Vera MagalhãesEstadão
Diante da exortação de Juan Guaidó a que as pessoas fossem às ruas para depor o ditador Nicolás Maduro na Venezuela, seguiram-se dois tipos de reação de autoridades brasileiras. Jair e Eduardo Bolsonaro desde cedo usaram as redes sociais para manifestar a torcida pela transição democrática no país e associar, em seguidos posts, a ditadura chavista ao PT de Lula e Dilma Rousseff.
Já a ala militar adotou tom mais cauteloso. Desde cedo, o general Augusto Heleno, chefe do Gabinete de Segurança Institucional, evitava exagerar no entusiasmo diante da exortação de Guaidó e sua afirmação de que as Forças Armadas, agora, estariam com a oposição a Maduro. Disse que essa avaliação dependeria da “qualidade” e da “quantidade” desse apoio entre os militares do país vizinho.
INFORMAÇÃO – Ambas as reações demonstram que o Brasil recebeu algum tipo de informação prévia de que o grupo de Guaidó tentaria nova ofensiva. Mas o pé atrás de Heleno mostra que também falta “qualidade” a esses informes, dada a interdição de canais entre o governo brasileiro e o regime de Maduro.
Por isso, é acertada a posição reiterada por Heleno e pelo vice-presidente Hamilton Mourão: descartar qualquer possibilidade de intervenção militar brasileira no vizinho.
Mas ela parece ter irritado o presidente, que à noite foi de novo ao Twitter dizer que qualquer decisão seria tomada “exclusivamente” por ele, ouvido o Conselho de Defesa. Arroubo despropositado. Levou uma invertida do presidente da Câmara, Rodrigo Maia, que precisou lembrá-lo de que qualquer decisão dessa natureza depende de aval do Congresso.
BALBÚRDIA – O ministro Abraham Weintraub sempre relata episódios em que diz ter sofrido perseguição funcional na Unifesp, universidade federal paulista na qual ele e o irmão são docentes, por questões ideológicas.
Pois ideias que ele começa a externar (e executar), como a de estrangular financeiramente instituições por um critério não mensurável como “balbúrdia”, parecem mostrar a tentação ao revanchismo por parte de quem prometeu suprimir o aparelhamento do MEC – e não trocar o seu sinal da esquerda para a direita.
RISCO DE MORO – Quando decidiu trocar a magistratura pelo Executivo – como funcionário, e não como mandatário eleito –, Sérgio Moro talvez não tenha calculado corretamente o risco político que estava assumindo. Sendo, como é, alguém com uma dimensão maior que qualquer dos agentes políticos com os quais teria de passar a lidar, seria naturalmente alvo de constantes iniciativas para lhe cortar as asas. É isso que vive desde janeiro, com movimentos que partem ora do presidente, ora do Congresso.
Mesmo no STF, onde já não esconde que gostaria de chegar, Moro não tem exatamente um fã-clube. A única forma de não ver suas iniciativas caírem por terra uma a uma é se articular politicamente, criando uma “bancada morista” no Congresso, e usar o aval da opinião pública para se cacifar nesses embates – como o atual, em torno da permanência ou não do Coaf em sua pasta. Ou então será sempre tolhido por aqueles que querem reduzir seu tamanho, adquirido na Lava Jato.