segunda-feira, outubro 27, 2025

Dona Zefinha e o Natal Encantado de Paulo Afonso

 

Gilmar Teixeira
Dona Zefinha e o Natal Encantado de Paulo AfonsoArquivo Gilmar Teixiera


Era dezembro, e com ele nascia uma cidade nova dentro de Paulo Afonso. As praças se iluminavam, o vento chegava com cheiro de pipoca, maçã do amor e a música de Roberto Carlos a tocar no alto falante da Roda gigante, do carrossel, e do  parque armado como se fosse um pedaço de sonho pousado no meio do sertão. As barracas de tiro ao alvo desafiavam a coragem dos rapazes, enquanto as barraquinhas de comida chamavam pelo paladar com filhós, pastéis e bolos de dona de casa caprichosa. Mas nada, absolutamente nada, era mais aguardado que o grande palco das Pastorinhas, onde a magia do Natal ganhava voz, cor, beleza e encantamento.


Do dia 15 de dezembro ao dia 6 de janeiro, Dia de Reis, Paulo Afonso virava outra cidade. A festa não era apenas um evento: era um tempo de encantamento, uma estação da alma. Era quando os corações batiam mais fortes e os olhos brilhavam com a esperança inocente de quem via o mundo com poesia.


E ali, no comando dos leilões e das apresentações, estava o inconfundível Gilberto Leal, locutor de voz firme e empolgante, que anunciava os cordões azul e encarnado com a mesma emoção de uma final de campeonato. Mas a estrela maior desse espetáculo tinha nome de ternura e respeito: Dona Josefa Salvador da Silva, a professora leiga que trouxe o Pastoril para Paulo Afonso, plantando no coração da cidade uma tradição que floresceu como flor eterna.


Natural de Sertânia, em Pernambuco, Dona Josefa – a querida Dona Zefinha – não apenas educou crianças no início das construções das Usinas Hidrelétricas; ela educou sonhos. Foi ela quem organizou os pastorís natalinos, quem vestiu de anjo as meninas mais bonitas, quem fez nascer a disputa encantadora entre o cordão azul e o cordão vermelho, quem escolheu a Diana, a Borboleta, as pastoras e os anjos que encantavam o público com seus cânticos e coreografias.


As famílias se orgulhavam: ter uma filha no pastoril era como ganhar uma coroa. As moças desfilavam elegância; os rapazes se arrumavam no capricho, não apenas para assistir, mas para serem vistos. O Natal era luz, era fé, mas era também romance, encontro, encanto juvenil.


Na plateia, aplausos e suspiros. No palco, a tradição viva. E entre uma cantiga e outra, Dona Zefinha, em silêncio, sorria sabendo que estava construindo algo eterno. Seus filhos – José, Maria Mônica, Maria José, Maria de Fátima e Maria Lúcia – cresceram sob esse legado de cultura, fé e família. E toda a cidade, com eles, aprendeu a ver o Natal não apenas como data religiosa, mas como tempo de comunhão, beleza e pertencimento.


Hoje, mesmo que o tempo tenha mudado os cenários e as tecnologias tenham substituído os coretos pelos celulares luminosos, ninguém esquece o Pastoril de Natal de Paulo Afonso. O som dos sininhos, as vozes das pastoras, o riso da juventude, tudo isso permanece vivo na memória de quem viveu aqueles dias mágicos.


Porque não era só uma festa.

Era a alma de uma cidade.

E Dona Josefa Salvador da Silva foi a fada que, com a batuta da educação e o coração da fé, transformou Paulo Afonso em um presépio vivo, onde cada menino e cada moça podiam sonhar à luz das estrelas de dezembro.


* Gilmar Teixeira

https://www.tribunadopovo.net/noticia/9502/paulo-afonso/geral/dona-zefinha-e-o-natal-encantado-de-paulo-afonso.html

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