Carlos Chagas
Nada a opor, pelo contrário, elogios para um governo que se preocupa com o crescimento da inflação, promove cortes orçamentários, debate o sigilo eterno de documentos oficiais, estimula o trem-bala, desencadeia operações especiais para acabar com a miséria, reajusta o bolsa-família, constrói casas populares e não se descuida das obras do PAC.
Há, no entanto, um vazio imenso quando se trata de enfrentar aquele que, sem dúvidas, constitui-se no maior problema nacional da atualidade: a violência urbana e rural. Correm à curta voz estatísticas que o governo não revela, dando conta de que jamais a insegurança do cidadão comum alcançou os níveis atuais. Tanto faz se as causas estão no crescimento demográfico desordenado, no desemprego, na fraqueza dos aparelhos policiais nos estados, na omissão da justiça ou até na descrença dos valores éticos das pessoas.
O que importa é a multiplicação de assaltos, roubos, sequestros, estupros, vendetas, tráfico de drogas e toda uma cascata de ilícitos que transformam numa perigosa aventura sair de casa ou até permanecer nela, à mercê de todo o tipo de criminosos. Nas cidades e no campo. Basta ligar a televisão, ouvir o rádio ou ler os jornais para se ter a noção de como cresceu a insegurança nacional.
Vale repetir, para não alarmar a população as autoridades mantém em segredo os números dessa avalancha desumana que nos atinge em velocidade vertiginosa.
Fazer o quê? Bancar o avestruz, enfiar a cabeça na areia em meio à tempestade e concluir tratar-se a questão exclusiva dos governos estaduais? Não dá mais, pelas óbvias deficiências das unidades federativas. A violência tornou-se problema federal, a exigir de Brasília ações coordenadas com os estados, vultosos investimentos e determinação férrea de proteger o cidadão.
Caberia ao ministério da Justiça uma iniciativa imediata capaz de sobrepor-se a projetos econômicos, sociais e políticos específicos. Breve o Brasil se tornará um país inviável para se viver e o primeiro passo precisa ser limpar as ruas. Depois se cogitará da recuperação dos bandidos, de sua reeducação e reaproveitamento na sociedade. Antes, porém, aumentar os contingentes policiais civis e militares, mobilizar Forças Armadas, Forças de Segurança e equivalentes, levando os animais para trás das grades. Sem contemplação nem recursos jurídicos responsáveis por devolvê-los ao crime. Fora daí não haverá salvação. A barbárie encontra-se a um palmo de todos nós.
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FALANDO GROSSO
Apesar de palavras doces de congraçamento, unidade e objetivos comuns, parece que a ministra Idely Salvatti falou grosso com o PMDB, ontem. O partido, ou melhor, os partidos da base oficial, não podem fazer do fisiologismo a pedra de toque de sua ação política e parlamentar. Exigir nomeações e liberação de verbas como preliminar e objetivo principal equivale a inverter a equação com o governo. Esse aproveitamento é necessário, compõe um quadro de integração do Congresso com o palácio do Planalto, mas sob nenhuma hipótese deve constituir-se na condição essencial do relacionamento entre eles.
Se o PMDB entendeu ou não o recado, ninguém sabe. Provavelmente seus caciques e seus índios concordaram, mas se vão mudar de estratégia, é outra história que apenas votações da Câmara e no Senado revelarão.
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DEITANDO AO MAR CARGA PRECIOSA
Continuando as coisas como vão, logo estarão completamente separados o PV e a ex-ministra Marina Silva. Os verdes jogarão fora não apenas 20 milhões de votos por ela obtidos em outubro passado, mas um ícone daqueles que só se cristalizam de geração em geração. Dirigentes cujo nome a gente nem lembra tentam dominar o partido, que nem existiria não fosse Marina Silva. Seria a mesma coisa do que admitir a existência do PT sem o Lula, ou, pior ainda, que o PT decidisse livrar-se de seu fundador.
De vez em quando essas coisas acontecem, por inveja, mesquinharia ou sucedâneos, valendo também lembrar que o Partido Comunista Brasileiro começou a mergulhar nas profundezas bem antes que Roberto Freire trocasse sua sigla para PPS e seus ideais por um disfarçado neoliberalismo. O “partidão” sumiu quando expulsou Luís Carlos Prestes de suas fileiras. Faria o PV o mesmo?
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PENSANDO NO FUTURO
Diz o provérbio árabe que bebe água limpa quem chega primeiro na fonte. Os mandatos de José Sarney e de Marco Maia nas presidências do Senado e da Câmara vão até fevereiro de 2013, mas já há quem cuide da sucessão de ambos. Pode não estar valendo mais o acordo que PT e PMDB celebraram para que sucedendo o companheiro, viesse a presidir a Câmara um peemedebista, apesar de a maior bancada permanecer do PT. Na hipótese do revezamento, Henrique Eduardo Alves ocupa a pole-position, ainda que não seja o favorito do palácio do Planalto. Se os petistas insistirem em manter o cargo, Cândido Vaccarezza é nome forte, em especial se o PMDB, no Senado, negar o rodízio ao PT. Assim, Renan Calheiros poderia substituir José Sarney. Traduzindo esse emaranhado: garantir, ninguém garante nada…
Fonte: Tribuna da Imprensa