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quinta-feira, agosto 04, 2022

Presidente da Câmara dos Deputados dos EUA deixa Taiwan

 




Viagem gerou reações da China, que reivindica território

Por Sarah Wu e Yimou Lee 

Taipé - A presidente da Câmara dos Deputados dos Estados Unidos, Nancy Pelosi, deixou Taiwan nesta quarta-feira depois de ter prometido solidariedade e saudado a democracia da ilha, gerando reação da China por causa de sua breve visita à ilha autogovernada, que Pequim reivindica como parte de seu território.

Pelosi, cuja delegação fez uma parada não anunciada, mas vigiada de perto, em Taiwan, na terça-feira, após visitas a Singapura e Malásia, deve continuar sua viagem pela Ásia, agora com visitas à Coreia do Sul e ao Japão.

Seu avião decolou de um aeroporto na capital Taipé por volta das 18h (horário local, 7h em Brasília).

A China demonstrou sua indignação com a visita de mais alto nível dos EUA à ilha, em 25 anos, com uma explosão de atividade militar nas águas circundantes, convocando o embaixador dos EUA em Pequim e interrompendo várias importações agrícolas de Taiwan.

Alguns dos exercícios militares planejados da China teriam ocorrido dentro do território aéreo e marítimo de 12 milhas náuticas de Taiwan, de acordo com o Ministério da Defesa de Taiwan, um movimento sem precedentes que uma autoridade graduada de defesa descreveu a repórteres como "equivalente a um bloqueio marítimo e aéreo de Taiwan".

Pelosi chegou com uma delegação do Congresso dos EUA em sua visita não anunciada, desafiando as repetidas advertências da China, no que ela disse que mostra o compromisso inabalável dos EUA com a democracia de Taiwan.

"Nossa delegação veio a Taiwan para deixar inequivocamente claro que não abandonaremos Taiwan", disse Pelosi à presidente de Taiwan, Tsai Ing-wen.

"Agora, mais do que nunca, a solidariedade da América com Taiwan é crucial, e essa é a mensagem que estamos trazendo aqui hoje", afirmou durante sua visita de cerca de 19 horas.

Crítica de longa data da China, especialmente em direitos humanos, Pelosi se encontrou com um ex-ativista da Praça da Paz Celestial, um livreiro de Hong Kong que havia sido detido pela China e um ativista de Taiwan recentemente libertado pela China.

O último presidente da Câmara dos Deputados dos EUA a ir a Taiwan havia sido o republicano Newt Gingrich, em 1997. Mas a visita de Pelosi ocorre em meio à forte deterioração das relações sino-americanas e, durante o último quarto de século, a China emergiu como uma força econômica, militar e geopolítica muito mais poderosa.

A China considera Taiwan parte de seu território e nunca renunciou ao uso da força para colocar a ilha sob seu controle. Os Estados Unidos alertaram a China contra o uso da visita como pretexto para uma ação militar contra Taiwan.

Em retaliação, o departamento de alfândega da China anunciou a suspensão das importações de frutas cítricas e carapau congelado de Taiwan, enquanto o Ministério do Comércio proibiu a exportação de areia natural para Taiwan.

Embora houvesse poucos sinais de protesto contra alvos ou bens de consumo dos EUA, havia uma presença policial significativa do lado de fora do consulado dos EUA em Xangai e o que parecia ser mais segurança do que o normal do lado de fora da embaixada em Pequim.

Reuters / Agência Brasil

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China não pode impedir que líderes viajem para Taiwan, diz Pelosi

A presidente da Câmara dos Deputados dos EUA deixou hoje a ilha

Por Doina Chiacu e Rami Ayyub

Whashington - A China não pode impedir que líderes mundiais viajem para Taiwan, disse a presidente da Câmara dos Deputados dos Estados Unidos, Nancy Pelosi, nesta quarta-feira, após concluir uma visita à ilha autogovernada.

"Infelizmente, Taiwan foi impedida de participar de reuniões globais, mais recentemente da Organização Mundial da Saúde, por causa de objeções do Partido Comunista Chinês", disse Pelosi em comunicado.

"Embora possam impedir Taiwan de enviar seus líderes a fóruns globais, não podem impedir que líderes mundiais, ou qualquer pessoa, viajem a Taiwan para homenagear sua florescente democracia, destacar seus muitos sucessos e reafirmar nosso compromisso com a colaboração contínua."

Reuters / Agência Brasil

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Em visita a Taiwan, Pelosi reafirma apoio dos EUA à ilha

Ao lado da presidente taiwanesa, chefe da Câmara americana diz que Washington não abandonará compromisso com Taiwan. Visita gerou indignação em Pequim, que considera ilha autogovernada como parte de seu território.

A presidente da Câmara dos Estados Unidos, Nancy Pelosi, assegurou nesta quarta-feira (03/08) o apoio de Washington a Taiwan, durante uma visita à ilha que provocou ira no governo chinês.

"Hoje, nossa delegação veio a Taiwan para deixar inequivocamente claro: não abandonaremos nosso compromisso com Taiwan, e estamos orgulhosos de nossa amizade duradoura", afirmou Pelosi em coletiva de imprensa ao lado da presidente taiwanesa, Tsai Ing-wen.

Segundo a deputada americana, "o mundo enfrenta hoje uma escolha entre democracia e autocracia", e Taiwan se apresenta como "uma das democracias mais livres do mundo, orgulhosamente liderada por uma presidente mulher".

"Agora mais do que nunca, a solidariedade dos Estados Unidos com Taiwan é crucial. E essa é a mensagem que trazemos aqui hoje", disse Pelosi.

Tsai, por sua vez, afirmou que a invasão da Ucrânia pela Rússia elevou as preocupações de segurança em relação a Taiwan. "Agressões contra uma Taiwan democrática teriam um tremendo impacto na segurança de todo o Indo-Pacífico", alertou a presidente taiwanesa.

"Enfrentando ameaças militares deliberadamente intensificadas, Taiwan não recuará. Defenderemos firmemente a soberania de nossa nação e continuaremos a manter a linha de defesa da democracia", disse Tsai. "Faremos o que for necessário para fortalecer a capacidade de autodefesa de Taiwan."

Pelosi desembarcou em Taiwan nesta terça-feira para uma visita que não havia sido confirmada até a última hora, apesar de incisivos alertas da China sobre possíveis consequências militares e diplomáticas da iniciativa. Ela é a mais alta autoridade americana a visitar a ilha em 25 anos.

Taiwan é uma ilha autogovernada, com um regime democrático e politicamente próximo de países do Ocidente, e uma importante produtora de chips eletrônicos. A ilha declarou sua independência da China em 1949, mas Pequim a considera parte de seu território e rejeita contatos oficiais entre seus parceiros diplomáticos e o governo em Taipei.

Reação da China

Como se esperava, a visita de Pelosi provocou indignação entre as autoridades chinesas. Em resposta, Pequim iniciou exercícios militares em seis áreas nas águas ao redor de Taiwan. Espera-se que eles durem até domingo e incluam exercícios de disparos de longo alcance.

As manobras são vistas como a maior demonstração de força militar da China desde a crise do Estreito de Taiwan em 1995, quando Pequim disparou mísseis sobre Taiwan, e os EUA despacharam dois grupos de porta-aviões.

Nesta quarta, o Ministério do Exterior chinês convocou o embaixador americano na China, Nicholas Burns, em protesto contra a visita de Pelosi, a qual descreveu como uma "séria provocação e violação" do princípio de "uma só China", informou o jornal estatal chinês Global Times.

Pequim enviou ainda um total de 21 aviões para a zona de identificação de defesa aérea de Taiwan somente na terça-feira, disse o Ministério da Defesa em Taipei.

O porta-voz do Conselho de Segurança Nacional dos EUA, John Kirby, disse na terça que Washington espera que a China "continue a reagir em um horizonte de longo prazo, mesmo após a viagem de Pelosi".

Kirby, que enfatizou que a visita da presidente da Câmara foi "totalmente consistente com nossa política de longa data de 'uma só China'", afirmou ainda que a reação de Pequim foi "infelizmente de acordo com o que prevíamos".

"Não há razão para Pequim transformar esta visita, que é consistente com a política de longa data dos EUA, em algum tipo de crise, ou usá-la como pretexto para aumentar a agressividade e a atividade militar dentro ou ao redor do Estreito de Taiwan, agora ou depois de sua viagem", disse Kirby em coletiva de imprensa em Washington.

Diplomacia

Taiwan, com seus 23 milhões de habitantes, há tempos se considera independente. Mas a invasão russa da Ucrânia elevou os temores de que a China pudesse anexar a ilha democrática à força. As tensões em relação a Taiwan nunca estiveram tão altas desde 1990.

O presidente chinês, Xi Jinping, considera a "reunificação" com Taiwan um objetivo fundamental, e não descartou o possível uso da força para alcançar isso. Já Taiwan rejeita as reivindicações de soberania da China e diz que somente seu povo pode decidir o futuro da ilha.

Washington segue uma política de "uma só China" e reconhece diplomaticamente apenas Pequim, e não Taipei, o que significa que Taiwan não tem uma relação diplomática oficial com os Estados Unidos. No entanto, os EUA fornecem apoio político e militar considerável a Taiwan.

A China exige que os países escolham entre manter relações formais com Pequim ou com Taipei. Apenas 14 países do mundo mantêm relações diplomáticas oficiais com Taiwan.

Deutsche Welle

O que acontece com os russos que não querem lutar na Ucrânia




Denúncia lista prisões ilegais, agressões físicas e tortura psicológica contra "desobedientes”. Na Rússia, é crime divulgar informações sobre esses casos e demandar publicamente a soltura desses militares

Por Sergey Satanovskiy

Militares russos têm se recusado com frequência cada vez maior a participar da chamada "operação especial”, eufemismo que a Rússia usa para se referir à guerra de agressão contra a Ucrânia. Por esse motivo, soldados que não querem mais participar da guerra ou que pedem férias para encontrar suas famílias têm sido proibidos de deixar a zona de conflito.

Os "desobedientes”, como são chamados os que não querem mais lutar, são mantidos em prisões e acampamentos em Lugansk, região no leste da Ucrânia que é controlada por separatistas desde 2014.

A situação foi relatada por parentes de combatentes e ativistas dos direitos humanos à DW.

Há casos de pais e mães de soldados russos que viajaram até a cidade de Brianka, dentro de Lugansk, para tentar negociar a libertação de seus filhos. Em silêncio, eles fazem vigias do raiar do dia até o cair da noite em frente a um acampamento onde, segundo informações veiculadas pela imprensa, estão detidos cerca de 200 "desobedientes”.

Caso denunciado à Procuradoria-Geral

Segundo denúncias formalizadas por membros do Conselho de Direitos Humanos russo à Procuradoria-Geral do país, também há soldados detidos em outras quatro localidades ucranianas sob domínio do exército russo: Popasna, Alchewsk, Stakhanov e Krasnyi Luch.

A DW teve acesso aos documentos, que baseiam-se em depoimentos de parentes de seis soldados "desobedientes” presos nessas quatro cidades e em um front de batalha em Svitlodarsk. O comando militar não teria permitido a essas pessoas que retornassem a suas casernas na Rússia.

Entre os autores da denúncia à Procuradoria-Geral estão o cineasta Alexander Sokurov, que em 2011 foi homenageado com o Leão de Ouro no Festival de Veneza, e o jornalista Nikolai Swanidse. De acordo com o documento, os soldados se queixam das más condições em que estão detidos e acusam seus superiores militares de tortura psicológica.

"Trata-se aqui de crimes contra membros das Forças Armadas, prisões ilegais, tortura e tratamento desumano”, consta de trecho da denúncia. Parentes teriam relatado ainda agressões físicas contra os detidos.

Soldados presos em trincheiras

O ativista de direitos humanos e coordenador da ONG "Grazhdanin i armija" (trad. livre: Cidadãos e Forças Armadas), Sergej Krivenko, afirmou à DW que as condições em que se encontram esses soldados "desobedientes” dependem de onde eles estão detidos.

"No início de julho, os relatos eram de que eles estariam presos em trincheiras”, informa Krivenko.

Um parente de um soldado em Brianka, que por razões de segurança prefere manter-se anônimo, contou à DW receber ligações frequentes do filho, e que este aparentemente usa uma linha telefônica comum, à qual recorrem outros soldados para se comunicar com suas famílias. Ele afirmou ainda que esses soldados são levados de manhã para o "trabalho” – não está claro de que tipo.

Segundo Krivenko, um preso conseguiu fugir do cárcere em Brianka e chegou até a Rússia. "Se um soldado regressa à caserna onde está lotado dentro de um prazo de dez dias, não é considerado um caso de deserção”, explica.

Rússia pressiona por regresso ao front

Devido à pressão que têm sofrido, alguns militares voltaram atrás em suas decisões de não combater mais na Ucrânia e retornaram às suas antigas posições de combate. É o que afirmam à DW pais de um soldado preso em Brianka. Eles também desejam permanecer no anonimato por temerem pelo bem-estar do filho.

"Primeiro os soldados falaram que não voltariam à guerra de jeito nenhum. De repente, ficamos sabendo que eles estão indo para o front – e sem informar os pais disso.”

Na Rússia, é crime divulgar informações sobre soldados impedidos de deixar a Ucrânia e demandar publicamente a libertação de "desobedientes” mantidos presos. A DW conhece o caso de um homem cujos pais procuraram jornalistas e que, por isso, teve o pedido de férias recusado pelos seus superiores militares. É por esse motivo que todos os parentes de soldados presos contatados pela reportagem não querem revelar suas identidades.

Segundo uma dessas pessoas, o governo russo tenta engrossar as fileiras do front com promessas de "boas condições de serviço”.

A outra estratégia é ameaçar com processos criminais, informa Alexandra Garmaschapova, da Free Buryatia Foundation (trad. livre: Fundação Buriácia Livre), ONG baseada nos Estados Unidos criada em março de 2022 em reação à invasão da Ucrânia. Por trás da entidade estão cidadãs e cidadãos da Buriácia, divisão federal da Rússia localizada na Ásia, que se engajam por eleições livres no território.

Prisões "violam leis russas”

No início de julho, a Free Buryatia Foundation afirmou que cerca de 500 soldados da Buriácia teriam se negado a lutar na Ucrânia e queriam regressar às suas casas. O número seria ainda maior segundo informações do jornal "Verstka", que está sob censura das autoridades russas: 1.793 combatentes.

Relatos dão conta de que soldados têm se recusado a participar do conflito desde o final de março, segundo Krivenko, quando ocorreram as primeiras retiradas de tropas nas imediações de Kiev. Esses militares teriam buscado em seguida contato com defensores de direitos humanos, com o objetivo de rescindir seus contratos de trabalho com as Forças Armadas russas.

De acordo com Krivenko, o número de casos de militares "desobedientes” tem crescido. Ele critica as prisões. "É uma violação grave das leis russas. Um soldado não pode ser detido e mantido preso sem julgamento. Só um tribunal russo, em território russo, pode julgar esses casos”, afirma.

Deutsche Welle

Tensão em Taiwan: o longo histórico de Nancy Pelosi em oposição à China




A presidente da Câmara dos Deputados dos EUA, Nancy Pelosi, é a segunda na linha de sucessão para a Presidência do país

Por Melissa Zhu

A presidente da Câmara dos Deputados dos EUA, Nancy Pelosi, visitou Taiwan, contrariando alertas e ameaças da China — e preocupações da Casa Branca. A deputada americana tem um longo histórico de críticas ao governo chinês.

O enfrontamento mais famoso foi em 1991. Pelosi visitou a Praça Tiananmen dois anos após protestos em larga escala em Pequim serem esmagados pelo governo chinês, e exibiu uma faixa em homenagem aos manifestantes falecidos.

Por sua vez, o governo chinês não esconde seu desdém por Pelosi, e chegou a rotulá-la como uma pessoa "cheia de mentiras e desinformação".

A China vê Taiwan como uma Província separatista e não descarta o uso de força militar para reunificar a ilha. Pequim exerce pressão significativa para dissuadir outros países de reconhecer a independência de Taiwan.

A China havia alertado sobre consequências graves antes da visita de Pelosi a Taiwan.

Ela é a segunda na linha de sucessão da Presidência dos EUA, depois da vice-presidente, Kamala Harris. É também a política americana mais importante a viajar para a ilha desde Newt Gingrich, antigo presidente da Câmara, que o fez em 1997.

A viagem não teve apoio pelo presidente dos EUA, Joe Biden. Com as tensões EUA-China, funcionários da Casa Branca tentaram dissuadi-la. Biden disse recentemente a repórteres que "os militares [americanos] acham que não é uma boa ideia".

Visita à Praça da Paz Celestial em 1991

Dois anos depois que manifestantes foram duramente reprimidos pelas forças do Partido Comunista na Praça Tiananmen (Praça da Paz Celestial), em Pequim, Pelosi — então deputada na Califórnia — visitou a capital chinesa.

Driblando sua própria escolta oficial, Pelosi e outros dois parlamentares americanos foram para a praça da cidade sem a permissão de seus anfitriões chineses.

Lá, eles exibiram uma pequena faixa pintada à mão que dizia: "Para aqueles que morreram pela democracia na China".

A polícia reprimiu rapidamente a manifestação, agredindo os repórteres que cobriam o evento e expulsando os parlamentares da praça.

O Ministério das Relações Exteriores da China denunciou o incidente como uma "farsa premeditada".

Alguns criticaram as ações de Pelosi durante essa visita. O ex-chefe da sucursal da CNN em Pequim, Mike Chinoy, escreveu em um editorial para a revista Foreign Policy que foi preso no local por causa de Pelosi. Chinoy disse que não sabia o que a deputada planejava fazer na praça e foi detido por várias horas.

"Foi minha primeira experiência com a propensão de Pelosi para gestos de alto nível projetados para provocar os governantes comunistas da China — independentemente das consequências", escreveu ele.

Ao longo dos anos, Pelosi — que também apoiou uma resolução condenando as ações da China em 1989 — sempre falou sobre o "massacre" de manifestantes.

Mais recentemente, ela emitiu uma nota para marcar o 33º aniversário dos protestos deste ano, chamando as manifestações de "um dos maiores atos de coragem política" e criticando o "regime opressor" do Partido Comunista.

Cartas para Hu

Em uma reunião com o então vice-presidente chinês, Hu Jintao, em 2002, Pelosi tentou lhe dar quatro cartas expressando preocupação com a detenção e prisão de ativistas na China e no Tibete, e pedindo sua libertação. Mas Hu recusou-se a aceitar as cartas.

Sete anos depois, Pelosi teria entregue em mãos outra carta a ele — que já virara presidente da China — pedindo a libertação de prisioneiros políticos, incluindo o proeminente dissidente Liu Xiaobo.

Liu foi ganhador do Prêmio Nobel da Paz de 2010, mas não foi autorizado a viajar para a Noruega para receber o prêmio. Ele morreu de câncer em 2017 enquanto ainda estava sob custódia chinesa.

Manobras olímpicas

Pelosi se opunha às candidaturas da China para sediar Jogos Olímpicos desde 1993 com base em supostos abusos de direitos humanos.

Ela foi uma das parlamentares que, sem sucesso, pediu ao então presidente dos EUA, George W. Bush, para boicotar a cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos de 2008 em Pequim.

Este ano, a presidente da Câmara voltou a liderar pedidos de um "boicote diplomático" aos Jogos Olímpicos de Inverno de 2022 em Pequim devido ao tratamento dos muçulmanos uigures na China.

"Para chefes de Estado irem à China diante de um genocídio que está em andamento — enquanto você está aí sentado em seu assento — realmente levanta a questão, sobre que autoridade moral você tem para falar novamente sobre direitos humanos em qualquer lugar do mundo" ela disse.

Em resposta, um porta-voz da embaixada chinesa em Washington disse que os políticos dos EUA não estão em posição de fazer "críticas infundadas e injustificadas" contra a China.

Ao longo dos anos, Pelosi também pressionou para que o status comercial da China fosse vinculado ao seu histórico de direitos humanos e para exigir contrapartidas à entrada da China na Organização Mundial do Comércio (OMC).

A política tem sido controversa: Bush vetou a legislação relacionada a isso várias vezes, enquanto o ex-presidente Bill Clinton inicialmente a apoiou, mas depois a abandonou, dizendo que interesses estratégicos americanos mais amplos justificavam a reversão.

BBC Brasil

4 Como ataque de drone dos EUA matou líder da Al-Qaeda, mas não sua família




Este é o suposto local do ataque em Cabul — com a varanda agora coberta

Por Bernd Debusmann Jr e Chris Partridge

Pouco mais de uma hora após o nascer do sol em 31 de julho, o líder de longa data da Al-Qaeda, Ayman al-Zawahiri, foi até a varanda de um complexo no centro de Cabul — supostamente a atividade pós-oração favorita do veterano jihadista egípcio.

Esta seria a última coisa que faria.

Às 06:18, do horário local (01:38 GMT), dois mísseis atingem a varanda, matando o homem de 71 anos, mas deixando sua esposa e filha ilesas lá dentro. Todo o estrago causado pelo ataque parece estar concentrado na varanda.

Como foi possível atacar com tanta precisão? No passado, os EUA foram alvo de críticas por erros de alvos em ataques que mataram civis.

Mas vamos explicar a seguir como, neste caso, o tipo de míssil e um estudo minucioso dos hábitos de Zawahiri tornaram isso possível — e por que mais ataques podem ocorrer.

Precisão do laser

O tipo de míssil usado foi fundamental — Hellfires disparados por drones, de acordo com autoridades americanas —, um tipo de míssil ar-terra que se tornou um dispositivo das operações antiterroristas dos EUA no exterior nas décadas seguintes aos ataques de 11 de setembro de 2001.

O míssil pode ser disparado de uma variedade de plataformas, incluindo helicópteros, veículos terrestres, navios e aeronaves de asa fixa — ou, no caso de Zawahiri, de um drone não tripulado.

Acredita-se que os EUA tenham usado Hellfires para matar o general iraniano Qassem Soleimani em Bagdá no início de 2020, e o jihadista britânico do Estado Islâmico conhecido como "Jihadi John" na Síria em 2015.

Entre as principais razões para o uso recorrente do Hellfire, está sua precisão.

Quando um míssil é lançado de um drone, um operador de armas — às vezes sentado em uma sala de controle com ar-condicionado tão distante quanto o território continental dos EUA — assiste a uma transmissão de vídeo ao vivo do alvo, que os sensores da câmera do drone enviam via satélite.

Usando uma série de "suportes de mira" na tela, o operador da câmera pode "travar" o alvo e apontar um laser para ele. Uma vez disparado o míssil, ele segue a trajetória desse laser até atingir o alvo.

Há procedimentos claros e sequenciais que a equipe que opera o drone deve seguir antes de agir, para minimizar o risco de baixas civis. Em ataques anteriores dos EUA e da CIA, a agência de inteligência americana, isso incluiu a convocação de advogados militares para fazer consultas antes de dar a ordem de disparo.

O professor William Banks, especialista em assassinatos seletivos e fundador do Instituto de Direito e Política de Segurança da Universidade de Syracuse, nos EUA, afirma que as autoridades teriam que colocar na balança o risco de mortes de civis e o valor do alvo.

O ataque contra Zawahiri, segundo ele, "soa como uma aplicação modelo" do processo.

"Parece que eles foram muito cuidadosos e deliberados neste caso para encontrar (Zawahiri) em um local e em um momento em que poderiam atingir apenas ele, e não machucar mais ninguém", diz Banks.

No caso do ataque contra Zawahiri, foi sugerido, mas não confirmado, que os EUA também usaram uma versão relativamente desconhecida do Hellfire — o R9X —, que utiliza seis lâminas para fatiar os alvos usando sua energia cinética.

Em 2017, outro líder da Al-Qaeda e um dos vices de Zawahiri, Abu Khayr al-Masri, teria sido morto com um Hellfire R9X na Síria. Fotos tiradas do seu veículo após o ataque mostraram que o míssil abriu um buraco no teto e retalhou seus ocupantes, mas sem sinais de explosão ou qualquer outra destruição do veículo.

EUA monitoraram 'hábito de ir até a varanda' de Zawahiri

Ainda estão surgindo detalhes sobre que tipo de inteligência os EUA reuniram antes de lançar o ataque em Cabul.

Na sequência do ataque, no entanto, autoridades americanas disseram que tinham informações suficientes para entender o "padrão de vida" de Zawahiri na casa — como seu hábito de ir até a varanda.

Isso sugere que espiões dos EUA estavam vigiando a casa há semanas, ou até mesmo meses.

Marc Polymeropoulos, ex-agente sênior da CIA, disse à BBC que é provável que vários métodos de inteligência tenham sido usados ​​antes do ataque, incluindo espiões em campo e interceptação de sinais.

Há também quem especule que drones ou aeronaves dos EUA se revezaram no monitoramento do local durante semanas ou meses, sem serem vistos ou ouvidos do solo.

"Você precisa de algo que dê alguma certeza de que é o indivíduo, e também precisa ser feito em um ambiente livre de danos colaterais, o que significa sem vítimas civis", afirma.

"É preciso muita paciência."

O ataque contra Zawahiri, acrescenta Polymeropoulos, se beneficiou das décadas de experiência da comunidade de inteligência dos EUA no rastreamento individual de líderes da Al-Qaeda e outros alvos terroristas.

"Somos excepcionais nisso. É algo em que o governo dos EUA se tornou muito bom em mais de 20 anos", diz ele.

"E os americanos estão muito mais seguros por isso."

No entanto, as operações americanas deste tipo nem sempre correm conforme o planejado. Em 29 de agosto de 2021, um ataque de drone a um carro ao norte do aeroporto de Cabul, destinado a atingir um braço local do Estado Islâmico, matou 10 pessoas inocentes. O Pentágono reconheceu que um "erro trágico" havia sido cometido.

Bill Roggio, pesquisador da Fundação para a Defesa das Democracias que acompanha os ataques de drones dos EUA há muitos anos, acredita que o ataque contra Zawahiri foi provavelmente "muito mais difícil" de executar do que os assassinatos anteriores, dada a ausência de qualquer presença ou fontes do governo dos EUA nas proximidades.

Ataques anteriores de drones contra o vizinho Paquistão, por exemplo, partiram do Afeganistão, enquanto ataques contra a Síria teriam sido conduzidos a partir de território aliado no Iraque.

"[Nesses casos] foi muito mais fácil para os EUA chegar a essas áreas. Eles tinham fontes no terreno. Este foi muito mais complicado", avalia.

"É o primeiro ataque contra a Al-Qaeda ou o Estado Islâmico no Afeganistão desde a saída dos EUA. Não é um acontecimento comum."

Pode acontecer de novo?

Roggio diz que "não ficaria surpreso" se ataques semelhantes contra alvos da Al-Qaeda ocorressem novamente no Afeganistão.

"Não há escassez de alvos", observa.

"Os potenciais próximos líderes [da Al-Qaeda] muito provavelmente vão se mudar para o Afeganistão, se já não estiverem lá."

"A questão é se os EUA ainda têm a capacidade de fazer isso com facilidade ou será um processo difícil", acrescenta.

BBC Brasil

Chantagem totalitária: e depois do "braço de ferro"?




A ida de Pelosi a Taiwan talvez revele os limites da pressão que a China e a Rússia têm exercido sobre as democracias, até por a guerra da Ucrânia ter levado Xi Jinping a reorientar a sua geopolítica.

Por Manuel Villaverde Cabral (foto)

Todos percebemos nos últimos dias que o presidente Joe Biden não estava nada entusiasmado com a ideia atribuída à terceira figura política dos Estados Unidos, Nancy Pelosi, de visitar a lusitana ilha Formosa, hoje Taiwan, sem que a ilha – um pouco mais de um terço de Portugal mas com cerca de 30 milhões de habitantes – perdesse até hoje a independência garantida pela presença norte-americana. Contra a China de Mao-Tse-Tung, líderes militares anti-comunistas como Chiang-Kai-Chek e o seu filho governaram Taiwan desde o fim da 2.ª guerra mundial, sem que a sua independência fosse reconhecida pela ONU mas, em contrapartida, beneficiou desde então o apoio aberto dos USA, o que explica que o sistema político local tenha acabado por se democratizar entretanto.

Até hoje, Taiwan continua a ser, na prática, um país independente. O imperialismo chinês, porém, não se resigna. Sem a presença dos USA, a China já teria invadido Taiwan à maneira do que a Rússia tem estado a fazer na Ucrânia! A ida de Pelosi, apesar de temida pelo governo norte-americano, enquadra-se plenamente na resposta imediata dos USA e da NATO à Rússia quando Putin atacou a Ucrânia a fim de tentar ressuscitar o poder soviético derrotado há mais de trinta anos. A forma belicosa como a ditadura chinesa ameaçou atacar Taiwan no caso de Nancy Pelosi se atrever a desembarcar no aeroporto de Taipé foi inútil. Em vez disso, o mundo inteiro pode actualmente confirmar a chegada dela e dos seus acompanhantes há poucas horas.

Como era de prever, os agentes do regime chinês, desde os militares até aos porta-vozes da ditadura, fizeram imediatamente o possível para meter medo à população mundial, em especial aos USA. E com alguma razão. Os dirigentes da China – isto é, do partido comunista – devem estar a congeminar «jusqu’où peut-on aller trop loin», como dizem os Franceses: «Até onde se pode ir longe de mais?». A China colocou-se, pois, antes mesmo da chegada de Pelosi, na mesma posição da Rússia quando Putin anunciou o ataque à Ucrânia e, simultaneamente, ameaçou com a bomba nuclear no caso de as suas intenções políticas e militares não serem suficientes, como efectivamente não têm sido até agora, para vergar de vez não só a Ucrânia como também os países da NATO!

Pelo seu lado, a atitude de Nancy Pelosi já se tornara pública e determinada quando se manifestou, há mais de 30 anos, na Praça da Paz Celeste de Pequim, desfraldando então uma faixa em homenagem aos dissidentes chineses mortos nos protestos de 1989. Hoje, ela reincidiu e trouxe consigo o ministro da Guerra do governo Biden, o qual tem estado empenhado na operação da NATO contra Putin e certamente ambos terão trocado opiniões acerca da crise entre as democracias ocidentais e as ditaduras orientais, conforme Putin tem aliás invocado.

A esta hora, é seguro que os chamados «leaders» mundiais estejam a coçar o alto das respectivas cabeças para decidirem o que fazer… No que respeita à intervenção de Nancy Pelosi, ela não pode ter menosprezado as previsíveis reacções da China e da Rússia! Quem sabe se não foi deliberadamente que ela e quem a rodeia decidiram pressionar os regimes autoritários ou, como se diz no «poker», «call their bluff», em vez de a NATO continuar a ser vítima da habitual chantagem totalitária?

Acontece que nenhuma destas questões é nova. No que respeita à Rússia, há anos que esta já havia conquistado à Ucrânia território substancial, assim como continua a dominar países e regiões sob o seu jugo. Quanto à China, desde o tempo de Mao Tsé Tung que não cedeu um milímetro às populações de territórios como o Tibet e não só. Sob a nova provocação armada contra a Ucrânia e a simultânea ameaça de recorrer ao nuclear, Putin quis mostrar até onde poderia ir se os USA e a NATO não cedessem.

Inversamente, a ida de Pelosi a Taiwan talvez venha a revelar os limites da pressão constante que a China e a Rússia têm exercido sobre os chamados países capitalistas. Não é impossível, aliás, que a crise financeira e social desencadeada há pouco tempo tenha tido lugar a coberto da pandemia originada na China: com efeito, esta não cessou desde então de prolongar a sua ofensiva internacional. Segundo os analistas, foi a guerra da Rússia contra a Ucrânia e a NATO que levou Xi Jinping a reorientar a sua geopolítica.

Por seu turno, a China mapeou de novo o espaço do Pacífico e do Índico, recuperando ao mesmo tempo a ilha de Taiwan, o que pode ter mexido com as relações da China de Xi Jinping com os Estados Unidos e, concretamente, com Taiwan, donde a inquietação com a vinda de Nancy Pelosi à pequena ilha. O momento é, pois, de acompanhar de perto.

Observador (PT)

Taiwan em alerta após a visita de Nancy Pelosi




Após visita da presidente da Câmara dos EUA, China prepara sua maior demonstração de força militar em 25 anos ao redor da ilha. Alguns taiwaneses estão preocupados; outros dizem que as táticas de Pequim não mudaram.

Por William Yang e Wesley Rahn

Taiwan se prepara para uma resposta massiva de demonstração de força militar da China após a presidente da Câmara dos EUA, Nancy Pelosi, deixar Taipei nesta quarta-feira (03/08). Ela se encontrou com a presidente Tsai Ing-wen e fez uma "promessa fundamental" de que os Estados Unidos "sempre estarão ao lado de Taiwan".

Pelosi foi a mais alta autoridade dos EUA a visitar Taiwan em 25 anos. O regime de Pequim considera a ilha como território chinês e critica a visita – assim como qualquer atitude que possa sugerir que Taiwan é um país independente.

Embora os EUA não mantenham relações diplomáticas formais com Taiwan, Washington é o mais importante apoio político e militar de Taipei.

"Agora, mais do que nunca, a solidariedade dos EUA com Taiwan é crucial, e essa é a mensagem que estamos trazendo aqui", disse Pelosi.

"Se a presidente da Câmara dos Representantes dos EUA estiver disposta a ir a Taiwan para validar o relacionamento com Taiwan de uma perspectiva democrática, isso influenciará outros líderes democráticos", afirmou Wei-Ting Yen, professora taiwanêsa de ciência política no Franklin and Marshall College, nos Estados Unidos.

China responde com demonstração de força

Depois que Pelosi chegou a Taipei, na noite de terça-feira, Pequim anunciou exercícios militares de fogo real em seis blocos marítimos ao redor de Taiwan, começando nesta quinta-feira e se estendendo até domingo.

Shi Yi, porta-voz do Comando Oriental do Exército de Libertação do Povo Chinês, disse em comunicado que as operações militares são "dissuasão contra a grande escalada" dos EUA na "questão de Taiwan".

Os exercícios são um "grave alerta" para "ações separatistas das forças de independência de Taiwan", acrescentou.

'Pelosi reafirmou o compromisso dos EUA de apoiar Taiwan'

O comunicado disse que haveria "exercícios conjuntos navais-aéreos e tiro de munição real de longo alcance" no Estreito de Taiwan e "lançamento de teste de poder de fogo de mísseis convencionais" na costa leste da ilha.

Ao fornecer os locais para os exercícios em um mapa, a agência de notícias oficial da China Xinhua aconselhou navios e aeronaves a evitar essas áreas.

Na quarta-feira, o Ministério da Defesa em Taipei disse que alguns dos exercícios de fogo real parecem violar as águas territoriais de Taiwan, que se estendem a 12 milhas náuticas (22 quilômetros) da costa.

A pasta informou que as "zonas de exclusão" designadas pelos chineses equivalem a um "bloqueio marítimo e aéreo" de Taiwan, que ameaça rotas marítimas e aéreas.

"Eles se sobrepõem às nossas águas territoriais e espaço aéreo e violam gravemente nossa soberania", disse Yu Chien-chang, porta-voz do ministério.

A última vez que a China realizou uma demonstração de força dessa magnitude perto da ilha foi durante a "Terceira Crise do Estreito de Taiwan" (1995-1996), em uma resposta a uma visita dos EUA ao primeiro presidente democraticamente eleito de Taiwan, Lee Teng-hui.

"Não vimos Pequim planejando esses exercícios de tiro real há algum tempo, mas também é algo que sabíamos que eles fariam", disse Lev Nachman, professor de ciência política da Universidade Nacional de Chengchi, em Taiwan.

"A China está definitivamente usando táticas militares e de intimidação mais pesadas, mas elas não chegam a um ponto que não tenhamos visto antes", enfatizou Nachman.

Os EUA interviriam se a China atacasse?

Sob o "Ato de Relações de Taiwan", os EUA se comprometem a ajudar na defesa da ilha, mas não estipulam um compromisso de intervenção militar direta. Washington mantém uma postura de "ambiguidade estratégica" sobre a intervenção militar em Taiwan.

No entanto, comentários recentes do presidente americano, Joe Biden, de que os EUA "defenderiam" Taiwan se a ilha fosse atacada pela China causaram surpresa e forçaram a Casa Branca a esclarecer que Washington não mudou de posição.

"Somos defensores do status quo; não queremos que nada aconteça a Taiwan pela força", disse Pelosi na quarta-feira após se reunir com a presidente Tsai.

Desde que chegou ao poder em 2013, o presidente chinês Xi Jinping priorizou a "reunificação" com Taiwan e não descartou o uso da força para isso.

A partir do ano passado, Pequim aumentou a pressão militar sobre Taipei, despachando um grande número de caças para a zona de identificação de defesa aérea de Taiwan quase diariamente. Especialistas há muito expressam preocupações sobre um conflito militar causado por um erro de cálculo de ambos os lados.

"Acho que os incentivos em Pequim não são para iniciar um conflito em grande escala, e eles têm motivos para tentar manter qualquer escalada de ameaças ou pressão sobre Taiwan sob limites rígidos. Dependendo do que eles fizerem, aumentam as chances de um acidente", disse Kharis Templeman, especialista em Taiwan do Instituto Hoover da Universidade de Stanford.

Vincent Chao, ex-diretor da embaixada de fato de Taiwan, o escritório de representação na capital Washington, disse que "o apoio dos EUA à segurança de Taiwan é fundamental para a paz e a estabilidade em todo o Estreito de Taiwan".

"Do ponto de vista taiwanês, viagens como esta são valorizadas. As pessoas em Taiwan veem o envolvimento de alto nível entre Taipei e Washington como uma parte importante da paz e segurança de Taiwan", observou.

Mensagens em diferentes idiomas deram boas-vindas a Pelosi em Taipei

Como os taiwaneses estão respondendo?

Desde que a Rússia invadiu a Ucrânia no final de fevereiro, as pessoas em Taiwan estão em alerta, observando se a China se encorajaria a realizar um ataque semelhante.

"Com a guerra na Ucrânia, não acho que seja exagerada a preocupação da comunidade internacional com a viagem de Pelosi desencadear um possível conflito militar”, disse Mengying Yang, uma profissional de marketing de 30 anos.

No entanto, "muitos taiwaneses ficaram entorpecidos com a possibilidade de Pequim de usar a força para se reunir com Taiwan, se necessário", ressaltou.

Kuan-Ting Chen, CEO do think tank taiwanês NextGen Foundation, disse que muitas pessoas em Taiwan acham que "a melhor maneira de lidar com essa intimidação é manter suas vidas normais, já que Pequim vem repetindo o mesmo nível de ameaças nas últimas décadas."

"Eles se acostumaram com a intimidação de Pequim", sublinhou.

Outros disseram à DW que a incerteza em torno do nível de resposta da China é desconcertante.

"Tenho certeza de que a retaliação será multifacetada, incluindo retaliação militar, econômica e diplomática", disse Chiaoning Su, acadêmico de Taipei.

"Embora todos os taiwaneses estejam mentalmente preparados para essas retaliações, ainda estou preocupada com o grau das medidas da China", acrescentou.

Deutsche Welle

Por que a China não quer poderosos como Pelosi em Taiwan?




A resposta mais simples é: porque tem a força. Ou seja, até os Estados Unidos seguem uma política de ambiguidade em relação à ilha. 

Por Vilma Gryzinski

Para quem não fica grudado dia e noite no noticiário, é difícil entender as pressões e até as ameaças que a China fez aos Estados Unidos por causa da visita da presidente do Congresso, Nancy Pelosi, a Taiwan.

Quem fica, sabe que a China impôs ao mundo sua política de exclusão da ilha na qual, em 1949, as forças nacionalistas derrotadas na guerra civil pelos comunistas se refugiaram.

Na época, e por décadas subsequentes, a situação era inversa: Chiang Kai Shek, o líder nacionalista, continuou a ser reconhecido como o legítimo chefe de governo da China e a Ilha Formosa, assim chamada por navegadores portugueses que nela desembarcaram em 1516, representar o país na ONU.

Gradualmente, a situação foi mudando e a realidade se impôs. O regime comunista tinha o controle sobre o território de 9,5 milhões de quilômetros quadrados e os protestos dos nacionalistas de Taiwan – extensão: 36 mil quilômetros quadrados – não mudariam isso. Em 1972, os fatos foram consumados com a visita de Richard Nixon que normalizou relações com a China. Para compensar os aliados rejeitados, o Congresso Americano aprovou várias leis estabelecendo a ajuda militar maciça para Taiwan e o “não país” tem uma garantia implícita de defesa. Hoje, apenas quinze países, todos pequenos ou irrelevantes, reconhecem a ilha como sede da República da China.

A política americana de ambiguidade funcionou durante o tempo em que a China comunista esperou para levar adiante seu plano de “reunificação” – e para juntar o poder econômico e militar possibilitado pelas reformas de Deng Xiao Ping, que liberaram o empreendedorismo sob tutela do estado.

Hong Kong, “devolvida” pelos ingleses em 1997, contra garantias de manutenção de um status especial de respeito a liberdades públicas – deu no que deu – e Macau, o território onde os portugueses já eram quase inexistentes, em 1999, foram os primeiros passos. O próximo, todo mundo sabe e a China não faz questão nenhuma de esconder, ao contrário, é Taiwan, que tem 23 miIlhões de habitantes e um PIB per capita de deixar a matriz comunista babando de inveja – 25 mil dólares, ou 53 mil pelo critério de paridade de poder aquisitivo.

Como a China pode “reabsorver” Taiwan sem provocar uma guerra, que muito possivelmente arrastaria os Estados Unidos?

Ninguém sabe responder esta pergunta, levada a um estado de ebulição pela decisão de Nancy Pelosi, a terceira pessoa na estrutura de poder dos Estados Unidos na condição de presidente da Câmara dos Deputados, de visitar Taiwan com uma delegação de liderados.

Pelosi foi corajosa ou temerária, expondo seu país a uma situação de alto risco num momento em que a guerra da Rússia contra a Ucrânia já deixa o mundo todo em estado de alerta, pelo risco de contaminação entre as duas superpotências nucleares?

O próprio presidente Joe Biden foi contra, indiretamente. “Acho que os militares acham que não é uma boa ideia no momento”, disse, sem coragem de assumir uma posição clara.

Num momento raro, Biden coincidiu com Donald Trump, o campeão das sanções econômicas contra a China. “Ela só vai piorar as coisas”, espetou Trump.

Dois de seus principais ministros, quando era presidente, apoiaram Pelosi entusiasticamente. “Nancy, eu irei com você. Estou banido na China, mas não na Taiwan que ama a democracia. Te vejo lá”, tuitou o ex-secretário de Estado Mike Pompeo.

O ex da Defesa, Mark Esper, foi menos exuberante, mas igualmente incisivo: “Acho que se a presidente quer ir, deve ir”.

Uma pessoa que presida a Câmara dos Deputados dos Estados Unidos é mais importante do que um cônsul era em Roma e a ideia de que a China imponha condições a esse nível soa absurda. A ameaça feita por Xi Jinping – “Quem brinca com fogo…” etc etc – parece mais escandalosa ainda.

O fato é que, pelos princípios da realpolitik, Nancy Pelosi não deveria ter ido a Taiwan. Thomas Friedmann descreveu no New York Times a visita como “arbitrária e frívola”, com risco de detonar toda a contenção da China em relação à guerra na Ucrânia.

Pelos princípios dos Estados Unidos como defensores da liberdade e da democracia, ela fez muito bem em ir. Nem sempre a política externa deve obedecer apenas a interesses pragmáticos, principalmente a de uma superpotência que também “vende” valores.

Mas Pelosi não pode ignorar os riscos envolvidos. Além da guerra na Ucrânia, o momento é especialmente sensível para Xi Jinping, que precisa lustrar a imagem de líder forte depois dos problemas econômicos provocados pela política de covid zero, com lockdowns que se perpetuam. Em outubro, ele pretende sair ungido, mais uma vez, do vigésimo congresso do Partido Comunista.

É claro que, quando os representantes entram em sessão, já está tudo resolvido antecipadamente, mas a tensão pré-congresso aumenta a possibilidade de que Xi se sinta na obrigação de dar uma demonstração de força que saia dos parâmetros tacitamente aceitáveis.

É aí que mora o perigo.

As manobras militares que começam amanhã são as mais intimidadoras já feitas pela China, inclusive com avanço sobre as águas territoriais taiwanesas. É um jogo ao qual Taiwan já se acostumou, mas sempre tem a possibilidade de uma surpresinha chinesa.

Revista Veja

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