Acusações anônimas podem transformar Barroso em “vítima”
Saída de Barroso será assumir o papel de vítima
O jornalismo é uma atividade que não comporta anonimato. Em caso de denúncias de crimes e irregularidades, é preciso que haja possibilidade de responsabilizar o caluniador, sempre que as acusações se mostrem improcedentes. O blog Tribuna da Internet segue esse princípio básico, sob o signo da liberdade. Embora toleremos que alguns leitores e comentaristas não se identifiquem e até usem pseudônimos, quase sempre por temerem represálias em seus locais de trabalho, é sempre bom esclarecer que o anonimato, em regra geral, é um comportamento a ser combatido.
O caso do ministro Luís Roberto Barroso, por exemplo, é bastante significativo. Não há a menor dúvida de que o integrante do Supremo Tribunal Federal se comportou de forma inadequada e reprovável no julgamento da ação do rito do impeachment, atuando de maneira grotesca e conduzindo outros ministros a erro, é o mínimo que podemos afirmar.
Mas esses inaceitáveis equívocos em julgamento, que o jornalista Augusto Nunes classificou de “vigarice”, não justificam que o ministro e sua família sejam submetidos a massacre por denunciantes anônimos, na internet. O resultado dessa campanha é que, num passe de mágica, Barroso pode acabar passando de vilão a vítima. Ao invés de ter seu comportamento reavaliado e reprovado pelos ministros que seguiram seu voto no Supremo, ele pode passar a ter a solidariedade deles, veja como tudo é relativo, meu caro Einstein.
UM SITE ESTRANHO
O site Vetor.com está vivendo seus quinze minutos de fama, ao expor o ministro Barroso e sua família. Ocupa o espaço vazio deixado pela grande mídia, que é uma das primeiras vítimas das crises econômicas e já vem fazendo água há bastante tempo. É inaceitável que os jornais e revistas estejam deixando passar em branco as irregularidades cometidas no Supremo, embora seja facilmente explicável o motivo pelo qual estão agindo assim.
A grande mídia está definhando, o jornal O Globo é hoje uma pálida lembrança dos dias de glória, a redação sofreu o maior programa de demissões desde a fundação, há 91 anos, embora os filhos de Roberto Marinho ainda frequentem a listagem dos homens mais ricos do mundo e não estejam vivendo nenhuma crise.
Apenas a revista Veja, que repercutiu a denúncia original do Portal Vox, está mantendo o fogo sobre Barroso, mas ainda não chegou a abordar a gravíssima manipulação feita pelo ministro-presidente Ricardo Lewandowski, que transformou ilegalmente em julgamento do mérito uma sessão para simples exame de liminares, como era o caso da pauta dos dias 16 e 17 de dezembro. Se pretende servir à presidente Dilma, ao invés de julgar livremente, Lewandowski deveria se aposentar e assumir um cargo no governo, ficaria mais consentâneo.
Na segunda-feira, dia 4, o colunista Felipe Moura Brasil fez um longo artigo esmiuçando o comportamento reprovável de Barroso. E nesta terça-feira, dia 5, o próprio Augusto Nunes, autor da primeira denúncia a respeito, transcreveu um de nossos artigos aqui na Tribuna da Internet, sob o título “Barroso se defende em seu blog, mas não consegue convencer“. Mas o resto da grande mídia se recolheu a um silêncio constrangedor. E assim caminha a humanidade.
POR CONTA DA INTERNET
Era de se esperar que um governo corrupto como o atual utilizasse recursos públicos para domesticar a grande mídia, não há novidade nisso. O que espanta é julgarem que uma manobra desse porte possa dar resultados positivos, com o alcance que a internet tem hoje . Quando a mídia se cala, provoca um segredo de polichinelo, como se dizia antigamente, pois todas as pessoas que interessam acabam tomando conhecimento do assunto pela internet ou até pelo boca-a-boca, a mais antiga forma de comunicação.
Embora a atuação do site Vetor possa ser deplorável, é claro que acaba também sendo enaltecida, devido à omissão da grande imprensa, aquela que deveria fazer questão de enfrentar de peito aberto o bom combate, como o apóstolo Paulo ensinou ao evangelista Timóteo, transmitindo-lhe uma lição imortal que os homens de bem saberão difundir até o final dos tempos. O resto é paisagem, como dizia o genial Érico Veríssimo.
