José Carlos Werneck
O pronunciamento do presidente Jair Bolsonaro na noite desta terça-feira, a respeito da pandemia do coronavírus, foi recebido com alívio por seus ministros e aliados e é fruto de “conselhos” da ala moderada do Governo, principalmente dos integrantes do Exército. Todos os seus aliados temiam que Bolsonaro se isolasse cada vez mais ao contradizer publicamente os apelos de seu ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, e trabalharam no sentido de convencê-lo de que era preciso mostrar à população mais equilíbrio e união.
O discurso anterior em cadeia nacional de rádio e televisão, que foi ao ar há uma semana, redigido com a participação de um de seus filhos, o vereador Carlos Bolsonaro, foi classificado como um total “desastre” por muitos membros do governo, quando o presidente disse que a covid-19 era uma “gripezinha” e pediu que todos retornassem à normalidade.
MANDETTA FORTALECIDO – Embora nesta noite Bolsonaro tenha defendido a preservação dos empregos, não insistiu no fim do isolamento social. Por isso, integrantes do governo avaliaram que ele adotou uma postura mais serena.
Nesta terça feira, na reunião do Planalto, o presidente ouviu seus ministros defenderem a posição do ministro Mandetta, com quem vinha se confrontando ao contrariar orientações do Ministério da Saúde e da Organização Mundial de Saúde.
O presidente concordou com as sugestões referentes aos assuntos que geraram desentendimentos, no próprio governo, tais como o isolamento vertical, onde as medidas restritivas são aplicadas apenas a idosos e pessoas portadoras de doenças pré-existentes, e se convenceu que deveria mudar seu
discurso sobre o vírus. Assim, ao invés de pôr em risco a saúde de todos, o que se viu foi um Bolsonaro mais tranquilo que nos pronunciamentos anteriores
SEM GOVERNO PARALELO – O discurso também foi considerado um resultado de uma mudança no sistema de Comunicação Social do Governo, chefiado pela Casa Civil. Um comunicado interno determinou que todas as notícias saiam do Palácio do Planalto. Desde segunda-feira, inclusive as entrevistas coletivas do Ministério da Saúde, com dados diários sobre a pandemia no Brasil, também passaram a ser realizadas no Palácio do Planalto.
A mudança objetiva coordenar os esforços para que a população não tivesse a impressão que havia governos paralelos: o do presidente Jair Bolsonaro e outro do ministro da Saúde.
PEDRA NO CAMINHO – A liderança do ministro da Saúde é uma realidade que se torna a cada dia mais visível e embora Mandetta seja visto como uma pedra no caminho de Bolsonaro há consenso no Governo que não é a hora de se pensar em demitir o ministro que é muito bem visto pela população.
Enfim, o que se viu nesta terça-feira à noite foi um presidente lutando para preservar o próprio emprego…