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domingo, junho 05, 2022

Quem é o líder evangélico mexicano que se declarou culpado por abuso sexual de menores




Naasón Joaquín García está preso nos Estados Unidos há quase três anos

Por Leire Ventas, em Los Angeles

O mexicano Naasón Joaquín García, líder da igreja La Luz del Mundo, se declarou culpado nesta sexta-feira (3/6) de três acusações de abuso sexual de menores às quais responde na Justiça americana, informou o procurador-geral da Califórnia, Rob Bonta, em comunicado.

O julgamento contra García deveria começar na segunda-feira, mas em uma reviravolta inesperada, ele firmou um acordo com as autoridades, se declarou culpado e deve receber uma sentença na manhã da próxima quarta-feira (8).

Ao todo, Garcia enfrenta 19 acusações, incluindo estupro, posse de pornografia infantil e tráfico de pessoas. Os crimes teriam sido cometidos entre junho de 2015 e junho de 2019

Há quase três anos, García, líder de uma das maiores igrejas evangélicas em nível internacional, foi preso no aeroporto de Los Angeles. O julgamento dele deveria começar em 2020, mas foi adiado em razão da pandemia do coronavírus e de várias estratégias adotadas por sua defesa.

Abaixo, contamos os detalhes do processo que ainda deve causar muita repercussão.

1. Quem é o acusado?

Joaquín García é o presidente internacional da igreja La Luz del Mundo desde 2014.

Ele assumiu o cargo após a morte do seu pai, Samuel Joaquín Flores, que foi o responsável por liderar a congregação durante 50 anos. Este também havia herdado a função de seu progenitor, Eusebio Joaquín González, que fundou a igreja em Guadalajara, no México, em 6 de abril de 1926.

'Naasón Joaquín García era o líder de uma igreja que assegura estar presente em 58 países'

Do acusado se conhece pouco, exceto a história que ele contou a portais e meios oficiais da congregação.

Sabe-se, por exemplo, que ele iniciou seu trabalho como missionário aos 14 anos para a igreja nos bairros populares de Guadalajara, onde ainda está localizada a sede principal.

Logo foi escolhido como responsável pelo movimento nos Estados Unidos e posteriormente viajou para Europa, Ásia e Oceania.

Quando assumiu a presidência da igreja, criou uma estrutura de comunicação nas redes sociais que permitiu que ele aumentasse o número de fiéis, segundo a página oficial do movimento.

E paralelamente, segundo a Procuradoria Geral da Califórnia, entre 2015 e 2018 Joaquín García e alguns de seus colaboradores teriam aproveitado essa estrutura para cometer abusos sexuais e outros crimes, algo que ele e a congregação que dirige negam.

Por essas acusações, ele foi preso em 3 de junho de 2019, junto com uma de suas assistentes, Susana Medina Oaxaca, após sua chegada ao Aeroporto Internacional de Los Angeles (LAX) em um jato particular.

E por isso será julgado no Tribunal Superior da cidade californiana.

2. Do que ele é acusado?

"Crimes como os alegados nesta denúncia não têm lugar em nossa sociedade. Ponto final", disse o então procurador-geral da Califórnia Xavier Becerra - agora secretário de Saúde e Serviços Humanos - ao anunciar sua captura.

'Naasón Joaquín García enfrenta 19 acusações'

Naquele momento, pendiam 25 acusações sobre o chamado "apóstolo de Jesus Cristo".

Mas o número variou nos últimos anos e atualmente há 19, entre elas acusações de abuso sexual de menores, violação, posse de pornografia infantil e tráfico de pessoas.

Os supostos crimes teriam ocorrido entre junho de 2015 e junho de 2019, em Los Angeles.

O processo criminal é baseado em depoimentos de cinco mulheres anônimas, vídeos e conversas mantidas em aplicativos de telefone.

A acusação sustenta, por exemplo, que três menores, identificadas como Jane Doe 1,2 e 3, foram convidadas a fazer parte de um grupo "especial" que atendia o líder da igreja cada vez que ele visitava Los Angeles.

Depois, elas teriam sido convidadas a dançar com pouca roupa, participaram de orgias e posaram nuas em hotéis e outros lugares, segundo a acusação.

'Sochil Martin processou Naasón Joaquín García depois de servir como sua 'recrutadora'

"Naasón vivia em um filme pornô em 90% de seu tempo. E ele podia fazer isso possível porque tinha dinheiro e poder", afirmou Sochil Martin, a jovem americana que descobriu o escândalo sexual da igreja após servir como "recrutadora" e com quem a BBC News Mundo (serviço em espanhol da BBC) conversou em abril de 2020.

Assim como a quantidade de acusações contra Joaquin Garcia, o valor da fiança estipulada contra ele também variou e atualmente está fixado em US$90 milhões (cerca de R$ 430 milhões), o maior na história da Califórnia.

Joaquín García espera sua sentença na Prisão Central para Homens do Condado de Los Angeles.

3. O que já disseram ele e a sua defesa?

Joaquín García rechaçou todas as acusações durante uma audiência em 19 de setembro de 2019, diante do juiz Ronald S. Coen, repetindo as palavras que seu advogado Alan Jackson ditava.

"Quantas humilhações, quantas ridicularizações, quantas ofensas, quantas provocações tivemos que suportar! O ridículo público, a zombaria da minha pessoa ou da igreja, o linchamento da mídia", publicou a igreja La Luz del Mundo por meio de seus representantes em dezembro de 2020.

A defesa dele sustentou, desde o princípio, que a promotoria manipulou as provas para implicar ao acusado atos dos quais ele não teve nenhuma relação.

No pedido de arquivamento do processo — e que o juiz Stephen A. Marcus indeferiu em 2 de maio —, os advogados argumentaram que a promotoria dificultou o acesso ao material que baseou a acusação, e que nele poderia conter provas favoráveis ao acusado.

A defesa argumenta que algumas denunciantes colocaram o cliente em uma "armadilha por dinheiro" e que os promotores distorceram as conversas mantidas com o acusado "para ampliar o caso".

Já a igreja liderada por ele comparou a situação dele com Jesus Cristo e a considera "injusta".

"Temos confiança de que uma vez que o processo seja resolvido ficará evidente o que para nós é uma constante: a integridade e a honra de um homem que conhecemos, com quem tivemos que trabalhar de perto no trabalho ministerial (...)", disse à BBC News Mundo o pastor Elíezer Gutiérrez, ministro de comunicação social da igreja.

Em relação às acusações feitas por Sochil Martin, a igreja afirma que ela busca somente lucrar.

"Sochil apresentou uma denúncia civil cujo objetivo é 100% econômico", declarou à BBC News Mundo o pastor e subdiretor de relações públicas da igreja La Luz del Mundo, Abner Nicolás Menchaca Tristán.

E também negam as acusações que recaem sobre a congregação: que envolve um comportamento de "convencimento" de mulheres, incluindo menores, para que se submetam a abusos.

"Esse tipo de expressão, além de não refletir a realidade, me parece que fere muitas pessoas como eu e meus irmãos aqui presentes e (que) continuamos a vir à igreja hoje, nos esforçamos para ser melhores", acrescentou o porta-voz Eliezer Gutiérrez. durante entrevista à BBC News Mundo no templo principal de La Luz del Mundo em Los Angeles.

Os representantes da igreja denunciam ataques contra seus templos e membros em decorrência do processo judicial.

4. Quem são os outros acusados?

Susana Medina Oaxaca, que foi presa junto com Joaquín García no aeroporto de Los Angeles em 2019, Alondra Ocampo e Azalea Rangel Meléndez são corréus no caso.

Ocampo, uma americana de 39 anos, se declarou culpada de quatro acusações em outubro de 2020: três de contato com um menor por delito sexual e uma por penetração sexual forçada.

Nem o seu advogado Fred Thiagarajah nem o gabinete do procurador-geral divulgaram os termos da confissão de culpa de Ocampo, ou se ela testemunhará no julgamento de Joaquín García.

A audiência para a sua sentença está marcada para 12 de outubro e ela atualmente está na prisão para mulheres de Lynwood, em Los Angeles, sem direito a fiança.

"Ela se declarou culpada. O apóstolo se declarou inocente. A conduta é atribuída a quem a comete", insistiu o pastor Abner Nicolás Menchaca Tristán em entrevista à BBC News Mundo.

"Será a lei quem determinará se isso é uma estratégia para encurtar uma possível pena para ela, porque a pena é individual", acrescentou.

'Alondra Ocampo se declarou culpada por quatro acusações'

Já Oaxaca defende que é inocente e foi colocada em liberdade mediante o pagamento de fiança.

E Azalea Rangel é procurada. Ela tem duas acusações de estupro e penetração oral forçada contra uma mulher adulta da congregação.

5. Como é o poder da igreja La Luz del Mundo?

Com o julgamento ainda pendente, Garcia permanece como presidente internacional da igreja La Luz del Mundo, uma congregação cuja página na internet afirma que está presente em 58 países e conta com ao menos 5 mil fiéis.

'A sede da igreja La Luz del Mundo está localizada na cidade mexicana de Guadalajara'.

Três semanas antes de ser preso, García foi homenageado ao completar 50 anos. O evento ocorreu no Palácio de Belas Artes, o ápice do requinte cultural do México, e recebeu reconhecimento firmado por, ao menos, 35 deputados.

Quando o evento foi divulgado e se tornou um escândalo, a igreja insistiu que não foi uma cerimônia religiosa e afirmou que se tratou de uma ação cultural.

Durante uma sessão matinal naquela semana, a secretária de Cultura Alejandra Frausto confirmou que era "um concerto, conforme planejado", e o presidente mexicano Andrés Manuel López Obrador pediu tolerância.

Após a notícia da prisão, o presidente voltou ao assunto e declarou: "Independentemente do Belas Artes, não se sabia, a autoridade não tinha informação sobre o que se soube ontem, e qualquer pessoa, cidadão ou associação pode se manifestar. Essa é a liberdade e tolerância".

Especialistas como Elio Masferrer, pesquisador da Escola Nacional de Antropologia e História (ENAH), garantem que o grupo religioso sempre esteve próximo do poder.

Nos anos 80, por exemplo, a congregação apoiou o Partido Revolucionário Institucional (PRI) em Jalisco.

Em seguida, apoiou o conservador Partido da Ação Nacional (PAN), vencedor das eleições locais de 1995.

O mesmo aconteceu nas eleições nacionais. Entre 2000 e 2018, La Luz del Mundo apoiou os os governos federais.

A proximidade com o poder não se deu apenas no México. Em 19 de maio de 2019 houve o lançamento da La Luz del Mundo em El Salvador, um imenso empreendimento imobiliário. O ato contou com o apoio do então presidente eleito, Nayib Bukele.

"Você não precisa desse reconhecimento, mas é uma honra para nós dar a você e nomeá-lo um filho ilustre da cidade de San Salvador", disse Bukele a García.

BBC Brasil

Por que o norte está na parte superior da maioria dos mapas do mundo?

 

JUN




Mapa do astrônomo e geógrafo grego Claudio Ptolomeo.

Por Jerry Brotton

Poucas coisas parecem mais naturais do que os quatro pontos cardeais.

Onde quer que você esteja no planeta, você pode ver o Sol nascendo no leste e se pondo no oeste. O zênite do sol identifica o sul, enquanto outra estrela, a estrela polar, lhe dirá onde está o norte.

Sem os pontos cardeais estaríamos perdidos. Mais do que pontos em um mapa ou bússola, são ideias poderosas com significados políticos, morais e culturais.

Mas por que o norte acabou no topo da maioria dos mapas do mundo?

Embora as quatro direções cardeais de uma bússola sejam definidas pelas realidades físicas do pólo norte magnético (norte-sul) e do nascer e pôr do sol (leste-oeste), não há razão para o norte automaticamente receber essa "distinção".

O sul e o leste poderiam muito bem ocupar esse lugar, e o fizeram no passado.

O oeste no mapa

Embora tenha dado origem a um dos conceitos mais poderosos e intangíveis - o Ocidente ou o mundo ocidental - as sociedades antigas recusavam-se a privilegiar o Ocidente como lugar onde o sol se punha.

'Para muitas culturas, o por do sol e o Oeste simbolizavam o fim da vida'

O pôr do sol personificava o fim da jornada da vida, antecipando a escuridão e o reino da morte, de modo que quase nenhuma cultura o escolheu como orientação sagrada para a oração, e menos ainda o colocou no topo de seus mapas.

Ele era colocado na área inferior dos mapas, como no mapa-múndi de Hereford, um dos grandes mapas medievais, no qual ao olhar para baixo você chega ao oeste, onde o julgamento final espera por você.

Essa posição está associada a uma sensação de fim, de prenúncio, de escuridão e decadência. E nas bordas do mapa estão as letras MORS, a palavra latina para "morte".

Mas se o oeste estiver na parte de baixo dos mapas, o leste estará na parte de cima.

O leste e o nascer do sol

Na história dos pontos cardeais, tudo começa no leste com o nascer do sol.

O oriente tem sido desde tempos imemoriais um símbolo de nascimento, do início da jornada da vida. Oriente vem do latim oriens, aparecer, nascer. É a raiz do termo "orientação", a principal forma de nos localizarmos no espaço.

O leste foi definido em oposição ao oeste ao longo do eixo horizontal que precedia o norte-sul. No cristianismo primitivo, o leste é a localização do paraíso, uma razão poderosa pela qual ele é posicionado no topo de muitos mapas-múndi.

No mapa mundi de Hereford, abaixo de Cristo, sentado em um arco-íris, está o Jardim do Éden. Abaixo, a Torre de Babel e no centro, Jerusalém. Na parte inferior, a oeste, estão os pilares de Hércules, que podem ser interpretados como o fim dos tempos.

Fora do mundo terrestre, nas bordas do mapa, o tempo terrestre termina e é substituído pelo eterno presente do céu, onde não há necessidade de pontos cardeais. E no canto inferior do mapa há uma figura saindo do quadro, olhando para o mundo que ele está deixando. A inscrição acima diz: "continue".

A figura parece sair desta vida, mas olha ansiosamente para o topo do mapa, para o leste, aquele lugar de renascimento, onde toda a vida começa.

Este mapa-múndi foi feito em couro de bezerro por volta de 1300.

Coberto por mais de 1.000 inscrições, ilustrações de labirintos e monstros, é uma vasta enciclopédia visual do conhecimento cristão e retrata a criação bíblica da humanidade. Por que foi criado permanece um mistério.

Embora não seja um mapa convencional, pois ao invés de mostrar um caminho físico traça um caminho espiritual, é a prova de que os mapas poderiam ter o leste como norte.

É que "a morada também tem a ver com identidade, que é uma declaração espiritual e teológica, não geográfica", sublinha o historiador dos mapas islâmicos Yossef Rappaort.

O sul nos mapas do mundo islâmico

A direção geográfica tem sido extremamente importante para o ritual na vida diária desde o início do Islã.

A "qibla" ou "quibla" é a direção sagrada da oração para Meca.

À medida que mais tribos ao norte de Medina, a cidade onde o profeta Maomé viveu e ensinou, se converteram ao islamismo, o quibla se estabeleceu ao sul.

"Isso impactou a maneira como eles viam o mundo, então fazia sentido que, escolhendo uma direção cardinal sobre as outras, eles escolhessem essa."

É por isso que a maioria dos mapas-múndi islâmicos posicionam o sul na parte superior.

Um dos mapas mais famosos posicionando o sul na parte superior foi feito em 1154 por Al-Idrisi, que viveu na corte do rei normando cristão Roger 2º da Sicília, embora fosse muçulmano.

"Nesses mapas, a Europa está na parte inferior e muitas vezes é muito menor do que estamos acostumados", observa Rappaort.

Embora não seja o foco desses mapas, o continente europeu tem um belo nome: "'A diversão de quem anseia por viajar pelos horizontes'. Essa é a tradução literal", diz o historiador.

Séculos depois, o sul ressurgiu no topo, com obras como "América Invertida" do pintor uruguaio Joaquín Torres-García (1874-1949) e o icônico Mapa Corretivo Universal do Mundo de 1979 do australiano Stuart McArthur.

MacArthur escreveu na legenda do mapa: "O sul não vai mais chafurdar em um poço de insignificância carregando o norte em seus ombros por pouco ou nenhum reconhecimento de seus esforços. Finalmente, o sul emerge por cima."

Por que o norte começou a aparecer no topo?

O norte é o mais contraditório dos pontos cardeais.

É um lugar desolado e escuro. Um deserto congelado de exílio, punição e até morte. Monstros e demônios enchiam as regiões congeladas do norte dos mapas cristãos medievais.

Mas é também uma região de beleza austera, gerando maravilha, revelação e, com a Estrela Polar, constância, até salvação.

'Se há algo que explica por que tendemos a colocar o norte no topo, acho que é o Polaris' diz Felipe Fernández-Armesto, especialista em história da navegação e cartografia'

O norte também é único entre os quatro pontos cardeais, devido ao pólo físico do campo magnético da Terra. As correntes de convecção combinam a eletricidade com o núcleo planetário de ferro e níquel, criando um campo geomagnético que gira em torno do planeta e se espalha pelo espaço.

No entanto, como não possuímos uma bússola neurológica interna, do ponto de vista científico, não temos um sentido inato do norte magnético.

Então, por que ele acabou por padrão no topo do mapa-múndi é uma questão que ainda divide os historiadores.

Sabemos por que os chineses o tinham ali, embora as primeiras bússolas chinesas apontassem para o sul, o que era considerado mais desejável do que o norte escuro.

O imperador vivia no norte do país e sempre tinha que aparecer no topo do mapa, olhando seus súditos de cima para baixo.

E os demais mapas com o norte no topo?

"Se há algo que explica por que tendemos a colocar o norte no topo, acho que é o Polaris", diz Felipe Fernández-Armesto, especialista em história da navegação e cartografia.

"O verdadeiro salto para o norte veio com a expansão da navegação em alto mar. Essa estrela do norte foi absolutamente crítica para os navegadores se localizarem naqueles mares desconcertantes, onde não há características físicas para dizer onde você está."

Se for para apontarmos um momento decisivo para a fixação do norte no topo do mapa-múndi, seria 1569 e a publicação do cartógrafo flamengo Gerardus Mercator.

Seu mapa, famoso por ser o primeiro a levar em conta a curvatura da Terra (embora não seja o primeiro a colocar o norte no topo), foi projetado para ajudar os marinheiros a navegar pelo mundo, usando linhas de latitude e longitude para traçar um caminho reto .

O norte está no topo, mas não porque importasse mais, muito pelo contrário. Os Pólos Norte e Sul projetam-se ao infinito e "não importava", segundo Mercator, pois não havia interesse em navegar até eles.

O mapa de Mercator tornou-se a cartografia padrão para fins náuticos. Na década de 1970, foi usado como base para mapear a superfície de Marte.

O norte de Mercator havia triunfado mesmo em planetas distantes. Mas, de volta à Terra, pelo menos como ponto cardeal, essa posição já não é mais tão privilegiada.

Mapas virtuais

Nas últimas décadas, a maioria das pessoas carrega seu próprio atlas virtual no telefone.

O ponto mais importante é aquele pequeno ponto azul em nossos aplicativos de mapa que seguimos sem muito cuidado com as direções da bússola ou o terreno pelo qual estamos nos movendo.

'A localização dos pontos cardeais perdeu importância diante dos mapas virtuais que usamos nos aplicativos de celular'

"Com o mapeamento tradicional de mapas, trata-se de ter uma visão geral da área de interesse. Você se coloca mentalmente lá e navega usando as habilidades que aprendeu na infância", explica Ed Parsons, tecnólogo espacial-chefe do Google.

"No mapeamento online, os pontos cardeais são menos relevantes."

"Com o Google Maps, seu telefone sabe onde você está e o mapa que você vê é orientado de forma a te colocar no centro. É autocentrado. Você é o centro do mapa e a direção em que está viajando está à sua frente."

"A geração que cresceu com smartphones pode nunca saber como é estar perdido."

Alguns observadores temem, no entanto, que estejamos virtualmente conectados, mas ambientalmente separados do mundo físico, habitando um reino confuso de analfabetismo espacial.

"As habilidades de orientação foram essenciais para a sobrevivência ao longo de nossa história evolutiva", diz o jornalista científico Michael Bond.

"A relação que você tem com a paisagem pela qual está viajando não se reduz a seguir um conjunto de instruções. Obter informações do lugar ao seu redor ajuda a construir um mapa cognitivo."

Pela primeira vez na história da humanidade, podemos estar perdendo muitas das habilidades e ferramentas espaciais que nos sustentaram por milênios.

Em outras palavras, podemos estar perdendo o norte.

BBC Brasil

Nicarágua de Daniel Ortega precisa ser punida por agressões à democracia - Editorial




A Nicarágua de Daniel Ortega acaba de transpor mais um limite no endurecimento do regime, com a decretação absurda do fechamento da Academia Nicaraguense de Línguas, entidade de 94 anos de existência, equivalente à Academia Brasileira de Letras. Além dela, o regime nicaraguense fechou 82 organizações não governamentais, numa agressão bárbara às liberdades democráticas. Ao lado de Cuba e Venezuela, a ditadura nicaraguense se transforma a cada dia num caso mais grave de autoritarismo na América Latina. Está, nas palavras de Anibal Toruño, diretor da Radio Darío, destruída em 2018 por paramilitares com explosivos, pior que a Venezuela e mais próxima de Cuba.

Oriundo da Frente Sandinista de Libertação, que encerrou em 1979 os 43 anos de poder da família Somoza, Ortega governou de 1979 a 1990. Voltou ao posto em 2007 e, de lá para cá, foi reeleito em pleitos suspeitos. No quarto e último, em novembro passado, mandou prender seus principais adversários políticos antes da votação. Governa com a mulher, Rosario Murillo, nomeada vice-presidente, e reúne um extenso prontuário de crimes contra a democracia, que já levaram 170 mil nicaraguenses ao exílio.

Partiu do Legislativo nicaraguense, controlado por Ortega, a determinação do fechamento da Academia e das 82 ONGs — ao todo, mais de 300 organizações deixaram de existir nos últimos anos. O cancelamento das instituições foi pedido pela Comissão de Justiça e Governança do Congresso, sob a alegação de que as entidades não se registraram como “agentes estrangeiros”, como determina uma lei insólita. Pretexto para sufocar vozes dissonantes em seu regime de exceção.

Ao todo, 21 meios de comunicação sofreram intervenção do governo Ortega. Não há mais nenhum jornal independente em circulação. Uma das vítimas foi o tradicional La Prensa, da família Chamorro, num caso que lembra a perseguição do chavismo venezuelano ao El Nacional, que terminou confiscado pelo governo. Na Nicarágua, o governo prendeu os principais integrantes da família proprietária do La Prensa: Juan Lorenzo Holmann Chamorro, Cristiana Chamorro Barrios e Pedro Chamorro Barrios. O jornal sobrevive hoje apenas no meio digital.

Em 2018, houve uma onda de protestos em razão de uma reforma previdenciária. As manifestações de estudantes, indígenas e desempregados em Manágua foram reprimidas por policiais e paramilitares com armas de fogo. Testemunhas e organizações de direitos humanos estimam em mais de 300 o total de mortos. A Anistia Internacional denunciou que a “repressão estatal atingiu níveis deploráveis”.

A Nicarágua, um dos países mais pobres da América Latina, precisa ser investigada em todas as instâncias multilaterais, não apenas pela Organização dos Estados Americanos (OEA). O fechamento de veículos de imprensa, ONGs e da Academia é parte do endurecimento progressivo de um regime que há tempos já se tornou ditatorial. A Nicarágua de Ortega não pode ficar impune no plano internacional.

O Globo

A razão por trás do misterioso desaparecimento do megalodonte, o maior tubarão que já existiu




O megalodonte, ou megalodon, perambulava pelos oceanos cerca de 3 até 22 milhões de anos atrás

Por Helen Briggs  

A luta pelos alimentos na pré-história pode ter significado a extinção do megalodonte, o maior tubarão que já viveu no planeta.

Um estudo dos dentes de fósseis desse gigante dos oceanos indica que ele precisava competir por alimentos com outro predador feroz, o grande tubarão-branco. E a batalha pela redução da quantidade de baleias e outras presas pode ter levado o megalodonte à extinção, três milhões de anos atrás.

Mas pressões ambientais, como mudanças dos níveis dos mares, também fizeram sua parte.

A extinção do megalodonte é um mistério que persiste há muito tempo. Vários fatores diferentes foram propostos, desde a perda do habitat devido a mudanças dos níveis dos mares até a redução da quantidade de presas.

No estudo mais recente, pesquisadores internacionais usaram isótopos de zinco nos dentes de tubarões vivos e extintos como ferramenta para entender a alimentação de animais mortos há muito tempo.

Vestígios de substâncias nos dentes de tubarões vivos e em 13 fósseis de dentes de megalodonte indicam que o grande tubarão-branco e o megalodonte um dia ocuparam posições similares na cadeia alimentícia e podem ter competido pelos mesmos alimentos, incluindo baleias, golfinhos e botos. E este pode ter sido um fator para a extinção dos megalodontes, além de mudanças climáticas e outros fatores ambientais, segundo os cientistas.

"Esta é uma peça do quebra-cabeças de evidências de que houve concorrência entre o grande tubarão-branco moderno e o megalodonte por recursos alimentícios aquáticos nos oceanos, quando os dois ainda vivam", segundo Thomas Tutken, professor da Universidade Johannes Gutenberg, de Mainz, na Alemanha, que chefiou o estudo.

'O número de grandes tubarões-brancos está diminuindo'

Ao comentar sobre a pesquisa, publicada na revista Nature Communications, Catalina Pimiento, da Universidade de Swansea, no País de Gales, afirmou que mais trabalho era necessário para resolver o mistério do que aconteceu com o megalodonte. Segundo ela, a extinção foi estudada de muitos ângulos diferentes ao longo da última década e estudos indicam diversos fatores.

"O mistério sobre o que comia o megalodonte e até onde ele competia com os outros tubarões permanece", afirma Pimiento.

Qual era o tamanho do megalodonte?

O megalodonte (Otodus megalodon) era um tubarão com dentes enormes, que perambulava pelos oceanos entre 3 e 22 milhões de anos atrás. Seu nome significa "dente grande".

Três vezes maior que o grande tubarão-branco, o megalodonte podia crescer até 18 metros de comprimento e pesar até 60 toneladas.

O megalodonte chegou ao noticiário recentemente, quando um menino de seis anos de idade encontrou um dente de tubarão que pertencia a um gigante megalodonte pré-histórico em Suffolk, no leste da Inglaterra. Sammy Shelton encontrou o dente de 10 cm de comprimento na praia de Bawdsey, em Suffolk, durante um feriado prolongado.

BBC Brasil

Os 'segredos genéticos' de dois corpos preservados na erupção de Pompeia




Pesquisadores que estudam restos humanos de Pompeia, na Itália, conseguiram extrair material genético dos ossos de um homem e de uma mulher que ficaram presos na erupção que soterrou a cidade romana.

Por Victoria Gill

Este primeiro "genoma humano de Pompeia" é um conjunto quase completo de "instruções genéticas" das vítimas, codificadas em DNA extraído de seus ossos.

O DNA antigo foi preservado em corpos cobertos de cinzas endurecidas pelo tempo. Os resultados foram publicados na revista Scientific Reports.

As duas pessoas foram descobertas pela primeira vez em 1933, no local que os arqueólogos de Pompeia chamam de A Casa do Artesão. Eles ficaram presos no canto da sala de jantar. É possível que estivessem almoçando quando ocorreu a erupção, em 24 de agosto de 79 d.C.

Um estudo recente sugeriu que a enorme nuvem de cinzas da erupção do Monte Vesúvio pode ter se tornado letal para os moradores da cidade em menos de 20 minutos.

As duas vítimas estudadas pelos pesquisadores, segundo a antropóloga Serena Viva, da Universidade de Salento, não estavam em uma posição de quem parecia estar tentando escapar.

"Pela posição [de seus corpos], parece que eles não estavam fugindo", disse Viva à BBC. "A resposta de por que eles não fugiram pode estar em suas condições de saúde."

'Serena Viva estudou os ossos encontrados em Pompeia'

Agora pistas foram reveladas neste novo estudo sobre os seus ossos.

"Todo o trabalho é para preservar o esqueleto", explicou o professor Gabriele Scorrano, do centro Lundbeck GeoGenetics em Copenhague, que liderou o estudo.

Tanto a preservação notável quanto a mais recente tecnologia de laboratório permitiram aos cientistas extrair uma grande quantidade de informações de uma "quantidade muito pequena de pó de osso", como explicou o professor Scorrano.

"Novas máquinas de sequenciamento podem ler vários genomas inteiros ao mesmo tempo", diz ele.

O estudo genético revelou que o esqueleto do homem continha DNA da bactéria que causa a tuberculose, sugerindo que ele pode ter tido a doença antes de morrer.

E um fragmento de osso na base de seu crânio continha DNA intacto suficiente para decifrar todo o seu código genético.

Isso mostrou que ele compartilhava "marcadores genéticos", ou pontos de referência reconhecíveis em seu código genético, com outras pessoas que viveram na Itália durante a era imperial romana.

Mas ele também tinha um conjunto de genes comumente encontrados na ilha da Sardenha, sugerindo que pode ter havido altos níveis de diversidade genética na península italiana na época.

O professor Scorrano disse que há muito mais a aprender com os estudos biológicos de Pompeia, incluindo DNA ambiental antigo, que pode revelar ainda mais sobre a biodiversidade na época.

"Pompeia é como uma ilha romana", diz. "Temos uma imagem de um dia em no ano de 79."

Viva acrescentou que cada corpo humano em Pompeia é "um tesouro".

"Essas pessoas são testemunhas silenciosas de um dos eventos históricos mais conhecidos do mundo", disse ele.

"Trabalhar com elas é muito emocionante e um grande privilégio para mim."

BBC Brasil

Desprezo ao eleitor - Editorial




Resistência de Lula e Bolsonaro a debates desrespeita rivais e ofende votantes

A quatro meses das eleições, os dois primeiros colocados da corrida presidencial demonstram pouco interesse em discutir os problemas do país longe da zona de conforto oferecida por comícios e pelo horário de propaganda eleitoral.

Jair Bolsonaro (PL), que aparece em segundo lugar nas pesquisas de intenção de voto, anunciou que não participará de nenhum dos debates previstos para o primeiro turno e só voltará a pensar no assunto se passar à segunda rodada.

O mandatário, que busca a reeleição e enfrenta elevados índices de reprovação popular, argumentou que nada ganharia se comparecesse a esses eventos, já que disporia de pouco tempo para se defender dos ataques dos adversários.

Luiz Inácio Lula da Silva (PT) não confirmou sua participação em nenhum debate até agora e sugeriu que os veículos de comunicação reduzam o número de encontros programados a dois no primeiro turno e mais um na etapa decisiva.

Apontado como favorito pelas pesquisas, o ex-presidente parece avesso à ideia de se expor, com o principal oponente ausente, num palco dominado por candidatos com pouco voto e muita vontade de fazê-lo escorregar.

É um sinal desalentador. Ao colocar suas estratégias de campanha acima de tudo, os dois protagonistas da disputa pelo Planalto desrespeitam os outros competidores e ofendem os eleitores.

Debates são um instrumento fundamental para que as pessoas se informem sobre os candidatos e analisem suas propostas sob o crivo do contraditório. Eles são, portanto, uma parte essencial do processo democrático.

Se o formato nem sempre produz resultados satisfatórios, isso se deve, na maioria das vezes, às condições impostas pelos marqueteiros das campanhas para a participação dos candidatos, em geral mais preocupados em se proteger do que em esclarecer os eleitores.

Bolsonaro foi a apenas dois debates na campanha de 2018. Afastado das ruas após levar uma facada a poucas semanas do primeiro turno, continuou dando entrevistas no hospital e falando aos seguidores na internet, mas recusou embates diretos com os adversários.

Lula dificilmente terá condições de criticar o presidente se ele fugir novamente desta vez. O petista também evitou a exposição no primeiro turno da campanha de 2006, quando exercia o primeiro mandato e concorria à reeleição.

O mínimo que Bolsonaro deveria oferecer ao eleitorado neste ano é uma prestação de contas dos erros cometidos em sua ruinosa gestão. Lula faz diariamente promessas vazias sem explicar como irá superar os obstáculos à sua frente. Os eleitores merecem mais respeito daqueles que pedem seus votos.

Folha de São Paulo

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