OS “FICHAS SUJAS E MAL LAVADAS”
Os “ficha encardida” e
“fichas mal lavadas” não saíram da cena política e estão agindo por
meio de interpostas pessoas, ou seja: através de outra sub espécie de
“fichas sujas reflexa”.
Por Antonio Cavalcante Filho e Vilson Nery
Oficialmente está
aberta a temporada de validação popular da Lei da Ficha Limpa, a Lei
Complementar 135/2010, que inseriu no sistema normativo nacional uma
nova exigência aos postulantes a gestor da “res pública”: ser possuidor
de honestidade.
Desde o último dia
10 de junho de 2012, momento em que foram deflagradas as convenções
partidárias (Lei 9.504/97, art. 8º) para a escolha de candidatos a
prefeitos, vices e vereadores, cidadãos de todo o Brasil estão sendo
postos em confronto com os ditames da lei.
Pela reação da parte
visível da população, aquela que se manifesta, escreve, lê, vai à
igreja, ao sindicato, passeia pelos shoppings e discute assuntos
diversos nos clubes de mães e reuniões de pais e mestres (passando pelas
alegres festas juninas) a Lei da Ficha Limpa “já pegou”.
À toda evidência
existem muitas situações que demandarão a intervenção do Poder
Judiciário Eleitoral, atuando nos casos concretos, mas o espírito da
norma não pode ser ignorado. Quando milhões de brasileiros foram às ruas
para colher assinaturas ao projeto de lei de iniciativa popular a
intenção era evitar que o mandato eletivo seja tão somente um trampolim
para aquisição de foro privilegiado ou fonte de riqueza privada ilícita e
favorecimento pessoal.
Nessa linha de
desejos, impedir o registro de candidato ficha suja não é uma punição
“stricto sensu” mas um período penitencial em que aquele agente pilhado
cometendo o injusto, refletirá sobre o que fez (ou deixou de fazer)
possibilitando-lhe a devida melhora pessoal. É óbvio que, passado esse
período (oito anos de inelegibilidade) uma nova pessoa nascerá, se
tornando útil para a vida política e à sua comunidade.
Mas nem tudo é perfeito.
Do mesmo modo que
burlou as leis e enganou as pessoas durante muito tempo, o ficha suja
está mais ativo do que nunca, e seu desejo é furar o bloqueio da lei da
Ficha Limpa.
Está criado o “ficha suja reflexa”, nas sub espécies “ficha encardida” e “ficha mal lavada”. Mas quem são eles?
Pois bem.
Por ficha suja se
entende que seja aquele político que não cumpriu as regras de probidade,
lesou o erário, não prestou devidamente as contas de convênios com o
uso de recursos públicos ou ainda cometeu crimes comuns, tais como
furto, homicídio e tráfico de drogas (art. 1º alínea “e”, item 9 da Lei
da Ficha Limpa).
Já o “ficha
encardida” é aquele que não teve nenhuma condenação por órgão colegiado,
embora seja contumaz fraudador de licitações, empregue parentes sem
concurso público, responda a inúmeros inquéritos civis e criminais ou
tenha contra si demandas diversas que descansam (dormem) nos escaninhos
do Poder Judiciário.
Este politicoide
espertalhão tem fama de larápio e mau caráter, detém fortuna que não se
combina com o volume dos seus rendimentos lícitos, transforma tudo o que
ganha em bois na fazenda, viagens luxuosas e carros importados (lavagem
ou ocultação de bens, art. 1º alínea “e”, item 6 da LC 135/2010). Se
relaciona com o que de pior de existe na vida política e social,
representa empresas que fornecem de tudo à prefeitura, desde o clip de
papel a passagens de avião, tudo por meio de tráfico de influência.
Pois é. Mas o “ficha
encardida” nunca sofreu uma condenação, consegue agir nas penumbras e
passa por bonzinho, declara estar sendo perseguido por um juiz ou um
promotor. É “vítima” da imprensa maldosa ou de uma oposição
irresponsável.
E o “ficha mal lavada”, quem é?
Ora é aquele que
respondeu a inquéritos, sofreu ações judiciais, julgamentos de contas
não prestadas, todavia a condenação final nunca veio, por falta de
provas (dizem). É a tradicional figura do político que é pilhado
cometendo mal feitos, mas “convence” um juiz de que é inocente. Também
critica a imprensa, a oposição e setores da justiça, dizendo ser por
eles perseguido.
O ficha “mal lavada”
também é aquele que, após condenação política ou judicial se declara um
arrependido pelo que fez e promete mudanças de hábito. É semelhante
aquele preso comum que pede para ficar na “ala dos evangélicos” no
presídio e depois se declara um convertido. Tem deles que até cria uma
igreja prá chamar de sua.
Os “ficha encardida”
e “fichas mal lavadas” não saíram da cena política e estão agindo por
meio de interpostas pessoas, ou seja: através de outra sub espécie de
“fichas sujas reflexa”. Para não se expor publicamente e se sujeitar a
ter um pedido de registro eleitoral impugnado, os ficha suja reflexas
agem por meio de “laranjas”.
E até nisso são maldosos.
Não podendo ser
candidatos lançam para a cena eleitoral os seus próprios familiares.
Esposas, filhos e sobrinhos são os preferidos. São considerados ficha
limpa, mas a bem da verdade são marionetes a serviço de um político
“ficha suja”, “ficha encardida” ou “ficha mal lavada”.
Aí na sua comunidade, será que existe alguém assim? Então que tal dizer pra todo mundo?