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sábado, março 05, 2022

Rússia de Putin em guerra ideológica com o Ocidente

 




Defendendo a invasão da Ucrânia, presidente recorre a ideias conservadoras e nacionalistas, típicas da "nova direita" global. Alexander Dugin é um dos astros deste movimento na Rússia.

Por Hans Pfeifer

Quando Vladimir Putin encerrou seu discurso no Parlamento alemão, às 15h47 de 25 de setembro de 2001, centenas de deputados se levantaram. Parecia que toda a Alemanha aplaudia o jovem símbolo da paz russo. Ele discorrera sobre a unidade da cultura europeia e a criação de uma sociedade democrática.

Falando em alemão, Putin inflamou os corações de todos os parlamentares – desde os socialistas do A Esquerda aos transatlânticos da União Democrata Cristã (CDU) – ao concluir, entusiástico: "Prestamos nossa contribuição comum à construção da Casa Europeia." Vladimir Putin, o europeu.

Pouco mais de 20 anos mais tarde, o entusiasmo, a guinada democrática da Rússia e o caminho russo para a Europa jazem entre destroços e cinzas. A Rússia trava guerra contra a Europa. O que aconteceu?

Inspirado em monarquistas e nacionalistas

"Não acho que Putin siga uma determinada ideologia, ele se serve de diversos elementos intercambiáveis para legitimar suas ações criminosas", analisa para a DW a professora de estudos eslavos Sylvia Sasse, da Universidade de Zurique. O dirigente russo visaria, acima de tudo, manter seu poder interno e "ampliar as zonas que ele chama de 'o mundo russo'".

Para tal, ele cada vez mais invoca, e também cita em seus discursos, ideias conservadoras, antidemocráticas, como as do filósofo monarquista Ivan Ilyin, ou do nacionalista populista Lev Gumilyov (1912-1992). "Putin está em meio a um smog de demagogos etnonacionalistas, autocráticos, muitas vezes antissemitas, como é característico da nova direita pelo mundo afora", define a especialista.

Um dos representantes russos desse movimento é Alexander Dugin, em cuja opinião a responsável pelas guerras em todo o mundo é uma suposta "elite global": "Eles destroem países", alega. Rejeitando a noção ocidental de democracia, ele traça um perfil humano distinto para seu povo: "Para nós, russos, humanidade equivale a pertencer ao todo. Para nós, o ser humano não é um indivíduo", disse numa entrevista à TV canadense.

Dugin é um dos astros da assim chamada "nova direita". Há anos se especula quanto a sua relação com o presidente russo, sem que haja dados conclusivos, devido ao modo isolado de Putin. Certo está que ele é um convidado bem-vindo para a mídia fiel ao Kremlin, e especialistas identificam numerosas coincidências ideológicas.

Assim, na plataforma online VK, Dugin descreveu a guerra à Ucrânia como uma pré-condição para o renascimento do Império Russo. O Ocidente, por sua vez, representa para ele morte, suicídio e degeneração.

Com sua ideologia extremista de direita e antiliberal, o russo encontra adeptos também na Alemanha e em outros países europeus, além de ter conexões com a "alt right" americana, tendo se encontrado, por exemplo, com Steve Bannon em 2018, em Roma.

Dugin é, ainda, apoiador ferrenho do ex-presidente dos EUA Donald Trump. Após a vitória eleitoral deste, ele declarou à emissora turca TRT, em dezembro de 2016: "A partir de agora a América voltou a ser grande – porém não mais imperialista."

Questão de identidade

O historiador Igor Torbakov, da Universidade de Uppsala, na Suécia, observa e descreve já anos o desligamento espiritual da Rússia de Putin em relação à Europa, detectando nas ações do autocrata também uma busca da identidade russa: até que ponto a Rússia é influenciada pela Europa? E pela Ásia? E quão autônoma é essa identidade?

Numa palestra na Universidade de Harvard, em 2016, Torbakov descreveu os esforços da Ucrânia para ser aceita na União Europeia como um abalo da noção russa de uma identidade eslava autônoma. No fim das contas, esse anseio representa uma ameaça para a pretensão de Putin de que seu país conte entre as superpotências.

Contudo, um desafio extremo para as elites do Kremlin parte do próprio país: o despertar de uma nova geração de jovens, para quem dignidade humana, liberdade, democracia e tolerância também são ideais políticos fundamentais, comentava Torbakov, pouco antes de se iniciar a invasão da Ucrânia.

"Esses 'valores europeus' são, portanto, universais. As gerações mais jovens entenderam isso. Por todo o gigantesco país, elas vão às ruas para desafiar a elite governante, escreve Igor Torbakov na edição de março de 2022 da revista política Blätter für deutsche und internationale Politik.

Os protestos no país prosseguem, agora contra a guerra na Ucrânia. Polícia e Justiça reprimem com rigor os manifestantes, até alunos de escola primária foram presos por portar cartazes antibélicos. Na primeira semana da invasão, a ONG Anistia Internacional registrou quase 6 mil detenções e critica cada vez mais a censura no país.

Em setembro de 2001, o jovem símbolo de esperança russo fez mais uma promessa: "A meta principal da política interna da Rússia é, acima de tudo, garantir os direitos democráticos e a liberdade." Passados 20 anos, Vladimir Putin trava uma guerra de agressão contra sua vizinha europeia.

Deutsche Welle

Rússia aprova pena de até 15 anos de prisão para quem chamar ação na Ucrânia de guerra ou invasão

 




O governo de Vladimir Putin decidiu nesta sexta-feira (4) bloquear o acesso ao Facebook e ao Twitter em todo o país.

Na Rússia, é proibido se referir aos acontecimentos na Ucrânia como uma guerra. Nesta sexta-feira (4), isso passou a ser crime, com punição de até 15 anos de prisão. O governo de Vladimir Putin impõe aos russos um regime duro de censura à imprensa e às redes sociais; e mente para população sem nenhum pudor para justificar o ataque à Ucrânia.

Algo se perdeu na tradução. As TVs controladas pelo Kremlin afirmam que a Ucrânia é responsável por bombardeios em suas próprias cidades. Os ataques da Rússia são de “precisão” e só contra infraestrutura militar.

Quando algo sai errado, a imprensa explica com gráficos e analistas jurando de pé junto que não há tropas russas na trajetória do míssil. Ou então a culpa é dos militares da Ucrânia, que usam civis como “escudos humanos”. Quem aperta o gatilho diz que não tinha o que fazer: “O ataque era inevitável. A missão é tirar do poder nacionalistas perigosos”.

Se a população não entendeu a narrativa oficial, o Kremlin desenha. Um vídeo exibido em uma aula para crianças russas, explicou a guerra assim: o menino Misha, da Ucrânia, e o menino Vânia, da Rússia, eram amigos. O ucraniano mudou de sala e começou a ouvir amigos novos, dizendo que a Rússia era ruim. Misha, então, começou a bater nos russos pequenos. A grande Rússia foi proteger esses russinhos. E por aí vai.

O ganhador do Prêmio Nobel da Paz é o editor-chefe do Novaya Gazeta. Dmitry Muratov afirmou que teve que retirar do ar as reportagens sobre a invasão. O motivo é a censura. O Parlamento russo aprovou nesta sexta pena de 15 anos de prisão para quem tratar a guerra como guerra ou invasão.

A BBC anunciou que iria suspender, temporariamente, o trabalho de todos os jornalistas dela na Rússia. A rede britânica explicou que a nova lei pode prender qualquer pessoa que esteja espalhando notícias que o Kremlin considere falsa sobre a guerra na Ucrânia. O diretor-geral da BBC declarou que essa legislação parece criminalizar o jornalismo.

A Rússia chama a agressão à Ucrânia de “operação militar especial”, uma ofensiva para "desnazificar" a Ucrânia porque um “genocídio está acontecendo”.

O primeiro-ministro da Alemanha disse em Moscou que essa palavra está errada; isso não está acontecendo na Ucrânia. O presidente francês afirmou na quinta-feira (3) num telefonema com Putin que é um delírio falar em governo neonazista na Ucrânia.

O partido ucraniano nacionalista de extrema direita, o Svoboda, teve só 1,6% dos votos nas eleições presidenciais de 2019. Volodymyr Zelensky, o vencedor, é inclusive judeu.

Mas o Kremlin fecha o cerco para outras versões. Putin mandou bloquear nesta sexta-feira (4) o acesso ao Facebook e ao Twitter. O governo afirmou que foi uma resposta ao que chamou de discriminação das redes sociais contra as conta de canais e TVs russos. O Facebook tinha restringido a RT e a Sputnik, que a União Europeia acusa de disseminar desinformação.

Além disso, o governo russo já barrou mais de 400 ONGs. A lei determina que quem recebe doações no exterior exibam em todas as publicações o rótulo “obra produzida por agente estrangeiro”.

A mais antiga ONG de Direitos Humanos na Rússia foi condenada a fechar. Um dos ativistas disse que uma das principais motivações para o processo foi a crítica da Memorial contra a prisão de Alexei Navalny.

O principal adversário do presidente Vladimir Putin está preso. Navalny responde a acusações com pena de até 15 anos de prisão. A Anistia Internacional foi uma das ONGs que classificou o processo como “uma farsa”. Outros políticos de oposição também foram presos ou silenciados.

Vladimir Putin abriu espaço para ficar mais 10 anos no poder. A população precisou aprovar a prorrogação do mandato presidencial num referendo. Era sim ou não para mais de 200 emendas na Constituição.

Um dos artigos cita a “fé em Deus” como pilar da Rússia, enfraquecendo a separação entre estado e religião. Outro, define o casamento como a união entre "um homem e uma mulher".

A reforma ideológica dividiu espaço com medidas populares, como a correção do salário mínimo e das aposentadorias acima da inflação.

Há um termo em inglês conhecido como “whataboutism”. É quando alguém num debate tenta desacreditar a opinião do outro mudando o foco do assunto. A pessoa não consegue rebater o argumento, mas acusa o outro de hipocrisia, trazendo um tema que não tem a ver com o tópico em discussão.

Um exemplo claro foi na quinta-feira (3) numa entrevista coletiva com uma porta-voz do Kremlin. O repórter da rede britânica Sky News perguntou ao vivo se as tropas russas miram mal ou se a Rússia está mentindo para população.

A representante da Rússia respondeu que o império britânico é quem invadiu países e matou civis. Isso está nos livros de história, mas não tem a ver com a guerra na Ucrânia.

Fatos são incontestáveis: a Rússia passou meses negando uma invasão, falou em histeria do Ocidente ou “russofobia”. Avisou até que tinha retirado as tropas. A diplomacia russa ainda afirmou que as possibilidades de negociação estavam longe de se esgotarem. Mas, dali a dez dias, invadiu a Ucrânia. A Rússia, depois, prometeu que não iria ocupar o território ucraniano.

Vladimir Putin disse, essa semana, que o Ocidente é um “império de mentiras”, mas nenhuma bomba consegue impor a verdade.

G1

Ucranianos desafiam invasores estrangeiros há milhares de anos: coragem é o que não falta.




Qualquer povo que venere pessoas como Santa Olga de Kiev é um povo a ser temido. Se Vladimir Putin tivesse feito o dever de casa, não ficaria surpreso com a resistência feroz à sua beligerância. 

Por Lawrence Reed (foto), FEE

Frango à Kiev pode ser um prato popular, mas como o mundo aprendeu nos últimos dias, a palavra “frango” não descreve o povo de Kiev (escrito Kyiv pelos ucranianos). Longe disso. A coragem dos ucranianos diante da cruel invasão militar de Moscou já é lendária. Vamos admirá-los por muitos anos, independentemente do resultado deste trágico episódio da história europeia.

“Nos últimos dias, vimos uma série de vídeos mostrando ucranianos e o presidente Volodymyr Zelensky desafiando uma investida da agressão russa”, escreveu Miles Pattenden, historiador da Universidade Católica Australiana, no The Conversation. “Quem poderia deixar de se emocionar com o vídeo de uma mulher ucraniana confrontando um soldado [russo] armado e com botas de cano alto, dizendo-lhe para colocar sementes de girassol nos bolsos para que pelo menos os girassóis cresçam onde ele morrer?”

O título do artigo de Pattenden é muito revelador: Santa Olga de Kiev é a padroeira do desafio e da vingança da Ucrânia. Ele ressaltou:

“Os ucranianos estão acostumados à adversidade e têm um modelo medieval especial que personifica a bravura deles diante das dificuldades. A horda mongol destruiu o túmulo de Olga em Kiev em 1240, mas uma catedral ortodoxa ucraniana dedicada a ela foi consagrada em 2010”.

Qualquer povo que venere pessoas como Santa Olga de Kiev é um povo a ser temido. Se Vladimir Putin tivesse feito o dever de casa, não ficaria surpreso com a resistência feroz à sua beligerância. "Uma mulher feroz e orgulhosa que protegeu seu filho e vingou a morte de seu marido", escreveu Pattenden, “ela foi uma figura crucial na consolidação do reino medieval da Rússia de Kiev como entidade política e na conversão de seus povos ao cristianismo".

Onze séculos atrás, quando estrangeiros mataram seu marido, Olga retaliou com uma simplicidade e brutalidade tão impiedosa, sangrenta e completa quanto possível. Ela ensinou aos perpetradores uma lição que seus descendentes podem estar ensinando a Vladimir Putin enquanto você lê isso. Eu certamente espero que sim.

Os ucranianos são feitos de experiências duras. Eles sofreram a invasão dos bolcheviques de Lênin há um século, seguido pela incorporação forçada à União Soviética. Eles sobreviveram ao Holodomor do início da década de 1930, a fome de Stálin que matou seis milhões de ucranianos para coletivizar suas fazendas. Mil anos atrás, Kiev foi quase exterminada por uma invasão mongol mencionada no artigo de Pattenden.

Foi em 1240 quando o neto de Genghis Khan, Batu, sitiou Kiev por nove dias antes de tomar a cidade. Daquele tempo terrível, Derek Davison escreveu:

“Guerreiros mongóis saquearam a cidade de sua riqueza e queimaram quase todos os seus edifícios. De uma população de cerca de 50.000, acredita-se que apenas cerca de 2.000 sobreviveram, embora não esteja claro quantos foram mortos durante o cerco e quantos foram executados depois”.

Os ucranianos sabem por sua própria experiência dolorosa o quão importante é a virtude da coragem. Eles entendem provavelmente melhor do que o americano médio que sua sobrevivência depende disso. Eles estão provando diante de nossos olhos que é uma virtude que eles ainda possuem em admirável abundância. Sou grato pelo exemplo que eles estão dando ao mundo e rezo pelo sucesso deles.

Também sou grato pela coragem dos russos que estão nas ruas de Moscou e outras cidades exigindo o fim da violência. Tendo visitado a Rússia sete vezes desde 1985, sei que o país está cheio de pessoas de consciência que se envergonham do que o governo de Putin fez. É um grande risco para um cidadão russo desafiar um autocrata que silencia os oponentes, mas isso acontece cada vez mais.

No final de abril, falarei em Praga, República Tcheca, para centenas de jovens de toda a Europa. O evento, patrocinado pela European Students for Liberty, chama-se LibertyCon Europe. Antes disso, e a pedido da ESFL, escrevi um ensaio que será distribuído em papel aos participantes. O assunto é coragem. Em homenagem à Ucrânia, compartilho aqui uma pequena parte:

"Em Praga, onde este ensaio será distribuído, um jovem chamado Jan Palach deu a vida para protestar contra a invasão soviética de seu país. Era janeiro de 1969. O sacrifício supremo de Palach será lembrado por séculos como uma declaração de liberdade, um ato de coragem desafiadora, uma inspiração para a Revolução de Veludo da Tchecoslováquia apenas 20 anos depois…

Se um dia você puder dizer que quando a liberdade foi desafiada, você se levantou para defendê-la e não correu para se proteger, seus filhos e netos vão agradecer. Eles se lembrarão de vocês como heróis por uma causa nobre.

O filósofo francês Voltaire escreveu: 'Enquanto o povo não se importar em exercer sua liberdade, aqueles que desejam tiranizar o farão; pois os tiranos são ativos e ardentes e se dedicarão… A colocar algemas nos homens adormecidos'.

Como amantes da liberdade, não devemos dormir enquanto nossos valores estão cercados. Devemos ser pessoas de coragem! É assim que vamos vencer".

Gazeta do Povo (PR)

Guerra de Putin muda o mundo e une o Ocidente




As mentiras do Kremlin e a sua chocante agressão uniram a maioria dos europeus de uma forma que não víamos desde o início da Guerra Fria, quando as ameaças de Stálin levaram à criação da NATO.

Por Bruno Cardoso Reis (foto)

A invasão da Ucrânia pelo regime de Putin no dia 24 fevereiro de 2022 vai ser um marco na história do século XXI. Muito mudou e muito continua incerto. Uma primeira conclusão fundamental é que o Kremlin contou dividir a União Europeia e a NATO, mas, pelo contrário, tornou-as mais coesas e mais indispensáveis do que nunca na defesa da liberdade e da segurança dos europeus face a este novo imperialismo russo. Defender neste momento histórico o desarmamento ou o compromisso a qualquer preço é defender a traição dos valores da nossa Constituição, é recompensar a agressão armada, é encorajar novas agressões.

O princípio da incerteza

Muito mudou no mundo, muito mudou para Portugal e muito mais pode mudar, e não para melhor. A incerteza vai continuar. Ela já está a ter um preço pesado na nossa economia. Se a crise se prolongar e intensificar, o que é provável, podemos chegar a uma inflação de dois dígitos, segundo alguns economistas. Mas convém não esquecer que o preço de não fazer nada seria recompensar o militarismo expansionista do regime russo e encorajar a agressão armada para resolver problemas. Convém, sobretudo, lembrar que a maior e mais sangrenta incerteza será para os ucranianos. Com a resistência ucraniana a levar a uma escalada no uso da força pelo Kremlin, devemos preparar-nos para acolher bem na Europa livre milhões de ucranianos. Uma das poucas certezas que podemos ter relativamente a uma campanha militar em grande escala é que ela cria muito espaço para o imprevisto. Estamos a viver num mundo menos seguro, menos estável, menos previsível. Aqueles que andaram durante meses a garantir que Putin não iria invadir deviam repensar as suas certezas.

Putin não é de fiar

Devia ser desnecessário dizer isto, mas, pelos vistos, há quem ainda não tenha percebido: Putin perdeu a pouca confiança que ainda merecia no Ocidente, nos EUA, na Ucrânia, depois de passar semanas a mentir descaradamente sobre a enorme concentração de tropas nas fronteiras com a Ucrânia. Isso torna a saída desta guerra ainda mais difícil. Qual é o incentivo a fazer cedências e a chegar a compromissos com um líder russo em que não se pode confiar? E se nalguns países se exagera o peso dos líderes, esse não é o caso da Rússia, pois a autocracia reina no Kremlin. Por isso, um compromisso no curto prazo parece difícil. Não se devem cortar canais de comunicação diplomática nem com o pior dos inimigos, sobretudo quando ele é uma potência nuclear. Mas uma Ucrânia verdadeiramente independente só pode aceitar um acordo com reais garantias de segurança.

A China está com alguma sorte

Os EUA poderão não virar-se, afinal, tão rapidamente quanto gostariam para o Indo-Pacífico e a contenção da China. Também não poderão contar muito com os europeus nesse esforço. Por outro lado, a Rússia está mais dependente da China do nunca. Esta crescente dependência estratégica do país mais populoso relativamente ao maior país do mundo é um dado geoestratégico muito importante. Mas Pequim parece estar ciente de que não deve abusar da sua sorte. A China tornou-se a principal potência comercial global. Ora, um mundo dominado por crises militarizadas e sanções de uma dureza nunca vista será um mundo cada vez menos globalizado, o que cria dificuldades sérias para o modelo de crescimento económico chinês, a principal legitimação do regime de leninismo capitalista do Partido Comunista Chinês. Isso explica alguma ambiguidade e apelos ao compromisso de Pequim que valerá a pena, pelo menos, testar, nem que fosse com o objetivo mínimo e inicial de tentar criar uma zona segura dos ataques russos na parte ocidental da Ucrânia.

Uma revolução estratégica na Europa

Todos os sinais vão no sentido de uma mudança profunda e dificilmente reversível da orientação estratégica de muitos países europeus importantes. Esta revolução estratégia chegou até à Suíça, secularmente neutra, que desta vez tomou claramente partido contra a invasão russa da Ucrânia, através de sanções sem precedentes na sua história. As tradicionalmente neutras Suécia e Finlândia dão sinais de alinhamento crescente com a NATO. Pela primeira vez na história, a maioria dos finlandeses é favorável à adesão à Aliança Atlântica. A mudança mais significativa é na Alemanha, o mais populoso e rico estado europeu, central na geografia e economia do continente. A República Federal Alemã, mesmo depois da reunificação, tem sido uma filha traumatizada da Segunda Guerra Mundial e, por isso, uma potência muito relutante, sobretudo no campo militar. Nem tudo mudará instantaneamente com o discurso deste domingo do novo chanceler Olaf Scholtz, mas muito já mudou. A escala de investimento em defesa anunciada no parlamento alemão é colossal – triplicará o seu volume. A política externa de prudência extrema de Merkel parece morta. E a Alemanha está a caminho de se tornar uma potência normal, inclusive em termos militares. A ambição francesa de uma verdadeira defesa europeia pode, finalmente, tornar-se uma realidade, em cooperação estreita com a NATO.

Contra o militarismo expansionista do Kremlin

Em suma, a grande maioria dos europeus, mesmo os tradicionalmente muito relutantes, percebeu que num mundo cada vez mais perigoso a NATO é vital para nos defender. Para isso, porém, não bastam os EUA. É igualmente necessário um investimento forte da Europa na sua defesa. Terá havido vários erros de cálculo no caminho para esta crise, mas um dos maiores terá sido de Putin, que não contou com esta frente unida ocidental – assim ela dure. A política internacional é geralmente complicada, mas as mentiras flagrantes do Kremlin e a sua chocante agressão armada simplificaram as coisas. Acordaram e uniram a maioria dos europeus de uma forma que não víamos desde o início da Guerra Fria, quando as ameaças de Estaline levaram à criação da NATO e aos primeiros passos na integração europeia. Espero que as inevitáveis dificuldades e incertezas não minem essa coesão. Infelizmente, a vitória da Ucrânia não é certa. O que é certo é que um bloco ocidental coeso de resistência ao novo imperialismo russo é a melhor opção que nos resta para a defesa da liberdade e da segurança da Europa e de Portugal.

Observador (PT)

Presidente da Ucrânia acusa Otan de 'dar licença a Putin para bombardear' o país; as últimas notícias da guerra




'Imagens e vídeo foram divulgados nesta sexta-feira mostrando destruição em áreas residenciais de Chernihiv e outras cidades'

Ucrânia tem quatro usinas nucleares ativas, incluindo Zaporizhzhia.

Nesta sexta (4/3), 9º dia da invasão russa à Ucrânia, as forças russas atacaram e tomaram o controle da maior usina nuclear da Europa, a usina de Zaporizhzhia, no sudeste da Ucrânia. O ataque deixou diversos mortos e feridos, gerou incialmente temores de uma catástrofe nuclear e foi profundamente condenado por outras potências internacionais. Bombardeios e ataques continuaram a acontecer por todo o país.

À noite, o presidente da Ucrânia condenou os líderes dos países da Otan por descartar repetidamente a decretação do fechamento do espaço aéreo do país em meio à invasão da Rússia.

Volodymyr Zelensky fez um discurso na televisão e disse que a comunidade internacional sabia que a agressão russa contra o país provavelmente aumentaria. Ele comparou a recusa da Otan de fechar o espaço aéreo do país com uma "licença a Vladimir Putin para continuar bombardeando cidades".

"Sabendo que novos ataques e baixas são inevitáveis, a Otan decidiu deliberadamente não fechar o céu sobre a Ucrânia", disse ele em um discurso em Kiev. "Hoje a liderança da aliança deu luz verde para mais bombardeios de cidades e vilas ucranianas, recusando-se a fazer uma zona de exclusão aérea."

Mais cedo nesta sexta-feira, em Bruxelas, o secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, descreveu a situação na Ucrânia como "horrível", mas disse que as forças aliadas não entrariam na Ucrânia por terra ou ar.

Os países da entidade argumentaram que uma zona de exclusão aérea obrigaria as aeronaves da Otan a disparar contra caças russos, potencialmente provocando uma Terceira Guerra Mundial.

Veja a seguir os principais acontecimentos mais recentes na guerra.

Ameaça nuclear

Um prédio próximo a um dos seis reatores da usina nuclear foi atingido por artilharia russa, causando um incêndio que depois foi controlado. A Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), que monitora ameaças nucleares, disse que nenhum dos sistemas de segurança do reator foi atingido e que não houve liberação de material radioativo.

Após a tomada de controle pela Rússia, funcionários da usina foram autorizados pelos invasores a permanecer na unidade e a continuar trabalhando. Eles estão monitorando a planta para garantir que ela esteja operando com segurança e que os níveis de radiação estejam normais.

Imagem do ataque a usina nuclear

Esta é a segunda usina nuclear ucraniana a cair nas mãos das tropas russas. Eles também assumiram o controle de Chernobyl — o local do pior desastre nuclear do mundo em 1986 — na semana passada.

Imagens de câmera de segurança mostraram um feixe de luz caindo nos arredores da usina e tiros sendo disparados, além de um edifício de treinamento em chamas.

O chefe da administração estadual regional de Zaporozhia, Alexander Starukh, disse por sua vez que a segurança de Zaporozhia está "garantida". Ele postou apenas uma frase no Facebook, dizendo que conversou com o diretor da usina e foi assegurado de sua segurança.

"O diretor me garantiu que, no momento, a segurança nuclear do objeto está garantida", escreveu ele.

O órgão regulador da Ucrânia disse à AIEA que não houve mudanças nos níveis de radiação no local da usina, segundo a agência nuclear.

O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, acusou a Rússia de apelar para o "terror nuclear". "Europeus, por favor, acordem!", ele disse. "Digam aos seus políticos que as forças russas estão atirando na usina nuclear na Ucrânia."

Líderes mundiais estão acusando a Rússia de colocar em risco a segurança de um continente inteiro depois que suas forças atacaram a usina nuclear de Zaporizhzhia.

O primeiro-ministro do Reino Unido, Boris Johnson, disse que o ataque "imprudente" da Rússia pode "ameaçar diretamente a segurança de toda a Europa". O presidente dos EUA, Joe Biden, exortou Moscou a interromper suas atividades militares no local, enquanto o primeiro-ministro do Canadá, Justin Trudeau, disse que os "ataques horríveis" da Rússia "devem cessar imediatamente".Este episódio acontece em meio a alertas das principais autoridades ucranianas sobre um possível colapso nuclear devido a bombardeios russos.

Em linha com a reação do presidente ucraniano, o Ministério das Relações Exteriores do país afirmou que um desastre nuclear em Zaporizhzhia poderia ser pior do que acidentes anteriores em usinas nucleares — como em Chernobyl e Fukushima.

"A Rússia empreendeu conscientemente um ataque armado à usina nuclear, uma ação que violou todos os acordos internacionais dentro da AIEA", diz o comunicado da pasta.O fogo teria sido causado por "contínuo bombardeio inimigo dos edifícios e unidades [da usina]", de acordo com o prefeito Dmytro Orlov, da cidade vizinha Enerhodar.

A Ucrânia tem quatro usinas nucleares ativas, incluindo Zaporizhzhia, que contribui com cerca de um quarto do fornecimento de energia do país e é a maior usina nuclear da Europa.

Veja a seguir os principais acontecimentos mais recentes na guerra.

Porque o sul é importante para a Rússia

As forças russas capturaram a fábrica de Zaporizhzhia como parte de um avanço no sul da Ucrânia que parece ter sido mais bem-sucedido do que os no norte e leste do país.

O analista Ben Tobias, da BBC, diz que a Rússia vê o sul como vital para o sucesso da invasão. Seus soldados se moveram para a região da Crimeia, que foi anexada em 2014 e abriga uma considerável presença militar russa.

Kherson - que está localizada onde o rio Dnieper encontra o Mar Negro - se tornou a primeira grande cidade a cair para as tropas russas na quinta-feira. Eles também estão se movendo para leste em direção a Mariupol e oeste em direção a Odessa, ameaçando cortar o acesso marítimo da Ucrânia.

Ucrânia afunda próprio navio para que não caia sob controle russo

Com a ameaça de que a Rússia controle o acesso ao mar, a Marinha da Ucrânia afundou seu maior navio de guerra nesta sexta. A fragata Hetman Sahaidachny estava na cidade Mykolaiv, que fica às margens de um rio que desemboca no Mar Negro.

O navio estava parcialmente desmontado e passando por reparos. A mídia local afirma que não haveria tempo para remontá-lo a tempo de enfrentar os russos. Segundo o ministro da Defesa da Ucrânia Oleksii Reznikov, a decisão foi tomada para evitar que ele caísse nas mãos do inimigo.

"O comandante executou a ordem de afundar o navio Hetman Sagaidachny, que estava em reparo, para que não fosse capturado pelo inimigo. É difícil imaginar uma decisão mais difícil para um bravo guerreiro e toda a sua equipe. Mas vamos construir uma nova frota, moderna e poderosa.O importante agora é resistir", disse Reznikov em uma nota publicada no Facebook.

Novas negociações são esperadas neste fim de semana

Autoridades ucranianas e russas devem realizar sua terceira rodada de negociações neste fim de semana para tentar encerrar os combates desencadeados pela invasão de Moscou à Ucrânia.

'Negociações ocorreram na Belarus'

"A terceira etapa pode acontecer amanhã [sábado] ou no dia seguinte — estamos em contato constante", disse o assessor presidencial ucraniano Mykhailo Podolyak.A primeira rodada de negociações viu autoridades de ambos os lados se encontrarem na fronteira ucraniana com a Bielorrússia — com pouco avanço.Na segunda reunião entre autoridades, a Rússia concordou com a necessidade de cessar-fogo temporário nos corredores humanitários para permitir que os civis escapem dos combates. Mas a Ucrânia disse que esse resultado não foi o que esperava.O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, já havia pedido ao presidente russo, Vladimir Putin, conversas individuais, dizendo que esta é a única maneira de acabar com a guerra.

Ao menos 47 mortos por ataque aéreo russo a Chernihiv, no norte da Ucrânia

A Rússia intensificou sua campanha aérea contra a Ucrânia na quinta e sexta-feira (3 e 4/3), matando pelo menos 47 civis em Chernihiv, no norte do país. Os ataques também mantêm sitiadas áreas residenciais em Mariupol, Borodyanka e Kharkiv.

Os ataques aéreos em Chernihiv destruíram arranha-céus e danificaram uma clínica e um hospital, fazendo com que os moradores fugissem para as ruas e para bunkers subterrâneos.

Civis na cidade de Chernihiv descreveram estar presos sob bombardeios implacáveis ​​enquanto a Rússia ataca indiscriminadamente bairros residenciais lá e em várias outras cidades."Podemos ouvir os sons agora de ataques aéreos nas proximidades", disse Svitlana, 40, à BBC. Ela estava escondida em Chernihiv na manhã de sexta-feira sob sua mesa de jantar com seus dois filhos, de seis e três anos, e seus vizinhos em seu prédio de cinco andares.

Imagens e vídeos de Chernihiv, que fica a 144 quilômetros ao norte da capital Kiev e onde vivem cerca de 300 mil pessoas, mostraram a destruição indiscriminada de áreas residenciais, que lembraram as devastadoras campanhas de bombardeios russos contra Grozny no final dos anos 1990 e Aleppo em 2016. Chernihiv teria sido cercado por forças russas, segundo informações.

'Ataques russos danificaram ou destruíram vários edifícios residenciais em Chernihiv'

Rússia e Ucrânia concordaram na quinta-feira com a necessidade de corredores humanitários para ajudar os civis a escapar das cidades sitiadas, mas moradores de Chernihiv e da cidade portuária de Mariupol disseram à BBC nesta sexta-feira que não houve uma interrupção significativa no bombardeio aéreo para permitir que as pessoas se movimentem.

'Mulheres desesperadas entregam seus bebês a guardas de fronteira'

Mulheres em fuga da Ucrânia estão entregando seus bebês a guardas de fronteiras, em um ato de desespero para salvá-los de congelar, segundo relato colhido pela BBC Radio 5 Live, que tem ouvido mulheres sobre sua experiência durante a invasão russa.

"Nós caminhamos até a fronteira [ucraniana] e foi uma noite terrível. Mulheres grávidas, crianças e idosos ficaram lá por horas", diz Masha, que fugiu para Tel Aviv com sua filha de 14 anos, tornando-se ambas refugiadas."As mulheres passavam desesperadamente seus bebês para os guardas de fronteira, porque estavam congelando."

Vlada tem 29 anos e optou por ficar em Kiev com a mãe. A dupla passou os últimos dias escondida em sua casa. "As explosões chegaram tão perto que nossas janelas estavam tremendo", diz ela.Olesia está viajando para a fronteira polonesa na esperança de encontrar refúgio, deixando para trás sua avó de 83 anos em Kiev."Ela estava principalmente preocupada conosco", diz Olesia. "Então ela nos disse para ir. Mesmo que Kiev esteja segura agora, não sabemos como será em uma semana, então tomamos a decisão de fugir."

Chanceler alemã pede que Putin pare invasão em telefonema de uma hora

O chanceler alemão Olaf Scholz conversou com o presidente russo, Vladimir Putin, por telefone nesta sexta-feira (4/3) e pediu que ele suspendesse todas as ações militares imediatamente, disse um porta-voz do governo alemão.Scholz também pediu a Putin que permita o acesso à ajuda humanitária em áreas onde estão ocorrendo combates.Durante a conversa de uma hora, os líderes concordaram em realizar mais conversas em breve, acrescentou o porta-voz.

'Vladimir Putin e Olaf Scholz se encontraram pessoalmente em Moscou no mês passado, antes da invasão'

BBC suspende temporariamente o trabalho de jornalistas na Rússia

O parlamento russo aprovou uma lei que impõe penas de prisão de até 15 anos para pessoas que divulgam informações supostamente "falsas" sobre a guerra na Ucrânia.

Vários veículos de imprensa independentes na Rússia foram fechadas ou determinados a parar de operar. Os canais internacionais BBC e Deutsche Welle foram restringidos.

Com isso, o diretor-geral da BBC, Tim Davie, informou que a corporação está suspendendo temporariamente o trabalho de todos os jornalistas da BBC na Rússia, em resposta à lei.

"Esta legislação parece criminalizar o processo de jornalismo independente", diz Tim Davie.

"Não nos deixa outra opção a não ser suspender temporariamente o trabalho de todos os jornalistas da BBC News e sua equipe de suporte na Federação Russa enquanto avaliamos todas as implicações desse desenvolvimento indesejado. Nosso serviço BBC News em russo continuará operando fora da Rússia."

"A segurança de nossa equipe é primordial e não estamos preparados para expô-los ao risco de processos criminais simplesmente por fazerem seu trabalho. Gostaria de prestar homenagem a todos eles, por sua bravura, determinação e profissionalismo", afirmou Davie.

"Continuamos comprometidos em disponibilizar informações precisas e independentes para o público em todo o mundo, incluindo os milhões de russos que usam nossos serviços de notícias.

"Nossos jornalistas na Ucrânia e em todo o mundo continuarão a relatar a invasão da Ucrânia".

Ucranianos protestam nas ruas em cidade ocupada

'Centenas de pessoas — muitas com bandeiras nacionais da Ucrânia e fitas azuis e amarelas — se reuniram na cidade de Melitopol, no sul da Ucrânia, que foi ocupada por tropas russas durante os primeiros dias da invasão de Moscou, disse um ativista local.Olha Haysymova postou imagens da manifestação na Praça da Vitória nesta sexta-feira.Segundo ela, cerca de 2 mil pessoas estavam cantando "Glória à Ucrânia!" e "Morte aos inimigos!" e também cantando o hino nacional da Ucrânia.A filmagem não foi verificada de forma independente. Nenhum soldado russo foi visto no protesto relatado'.

Drone registra destruição em Borodyanka após ataque russo

Imagens aéreas mostram a extensão da destruição de edifícios em Borodyanka. Veículos militares russos destruídos também aparecem nas imagens.

Os moradores afirmam que repeliram um ataque russo à cidade, que fica a 60 km de distância a noroeste da capital ucraniana, Kiev.

Centenas de pessoas morreram em ataque a Maripuol, diz vice-prefeito

Na cidade portuária de Mariupol, há relatos de que centenas de pessoas morreram após horas de bombardeios contínuos, informou o vice-prefeito da cidade.

Militares da Ucrânia afirmam que a cidade continua nas mãos do país, mas o prefeito disse que as tropas russas cortaram a eletricidade, o aquecimento e o suprimento de água e comida da cidade.

Ele comparou o cerco russo à cidade ao mortífero cerco nazista de São Petersburgo na Segunda Guerra Mundial.

"Eles estão tentando criar um bloqueio aqui, assim como em Leningrado", disse Vadym Boichenko.

"Eles não conseguiram encontrar uma maneira de nos quebrar. Então, agora eles estão tentando nos impedir de reparar o fornecimento de eletricidade, água e aquecimento."

As forças russas destruíram uma conexão de trem para que não fosse possível evacuar civis, acrescentou o prefeito de Mariupol.

Se a Rússia capturar mais cidades do sul, as forças ucranianas podem perder o acesso ao mar.

'Maripuol, considerada estratégica, está sob forte ataque'

Putin: 'Operação está indo conforme o planejado'

O presidente russo, Vladimir Putin, disse que sua "operação militar especial" - como ele se referiu à invasão da Ucrânia pela Rússia - está "indo conforme o planejado".

Sua afirmação vem apesar de muitos analistas sugerirem que a invasão não saiu conforme Moscou esperava.

Em um discurso televisionado, ele acusou as forças ucranianas de fazer "milhares de cidadãos estrangeiros reféns" e usar civis como "escudos humanos" - ele não forneceu evidências dessas alegações.

Ele acrescentou que russos e ucranianos são "um só povo" e disse que "destruiria essa 'anti-Rússia' criada pelo Ocidente".

Em seu discurso, ele elogiou as tropas russas por sua "bravura" na Ucrânia contra o que chamou de forças "neonazistas".

'Putin disse que seu objetivo é desmilitarizar a Ucrânia'

O presidente russo disse ainda ao presidente francês Emmanuel Macron que a Rússia desmilitarizará com sucesso a Ucrânia e a tornará neutra, que ele disse serem seus objetivos com a guerra.

Os dois se falaram por telefone durante 90 minutos na quinta-feira.

Putin também disse que qualquer tentativa de Kiev de adiar as negociações faria Moscou aumentar sua lista de exigências.

Mais oligarcas russos sofrem sanções

O governo dos Estados Unidos anunciou uma nova rodada de sanções contra os oligarcas russos.

As novas penalidades terão como alvo membros da elite russa, suas famílias e associados próximos, banindo-os do sistema financeiro americano.

'O bilionário Alisher Usmanov estará entre os sancionados pelos EUA'

A Casa Branca também disse que sancionará sete entidades russas e 26 indivíduos por seu papel na divulgação de "narrativas falsas que promovem objetivos estratégicos russos e justificam falsamente as atividades do Kremlin".

O presidente Joe Biden observou na quinta-feira que as sanções já em vigor "tiveram um impacto profundo".

Agora, disse ele, os aliados ocidentais estão caminhando para "a mais forte campanha unificada de impacto econômico sobre Putin em toda a história".

O Reino Unido também anunciou sanções a mais dois oligarcas: o bilionário russo nascido no Uzbequistão Alisher Usmanov, cujas ligações comerciais com o clube de futebol Everton foram suspensas, e o ex-vice-primeiro-ministro russo Igor Shuvalov.

Autoridades também apreenderam superiates de propriedade de oligarcas como parte das sanções contra a Rússia após a invasão da Ucrânia.

Um iate de propriedade de Igor Sechin, chefe da empresa estatal russa de energia Rosneft, foi capturado por funcionários da alfândega francesa perto de Marselha.

As autoridades alemãs apreenderam um navio de US$ 600 milhões de propriedade do magnata russo do metal Alisher Usmanov, segundo relatos.

A BBC apurou que alguns oligarcas sancionados pela UE ficaram "chocados" ao descobrir que seus cartões de débito não funcionam mais e agora estão confiando no uso de dinheiro em cofres.

Um deles, o banqueiro bilionário Mikhail Fridman, disse que impor sanções aos oligarcas não teria impacto na decisão de Moscou de iniciar uma guerra na Ucrânia.

Fridman, que é um dos homens mais ricos da Rússia, afirmou em uma coletiva de imprensa em Londres que a guerra foi uma tragédia para ambos os lados.

Mas ele não fez críticas diretas, dizendo que comentários pessoais podem ser um risco não apenas para ele, mas também para funcionários e colegas.

União Europeia dará residência temporária a refugiados

A União Europeia concordou em conceder residência temporária aos ucranianos que fogem da guerra, por até três anos.

Os ministros da UE deram luz verde aos planos em uma reunião em Bruxelas na quinta-feira.

O bloco acionou um mecanismo - que nunca foi usado antes - para permitir aos cidadãos ucranianos e suas famílias o direito ao trabalho, educação e bem-estar.

A UE diz que aqueles que têm permissão de residência de longa duração ou status de refugiado na Ucrânia também estariam cobertos - seja pela diretiva ou pelas regras nacionais.

E que trabalhadores temporários ou estudantes, que não são elegíveis, seriam ajudados a voltar para casa.

Relatos anteriores indicavam que o governo da Hungria não apoiaria os planos. No entanto, a Comissão qualificou a decisão de hoje como "unânime", após algumas modificações.

Mais detalhes devem ser divulgados na sexta-feira (04/03).

Ucranianos receberão 'proteção temporária' nos EUA

Cidadãos ucranianos que se encontram nos Estados Unidos desde a terça-feira passada (1º/03) poderão permanecer no país sob uma categoria especial de não imigrantes.

O secretário de Segurança Interna do país, Alejandro Mayorkas, anunciou a mudança na noite de quinta-feira, dizendo que o governo estenderia o 'status de proteção temporária' (TPS) aos ucranianos.

Isso normalmente ocorre com cidadãos de países onde há conflitos armados em andamento, desastres naturais, epidemias ou "outras condições extraordinárias e temporárias" que impedem as pessoas de retornar com segurança aos seus países de origem.

Cidadãos de 12 países já estão protegidos desta forma, entre eles Birmânia, Haiti, Síria e Iêmen.

Mais de 1 milhão já fugiram da Ucrânia

Mais de um milhão de pessoas já fugiram da Ucrânia desde o início da invasão, de acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU) — e este número vem aumentando rapidamente.

Pelo Twitter, o alto comissário da ONU para refugiados, Filippo Grandi, fez um apelo para que "as armas silenciem, para que assistência humanitária capaz de salvar vidas possa ser fornecida" aos milhões de ucranianos que permanecem no país.

A agência prevê que a guerra possa deixar cerca de 12 milhões de pessoas desalojadas ou com necessidade de receber ajuda.

Ahmadinejad: 'Sr. Putin, pare com essa guerra satânica'

O ex-presidente do Irã Mahmoud Ahmadinejad fez um apelo e deu um alerta ao presidente russo em sua conta no Twitter.

Ele escreveu: "Sr. Putin, pare com essa guerra satânica. Senão você não terá conquistado nada além de remorso".

Tribunal Penal Internacional investiga a Rússia

Uma investigação sobre possíveis crimes de guerra na invasão russa da Ucrânia foi aberta pelo Tribunal Penal Internacional em Haia.

O procurador-geral do Tribunal Penal Internacional (TPI), Karim Khan, anunciou na noite de quarta (02/03) a abertura de um inquérito para apurar o possível envolvimento da Rússia em crimes de guerra durante a invasão ao território ucraniano.

"Meu escritório já encontrou base razoável para acreditar que crimes no âmbito da jurisdição do Tribunal tenham sido cometidos", escreveu o procurador-geral.

Mais cedo, a Corte, que fica localizada em Haia, na Holanda, havia recebido denúncia de 38 países contra Moscou, que supostamente estaria alvejando civis e destruindo edifícios residenciais em meio à ofensiva.

Embora a Rússia seja signatária da Convenção de Genebra, o tratado internacional que define crimes de guerra, ela se desligou do Tribunal de Haia em 2016, depois que a anexação da Península da Crimeia foi classificada como uma ocupação.

Os indivíduos condenados pelo tribunal têm que ser detidos em países que aceitam sua jurisdição. Assim, caso seja eventualmente considerado culpado ao fim do processo, Putin teria de ficar restrito à Rússia e a Estados aliados para que não fosse preso.

Rússia é banida dos Jogos Paralímpicos

O Comitê Paralímpico Internacional (IPC, na sigla em inglês) anunciou nesta quinta-feira (03/03) que atletas da Rússia e de Belarus estão proibidos de competir nos Jogos Paralímpicos de Inverno de 2022 em Pequim.

A decisão inicial do IPC de permitir que os atletas competissem como neutros, sob a bandeira paralímpica, foi fortemente criticada.

Um comunicado divulgado afirma que a "situação na vila dos atletas" se tornou "insustentável".

O presidente do IPC, Andrew Parsons, descreveu os atletas afetados como "vítimas das ações de seus governos".

Os Jogos Paralímpicos serão abertos nesta sexta-feira (04/03), e as competições começam de fato no sábado.

BBC Brasil

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