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segunda-feira, agosto 01, 2022

Bolsonaro escolhe juízes para o STJ e expõe vitória de Kássio e derrota de Gilmar

 

***ARQUIVO***BRASÍLIA, DF, 07.06.2022 - O presidente Jair Bolsonaro (PL) participa de cerimônia alusiva ao programa Brasil pela Vida e pela Família, no Palácio do Planalto, em Brasília. (Foto: Gabriela Biló/Folhapress)
***ARQUIVO***BRASÍLIA, DF, 07.06.2022 - O presidente Jair Bolsonaro (PL) participa de cerimônia alusiva ao programa Brasil pela Vida e pela Família, no Palácio do Planalto, em Brasília. (Foto: Gabriela Biló/Folhapress)


BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - O presidente Jair Bolsonaro (PL) nomeou os juízes federais de segunda instância Messod Azulay e Paulo Sérgio Domingues para o STJ (Superior Tribunal de Justiça).

Agora, ambos devem ser sabatinados pelo Senado Federal, que precisa aprovar os nomes para que eles tomem posse na segunda corte mais importante do país.

Bolsonaro fez a escolha a partir de uma lista quádrupla votada pelo STJ e enviada ao Palácio do Planalto em maio -os juízes Ney Bello e Fernando Quadros foram preteridos.

O fato de Bello não ter sido indicado representa uma derrota política do ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Gilmar Mendes, que o apoiava para o posto, e uma vitória de Kassio Nunes Marques, também do STF, que trabalhou para vetar o nome do magistrado que atua no TRF-1 (Tribunal Regional Federal da 1ª Região).

Por outro o lado, a preferência do chefe do Executivo por Domingues representa uma vitória do ministro Dias Toffoli, do STF, que o apoiava nos bastidores para o cargo.

Já a escolha por Azulay é uma derrota para o presidente do STF, Luiz Fux, que era contrário ao seu nome, e uma vitória para a ala carioca do STJ, liderada pelo ministro Luis Felipe Salomão.

Os dois assentos que os magistrados irão assumir estão desocupados há mais de um ano porque os integrantes do tribunal decidiram votar a questão de maneira presencial e a corte estava em trabalho remoto devido à pandemia da Covid-19.

As vagas foram abertas com as saídas de Napoleão Nunes Maia, que se aposentou em dezembro de 2020 por ter atingido 75 anos, e de Nefi Cordeiro, que pediu aposentadoria antes de chegar na idade limite. Ele deixou a corte em março do ano passado.

Paulo Sergio Domingues é paulista e juiz do TRF-3 (Tribunal Regional Federal da 3ª Região), sediado em São Paulo.

Apadrinhado por Toffoli, era tido como o candidato mais ligado aos ministros paulistas do STJ. Apesar do favoritismo, havia dúvidas se teria interlocução com bolsonaristas para ser escolhido pelo presidente.

Domingues é ex-presidente da Ajufe (Associação dos Juízes Federais do Brasil), que comandou entre 2002 e 2004, e visto como pessoa que tem bom trânsito com a classe. Juiz desde 1995, foi promovido para o TRF em 2014, pela então presidente Dilma Rousseff (PT).

Antes, foi advogado e procurador do município de São Paulo. Formou-se pela Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, em 1986, e tem mestrado em direito pela Johann Wolfgang Goethe Universität, em Frankfurt (Alemanha).

Azulay, por sua vez, é presidente do TRF-2 (Tribunal Regional Federal da 2ª Região). Formado em direito pela UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), foi advogado da Telerj (Telecomunicações do Rio de Janeiro) e participou do processo de desestatização da Telebras.

Na disputa para o STJ, ficou entre os mais votados graças à articulação da bancada fluminense da corte, uma vez que contou com o apoio dos quatro ministros do tribunal que são do Rio de Janeiro.

Chegou ao cargo de juiz federal de segunda instância na vaga destinada à classe de juristas --foi nomeado ao posto pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Adversários na disputa por uma vaga do STJ tentaram usar o fato de não ser magistrado de carreira como um fator negativo, mas a estratégia não foi suficiente para tirá-lo da lista quádrupla.

Já Ney Bello, que ficou de fora, era visto como um dos nomes mais fortes entre os quatro escolhidos pelo STJ, que formou uma lista quádrupla e enviou para o Palácio do Planalto.

Outro que ficou de fora da escolha de Bolsonaro, Fernando Quadros tem proximidade com o ministro Edson Fachin, do STF. Por isso, era visto como pouco provável sua nomeação, uma vez que Fachin é um dos alvos preferenciais dos ataques do mandatário ao Judiciário.

YAHOO

Varíola dos macacos: Queiroga promete chegada de antiviral para enfrentar doença

 

Remédio contra varíola dos macacos será usado prioritariamente em casos mais graves (Foto: Getty Images)
Remédio contra varíola dos macacos será usado prioritariamente em casos mais graves (Foto: Getty Images)




O ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, prometeu que o Brasil receberá um antiviral para ajudar no enfrentamento da varíola dos macacos, conhecida como monkeypox.

O medicamento tecovirimat será enviado pela Organização Pan-Americana de Saúde (Opas), segundo o ministro. A prioridade será medicar pessoas que têm quadros mais graves da doença.

“O Ministério da Saúde receberá, por intermédio da OPAS, o antiviral tecovirimat para reforçar o enfrentamento ao surto de Monkeypox no Brasil. Serão contemplados casos mais graves em um primeiro momento”, informou Queiroga por meio das redes sociais nesta segunda-feira (1º).

Na noite do último domingo, Marcelo Queiroga afirmou que, mesmo antes do primeiro caso de varíola dos macacos no país, o Brasil já estava preparado para enfrentar a doença, “com a capacitação dos centros de vigilância e preparação dos laboratórios para a confirmação do diagnóstico”.

“Caso apresente sintomas, como febre alta e súbita, dor de cabeça e feridas ou lesões no corpo, procure atendimento na Unidade de Saúde mais próxima de sua casa. O SUS está preparado para diagnosticar e tratar a população e estamos empenhados em conter o surto da doença no Brasil, alertou o ministro.

Primeira morte

Na última quinta-feira (28), o Ministério da Saúde confirmou a primeira morte por varíola dos macacos no Brasil. O homem, de 41 anos, passava por um tratamento oncológico e tinha alto grau de imunossupressão.

Fábio Baccheretti, secretário de estado de Saúde de Minas Gerais, detalhou que o homem passava por tratamento oncológico, em função de linfoma, e era imunossuprimido.

"É importante destacar que ele tinha comorbidades importantes e graves, severas, para que não leve a um grande alvoroço na população, achando que a letalidade é alta. A letalidade continua sendo muito baixa", afirmou Baccheretti.

Varíola dos macacos: um breve histórico para entender a doença

Valmir está a 15 dias do fim de um sonho

 em 1 ago, 2022 7:56

Adiberto de Souza

Embora não admita publicamente, o ex-prefeito de Itabaiana, Valmir de Francisquinho (PL), terá negado pela Justiça Eleitoral o registro da candidatura ao governo de Sergipe. Mesmo após ter a inelegibilidade confirmada em última instância, o ex-gestor insiste que reverterá a situação. O tempo, porém, é seu grande adversário: ele só tem até o próximo dia 15 para conseguir um salvo-conduto ou ficará de fora da disputa eleitoral. Essa é a data final para os partidos apresentarem os registros dos candidatos às eleições de outubro. O PL sabe que a situação de Valmir é dificílima, contudo, jura não ter um plano B para o caso de o ex-prefeito ter a candidatura rejeitada. Ao esconder a realidade, a legenda mantém o condenado em pré-campanha com o objetivo de fortalecer à pré-candidatura ao Senado do médico Eduardo Amorim (PL). Além disso, o partido aposta na hipótese de transferir parte das promessas de votos feitas a Francisquinho para quem substituí-lo na disputa pelo governo de Sergipe. Marminino!

Exonerados protestam

O protesto de alguns exonerados confirma o clima de “caça às bruxas” no governo de Sergipe. Segundo os queixosos, eles receberam cartão vermelho porque Jackson Barreto (MDB) decidiu apoiar o petista Rogério Carvalho, pré-candidato a governador pela oposição. Após receber cartão vermelho do cargo em comissão símbolo CCE-13, e químico industrial Chico Varella usou o WhatsApp para reclamar: “A esta altura de minha vida, sou exonerado por perseguição política, por estar ao lado do nosso líder Jackson Barreto e, por conseguinte, Lula. Relembra-me as perseguições sofridas pela ditadura de 1964”, exagerou. Home vôte!

Dois sentidos

Tio do pré-candidato a governador Fábio Mitidieri (PSD), o empresário Jorge Mitidieri anunciou seu apoio ao postulante a senador Laércio Oliveira (PP). Jorge é o primeiro suplente do senador Rogério Carvalho (PT), pré-candidato ao governo estadual pela oposição. Isso significa dizer que se o sobrinho for eleito, Jorge estará bem, mas caso Fábio seja derrotado por Rogério o empresário vira senador. Vixe! O anúncio de apoio ao governista Laércio foi feito ontem, em evento político realizado em Boquim pela família Mitidieri. Ah, bom!

Sergipe será o paraíso

Quem ouve os discursos da delegada de polícia Danielle Garcia (Pode) chega a pensar que Sergipe está a cinco meses de virar um pedacinho do paraíso aqui na terra. Durante a convenção que homologou a sua pré-candidatura ao Senado, a fidalga garantiu que o seu projeto político é “sério, comprometido com os sergipanos e que vai promover verdadeiramente a mudança que Sergipe precisa para sair do ostracismo”. Achou pouco? Pois Danielle também prometeu tirar o estado “da miséria, da inércia, do desemprego, corrigir o rumo do nosso estado e cuidar de todos os sergipanos e sergipanas”. Aff Maria!

Estatização prometida

O PSTU realizou convenção, ontem, para homologar a operária Vera Lúcia como pré-candidata à Presidência da República. Nascida em Pernambuco e criada em Sergipe, Vera é formada em ciências sociais. A distinta iniciou a militância ao começar a trabalhar em uma fábrica de calçados de Aracaju. No discurso feito na convenção, a presidenciável defendeu a estatização das 110 maiores empresas do Brasil, dos bancos e da agroindústria, além da revogação das reformas e leis que retiraram direitos dos trabalhadores. Crendeuspai!

Fim do recesso

Após duas semanas de recesso, a Assembleia Legislativa reinicia as sessões plenárias amanhã. Deputados federais e senadores também estarão de volta às atividades a partir dessa terça-feira. Em função da campanha eleitoral que se avizinha, os parlamentares vão concentrar os trabalhos em dois dias da semana, visando ter mais tempo para tentar garantir a reeleição. Portanto, não espere muitas atividades nos parlamentos, pois até as câmaras municipais vão pisar no freio até outubro próximo. Coisas da política!

Crime da mala

As autoridades precisam ficar atentas para impedir o transporte ilegal de ‘animais silvestres’ escondidos em malas pretas para agradar o eleitor que vende o voto a políticos mequetrefes. Os traficantes prometem transportar milhões de “animais” na calada da noite. São bichos como Garças (R$ 5), Araras (R$ 10), Micos-Leão-Dourado (R$ 20), Onças (R$ 50), Garoupas (R$ 100) e Logos Guará (R$ 200), embora estas duas últimas em menor quantidade. A Tartaruga (R$ 2) é menos traficada pelos candidatos malas-preta, pois o eleitor tem pouco interesse por ela, devido seu baixo valor de mercado. Desconjuro!

A estrela do PT

Veja o que publicou no Jornal da Cidade a amiga Thaís Bezerra: “Recém-empossado deputado estadual em substituição ao cassado Talysson de Valmir (PL), o agitador cultural Robson Viana (PT) deve ser a principal aposta do PT nas eleições para a Assembleia. A valorização do “passe” do petista ocorreu por conta da desfiliação do deputado Iran Barbosa, agora no Psol, e da inelegibilidade do deputado petista João Marcelo. A chapa do PT para o legislativo estadual apresentará bons nomes, mas Robson aparece como a principal estrela da companhia”. Então, tá!

De olho nas mordomias

Boa parte dos pré-candidatos a cargos eletivos está interessada mesmo é nas regalias. Entre elas estão o alto salário, diárias, verba de representação, carro com motorista, conta do celular paga e passagens aéreas para viajar até mesmo a passeio. Mas não é só isso: quem for eleito governador e presidente ainda pode aboletar na administração a família toda, a rapariga e, se for safado, meter a mão grande nos recursos públicos. Portanto, fique de olho nos pré-candidatos que andam prometendo mundos e fundos à população. Em sua maioria, eles estão interessados mesmo é nas mordomias oferecidas pelos Executivo e Legislativo. Só Jesus na causa!

Danusa faz suspense

O pré-candidato a governador Fábio Mitideri (PSD) torce que a empresária Danusa Silva (PDT) diga sim ao convite para ser postulante a vice na chapa dele. A ilustre pediu até hoje para responder se aceita participar das eleições como parceira de chapa do pessedista. Esposa do prefeito de Aracaju, Edvaldo Nogueira (PDT), Danusa nunca se envolveu com política partidária. A primeira dama da capital só teve o nome lembrado após o sonho do marido em disputar o governo ter sido rifado pelos aliados. Portanto, o convite a Danusa visa garantir que o prefeito não fará corpo mole na campanha de Mitidieri. Misericórdia!

INFONET

Tensão na fronteira entre a Sérvia e Kosovo




Albin Kurti, primeiro-ministro do Kosovo

A Sérvia e o Kosovo vivem, este domingo, momentos de tensão na fronteira de Jarinja e Brnjak.

Residentes sérvios no Kosovo bloquearam a estrada com camiões no posto fronteiriço do município de Leposavic. A polícia do Kosovo anunciou que as passagens de fronteira naqueles dois locais foram fechadas ao trânsito e aconselharam os cidadãos a usar outras vias. O governo sérvio nega que o exército tenha entrado no Kosovo.

O escalar da tensão tem origem numa nova medida a implementar a partir de 1 de agosto, esta segunda-feira, que obriga os cerca de 50 mil sérvios residentes no Norte, que utilizam placas de matrícula e documentos emitidos pelas autoridades sérvias, recusando-se a reconhecer instituições de Pristina, a usar documentação emitida pelo governo kosovar. O Kosovo foi reconhecido como Estado independente por mais de 100 países, mas não pela Sérvia ou pela Rússia.

O governo do primeiro-ministro Albin Kurti disse que daria aos sérvios um período de transição de 60 dias a partir de 1 de agosto para obterem as placas de matrícula do Kosovo, um ano após terem desistido de tentar impô-las devido a protestos semelhantes. O governo também decidiu que, a partir de 1 de agosto, todos os cidadãos da Sérvia em visita ao Kosovo teriam de obter um documento extra na fronteira para lhes conceder autorização de entrada.

Uma regra semelhante é aplicada pelas autoridades de Belgrado aos kosovares que visitam a Sérvia.

Jornal de Notícias (PT)

Em 1977, o SNI não entendeu a Carta




O negócio daquela Carta, como a de hoje, era a democracia

Por Elio Gaspari (foto)

Jair Bolsonaro e o doutor Ciro Nogueira, chefe da Casa Civil da Presidência, disseram que o manifesto da Carta em Defesa da Democracia era coisa de banqueiros ressentidos pela popularização do Pix.

Seria ingenuidade supor que eles não entendem de banqueiros ou de política. Bolsonaro e Nogueira estão num palácio onde algum efeito sobrenatural tem a capacidade de distorcer a percepção da realidade.

No palácio, nada é o que é. Se cai um meteorito no Pará, isso pode ter sido jogada de alguma ONG.

A Carta de 2022 procura replicar o que teria sido o efeito da Carta ao Brasileiros que o professor Goffredo da Silva Telles leu numa noite de agosto de 1977, há 45 anos.

Valeria a pena que Nogueira e seus colegas palacianos relessem o que escreveu o falecido Serviço Nacional de Informações, analisando a cena do largo de São Francisco:

“A Carta aos Brasileiros

A leitura da “Carta aos Brasileiros” feita pelo Professor Goffredo da Silva Telles, dia 8 de agosto de 1977, no pátio interno da Faculdade de Direito da USP, como parte dos festejos comemorativos do sesqüicentenário da implantação dos cursos jurídicos no BRASIL deu a impressão, à primeira vista, de que se tratava de um ato oficial organizado pela Direção da Faculdade, em comemoração a mais um aniversário de sua fundação.

Na verdade, o documento em apreço, de mera conotação política, não teve apoio maciço da Congregação da referida Academia de Direito, senão de minoria inexpressiva, conquanto ativa.

É da entrevista do Diretor da Faculdade a afirmação: ‘A leitura (da Carta) era um ato político e pessoal do Professor Goffredo e, por isso, a permissão para uso do salão só poderia ser dada pela Congregação, mas o pedido não foi feito’.

A ‘Carta aos Brasileiros’ está recebendo a adesão de professores de outras escolas de Direito e de muitos advogados de São Paulo e de outros estados. No entanto, ela não está merecendo a adesão irrestrita nem sensibilizou a opinião pública, como esperavam seus autores. Alguns políticos de conhecida formação liberal se recusaram a assiná-la, sob os mais variados argumentos. (...) O presidente seccional da OAB em São Paulo deixou de assinar a ‘Carta’ por considerá-la um documento elaborado por iniciativa isolada.”

O SNI não havia entendido nada. O negócio daquela Carta, como a de hoje, era a democracia.

Como ensinou Mark Twain, a história não se repete, mas rima.

O chefe do SNI, general João Batista Figueiredo, tinha um pé na Carta de Goffredo e a ponta do outro no radicalismo militar.

O ministro do Exército, general Sylvio Frota, achava que o presidente Ernesto Geisel era socialista e naqueles dias começou a redigir um discurso que pronunciaria em Sobral (CE), emparedando-o.

Dois dias depois, na análise do SNI, o ex-governador baiano Antônio Carlos Magalhães encontrou Geisel e disse-lhe que estava vacilando, pois deveria demitir Frota. O presidente respondeu:

Você não me conhece. Tiro na hora que quiser.

Tirou-o no dia 12 de outubro.

Em fevereiro de 1978, com Frota fora do páreo, o SNI tinha outras preocupações. Vigiava oficiais que haviam sido ligados ao ministro. Entre eles, o jovem capitão Augusto Heleno, seu ex-ajudante de ordens.

Bolas de ferro

Em 2018, a onda bolsonarista que elegeu o capitão, Wilson Witzel no Rio e João Doria em São Paulo foi beneficiada pela blindagem com que o PT protegia os escândalos de seus governos.

Quatro anos depois, Lula lidera as pesquisas e oferece ao eleitorado êxito dos grandes números de suas administrações. Sua rejeição está em 36%, enquanto a de Bolsonaro vai a 53%, mas as bolas de ferro dos escândalos continuam lá.

Termômetro de Bolsonaro

Percebe-se um padrão nos discursos de Bolsonaro.

Quando ele fala das realizações do seu governo, está no modo de confiança. Quando ataca as urnas, o Supremo ou o TSE, está no modo da desesperança.

Trata-se de tentar aferir a proporção dos dois modos em cada discurso, visto que ele os mistura.

Não se deve avaliar falas em cercadinhos ou em padarias.

A batalha de Minas

Os mastigadores de números de Lula e Bolsonaro estão convencidos de que a batalha do primeiro turno será travada em Minas Gerais. Nos últimos 50 anos, quem venceu no estado ganhou a eleição nacional.

Lula está fechado com o ex-prefeito de Belo Horizonte Alexandre Kalil, que disputa o governo. Romeu Zema, que disputa a reeleição, afastou-se de Bolsonaro, em cuja onda venceu em 2018.

A campanha dirá quanto resta da onda de 2018. Os resultados das eleições municipais de 2020 mostraram que ela encolheu.

Os votos de Ciro

Ciro Gomes pode anunciar mil vezes seu rompimento com o PT, mas a maior parte de seus 8% irão para Lula.

O poder de Nunes Marques

O ministro Kassio Nunes Marques ainda não completou dois anos na cadeira de ministro do Supremo Tribunal Federal e já disse a que veio. Ele deixará sua marca na biografia de dezenas de magistrados. Isso não acontecerá pela profundidade de suas obras, mas pelo alcance de suas pompas, influindo em suas nomeações.

No jogo de bastidores de Brasília, seu telefone é o mais cobiçado por dezenas de candidatos a cadeiras de desembargador federal ou de ministros dos tribunais superiores de Brasília.

A estrela de Nunes Marques, com seu brilho específico, tentará ofuscar a de seu colega Gilmar Mendes.

Anjo da guarda

O anjo da guarda de Jair Bolsonaro é preguiçoso, mas agiu em seu benefício quando impediu que a patacoada da reunião com os embaixadores estrangeiros fosse realizada no Itamaraty.

Os defensores do evento garantiam que seria um gol de placa.

O anjo da guarda é preguiçoso porque permitiu que o capitão fosse atingido por duas epidemias em quatro anos de mandato.

Euforia

Há uma certa euforia entre os defensores da democracia e adversários de Jair Bolsonaro.

Comemora-se que a Carta em Defesa da Democracia superará a marca de 500 mil assinaturas. Admita-se que ela passe do milhão. Esse tipo de documento não pode ter a importância aferida pela quantidade de signatários.

Em 2018, Eduardo Bolsonaro elegeu-se deputado por São Paulo com 1,84 milhão de votos.

Paz com as urnas

Os tambores da paz conseguiram esfriar os ânimos entre ministros do Tribunal Superior Eleitoral e alguns militares.

Há propostas apresentadas por generais que são consideradas aceitáveis e podem ser aceitas.

Como não há bobos nessa negociação, essa porta de saída só pode ser anunciada aos 45 minutos do segundo tempo.

Isso porque numa negociação com pessoas bem intencionadas, aceita a sugestão, faz-se a paz. Já com gente mal intencionada (e os há), se o TSE aceitar uma sugestão, no dia seguinte o pessoal aparece com mais cinco.

O Globo

Emendas sem pertinência infestam texto constitucional - Editorial




Desde a promulgação da Constituição de 1988, nunca foram aprovadas tantas PECs quanto no atual governo

A Constituição brasileira já era considerada um monstrengo antes do governo Jair Bolsonaro. Seu texto, perto de 80 mil palavras na última versão, faz dela por algumas medidas a maior do mundo (ou a segunda maior, atrás apenas da indiana). Mas, mesmo para os padrões superlativos consagrados no Brasil, em tempos recentes tem sido incomparável, para empregar a feliz expressão de Roberto Campos, a “fúria legiferante” do Congresso para emendar a Carta.

A tentação de gravar tudo na Constituição ganhou impulso inédito no Legislativo sob a liderança do deputado Arthur Lira (PP-AL) e do senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG). Das 125 emendas à Constituição aprovadas desde 1988, nada menos que 26 — ou mais de um quinto — foram promulgadas na atual legislatura (cuja duração corresponde a apenas um décimo da vigência do texto). Onze dessas emendas, ou 9%, foram aprovadas nos últimos seis meses.

Ainda há, de acordo com os respectivos sites, 968 Propostas de Emenda à Constituição (PECs) em tramitação na Câmara e 352 no Senado. Não é exagero afirmar que há PEC para tudo. Várias delas propõem mudanças necessárias, caso da reforma tributária ou da administrativa. Mas a vasta maioria não tem cabimento. Procura apenas introduzir no texto constitucional direitos que satisfazem a demandas específicas.

O motivo para a aberração é conhecido. Grupos de interesse se sentem mais protegidos se conseguem gravar na Carta tais direitos, aproveitando uma circunstância política favorável para garantir benesses e privilégios. Como uma mudança constitucional exige três quintos das duas Casas em duas votações, é mais difícil derrubá-la que leis ordinárias. Daí a pressão para constitucionalizar toda sorte de assunto.

Foi assim que, nos últimos meses, temas sem a menor pertinência num texto constitucional, como o piso salarial de enfermeiros ou os radioisótopos para uso médico, foram parar na Carta, em companhia de presenças ilustres que lá estavam, caso dos portos lacustres, da Polícia Ferroviária Federal e até do Colégio Pedro II.

A diligência dos líderes do Congresso para aprovar PECs de interesse do governo — como a dos Precatórios no ano passado ou a Eleitoral neste ano — acabou por distorcer o trâmite legislativo. Em vez da necessária reflexão que toda PEC deveria exigir, já que implica alterar a lei maior do país, passou a vigorar no Congresso uma espécie de via rápida para aprovar qualquer PEC.

O regimento do Legislativo faz exigências sensatas em nome da reflexão essencial para a aprovação de uma PEC: número mínimo de sessões entre as duas votações em ambas as Casas, necessidade de aprovação prévia nas comissões (entre elas uma Comissão Especial), presença física em plenário para garantir quórum, além de várias outras. Mas tudo isso tem sido ignorado de forma contumaz.

O caminho regimental pelas comissões se tornou ficção. Já houve sessão de um minuto apenas para cumprir tabela. Virou regra a aprovação em duas sessões no mesmo dia, por vezes na Câmara e no Senado — só assim se conseguem aprovar 11 PECs em seis meses. O pouco-caso da atual gestão com as normas contribui para desvalorizar o trabalho do Legislativo e para deteriorar ainda mais a qualidade da Constituição. Não é um acaso que a população tenha uma visão tão negativa do Congresso e da classe política.

O Globo

Completar a obra da democratização




Por Luiz Werneck Vianna* 

Para observadores desatentos o apego irracional ao poder por parte de Bolsonaro quando todos e tudo lhe escapam do controle e comunicam em alto e bom som que chegou a hora do seu fim, aparenta sinais de loucura, de falhas cognitivas que escapam a uma percepção normal das circunstâncias a que está exposto, tanto no processo eleitoral que emite sinais irreversíveis de derrota nas urnas, como na rejeição manifesta pela opinião pública entre gregos e troianos, inclusive de largas fatias da elite, ao seu estilo de mando e de governo.

Mas há método nessa loucura, e que não recua do uso de qualquer expediente que evite a sua derrota final, em última instância até o de favorecer enfrentamentos que levem o país à beira de numa guerra civil. Bolsonaro e seu entorno imediato nunca esconderam seus propósitos do que entendiam como uma purificação política do país pela eliminação dos seus adversários, no limite, física (os trinta mil mortos tantas vezes mencionados publicamente), explícita na glorificação de militares torturadores na ditadura militar e na sua obsessão de defesa do regime do AI-5. Nesse sentido, converteu em uma política de Estado a difusão do culto às armas e a massificação da sua posse, e favoreceu a criação de milícias entre seus simpatizantes e sequazes.

Ao longo do seu governo, em particular após sua inflexão em favor das forças políticas agrupadas no Centrão, procurou palmilhar as vias da política na expectativa de que com elas se credenciaria a disputar com êxito a sucessão eleitoral, sem perder de vista, em nenhum momento, a alternativa golpista para o caso de se frustrarem. Salvo um desastre cósmico, às vésperas das eleições são favas contadas sua derrota eleitoral, e já se fazem ouvir os tambores que anunciam a presença dos conspiradores contra a democracia, em que pesem robustas trincheiras, nacionais e internacionais, que começam a se levantar contra seus intentos.

Os democratas, nessa hora de suma gravidade, não podem se iludir antecipando o sucesso dos seus esforços, pois, na verdade, o que está em jogo é levar a efeito a obra inconclusa da democratização do país, removendo o que ainda sobrevive do entulho autoritário. O desespero dos que se sentem na iminência de perderem o poder e suas prebendas pode levar a que se socorram do ou tudo ou nada, ou cogitarem de que após de mim, o dilúvio, precipitando o país no tumulto e no caos.

O recente ultraje à dignidade da nação praticado por Bolsonaro na famigerada reunião com embaixadores de países amigos mais uma vez expos a natureza temerária de suas ações como dirigente político que a tudo subordina ao que entende como seus interesses na preservação do poder. Os riscos letais a que nossa democracia incorre pela ação de conspiradores dispostos ao uso de recursos extremos contra ela, não pode ser outro que o da união de todos nessa causa de salvação nacional.

Sob ameaça a sociedade deu partida ao sentimento de insurgência contra um governo que renega o que há de melhor em nossas tradições e em nossos esforços por radicar aqui os ideais civilizatórios. O manifesto que ora conta com mais de 500 mil assinaturas em defesa da democracia e de nossas instituições ao qual aderem juristas, intelectuais, artistas e entidades representativas da indústria, das finanças e do comércio e seis centrais sindicais, ainda aberto a novas adesões, apontam nessa direção.

 Seu texto, atores, e o lugar em que será anunciado publicamente no dia 11 de agosto na Universidade de São Paulo, carregam simbolicamente os elos entre o movimento libertário atual e o dos idos anos 1980 significando continuidade nas lutas democráticas entre esses dois períodos em que este mais recente visa completar o que ainda faltou ao primeiro.

*Luiz Werneck Vianna, Sociólogo, PUC-Rio 

A Terra é Redonda

Ditaduras moleculares




A realidade de 2 milhões de pessoas no Rio de Janeiro é dependência das milícias

Por Muniz Sodré* (foto)

Como a imagem num holograma, que tem a informação do todo em cada uma de suas partes, pequenos relatos individuais não raramente expõem problemas de grande magnitude social. Assim é que um jovem universitário, morador de uma das grandes favelas cariocas, embora exultante pela oportunidade que lhe oferece o sistema público, me faz saber de seus percalços para cumprir tarefas. Há primeiro a distância e a precariedade do transporte.

Há, sim, as vantagens híbridas do online. E aí se revela outra ordem de dificuldades, pois a rede não funciona bem onde ele mora, e não há reclamação ou alternativa possíveis: o serviço é controlado por traficantes.

Aí está o núcleo da questão. Num complexo de milhares de habitantes, todos são obrigados a comprar ali mesmo botijão de gás, pão, imagem de televisão e internet. Alguns desses produtos podem sair mais caros do que em outro comércio. "Obrigação" não é nenhum eufemismo para a conveniência da proximidade: não há livre escolha fora do poder local. O Estado, com seus aparatos e sua retórica legalista, é apenas uma ficção sem interesse.

A realidade cotidiana de dois milhões de pessoas em partes diversas do território carioca, ocupado em mais de 50% por forças ilegalistas, é a de uma ditadura "molecular’, mais afeita à execução sumária do que à tortura.

A ostensiva ascensão territorial de bandidos numa cidade emblemática como o Rio de Janeiro é um fenômeno colateral à polarização entre o estatismo da ditadura militar e o liberalismo político subsequente, que aumenta a ambiguidade do papel do Estado.

É sintoma grave da falência do Estado moderno, entendido como o complexo institucional que faz funcionar o governo de uma sociedade territorialmente definida. Na disfuncionalidade desse conceito, inexiste qualquer ordem que possa ser considerada política, ou seja, constitutiva de cidadania e de vida democrática. E não se trata de questão apenas local, já que o modelo tráfico-miliciano está sendo replicado em outras regiões, a exemplo da Amazônia, com vínculos transnacionais. É interna a ameaça ao Estado-Nação brasileiro.

Tornou-se vã a retórica da democratização ante o barbarismo da extrema direita, que redefiniu pelo crime a ideia de "cesta básica": fuzil e pistola em vez de alimentos. Mas também salta aos olhos o desaparelhamento conceitual da esquerda para dar conta da profundidade dessa crise, pois o campo democrático jamais conseguiu formular uma política de segurança pública. No entanto, a restauração civil do país exige pensamento e ação compatíveis com as novas correlações de forças no território nacional.

Exige, para começar, combate ao fisiologismo autofágico e reconstrução da política.

*Sociólogo, professor emérito da UFRJ, autor, entre outras obras, de "A Sociedade Incivil" e "Pensar Nagô".

Folha de São Paulo

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