogas, contrabando); e as motivações das ações (se têm respaldo e autorização judicial). Tais critérios podem ser, por óbvio, questionados, mas são claros e verificáveis. A outra iniciativa é um convênio do Estado de São Paulo com a USP e a FGV para medir o impacto das câmeras corporais em PMs. O projeto durará cinco anos e envolve a criação de ferramentas de inteligência artificial que auxiliem na tomada de decisões na área de segurança.

São técnicas para diagnosticar problemas e implementar terapias. Mas a analogia entre a medicina e a política tem limites. Os críticos alertam para os riscos da “tecnocracia”, em que as decisões seriam tomadas por especialistas, em contraste com a democracia representativa, em que as decisões são tomadas pelos representantes eleitos. É uma falsa dicotomia. O exercício do poder democrático só é possível quando todos os cidadãos se sentem participantes e, para isso, devem ter as melhores informações técnicas disponíveis.

Os fins devem ser os resultados que os cidadãos querem. Os especialistas oferecem os meios comprovadamente eficazes. E os representantes eleitos, enquanto guardiões do interesse comum, os implementam de acordo com uma escala de prioridades, custos e benefícios.

As distorções ocorrem por húbris de uma das partes. Os populistas alegam que estão apenas implementando a vontade do povo e acusam qualquer oposição de antidemocrática. Os tecnocratas alegam que só se curvam às necessidades e toda oposição é irracional.

O debate eleitoral no Brasil ilustra particularmente os riscos do populismo. A polarização ideológica devora a lógica e a empiria. A essência de uma política saudável, o senso de que os cidadãos têm escolhas, que elas devem ser baseadas em evidências e que os políticos devem assumir a responsabilidade por suas decisões, é sufocada por um fatalismo que quebra a organicidade das políticas públicas.

Um bom sistema penal, por exemplo, resguarda a segurança da sociedade e compensa os ofendidos, com punições ao ofensor, e, ao mesmo tempo, garante os direitos do ofensor e promove a sua ressocialização. Nas mãos dos demagogos, esses fins são antagonizados, como se só houvesse uma escolha entre políticas preventivas ou repressivas, entre o “garantismo” ou o “punitivismo”. Os partidários de cada campo – lutando pelo “bem” – se dispensam de apresentar evidências que demonstrem a eficácia de suas políticas e obliteram ad limine as evidências apresentadas pelo outro – o “mal”.

Quebrar essa lógica depende de os cidadãos revigorarem o seu senso de participação e escolha. Depende também da valorização do arcabouço instrumental que possibilita qualificar o Estado. Há muitas pessoas e instituições produzindo evidências nesse sentido. Há projetos, há tecnologias e há lideranças dispostas a aproveitar esse potencial. Mas, para que isso aconteça, será necessário desintoxicar o debate político, direcionando-o para o que importa: não uma disputa entre o “bem” e o “mal”, mas sim entre aquilo que funciona e o que não funciona.

O Estado de São Paulo

A importância inventada do 7 de Setembro




Em 1822, a imprensa brasileira não registrou a data em que hoje se celebra o Dia da Independência. Narrativas memorialísticas e o famoso quadro "Independência ou Morte" ajudaram a construir imagem do "grito do Ipiranga".

Por Edison Veiga

A ideia, como se fosse uma fotografia, está lá eternizada em um dos quadros mais famosos da iconografia brasileira: a pintura Independência ou Morte, feita por Pedro Américo (1843−1905) e pertencente ao acervo do Museu do Ipiranga, em São Paulo.

Na cena, um imponente príncipe Pedro (1798−1834), bem vestido e do alto de um garboso cavalo, empunha a espada às margens do rio Ipiranga. Muita gente em volta testemunha o acontecimento histórico.

Na prática, contudo, nada disso ocorreu. E nem o 7 de setembro de 1822 foi tratado com a importância que depois a história lhe reservaria.

"Não há nenhum registro contemporâneo do ocorrido naquele dia, se analisarmos os jornais da época. A imprensa do Rio de Janeiro, gradativamente ao longo daquele mês, noticiou um acirramento da ideia de autonomia [do Brasil]. Mas não houve uma narrativa organizada", pontua o historiador Marcelo Cheche Galves, estudioso de jornais do período e professor na Universidade Estadual do Maranhão.

"Independência ou morte"

Então príncipe regente, Pedro havia deixado o Rio de Janeiro em agosto e empreendido viagem à província de São Paulo com o objetivo de reforçar alianças e acalmar os ânimos de parte da elite incomodada com o cenário político que se desenhava. No dia 2 de setembro, em reunião presidida pela princesa Leopoldina (1796−1826), o Conselho de Estado tomou o partido de que o melhor para o Brasil seria a separação de Portugal.

Cartas foram escritas e um oficial encarregado de entregá-las a Pedro, nas terras paulistas, para fazê-lo saber do contexto. O encontro ocorreu no Ipiranga, já que o príncipe e sua comitiva estavam retornando de uma viagem a Santos. No dia seguinte, no Pátio do Colégio − na época, sede do governo paulista −, ele fez um discurso, informando os poderosos locais sobre a situação de ruptura.

"Após retornar ao Rio de Janeiro, depois da viagem a São Paulo, a data de 7 de setembro não foi noticiada na imprensa, muito menos comemorada. É importante lembrar que nem mesmo Dom Pedro fez menção a qualquer declaração de Independência na proclamação pública que dirigiu aos paulistas em 8 de setembro de 1822", ressalta a historiadora Cecilia Helena de Salles Oliveira, professora na Universidade de São Paulo (USP), autora do recém-lançado Ideias em Confronto − Embates pelo Poder na Independência do Brasil e coorganizadora do Dicionário da Independência do Brasil.

A historiadora lembra, contudo, que, nesse pronunciamento, o monarca "pediu que todos tivessem como lema a frase 'independência ou morte' e que se mantivessem em alerta em relação a possíveis confrontos pela presença e pela ação de grupos políticos que defendiam propostas diferentes da separação de Portugal e da monarquia".

Galves lembra que a independência brasileira foi um processo, não algo ocorrido da noite para o dia. Nos registros da imprensa, há indicativos fortes disso. Em junho, Pedro convocou uma assembleia com o objetivo de elaborar a primeira Constituição brasileira. "Por isso, em 1º de agosto, jornais em Londres publicam que isso já significava a independência", pontua o historiador.

'A coroação de Dom Pedro 1º foi 1º de dezembro de 1822'

Naquele contexto, contudo, a data magna da Independência do Brasil acabaria sendo o 12 de outubro. Aniversário de 24 anos de Pedro, foi nesse dia que ele acabou aclamado imperador. "Houve um decreto transformando o Reino do Brasil em Império, ainda dentro do Reino Unido [de Portugal]", diz Galves.

O 7 de Setembro instituído por Dom Pedro

O 7 de Setembro acabaria sendo recuperado e valorizado a partir do ano seguinte. Em discurso na Assembleia Constituinte, em 3 de maio de 1823, o já imperador Pedro 1º escolheu frisar a importância dos acontecimentos em São Paulo.

"Foi o próprio Dom Pedro que criou a memória do dia 7 de Setembro", aponta Oliveira. "Era uma maneira de valorizar sua ação e, particularmente, sua autoridade. Essa narrativa de Dom Pedro acabou por instituir a memória com a qual aprendemos a conhecer a Independência até hoje."

"Ali ele organizou o passado da maneira como nós temos conhecimento", afirma Galves. Em seu discurso, o monarca referiu-se aos paulistas como "brioso povo" e qualificou a província como "agradável e encantadora".

"[Por meio da declaração, Pedro] afirmava que teria sido ele próprio o responsável pela decisão de ruptura da unidade luso-brasileira", salienta a historiadora Maria de Lourdes Viana Lyra, professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), em artigo publicado na Revista Brasileira de História em 1995.

No pronunciamento, o imperador afirmou que "a nossa independência foi lá [em São Paulo] primeiro que em alguma parte proclamada, no sempre memorável sítio do Piranga". E também citou que ali "fui pela primeira vez aclamado imperador".

Lyra analisa que a intenção teria sido provocar "um tom de afirmação categórica com a intenção de dirimir dúvidas existentes ou criar uma nova interpretação sobre o fato definidor da proclamação da Independência e da aclamação do imperador". Mas lembra que essa narrativa "permaneceu, no entanto, ainda por um tempo sem repercussão, não encontrando eco imediato nos registros da época".

'Dom Pedro 1º abdicou em 7 de abril de 1831, em prol do filho, Pedro de Alcântara'

Sete de setembro ou 12 de outubro?

Segundo o pesquisador Paulo Rezzutti, autor de, entre outros, Independência: A História Não Contada, o Brasil tinha uma dupla comemoração, em 7 de setembro e em 12 de outubro, pelo menos até 1831. "O 7 de setembro era comemorado como uma data mais militar. O 12 de Outubro, como uma data festiva nacional, com a ideia de que naquele momento o povo havia escolhido o seu primeiro monarca", contextualiza.

"O 7 de Setembro, inicialmente, era apenas uma data de referência. O celebrado como emancipação política era o 12 de Outubro, como data principal", comenta o historiador Paulo Henrique Martinez, professor na Universidade Estadual Paulista.

"Essa segunda data começou a ser apagada da história a partir da abdicação de Dom Pedro [em 7 de abril de 1831], porque os deputados e senadores não queriam mais associar a Independência à data que também era aniversário de Dom Pedro", acrescenta Rezzutti. "O 12 de Outubro começa gradualmente a ser esquecido e a dar lugar ao 7 de Setembro."

Ao mesmo tempo, diversas narrativas memorialísticas passam a ser publicadas, reforçando o episódio ocorrido às margens do Ipiranga. Por exemplo, um relato atribuído ao padre Belchior Pinheiro de Oliveira (1775−1856), integrante da comitiva da viagem de Pedro a São Paulo e visto como conselheiro do nobre.

Em seu texto, ele fez constar o diálogo que teria ocorrido naquele momento e enfatizou que as palavras do então príncipe diziam "nada mais quero do governo português e proclamo o Brasil para sempre separado de Portugal". O problema é que esse relato foi publicado apenas em 1826, ou seja, quatro anos após o fato − e com um contexto ideológico já mais assentado.

O imaginário demorou para se cristalizar, evidentemente. "A construção sobre o episódio da Independência tomou corpo em meados do século 19, na forma de homenagens, análises e descrições", diz Martinez. "A tela de Pedro Américo [Independência ou Morte], sua exposição e sua divulgação, acabou dando a visibilidade e fixando a imagem, com toda a cenografia e a postura altiva que o quadro representa."

Deutsche Welle

Sinais de vida na campanha




Existe toda um futuro pela frente, quando Bolsonaro se tornar apenas uma lembrança amarga

Por Fernando Gabeira (foto)

O papel das mulheres foi um tema de destaque no debate entre os candidatos. Isso me alegra. Nas eleições no Chile e na Colômbia, o assunto surgiu no contexto do programa da esquerda, que venceu.

Aqui no Brasil, além de sua inserção clássica na esquerda, a dignidade e a importância das mulheres foram defendidas por uma candidata de centro e outra de centro-direita.

Isso me leva a considerar que as coisas foram tão longe que hoje não se pode associar a sociedade patriarcal ao capitalismo. A abertura para o imenso potencial humano relegado pelo machismo pode enriquecer o próprio sistema.

As mulheres são a maioria do eleitorado. Mas foi uma pergunta da jornalista Vera Magalhães que desfechou o debate, repercutindo até no exterior. Bolsonaro respondeu com agressões.

O fato de o estopim ter vindo do jornalismo não me é estranho. Faz muito tempo que as mulheres têm papel decisivo na nossa profissão.

Digo por experiência pessoal. Trabalho há oito anos na televisão. Fui contratado por uma diretora geral da GloboNews. Ao longo de todos os anos, o departamento a que me vinculo foi sempre dirigido por mulheres.

Tive a sorte de ser pai de duas meninas. A primogênita guarda até hoje as fotos das primeiras manifestações de mulheres de que participou ainda menina, na década de 1980, quando fui candidato. A mais nova resolveu se aventurar num esporte, o surfe de ondas grandes, dominado pelos homens. Aos 14 anos, ela percebeu que as meninas ficavam na praia, enquanto os meninos surfavam. E perguntou:

— Tem de ser assim?

O Brasil já estava maduro para que o tema fosse para o topo da agenda. Bolsonaro percebe isso e reage com desespero. Tem mais medo da ascensão das mulheres que do próprio socialismo. Daí seu apego ao que chama de guerra cultural.

Essa não é a única novidade que pode movimentar a campanha. A questão ambiental, tão presente nas eleições americanas e europeias, não consegue abrir caminho. Um dos candidatos a mencionou com destaque, mas para afirmar apenas a importância do mercado. Há coisas que o mercado não pode fazer, como combater o desmatamento ilegal, retirar garimpeiros das áreas indígenas. São ações típicas de Estado e, ainda assim, a prática mostrou que elas precisam também de apoio social.

Na campanha, quase não se fala do racismo, tão presente em nossa vida cotidiana. Pouco se pergunta também. Nem de longe tem o peso que teve nas eleições americanas. Mas lá matam negros asfixiados, diria alguém. Mas no Brasil se mata do mesmo jeito, às vezes até com requintes, como explodir a bomba de gás no porta-malas da viatura, com um preso lá dentro.

Concordo com todos os que dizem que o problema mais urgente é a fome. No entanto não apenas o combate à fome, ao racismo, à misoginia, à destruição ambiental —tudo, enfim, poderia ser visto sob um novo ângulo: a articulação entre Estado, mercado e sociedade.

De um modo geral, uma campanha se faz com propostas e críticas aos adversários numa dosagem equilibrada. Bolsonaro deixa muitos flancos. Além de sua atuação terrível na pandemia, há todos os erros de seu governo e também os tropeços da vida pessoal. A família negociou 107 imóveis em 30 anos, pelo menos 51 com dinheiro vivo. Mais que uma família, é uma agência imobiliária.

Mas os anos sombrios podem ficar para trás, e seria muito interessante olhar um pouco para o mundo, em busca das ideias necessárias para a reconstrução.

Um país com maioria de mulheres, rico em recursos naturais, com chances de superar o racismo e de iniciar uma experiência de que nossos filhos e netos possam se orgulhar, é algo que está no horizonte das nossas possibilidades.

Não podemos deixar que Bolsonaro defina nosso padrão de felicidade, limitando-o apenas à sua derrota. Existe toda uma vida pela frente, quando ele se tornar apenas uma lembrança amarga na História.

O Globo

O bônus desproporcional de ser governo




Emendas impositivas são equivalentes a ‘isonomia salarial’ e retiram incentivos para que parlamentares participem da coalizão de governo

Por Carlos Pereira* (foto)

Embora pareça haver consenso quanto à necessidade de o presidente ter discricionariedade sobre “moedas de troca” para que o presidencialismo multipartidário seja minimamente funcional, existe muito ceticismo em relação à possibilidade de reversão das emendas impositivas.

Afinal de contas, por que os parlamentares abririam mão dos poderes conquistados via execução mandatória de suas emendas orçamentárias? Os parlamentares, supostamente, nunca foram tão felizes... O que o novo presidente eleito teria a oferecer aos legisladores?

Decisões coletivas em um Parlamento tendem a ser intransitivas quando desprovidas de coordenação pelo presidente. As maiorias que eventualmente se formam são cíclicas, o que gera maiores custos de governabilidade. E o que é mais grave, instabilidade e incoerência no perfil de políticas públicas aprovadas.

Antes da impositividade das emendas individuais e coletivas, o presidente tinha o poder de exercer a coordenação da agenda legislativa a um custo relativamente baixo aprovando a maioria de suas políticas e reformas.

Por outro lado, os parlamentares que consistentemente apoiavam o Executivo viam suas emendas mais executadas pelo presidente e, consequentemente, aumentavam as suas chances de reeleição.

Já os parlamentares de oposição, que recebiam relativamente menos recursos, topavam jogar esse jogo na expectativa de vir a ser governo amanhã.

Talvez não tenha sido coincidência o fato de a taxa de reeleição nas eleições de 2018 (54%) ter sido bem abaixo da média histórica (68%), gerando assim mais incertezas quanto a sobrevivência eleitoral do parlamentar após a impositividade das emendas individuais em 2015.

As emendas impositivas são equivalentes à “isonomia salarial”. Elas reduzem os incentivos para que parlamentares participem da coalizão de governo, pois todos, indistintamente da condição de ser governo ou oposição, recebem os mesmos recursos. Ou seja, um prêmio que vai automaticamente a todos não incentiva ninguém. Mas a alternativa criada por Bolsonaro, o “orçamento secreto”, se revelou caro e disfuncional.

A chave para que o próximo presidente consiga galvanizar apoio legislativo capaz de revogar as emendas impositivas está justamente no restabelecimento da execução desproporcional de recursos para àqueles que fazem parte da coalizão de governo, conferindo assim um bônus aos mais fiéis para que aumentem as suas chances de sucesso eleitoral.

*Cientista político e professor titular da Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas (FGV EBAPE

O Estado de São Paulo

O incrível país que vai bem e vai mal - Editorial




Ao cogitar a renovação do inventado estado de calamidade para manter o Auxílio Brasil em R$ 600 em 2023, Guedes e Bolsonaro têm de decidir se o País está em crise ou ‘bombando’

No dia seguinte à apresentação de um Orçamento que explicitou a incapacidade de fazer valer sua principal promessa de campanha, o presidente Jair Bolsonaro disse que o Executivo poderá recorrer novamente a um estado excepcional para manter o piso do Auxílio Brasil em R$ 600 em 2023 sem ter de justificar o descumprimento de regras fiscais e orçamentárias. “Se a guerra continuar lá fora, continuamos em emergência aqui da mesma forma”, disse Bolsonaro. Pouco antes, o ministro da Economia, Paulo Guedes, já havia deixado claro que compactua com o uso dessa manobra. “Se a guerra da Ucrânia continua, prorroga o estado de calamidade, e aí você continua com R$ 600”, afirmou. Diante do fato de que essa solução fabricada voltou a ser estudada, o governo, até por uma questão de coerência, precisa decidir, afinal, se o Brasil está em crise ou está “bombando”, como Paulo Guedes costuma dizer.

Com razão, o desempenho da economia tem sido motivo de comemoração por parte do governo. Guedes disse que o crescimento – de 1,2% no segundo trimestre sobre os três meses anteriores – foi maior que o registrado por Estados Unidos, Europa e China. Aproveitou para mencionar a redução da inflação; celebrar a recuperação do comércio; exaltar o avanço dos investimentos; criticar bancos que reduziram as estimativas para o Produto Interno Bruto (PIB); destacar a queda do desemprego e o aumento da renda dos trabalhadores; e negar a existência de uma bomba fiscal no ano que vem. “Contra fatos não há argumentos. Que comece o ‘mas’”, desafiou.

Se a conjunção adversativa não cabe para descrever a situação do Brasil, como defende Guedes, então o País estaria “decolando”, razão pela qual não há motivo para que ele cogite – e frise-se, precisamente no mesmo dia e no mesmo evento em que se gabou do desempenho da economia brasileira – adotar um estado de calamidade a que só se recorre em momentos de profunda crise. Se há outros fundamentos que dão amparo a esse recurso, é dever do ministro revelá-los à sociedade. É imprescindível explicar por que é preciso romper novamente o teto de gastos e desmoralizar a pouca credibilidade de que o arcabouço fiscal ainda dispõe, a não ser que isso seja apenas um pretexto para solucionar urgências eleitorais relacionadas à candidatura de Bolsonaro.

O reconhecimento do estado de calamidade pública se deu no contexto da eclosão da covid-19, por meio de um decreto legislativo aprovado em março de 2020 e que produziu efeitos até 31 de dezembro daquele mesmo ano. A ele se seguiu a emenda constitucional que instituiu o orçamento de guerra e garantiu o pagamento do auxílio emergencial. Crente de que a pandemia, cujos efeitos sempre menosprezou, estava próxima do fim, o governo deixou milhões de famílias sem socorro nos três primeiros meses de 2021. Contrariado, acatou o retorno dos pagamentos em março e, com a aprovação que ele proporcionou ao presidente, criou o Auxílio Brasil em dezembro. Em julho, o Legislativo deu aval à elevação do piso a R$ 600, mas com uma importante diferença. Era preciso driblar, além do teto, as restrições legais que impediam o governo de alterar benefícios às vésperas das eleições. Foi apenas e tão somente por isso que o Executivo invocou o estado de emergência. Sem nenhum pudor, usou a guerra na Ucrânia para justificar a adoção de medidas pautadas pelo pleito de outubro e que apenas confirmaram uma reiterada displicência com a parcela mais carente da população.

Se o governo vê no desempenho do PIB a “consolidação da retomada da atividade econômica, mesmo com os impactos do conflito do Leste Europeu e os efeitos remanescentes da pandemia”, como descreveu o Ministério da Economia em nota oficial, não pode continuar a usar uma guerra de duração imprevisível para defender um recorrente descumprimento do arcabouço fiscal e orçamentário que rege o País. Para além da incompetência administrativa e da absoluta insensibilidade com as vítimas do confronto, essa é uma narrativa que subestima a inteligência da sociedade.

O Estado de São Paulo

Orçamento fictício - Editorial




Após gastança eleitoreira, governo faz previsão irrealista de receita e despesa

A melhora do resultado fiscal do governo federal, com saldo de R$ 115,6 bilhões (ou 1,38% do Produto Interno Bruto) nos 12 meses encerrados em julho, não autoriza uma atitude de relaxamento.

Ao contrário, o prognóstico é de sensível deterioração em 2023, como fica claro no projeto de lei orçamentária anual recém-enviado pelo Executivo ao Congresso.

A peça, frágil, apresenta cenários irrealistas e serve para demonstrar o aviltamento continuado, no governo Jair Bolsonaro (PL), das regras e procedimentos que deveriam balizar a gestão das finanças públicas. O rombo esperado é de R$ 63,7 bilhões, sem considerar as despesas com juros —hoje mais elevados— da dívida pública.

O projeto começa mal ao prever para o próximo ano crescimento do PIB de 2,5%, muito acima das expectativas mais comuns entre analistas de mercado. Ficam assim excessivamente otimistas também as estimativas de receitas tributárias, uma prática sempre temerária.

É fato que a arrecadação tem surpreendido positivamente desde 2021, mas tal fenômeno decorre em grande medida da escalada da inflação, que, espera-se, deve perder força daqui em diante.

Superestimar receitas ajuda o governo a viabilizar, no papel, a continuidade da renúncia de impostos federais sobre combustíveis, abrindo mão de R$ 52,9 bilhões que farão falta diante de tantas demandas por mais gastos.

No total, a conta dos subsídios tributários voltará ao patamar exagerado de 4% do PIB, o dobro do que prometia o governo na agenda de reequilíbrio das contas.

Elimina-se, assim, o tênue progresso obtido desde 2016 em cortar essa rubrica, na contramão da diretriz inscrita na Constituição.

Do lado das despesas, o projeto usou como base o valor de R$ 405 mensais para o Auxílio Brasil, ao custo de R$ 105 bilhões em 2023, mesmo diante da quase certeza de que politicamente será obrigatório manter os atuais R$ 600.

Com a correção, serão necessários mais R$ 52 bilhões, montante que não cabe no teto de gastos, fixado em R$ 1,8 trilhão, o que deve levar a mais uma alteração casuística na Constituição.

Não se vê nenhum esforço em fazer com que o necessário programa social caiba nos limites da despesa, como se observa pela destinação de R$ 38,8 bilhões para emendas parlamentares ao Orçamento —dos quais R$ 19,4 bilhões para as opacas emendas de relator.

Foram reservados ainda R$ 14,5 bilhões para reajustes de salários do funcionalismo, sendo R$ 11,6 bilhões para um aumento linear de 4,85% no Executivo, num sinal de que o congelamento dos últimos anos será insustentável.

Como seria de esperar, o descalabro eleitoreiro promovido neste ano por Bolsonaro deixará sequelas que vão emparedar a próxima administração desde seu primeiro dia. Será necessário grande esforço para restabelecer a ordem fiscal.

Os órgãos de controle, aliás, não podem se omitir diante do crescimento contínuo de despesas sem disciplina nem transparência.

Folha de São Paulo

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