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quinta-feira, junho 09, 2022

O preço do estelionato eleitoral




Plano Bolsonaro para combustíveis custa mais que Auxílio Brasil e investimento federal

Por Vinicius Torres Freire

O pacote de combustíveis de Jair Bolsonaro-Centrão não tem pé nem cabeça. Parece ideia anotada em um guardanapo de papel sujo de leite condensado e farofa. Feitas as contas possíveis, nota-se que vai custar mais do que alguns maiores programas do governo federal. Pode provocar inflação e mais endividamento no ano que vem, depois da eleição.

É o estelionato eleitoral típico. Se o truque não funcionar, Bolsonaro pode tentar jogar a culpa em alguém, nos estados, seu método irresponsável de desgovernar.

Suponha-se que as reduções de impostos sobre gasolina, etanol, diesel e gás de cozinha durem de julho a dezembro. A redução de receita seria de cerca de R$ 48,6 bilhões em um semestre. Em um ano, de R$ 92,2 bilhões (o consumo nas metades do ano é diferente).

O Auxílio Emergencial, que dá comida para 18 milhões de famílias, custa R$ 89 bilhões por ano.

O BPC (Benefício de Prestação Continuada), auxílio pago para idosos e pessoas com deficiência muito pobres, custa R$ 71,7 bilhões por ano. O seguro desemprego leva R$ 38,8 bilhões anuais. O investimento federal em "obras" leva R$ 43 bilhões.

O dinheiro do desconto de impostos sobre combustíveis é, por assim dizer, indiscriminado. Ricos e pobres, todo mundo que paga combustível ou preços influenciados por combustível, se beneficia (mais os mais ricos do que os pobres). Você acha correto isso?

Suponha-se que o preço dos combustíveis não baixe até 31 de dezembro (se não aumentar ainda mais). O próximo governo, então, terá de prorrogar o desconto de impostos, fazendo ainda mais dívida e pagando ainda mais juros (para ricos). Em decorrência, taxas de juros e dólar tendem a ficar mais salgados, tudo mais constante.

Se não prorrogar o desconto de impostos, a inflação dará um salto, talvez bastante para colocar a inflação acima da meta em 2023. Mais juros.

Alguns países estão dando auxílios para atenuar esta crise. Mas, a dar dinheiro, porque não beneficiar pobres? Por falar nisso, governos no Brasil têm tido receita extra por causa da carestia, mas: 1) Isso não vai durar; 2) Não está sobrando dinheiro: o governo federal já é deficitário.

Se rolar, o desconto de impostos seria de R$ 24 bilhões até o primeiro turno, R$ 32 bilhões até um segundo turno. Por isso, a economia pode esquentar (ou deixar de esfriar) um pouquinho). Isso pode dar algum impulso à inflação de outros itens que não combustíveis.

Se o consumo de diesel aumentar, dado o preço menor, aumentam os riscos de que falte combustível, ainda improvável.

Pode ser que nem todo o desconto de impostos chegue ao consumidor. A diferença pode ficar no caminho, com alguma empresa (do negócio de combustíveis ou outras).

Esta conta de perda de receita com impostos é meramente contábil (o que se deixa de arrecadar, dadas a redução de alíquota e a receita atual). Como deve haver aumento de consumo, parte do imposto volta, sabe-se lá quanto. Os efeitos econômicos colaterais ficam.

Nessa conta de perda semestral de receita de R$ 48,6 bilhões entram o desconto de impostos federais sobre gasolina e etanol (R$ 18,3 bilhões) e o dinheiro que o governo federal promete devolver aos estados caso reduzam a zero o (possível) novo ICMS sobre diesel e gás de cozinha, além das perdas estaduais com a possível redução para 17% ou 18% das alíquotas atuais do ICMS sobre esses combustíveis (R$ 30,3 bilhões).

O plano é socialmente injusto, cria distorção econômica, é um estímulo econômico ineficiente, bananeiro e empurra um problemão para depois da eleição. Para variar, Bolsonaro foi negligente, inepto e laborfóbico. Agora, tenta um estelionato eleitoral.

Folha de São Paulo

Fiasco anunciado - Editorial




Melhor resultado que o País pode levar à COP-27 é a eleição de um presidente comprometido com a agenda ambiental

O Brasil corre o risco de passar vergonha na 27.ª Conferência das Nações Unidas sobre o Clima (COP-27), a ser realizada no Egito, em novembro próximo. É muito improvável que o País tenha resultados concretos a apresentar em relação aos compromissos assumidos na edição anterior da cimeira, realizada na Escócia, há seis meses. Em sua maioria, as metas de redução do desmatamento ilegal e das emissões de gases do efeito estufa, com as quais a delegação brasileira se comprometeu oficialmente, não saíram do papel.

Este é o retrato de um governo liderado por um negacionista dos fatos e da ciência, alguém que, mesmo antes de assumir a Presidência da República, sempre fez pouco-caso da agenda de proteção ambiental. Na visão estreita do presidente Jair Bolsonaro, a defesa do meio ambiente – um imperativo constitucional, é sempre bom lembrar – é associada a “esquerdistas”, organizações não governamentais “oportunistas” e agentes econômicos estrangeiros interessados em se apropriar dos ricos recursos naturais do Brasil.

Decerto sob o manto da proteção ambiental se abrigam muitos interesseiros e criminosos, como garimpeiros ilegais, grileiros e traficantes de drogas, madeira e animais. A obrigação de um governo sério e responsável, contudo, é justamente apoiar as ações de combate aos crimes ambientais e fomentar a participação de organizações da sociedade civil que, com muita seriedade, atuam em defesa do meio ambiente, do bem-estar dos povos indígenas e na contenção das mudanças climáticas. Tudo o que o atual presidente jamais fez e jamais fará.

Bolsonaro nem sequer se esforça para fingir que mobiliza seu governo para defender o que é correto e aproximar o Brasil do mundo civilizado. Basta dizer que instituiu recentemente uma “câmara consultiva temática”, sob coordenação do Ministério do Meio Ambiente, para “qualificar os dados de desmatamento e incêndios a fim de diferenciar crimes ambientais de outras atividades”. Uma câmara com esse objetivo nem deveria existir. Há anos, o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) já produz dados altamente qualificados, tornando-se uma referência internacional no monitoramento do desmatamento ilegal nos biomas da Amazônia e do Cerrado. Bolsonaro não só segue com sua deliberada política de desqualificação do Inpe, como criou a tal “câmara temática” sem contemplar a presença de técnicos do órgão. Ora, não pode ser séria uma ação que pretende combater desmatamentos ilegais e não conte com os cientistas do Inpe.

O Brasil perdeu muito da relevância que já teve em questões regionais e globais. Há algum tempo, a seara ambiental é a única na qual o País ainda figura como um interlocutor indispensável. Mas essa relevância, ou soft power, tem sido dilapidada por Jair Bolsonaro e sua passividade, para dizer o mínimo, diante da destruição de nossas florestas, rios e biodiversidade. A esperança que resta é que na COP-27, em novembro, o Brasil tenha um novo presidente recém-eleito que esteja comprometido com a defesa do meio ambiente.

O Estado de São Paulo

O PT de sempre - Editorial




Sigla reafirma teses que levaram à ruína sob Dilma; Lula só vence sem esse fardo

Um partido tradicional, com inserção na sociedade e larga experiência administrativa não deveria suscitar incertezas ao divulgar diretrizes para um programa de governo. O PT de Luiz Inácio Lula da Silva, no entanto, é um caso à parte.

Como se nada houvera aprendido com seus sucessos e fracassos ao longo de quatro mandatos presidenciais, a legenda divulgou na segunda (6) documento no qual reafirma a visão de economia preterida sob Lula, quando o país colheu bons resultados, e posta plenamente em prática por Dilma Rousseff, levando à derrocada conhecida.

A repetição das teses estatistas e corporativistas não chega a surpreender —desde a crise que levou ao impeachment de Dilma, os petistas parecem mais preocupados em negar erros do que em renovar ideias. O que chama a atenção é o misto de descrédito e temor gerado por tais proposituras nos meios políticos e econômicos.

Descrédito porque é razoável a hipótese de que, mais uma vez, Lula será pragmático em um eventual novo governo, deixando de lado ideologias em favor do bom senso. Ademais, o documento do partido é preliminar e será negociado com aliados; por ora, serve mais como peça para manter a militância fiel.

Entretanto sabe-se que, na maior parte de seus dois mandatos, o líder petista contou com cenário internacional e condições orçamentárias mais favoráveis, o que lhe permitiu ampliar a despesa pública sem fazer dívida, adiar reformas difíceis e satisfazer suas bases sindicais. Não se vê margem para tanto hoje —daí os temores.

O texto petista prevê a revogação do teto para o gasto federal inscrito na Constituição em 2016, a ser substituído por "um novo regime fiscal" que, aparentemente, permitirá o incremento de investimentos e programas sociais.

Caberia explicar que o teto foi criado para eliminar, de modo gradual, o déficit orçamentário legado pelo governo Dilma. Tal processo ainda está em andamento; enquanto isso, mais dispêndios significam mais endividamento (ou mais imposto), mais inflação e mais juros.

O PT rejeita as privatizações e diz que a Petrobras "será colocada de novo a serviço do povo brasileiro". Nem é necessário recordar os esquemas bilionários de corrupção descobertos na estatal; basta o prejuízo insustentável produzido pela política de segurar preços na tentativa inútil de mascarar a inflação.

Fala-se em revogar a reforma trabalhista, aprovada para facilitar contratações na esteira da escalada do desemprego durante a recessão de 2014-16.

Trata-se de fatos recentes, que serão explorados na campanha presidencial. Ao que se prenuncia, para sair vencedor Lula terá de esconder, além de Dilma, o próprio PT.

Folha de São Paulo

Forças ucranianas sofrem novo ataque russo em Sievierodonetsk

 




Rússia vê tomada de cidade industrial como chave para controlar região

Por Pavel Polityuk e Abdelaziz Boumzar 

Kiev e Sloviansk - Tropas ucranianas que lutam em Sievierodonetsk sofreram novo ataque pesado, nesta quarta-feira (8), de forças russas que veem a captura da cidade industrial como chave para o controle da região em volta de Luhansk.

No Sul da Ucrânia, outro grande campo de batalha, autoridades disseram que os ataques russos a locais agrícolas, incluindo depósitos, estavam agravando a crise alimentar global, que desperta preocupações em alguns países em desenvolvimento.

A Turquia recebeu o ministro das Relações Exteriores da Rússia para discutir um plano da Organização das Nações Unidas (ONU) de abrir um corredor no Mar Negro para as exportações de grãos ucranianos. O chanceler Sergei Lavrov afirmou que a Ucrânia precisa primeiro retirar minas explosivas de seus portos - medida que Kiev teme que a tornaria mais vulnerável a ataques do mar.

As forças russas estão focadas há semanas em tomar Sievierodonetsk, que abrigava cerca de 106 mil pessoas antes de Moscou invadir a Ucrânia, em 24 de fevereiro. O governador da região de Luhansk disse que as forças ucranianas não se renderiam na cidade.

"A luta ainda está acontecendo e ninguém vai desistir da cidade, mesmo que nossos militares tenham que recuar para posições mais fortes. Isso não significa que alguém está desistindo da cidade - ninguém desistirá de nada. Mas pode ser forçado a recuar", declarou Serhiy Gaidai à televisão ucraniana.

As forças russas aumentarão ainda mais seus bombardeios em Sievierodonetsk e a cidade-gêmea menor de Lysychansk, na margem oeste do Rio Siverskyi Donets, acrescentou

Luhansk e a província de Donetsk formam a região de Donbas, reivindicada por Moscou para os separatistas de língua russa que ocupam partes do local desde 2014.

"A defesa absolutamente heróica de Donbas está em andamento", disse o presidente ucraniano, Volodymyr Zelenskiy, em declaração por vídeo ontem. "Os ocupantes não acreditavam que a resistência dos nossos militares seria tão forte e agora estão tentando trazer novos recursos para o Donbas."

A Reuters não pôde verificar independentemente a situação em Sieverodonetsk.

Moscou diz que está envolvida em uma "operação militar especial" para desarmar e "desnazificar" o país vizinho. A Ucrânia e seus aliados chamam isso de pretexto infundado para uma guerra que matou milhares, destruiu cidades e forçou milhões de pessoas a fugir.

A Rússia voltou o foco para a região de Donbas, desde que suas forças foram derrotadas nos arredores de Kiev, em março.

O gabinete de Zelenskiy informou que duas pessoas morreram e duas ficaram feridas na região de Luhansk nas últimas 24 horas, cinco civis ficaram feridos na região de Donetsk e quatro mortos e 11 feridos na região de Kharkiv.

Em Sloviansk, uma das principais cidades de Donbas ainda controladas pela Ucrânia, cerca de 85 quilômetros a oeste de Sievierodonetsk, mulheres com crianças pequenas faziam fila para coletar ajuda enquanto outros moradores carregavam baldes de água pela cidade.

A maioria dos moradores fugiu, mas as autoridades dizem que cerca de 24 mil permanecem na cidade, no caminho de um esperado ataque das forças russas que se reagrupam ao norte.

"Vou ficar, não vou sair sem meu marido. Ele trabalha aqui. Foi o que decidimos, vamos ficar", disse Irina, que não informou o sobrenome, enquanto esperava, com uma criança em um carrinho, do lado de fora de uma centro de distribuição de ajuda.

Reuters / Agência Brasil

O ativismo judicial pode ter origem no protestantismo




É difícil não ver os legisladores progressistas como versões laicas de hereges protestantes. Eles pegam a mesma lei escrita que nós e tiram uma interpretação lá da cabeça deles. 

Por Bruna Frascolla (foto)

Tendo a crer que, bem analisadas e interpretadas as coisas, a culpa dos abusos do Supremo remonta a Lutero. Sei bem que estamos acostumados a apontar culpados remotos para males presentes e, a partir daí, inferir que problemas históricos são impossíveis de serem resolvidos. “É tudo culpa dos portugueses!”, diziam os petistas, enquanto saqueavam o país. Mas o expediente é sempre este: a culpa é dos portugueses exploradores, da Igreja obscurantista, dos negros festeiros, dos índios indolentes, da cordialidade, do mundo rural atrasado, da miscigenação degeneradora, do patriarcado opressor e de tudo o que se puder dizer tradicionalmente brasileiro. O Imperialismo Ianque aparece na lista de vilões, é claro. Mas só suas ações são criticadas; sua influência cultural, não. Nosso país é tratado a tapas e pontapés no que concerne às questões indígena e negra justo pelos países que se empenharam em exterminar seus índios e praticaram segregação racial. O nosso país foi praticamente fundado pela Contrarreforma. De minha parte, dou-me o direito de considerar o Melhor País do Mundo este que sempre considerou almas individuais e filhos de Deus os escravos pretos e os índios canibais, vedando a ideia de um extermínio como fim em si mesmo. Como esse não foi o caso das nações protestantes, e estas, em função de sua mera riqueza, se tornaram modelo de cultura, é necessário criticar seus vícios culturais que nos são empurrados por uma elite apátrida.

Imperialismo progressista

Quem manda no Brasil hoje é quem tem condições de interpretar o texto mais sagrado da nossa falecida democracia: a Constituição Federal. Segundo o ideal de Montesquieu, o Judiciário seria o poder encarregado de julgar segundo as leis formuladas pelo Legislativo. Sendo uma atividade tão pouco livre, é natural que juízes não sejam eleitos pelo povo. A representação de nossas vontades se dá por meio da eleição de legisladores e dos chefes do Executivo.

Os Estados Unidos são o exemplo mais duradouro de uma democracia de grande porte. Assim, foi um dos exemplos disponíveis para o Brasil quando decidimos deixar de ser monarquia e nos tornar República. Nosso Supremo Tribunal Federal nasceu junto com a República, à imagem e semelhança da Suprema Corte dos Estados Unidos. Era uma corte constitucional; ou seja, servia para que o poder legislativo fosse limitado pela Constituição. Se uma casa legislativa, seja em plano nacional, estadual ou municipal, decidisse criar uma lei em descumprimento à Constituição, caberia acionar a Suprema Corte para corrigir isso. Há dez anos, porém, a função do STF é decidir contra a Constituição Federal a fim de implementar a ideologia progressista (em 2012 o STF decidiu, contra o DEM, que as cotas raciais são constitucionais).

O método surgiu nos EUA e é imposto, via ONGs e entidades internacionais, a todos os países do Ocidente que tenham preferido ladear-se aos EUA a ladear-se à URSS durante a Guerra Fria. É difícil rastrear-lhe as origens por completo, mas é certo que sua história se confunde com a do progressismo. Como vimos, em 1927 a Suprema Corte dos EUA, no caso Buck v. Bell, decidira que era constitucional o estado da Virgínia esterilizar Carrie Buck contra a sua vontade por considerá-la uma débil mental de raça inferior. A decisão coube ao célebre juiz Oliver Wendell Holmes. Criativo, embasou sua decisão com base numa lei de vacina obrigatória nas escolas do Massachusetts e numa praticidade humanitária, já que mais valia impedir o nascimento de degenerados do que executá-los pelos crimes que certamente cometerão. O caso mais notório, porém é Roe v. Wade, em que o direito constitucional à privacidade se transformou no direito constitucional a abortar em qualquer fase da gestação.

A verdade é que os EUA são sede de uma ideologia totalitária e imperialista que volta e meia toma o poder e impõe suas pautas na marra, seja ao seu próprio povo, seja ao estrangeiro. Seu método é a corrupção do Estado por meio do sequestro dos Direito Humanos e da ação de ONGs transacionais. Seu fito mais precípuo é reduzir a população mundial. São inimigos da vida, no sentido mais profundo imaginável. Dizer que defendem a morte é o que os anglófonos chamam de understatement. A morte tal como a conhecemos não é defendida por eles. Querem, se possível, eutanasiar; se possível, melhor que eutanasiar o nascido é abortar o concebido; se possível, melhor que abortar o concebido é não conceber; se possível, melhor que não conceber é esterilizar; se possível, melhor ainda que esterilizar corpos perfeitos é castrar na infância antes de o aparelho reprodutivo ficar pronto. Tirando a eutanásia, a Planned Parenthood cuida de tudo isso: da contracepção à castração de criança.

Cultura protestante

No começo do século XVI, um monge alemão resolveu que cada homem deveria usar do seu próprio intelecto para interpretar a Bíblia: um conjunto de textos selecionados, editados, interpretados e traduzidos de diversas línguas ao longo de uma montanha de séculos. Enquanto a Igreja tinha uma autoridade com um rosto – o Papa –, os protestantes decidiram que a única autoridade é a Bíblia. Bastaria ler a Bíblia, e cada homem, com sua Razão, entenderia nada menos que a Palavra Divina. Mas acontece que cada um lia e entendia de um jeito, de modo que não demorou para os protestantes se engalfinharem em múltiplas seitas, cada qual com o seu cacique especial que tinha, ele sim, lido a Bíblia e entendido corretamente.

O Vaticano reconhecia e reconhece as diferentes possibilidades interpretativas e a variedade de correntes teológicas. Tinha, portanto, uma compreensão melhor da natureza humana do que os protestantes: sabia que somos todos limitados; que o conhecimento e a moral são obras coletivas de construção lenta, legadas de geração para geração. De acordo com essa visão, o homem precisa confiar também na autoridade, e seria uma loucura guiar-se somente pelo próprio juízo.

Agora, o mais importante é que ninguém pode se dizer melhor do que os outros por seguir o Papa. O Papa é a autoridade estabelecida, o católico de qualquer quilate intelectual segue a ele. Mas o que pode dizer do outro o protestante que segue, digamos, Calvino, pois crê que foi o único mortal a ler corretamente as Escrituras? Se removemos a autoridade e a tradição, resta a Razão. Resta, enfim, a ideia de que todo fiel que faz bom uso da Razão pensa igual a mim (a Graça desempenha um papel teológico importante, é verdade. Mas a falta da Graça serve para explicar facilmente a falta de fé, e não a fé numa religião cristã baseada num intérprete errado da Bíblia). Se eu tentar converter um índio e ele não aprender de jeito nenhum, torna-se legítima a conclusão de que ele não é racional, e portanto não é um homem.

É difícil não ver os legisladores progressistas como versões laicas de hereges protestantes. Eles pegam a mesma lei escrita que nós e tiram uma interpretação lá da cabeça deles. Por usurpação, convertem-se em autoridade. Mas não admitem, nem mostram a cara. Juram que é tudo sola scriptura, que interpretaram tudo direitinho do texto constitucional etc. Eles são mais racionais do que você e eu. São mais homens do que você e eu. Ou nós somos sub-raça, ou eles são Übermenschen.

Quebrando os tabus

Dizer que nem todo homem era igualmente feito à imagem e semelhança de Deus era quebrar um tabu da Igreja católica. Lançando lama na autoridade milenar, os países protestantes quebraram todos os tabus. Assim, quando o progressismo se abateu sobre as Estados Unidos, encontrou naquele país de maioria protestante um amplo terreno por onde crescer. No começo, só a minoria católica oferecia uma resistência organizada à Planned Parenthood. Como mostra Guilherme de Carvalho, a adesão dos evangélicos à causa antiaborto é obra do Pastor Francis Schaeffer (1912 – 1984). Ou seja, é coisa recentíssima. Quanto ao antirracismo, também é obra do século XX. O Pr. Martin Luther King Jr. foi o maior responsável por enfrentar o progressismo na seara racial.

Felizmente tais reações surgiram. No entanto, é preciso registrar o enorme custo humano necessário para que essa cultura fosse provocada a ponto de reagir. Para usar uma metáfora sanitária (já que saúde parece ser o único valor ao qual se pode apelar hoje), é como se o protestantismo tivesse zerado o sistema imunológico de um corpo cultural, e somente após graves infecções ele criasse valores novos para se defender. Nós, de cultura católica, herdamos esses valores de berço.

Tabula rasa racionalista

A ideia de que a Razão é a autoridade máxima leva à sua vandalização pelos que queiram tomar o poder. É possível alguém mentir dizendo que suas afirmações são a voz da razão; mas não dá para fazer a mesma coisa com uma autoridade de carne e osso, como o Papa ou o Rei. Assim, depois da mistificação da Razão, veio a da sua filha mais prestigiosa, a Ciência. Agora, a voz da Ciência é o que o jornalista lacrador diz ser. Eles não são capazes de apontar uma autoridade de carne e osso, e se você discorda da "Ciência" é um Untermensch.

É curioso que, nos EUA, a defesa contra o progressismo venha quase que exclusivamente da religião. Lá, a coisa se tornou um embate entre religião e ciência: esta última é monopólio dos progressistas, aquela primeira é calcada só na Escritura e não tem penetração nenhuma na elite intelectual. É uma situação bem peculiar; no Brasil, a irreligiosidade só chegou às elites com o marxismo lá pelos anos 70. Os colonizados da ATEA importam essa cisão muito peculiar dos EUA e fazem de conta que Newton era ateu, ou que o Big Bang não foi proposto por um padre.

No começo da revolução protestante, abandonar o catolicismo implicava que todos os seus antepassados eram abomináveis papistas. E assim vimos o São João, uma festa de evidente origem pagã, ser abolido de parte da Europa protestante, cujos convertidos visavam ao expurgo das tradições cultivadas por seus antepassados mais remotos. O protestante que condenava o São João por ser pagão é o pai espiritual do ateu militante que, todo ano, pergunta: "sabia que o Natal é pagão??". O pensamento que subjaz a ambos é que toda a nossa conduta quotidiana deve ser racional e pautada na verdade factual – e que, portanto, decidir a todo momento o que é racional e verdadeiro está ao nosso alcance. É um eterno convite à tabula rasa cientificista que o progressismo nos empurra.

Gazeta do Povo (PR)

Os planos de Lula para a Justiça

 




Petista devia dizer se vai escolher chefe do MPF por lista tríplice ou se vai seguir Bolsonaro

Por Marcelo Godoy (foto)

No dia 12 os italianos vão às urnas votar em cinco referendos sobre a Justiça. Em um deles, pretende-se revogar a Lei Severino, espécie de Lei da Ficha Limpa da Itália. Em outro, deseja-se acabar com a possibilidade de prisão preventiva para financiamento ilícito de partidos e quando há risco de o acusado voltar a cometer o mesmo delito, o que revogaria a lei de 1988 que permitiu a Operação Mãos Limpas.

As propostas apresentadas aos italianos têm seguidores aqui. Impedir outra operação como a Lava Jato parece uma preocupação desde sempre em Brasília. O procurador-geral da República,

Augusto Aras, é inimigo do modelo da força-tarefa de Curitiba. Foi escolhido por Jair Bolsonaro – alvo de dezenas de representações e inquéritos – fora da lista tríplice da Associação Nacional dos Procuradores da República (ANPR), ao contrário do que antes fizeram Lula, Dilma e Temer. O atual presidente ignorou a escolha dos procuradores, mesmo quando a lista da associação foi encabeçada pelo moderado Mario Bonsaglia.

A autonomia do Ministério Público Federal (MPF) se tornou um desafio. Lula e advogados ligados ao PT também a criticam. Se a garantia do devido processo legal é um dos fundamentos das sociedades modernas, também é verdade que a impunidade parece ser a lei desta terra.

Por isso, muitos procuradores estão preocupados com o que Lula propôs em documento recém-divulgado: “A contaminação político-partidária de setores do Ministério Público e do Judiciário, e sua resistência em submeter-se a controles democráticos e legais, evidenciados pela Operação Lava Jato, demonstram que a reafirmação da democracia brasileira implicará, necessariamente, a realização de uma ampla reforma que assegure que esses órgãos se pautem estritamente pelos princípios constitucionais da impessoalidade e da neutralidade”.

O petista não explica o que seria a “ampla reforma” e como ela atingiria o MPF e o Judiciário. Lula poderia começar dizendo como vai escolher o novo procurador-geral. Seguirá Bolsonaro e terá um Aras ao seu gosto ou usará a lista da ANPR? Depois, poderia contar quais critérios pretende usar para indicar ministros do STF. Os candidatos terão o perfil de Kassio Nunes Marques ou de Joaquim Barbosa?

Por enquanto, o segredo paira sobre o futuro. Em seu Tratado Político, Baruch Spinoza alertava que governantes que “podem tratar secretamente dos negócios do Estado têm-no inteiramente em seu poder e em tempo de paz, estendem armadilhas aos cidadãos como as estendem ao inimigo em tempo de guerra”. É a transparência e o debate que permitem à cidadania desarmar essas armadilhas, se possível, antes do voto. 

O Estado de São Paulo

Como Lula à frente nas pesquisas mexe com a sua (nossa) vida




É isso o que a política contemporânea faz com as pessoas, até mesmo com aquelas que estufam o peito para se dizerem livres: ela nos aprisiona numa jaula de medo e corrompe nossas relações de afeto.

Por Paulo Polzonoff (foto)

É, eu sei. Você não acredita nas pesquisas eleitorais. O que é totalmente compreensível. Apesar da aura de precisão e objetividade científica, as pesquisas estão sujeitas a erros muito humanos. Mas isso não quer dizer que você seja insensível aos levantamentos recentes que mostram o ex-presidiário Lula à frente. Sou capaz de apostar como lá no fundo, e às vezes nem tão no fundo assim, você se incomoda.

Este, aliás, é mais um super-poder do Super Malandro e seus asseclas: confundir o nosso senso de realidade e, nessa confusão, plantar a semente da cizânia. Inclusive da cizânia íntima, por assim dizer. Aquela briga de você com você mesmo, porque não é possível que seus olhos e sua intuição tenham uma percepção tão equivocada da realidade, não é mesmo?

Daí surge o primeiro dos incômodos. Que nem é o mais grave. Estou falando do incômodo da humilhação de ver os números estampados nos jornais e repetidos pelos petistas como se fossem argumento capaz de provar a superioridade de uma visão de mundo desastrosa e trágica. É como se o mais recente e estapafúrdio levantamento do instituto XYZ fosse um sinal de que todas as ideias que o liberal conservador defende são erradas. E, muito em breve, serão soterradas por uma montanha de autoritarismo vermelho.

Mas tudo bem. Esse tipo de discurso falacioso só fere nossa vaidade. Afinal, se o que está em jogo são valores, não tem muito sentido falar em vitória e derrota. Valores certos, convicções assentadas em bases outras que não o utilitarismo, continuarão certos, a despeito do resultado nas urnas. Muito mais grave, a meu ver, é a sensação de solidão intelectual e moral que acompanha essas pesquisas eleitorais que mostram um ex-presidiário, líder de um partido defensor de ideias perigosamente revolucionárias, como possível presidente do Brasil.

É uma solidão que afeta até mesmo nosso senso de pertencimento a um povo que, em teoria, quer o melhor para si e para os seus. Diante da possibilidade, ainda que enganosa, de uma vitória lulista no primeiro turno, é impossível não pensar que talvez estejamos cercados por pessoas que têm uma visão perversa do país e da vida. E que querem impor essa visão perversa sobre os demais.

Valem, aqui, as mesmas perguntas que fiz quando pesquisas mostravam que 45% dos eleitores (aproximadamente 66 milhões de brasileiros) cogitavam votar no mais milionário dos pobres profissionais. Será que estamos cercados por inocentes que realmente acreditam nas promessas irrealizáveis de Lula? Será que estamos cercados por revolucionários que veem no ex-presidiário um Marat com as mãos sujas de graxa (sugestão de algum marqueteiro)? Ou pior: será que estamos cercados por parasitas obcecados pela manutenção de privilégios para lá de indecentes?

As pesquisas eleitorais, por mais que não se acredite nelas, afetam nossas relações cotidianas. Por mais tolerantes que nos consideremos, paira no ar a desconfiança. Será que essa pessoa aí ao lado, de fala tão mansa, olhos melancólicos e sonhos elevados, é alguém que caiu na lábia do esquerdismo que sempre promete um paraíso e entrega um inferno? Imaginando o extremo, será que estamos diante de milhões de concidadãos que, num eventual terceiro governo Lula (toc, toc, toc), não hesitarão em fascistamente eliminar os inimigos de sua ideologia?

É isso o que a política contemporânea faz com as pessoas, até mesmo com aquelas que estufam o peito para se dizerem livres: ela nos aprisiona numa jaula de medo e corrompe nossas relações de afeto. Mas só se nos deixarmos levar pela humilhação da mentira com ares de ciência que parece questionar zombeteiramente se preferimos acreditar nas estatísticas ou naquilo que nossos olhos insistem em ver.

Gazeta do Povo (PR)

Moro manda indireta para Lula: 'Nenhum país deu certo elegendo bandido'




Moro também falou que espera que algo aconteça para evitar o cenário polarizado entre Lula e Bolsonaro

Ex-juiz fez críticas implícitas a Lula e afirmou ter esperança em um cenário eleitoral sem amplo domínio do PT e de Jair Bolsonaro

Por Ígor Passarini

Durante um encontro com apoiadores na região Centro-Sul de Belo Horizonte, nesta quarta-feira (8/6), o ex-juiz Sergio Moro (União Brasil) evitou citar os nomes dos pré-candidatos à Presidência da República, mas, em vários momentos, mencionou indiretamente o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

"A gente está vendo bandido sendo solto, concorrendo a eleição. Não teve nenhum país no mundo que deu certo elegendo bandido ou fundado em uma cultura de desonestidade", afirmou.

No evento, realizado em um hotel da capital mineira, Moro também falou que espera que algo aconteça para evitar o cenário polarizado entre Lula e o presidente Jair Bolsonaro (PL), de quem foi ministro da Justiça e Segurança Pública.

"Vamos ver se a eleição vai ser polarizada mesmo. Eu ainda tenho esperança que um evento imprevisto possa acontecer", declarou.

Proibido pelo Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo (TRE-SP) de transferir o domicílio eleitoral do Paraná para São Paulo, Moro questionou a Justiça.

"Teve gente que foi condenada três vezes e absolvida por uma decisão política do tribunal. Já a gente, que luta contra a corrupção, está sendo perseguido", disse, em referência implícita a Lula.
 
Troca e desistência 

Moro ensaiou uma candidatura presidencial pelo Podemos. No União Brasil, partido para o qual se mudou no fim de março, o pré-candidato a presidente é Luciano Bivar, deputado federal por Pernambuco. A ideia do partido era emplacar o ex-juiz na disputa pelo Senado ou na corrida às vagas de deputado federal. 

Embora não tenha tratado diretamente das possibilidades que tem caso não consiga o recurso junto ao TSE ou decida não tentar reverter a decisão, Moro pode, segundo “O Estado de S. Paulo”, concorrer ao Senado pelo Paraná.

Estadão / Estado de Minas

O pragmatismo do Centrão - Editorial




Grupo que sustenta o governo cobra plano para recuperar candidatura de Bolsonaro, mas já arquiteta discurso pró-Lula e discute comando do Legislativo em 2023

O presidente Jair Bolsonaro mantém a aposta no discurso ideológico para mobilizar sua base mais fiel, mas suas motociatas têm esbarrado nos limites da dura realidade econômica vivida pela maioria da população. Apontada como causa da estagnação de sua candidatura nas mais recentes pesquisas eleitorais, a inflação tem levado ansiedade ao Centrão. Reunião de partidos fisiológicos que dão apoio ao governo, o grupo ampliou a pressão sobre o Executivo por alguma solução – qualquer que seja – para o preço dos combustíveis. Foi nesse contexto que nasceu o plano de recuperação da candidatura do capitão da reserva, batizado de “it’s now or never”, ou “é agora ou nunca”, numa livre tradução da famosa canção de Elvis Presley.

Revelado pelo Estadão, o projeto é tão ambicioso quanto fantasioso: reverter, urgentemente, a percepção do eleitor a respeito da realidade econômica do País para que o governo “possa começar a jogar”. É um ajuste nem um pouco trivial em relação ao discurso reverberado pelo ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira, e pelo presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), principais lideranças do Centrão que projetavam Bolsonaro à frente das pesquisas até este mês. A meta, agora, é encontrar uma forma de aliviar os preços dos combustíveis e de devolver aos eleitores a sensação de que vão conseguir quitar suas dívidas e voltar a consumir – e, não se sabe exatamente como, relacionar essa improvável melhora a Bolsonaro.

O cenário ajuda a explicar a miríade de ideias estapafúrdias que têm surgido na seara econômica. Nesse debate, tudo está em jogo, menos, claro, as emendas parlamentares. Serão quase R$ 36 bilhões neste ano entre emendas individuais, de bancada, de comissão e de relator-geral, até agora livres de qualquer contingenciamento por parte do Executivo, ao contrário de áreas como Saúde, Educação e Ciência e Tecnologia, alvo de cortes de alcance bilionário. A prioridade do governo é a sobrevivência de Bolsonaro.

O fato, contudo, é que nem todo esse dinheiro tem garantido apoio incondicional do Centrão ao governo, o que apenas confirma a essência da custosa e desequilibrada parceria que garantiu a manutenção de Bolsonaro no cargo. Mal chegou junho, mês que costuma marcar o fim dos trabalhos legislativos em anos eleitorais, alguns integrantes da base aliada já não escondem seu ceticismo em relação à candidatura de Bolsonaro. “O povo elege pelo bolso, e quem ganha abaixo de dois salários mínimos não compra mais nada no supermercado, está passando fome. Esses não votam no presidente, não”, disse o deputado José Nelto (PP-GO).

Quando a equipe econômica perdeu o controle da execução dos recursos do Orçamento para o ministro Ciro Nogueira, ventilou-se a versão segundo a qual “ninguém perde o que já não tinha”. Foi uma forma de minimizar a repercussão negativa do decreto, destacando que a distribuição de verbas sempre havia sido uma decisão política, não financeira. Os movimentos mais recentes do Centrão mostram que o governo é muito mais coadjuvante do que parecia.

O Centrão nunca foi aliado de Bolsonaro, porque aliança presume compartilhamento de poder. A relação desse grupo político com o presidente, na verdade, é de suserania e vassalagem. Bolsonaro se salvou de um impeachment líquido e certo em troca da entrega do controle do governo e do Orçamento ao Centrão. Essa é a natureza do Centrão, que estará com qualquer governo, “até mesmo com Lula”, como uma das lideranças admitiu à reportagem. 

A presença do ex-tucano Geraldo Alckmin na chapa de Lula decerto servirá aos supostos liberais do Centrão como justificativa para aderir à agenda estatólatra dos petistas. Na prática, contudo, o Centrão não estará na oposição, ganhe quem ganhar, porque pretende manter intacto o edifício fisiológico que construiu na atual legislatura. Assim, enquanto Bolsonaro segue sem rumo, o Centrão cuida da vida e já discute a sucessão do comando da Câmara e do Senado e a divisão do espólio das emendas parlamentares para o ano que vem. 

O Estado de São Paulo

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