Tem algo que a gente sente toda vez que termina uma grande investigação: um misto de alívio, cansaço e uma sensação de que fizemos algo que precisava existir.
Foi assim com o Projeto Escravizadores. Foram meses vasculhando registros, cruzando dados, reconstruindo histórias de familiares de quem ocupa o poder no Brasil. E o que encontramos foi duro, mas necessário.
Entre as 116 autoridades brasileiras do Executivo e Legislativo, ao menos 33 políticos teriam antepassados que tiveram relação com pessoas escravizadas. Por trás de sobrenomes que hoje ocupam cargos de poder, há ligação com o passado escravocrata do país. São as raízes mais profundas das nossas desigualdades.
Para chegar a esse resultado, nossa investigação inédita pesquisou a genealogia de todos os presidentes desde o fim da ditadura e todos os atuais senadores e governadores em exercício, documentou mais de 200 parentescos e consultou cerca de 500 documentos, entre registros paroquiais e cartorários, jornais antigos e trabalhos acadêmicos.
O resultado? Acabamos de receber dois prêmios importantes: o Cláudio Weber Abramo de Jornalismo de Dados, em cerimônia que ocorreu na última sexta (17), e o Prêmio Excelência Jornalística da Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP), cuja premiação foi no último final de semana, na República Dominicana.
É um orgulho imenso, mas também um lembrete: o Brasil ainda precisa olhar para o seu passado para poder mudar o presente. E é isso que o jornalismo independente faz.
Só que fazer isso não é simples. São meses de pesquisa, planilhas, documentos, entrevistas. E tudo isso só acontece porque pessoas como você decidem apostar nesse tipo de jornalismo.